sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O ORGULHO DO MAÇOM-O CÂNCER DA MAÇONARIA


 

Nos Templos Maçônicos, onde a humildade deveria ser a um dos pilares da jornada iniciática, um inimigo sutil e silencioso insiste em aparecer: o orgulho. Essa força, muitas vezes invisível, pode corroer a essência da Fraternidade, transformando um espaço de luz em palco de vaidades e disputas veladas.

Falar sobre orgulho dentro de uma Loja Maçônica pode parecer estranho, mas é necessário. O orgulho é como uma miragem: sedutor, ilusório e perigoso. Ele se alimenta do medo de não ser visto, de não ser reconhecido, de não se sentir especial. Mas a verdadeira iniciação ensina justamente o contrário: o valor do silêncio, da escuta, da transformação interior. O maçom não precisa provar nada a ninguém — ele apenas precisa ser fiel a si mesmo e à sua jornada.

O orgulho, muitas vezes, se disfarça. Pode vir camuflado de falsa modéstia, de excesso de conhecimento, ou até de um certo "espiritualismo performático", onde títulos e rituais viram exibição de ego. Quando isso acontece, a Loja deixa de ser um templo de construção interior e vira um teatro de competição.

Mas há uma saída. A própria tradição maçônica nos ensina o caminho da transmutação. Assim como o alquimista transforma o chumbo em ouro, podemos transformar o orgulho em humildade. Não se trata de eliminar o ego, mas de colocá-lo a serviço da obra. O orgulho pode ser matéria-prima — desde que a alma saiba lapidá-lo.

O orgulho alheio só nos fere porque toca o nosso próprio. Por isso, cada vez que ele nos incomodar, é sinal de que ainda temos trabalho a fazer dentro de nós. E esse é o verdadeiro chamado do maçom: voltar-se para dentro, sem comparações, sem máscaras, sem buscar aplausos. A pedra bruta só se torna cúbica com esforço, dor e verdade.

Neste novo ciclo que se inicia nas Lojas, que cada um de nós possa refletir sobre isso. Que o fio de prumo nos alinhe com o essencial, e que a humildade seja a luz que guie nossos passos. Afinal, como bem disse um autor anônimo:

“Os maçons se dividem entre os vaidosos, os orgulhosos... e os outros. Mas ainda não conheci os outros.”.

Inspirado nas crônicas de Pierre d'Allergida: In: https://450.fm/

 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

PEÇA DE INSTRUÇÃO


 “Examine seu Privilégio e O Olhar Compassivo do Iniciado”

VV.'.MM.'., Digníssimos Vigilantes e Respeitáveis Irmãos  

Que a Paz reine em nossos corações e a Luz habite em nossas consciências.

I. Privilégio Invisível: O que não percebemos, mas carregamos

Em nossa caminhada iniciática, somos lembrados de que todos iniciamos pela mesma porta estreita. No entanto, esquecemos que cada um de nós veio de um ponto diferente do caminho profano. Alguns foram preparados pelo destino com famílias estruturadas, educação formal, exemplos éticos; outros, contudo, vieram feridos, sem referências e marcados por realidades adversas.

Devemos ter um alerta: “Corpos frágeis requerem mais cuidados”. Da mesma forma, almas que não foram nutridas com valores superiores exigem mais paciência, atenção e formação. O privilégio aqui não se refere apenas ao material, mas ao simbólico e espiritual.

II. Formação Espiritual: Nem todos estão prontos ao mesmo tempo

A Maçonaria é uma escola iniciática e espiritual. É nosso dever entender que cada irmão está em um estágio de consciência diferente. Como o jardineiro que não exige que todas as flores desabrochem ao mesmo tempo, devemos reconhecer que a formação da alma exige tempo, cuidado e, principalmente, empatia.

A filosofia mostra no texto, o “cuidado da alma”. E isso é Maçonaria em sua essência: transformar o ser pela paciência, pelo exemplo e pela instrução contínua.

III. O Dever do Iniciado: Compreender antes de julgar

No silêncio do Templo, muitas vezes ecoa um julgamento silencioso: “Por que ele ainda não aprendeu?” ou “Por que não age corretamente?”

