No Rito Escocês Antigo e Aceito, praticado pela Grande Loja
do Estado de São Paulo – GLESP, não se abre uma loja de Aprendizes sem a
invocação do Grande Arquiteto do Universo precedida pela leitura do cântico de
Salmo n° 133. Este que, historicamente, faz parte dos salmos de romagem
compostos pelo Rei David de Israel e, desde tempos medievais, já era entoado
pelas ordens militares de cavalaria, como a Ordem dos Pobres Cavaleiros de
Cristo e do Templo de Salomão (Templários). Poucos ainda sabem que salmos são
canções judaicas para inspirar guerreiros, elevar a mente e o coração ao Eterno
Deus, reflexionar sobre erros, e para rejubilar nas vitórias.
A canção nº 133 foi escrita para ser entoada enquanto os
cidadãos iam em romaria a Jerusalém ofertar no Tabernáculo. Isso porque no
momento da sua composição ainda não havia o templo, que seria anos depois
construído pelo Rei Salomão, filho do Rei David. Acredita-se também que era
utilizado nas idas ao combate contra os povos vizinhos, pagãos, que desafiavam
o exército de Israel. Então o Salmo nº 133 possuí inicialmente uma
fundamentação filosófica, quer para a paz ou para a guerra.
Numa segunda análise, podemos dar a característica política deste
Salmo. As tribos, ou Estados de Israel eram doze, a saber: Rúben, Simeão, Judá,
Zebulão, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim, Levi e José, este último
representado por Manassés e Efraim, todos filhos de Israel.
No capítulo 49 de Gênesis lemos a divisão de cada território
as cada tribos viriam a ocupar num momento futuro, parcelas ordenadas pelo
próprio Israel, anteriormente chamado Jacob, o mesmo que teve o sonho na cidade
de Betel, em que uma escada se ascendia para o céu e anjos subiam e desciam, e
no topo estava o Eterno Deus.
É evidente que nem todos foram beneficiados com este
fracionamento, alguns mais privilegiados pela fartura agrícola, outros por
terem acesso ao mar, alguns com regiões totalmente desérticas ou até mesmo sem
herança de terra, como no caso da tribo de Levi. Então é natural que houvesse
discórdias entre estes irmãos, e o Rei David para manter a nação unida e pronta
para combates de guerra, compõe o Salmo 133 orquestrando a união dos irmãos e o
quão bela ela é.
Em terceira análise observamos a continuação da canção,
rezando que a união é como um óleo de unção. É bem sabido que a unção por meio
de óleo era o meio de dignificar a bênção. O óleo de nardo que era
preciosamente utilizado em altas cerimónias, nos dias de Jesus Cristo custava
300 moedas de prata, isto é, 300 dias de salário de um trabalhador comum. Então
comparar a união dos irmãos a um óleo é dizer que a união e concórdia vale em
muito o esforço.
O óleo descer sobre a barba e as franjas das vestes de Aarão
é mais precioso ainda, a barba é símbolo de sabedoria e autoridade, e as
franjas das vestes é o eterno lembrete da obediência das normas divinas, vale
lembrar que o Rei de Israel, neste caso David, era o escolhido pelo Eterno Deus
para reinar, o seu representante imediato, portanto, o rei incentivar a união
das tribos era sinónimo de ordem suprema. A união é uma bênção que vem do
Eterno Deus. Mais uma vez observamos um novo fundamento, o espiritual do
Salmo n° 133.
Por fim, em quarta análise a união é colocada como
dependência para a vida. O orvalho do Hermon que desce para os montes de Sião.
O Monte Hermon está há mais de 200km de distância de Sião, hoje conhecida como
Jerusalém. O Hermon fica quase permanentemente coberto de neve e gelo. Os
montes de Sião são naturalmente desérticos, áridos. Mas em determinados
momentos, principalmente nas madrugadas, o Hermon faz descer um orvalho para os
vales que chegam a Jerusalém, umedecendo a terra e tornando-a fértil, além do
seu degelo alimentar o Rio Jordão e o Mar da Galileia. Então toda a região dos
montes de Sião é beneficiada por essa provisão. É a união com o Hermon que faz
Sião produzir bons frutos e preservar a vida. Em última fundamentação, a geográfica do
Salmo nº 133.
Se os irmãos estiverem unidos eles receberão o que finaliza
a canção: “ali o Senhor ordena a bênção e vida para sempre”. Que nas nossas
lojas possamos aplicar não somente durante as sessões os fundamentos deste
belíssimo salmo, mas no nosso quotidiano, pois quer em loja ou fora de loja,
toda a humanidade é irmanada e precisa ser fraterna.
Que assim seja!
Autor: Renan Williams Soglia Moore
*Renan é M∴M∴ – A∴R∴L∴S∴ Fronteira Paulista n.º 448 / Or∴ de Bragança Paulista – SP; Cap∴ Visconde de Mauá dos Maçons do Arco Real n.º 9 / Or∴ de São Paulo – SP
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