Mas o Iniciado verdadeiro sabe que julgar é um instinto do ego, enquanto compreender é uma virtude da alma desperta. O privilégio de ter sido orientado, instruído, amado ou inspirado deve nos conduzir à humildade, não à arrogância. 

Ser tolerante não é ser permissivo; é compreender a raiz do erro antes de aplicar o cinzel da correção. É erguer o irmão com o compasso da empatia e guiá-lo com a régua do exemplo.

IV. Trabalhar com o que se tem

Há Irmãos que chegam à Ordem com luzes já acesas. Outros ainda tateiam no escuro. Mas todos carregam uma centelha. O Iniciado deve ser aquele que, reconhecendo seus privilégios e oportunidades, transforma isso em ferramenta de serviço ao coletivo, e não em trono de julgamento.

CONCLUSÃO: O privilégio é oportunidade de servir

A reflexão que se impõe não é sobre o quanto sou melhor, mas o quanto posso ser mais útil por ter recebido mais.

A verdadeira iniciação se revela quando passamos a ver no erro do outro uma oportunidade de ensinamento, não de condenação.

Se a Maçonaria é escola, somos todos aprendizes — e os mais sábios devem ser os mais pacientes.

Se temos o privilégio da consciência, que ela nos sirva para acender a tocha daqueles que ainda caminham nas sombras.

Assim seja, no Oriente Eterno da Luz.

E lembrem-se, a humildade precede a honra.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

A BELEZA NO RITO ESCOCÊS, ENTRE A TRADIÇÃO E A MODERNIDADE


 

Neste artigo, gostaria de explorar o mistério por detrás da noção de Beleza, no coração da nossa prática do Rito Escocês Antigo e Aceito. O que é que ela significa? Que mensagem traz consigo? De onde é que vem? O que é que as pessoas fizeram com ela, desde os primórdios da nossa civilização até aos tempos modernos? E olhando para o futuro, o que é que ele anuncia? É sobre estas questões que vou tentar lançar alguma luz.

BELEZA NO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO (REAA)

O Rito Escocês Antigo e Aceito introduz a noção de Beleza nas nossas vestes de primeiro grau de duas formas. Por um lado, ela aparece na abertura do rito, quando uma chama é acesa no terceiro pilar, após os dois primeiros valores fundamentais da nossa tradição: Sabedoria e Força.

Por outro lado, aparece em primeiro lugar no momento da iniciação, quando o neófito solicita o acesso à luz ao segundo Vigilante. Não vale a pena colocar a questão, como a da galinha ou do ovo, para decidir quem tem a preeminência do processo, o rito ou a iniciação? Uma pergunta inútil e sem resposta!

 O rito segue uma lógica imparável que começa com a Sabedoria, ou seja, uma intenção bem pensada de construir um edifício: “Que a sabedoria presida à construção do nosso edifício! A construção exige depois a mobilização de energias físicas, ou seja, a Força, para lhe dar a sua dimensão concreta e a sua solidez: “Que a Força a sustente! Finalmente, a terceira qualidade em termos de aparência: “Que a Beleza a adorne”. Por outras palavras, a Beleza implica muito mais do que uma aparência agradável, porque a Beleza, a um nível superior e invisível, contribui para a harmonia e o prazer de viver num determinado lugar.

Se considerarmos primeiro o processo de iniciação maçônica, a Beleza é, de fato, o primeiro dom da transmissão maçônica. Para o compreender, é preciso recuar um pouco e considerar o significado profundo desta cerimónia, desde o tempo que passamos no estudo até ao momento em que retiramos o véu: aprendemos que estamos a reencenar a nossa vida com vista a um segundo nascimento, de acordo com as etapas consagradas: o tempo passado no ventre materno, a vinda ao mundo, depois o tempo da infância, que sugere beleza, o da idade adulta, ao qual está ligada a noção de força, e finalmente a idade madura, que vem com a sabedoria. Este é o padrão fundamental da iniciação, em que a primeira “viagem”, no templo, dá pleno sentido à Beleza, em ligação com a primeira fase da vida, ou seja, a juventude.

A BELEZA E O SAGRADO

Dito isto, vamos olhar historicamente para a noção de Beleza a partir de uma perspectiva iniciática, e perguntar-nos o que é que as pessoas do nosso tempo fizeram com a Beleza. A tradição judaico-cristã, na qual nos encontramos, baseia-se em duas culturas, a grega e a judaica. A primeira, através da expansão romana, moldou toda a Europa até aos primeiros séculos da nossa era, que evoluiu gradualmente sob a influência do cristianismo, sem, no entanto, renunciar aos seus valores fundamentais, como a sua relação com a imagem.

Como sabemos, a cultura grega valorizava a beleza através da imagem do corpo humano, mas também do rosto, cuja memória herdámos na estatuária e na pintura. As Igrejas Católica e Ortodoxa conservaram esta tradição de representação da figura humana desde os primeiros tempos da sua história, por razões de valorização da criação divina e de educação espiritual.

A idade de ouro da expressão da beleza no contexto do sagrado foi certamente o período que vai do fim da Idade Média ao Renascimento, em que se assistiu à construção de catedrais ricamente ilustradas e, depois, à arte da pintura e da escultura, em que surgiram grandes artistas, sobretudo em Itália, entre os quais Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci. O Judaísmo, baseado no mandamento bíblico (Êxodo 20.4), diz

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”.

O protestantismo, que se baseia no mesmo argumento, adopta a mesma posição de boa-fé. Ele se passa com a Maçonaria que, por razões históricas (lembremo-nos do papel do Pastor Anderson), se inscreve nesta tradição e recusa, por isso, qualquer representação nos seus templos (há por vezes excepções, como pude constatar!). No entanto, a noção de Beleza está claramente presente como um dos três pilares da Maçonaria, tal como no Judaísmo.

Dois exemplos: a presença de tipheret no coração da árvore das sephirot, na Cabala, a tradição esotérica do judaísmo. Há também o elogio da Beleza do Amado no Cântico dos Cânticos. Por extensão, perguntemos então: e nos Evangelhos? Jesus era sensível à beleza? E de que forma? Para além de um interesse notável pela sensualidade por parte das personagens femininas do testemunho de João (a samaritana, a mulher adúltera, Maria Madalena), uma frase relatada por Mateus introduz realmente a noção de beleza na boca de Jesus, quando diz:

“Não te preocupes com o que vais vestir! Olhai para os lírios do campo… Salomão não estava vestido de forma mais esplêndida…”

(MT 6,29)

É esta última palavra que nos diz que a beleza faz parte do sagrado a que devemos estar atentos…

A BELEZA NA ÉPOCA ATUAL

Terá sido com plena consciência desta ideia que Dostoievski fez com que o Príncipe Muishkin, a personagem central de O Idiota, dissesse a conhecida frase: “A beleza salvará o mundo! “O romance foi publicado em 1869, apenas cinquenta anos antes dos horrores indescritíveis da Revolução Bolchevique.

De fato, a expressão da beleza foi atacada muito antes, na era moderna. Durante o Terror, os revolucionários franceses destruíram a marteladas o que era suficientemente bom para eles nos edifícios religiosos. E não é descabido dizer que grupos de jovens foram sacrificados em várias ocasiões durante o século XIX.

Na sua inspiração poética, Arthur Rimbaud escreveu este célebre verso de Uma Estação no Inferno: “Uma noite, sentei a Bela sobre os meus joelhos, achei-a amarga e injuriei-a...”. A negação do sagrado e, por conseguinte, da beleza, atingiu o seu auge com a guerra de 1914-18, que, do lado francês, registou 1,3 milhões de mortos e inúmeros rostos partidos.

Foi também a época do nascimento do movimento surrealista e da “arte moderna” que, como novas expressões artísticas, abandonaram toda a pretensão de servir a Beleza, segundo as concepções anteriores. André Breton, apelidado de “Papa do Surrealismo”, terminava Nadja, o romance de charme do seu tempo, com esta frase perfeitamente transgressora em letra grande: “A beleza será frenética, ou não será! Pois foi esta a questão que atravessou todo o século XX, até aos nossos dias: como exprimir a necessidade de beleza?

A resposta está à vista de todos: a beleza exprime-se em realizações tecnológicas quotidianas, uma caçarola como um automóvel, ou a beleza é sobrevalorizada através do corpo humano, feminino ou masculino, dos modelos e de outros portadores da sua imagem… ou ainda através de realizações complexas, no teatro ou no cinema, em que a forma se sobrepõe ao conteúdo, quando este existe…

Mas se entrarmos num museu de arte contemporânea – e não fui eu que escrevi isto – não encontraremos um único rosto sorridente, nem uma única figura que exprima serenidade e confiança no mundo, apenas rostos carrancudos e imagens de desconstrução…

Sem cair na retórica reacionária dos que se mantêm apegados ao passado, é preciso dizer que a pintura clássica, de que a Mona Lisa é talvez a expressão mais bem conseguida, estava consciente da ideia de Beleza e do seu altíssimo valor espiritual. Para os adeptos da religião ortodoxa, esta exigência continua viva na mensagem dos ícones, portadores de uma dimensão de interioridade e de espiritualidade que se reflete em quem os venera.

CONCLUSÃO

Refletir sobre a noção de beleza significa perguntar por que é que a verdadeira beleza é essencial para os seres humanos, seja qual for a época. Porque é que a beleza falsa, vistosa e convencional não nos satisfaz durante mais do que algumas horas ou semanas?

A resposta é necessariamente iniciática e faz parte da nossa busca. O que procuras quando te juntas à Maçonaria?

Verdade e Luz! Por conseguinte, os três pilares do nosso Templo: Sabedoria, Força e Beleza, que constituem os nossos fundamentos, representam num único movimento as três aspirações à liberdade em que a humanidade procura a sua salvação, até ao último sacrifício: a Sabedoria abre a porta à liberdade de pensar e de defender a sua fé, a Força evoca as forças da vida em todas as suas formas, e a Beleza a admiração pela Criação.

Pelo contrário, nos países dominados pelas falsas verdades, pela brutalidade institucional e pela fealdade generalizada, a vida humana só pode ser degradada e destruída…

É por isso que Dostoievski, com a sua espantosa intuição profética, fez com que a personagem de O Idiota proferisse uma frase que gosto de repetir: “A beleza salvará o mundo!

Christian Belloc

Tradução de António Jorge, M M

 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE NA PRÁTICA


 

As Virtudes Teologais – Fé, Esperança e Caridade

As Virtudes Teologais – Fé, Esperança e Caridade – são pilares fundamentais para uma vida espiritual elevada, e a sua aplicação prática também pode ser uma poderosa ferramenta na superação de problemas. A Esperança de alguém que acredita ser possível superar os seus problemas, não ter medo de buscar a solução e executá-la com coragem, na confiança de que o resultado virá.

Vejamos como estas virtudes se relacionam com o processo de enfrentamento e superação:

Esperança: é possível superar o problema

A virtude da Esperança convida-nos a acreditar num futuro melhor e a confiar que a superação é possível, mesmo diante de dificuldades. Ela alimenta o espírito com uma visão positiva e nos motiva a buscar soluções, ao invés de sucumbir ao desespero. Na prática, trata-se de cultivar a confiança de que, com esforço e persistência, haverá um desfecho favorável. A Esperança não é passiva; é uma força que nos impele a agir, sustentada pela visão de um bem maior.

Fé: buscar a solução com coragem e sem medo

A Fé nos dá a coragem de enfrentar o desconhecido e de caminhar por terrenos incertos. Ela fortalece-nos na busca por soluções, ao confiar que, mesmo sem controle absoluto das circunstâncias, há um propósito superior e um caminho a ser seguido. A pessoa deve exercitar a confiança em si mesma, nos outros (quando aplicável) e em algo maior que nos guia. A Fé elimina o medo paralisante e nos encoraja a dar os passos necessários, mesmo quando o resultado ainda não é visível.

Caridade: executar a solução com coragem e confiança

A Caridade, entendida como amor e ação em prol do bem, é a virtude que transforma os desejos e intenções em ações concretas. Ela nos lembra que a superação de problemas não é apenas para benefício próprio, mas para contribuir com algo maior e beneficiar os que nos cercam. E isso requer agir com coragem, mesmo diante de desafios, acreditando no impacto positivo das suas ações. Este é o momento de concretizar o que foi idealizado com Esperança e impulsionado pela Fé.

Assim, o ciclo completo – Esperança, Fé e Caridade – mostra-nos que a Esperança nos faz acreditar que a superação é possível., a Fé nos fortalece para buscar soluções e encarar os desafios, e a Caridade leva-nos a agir, confiantes de que estamos contribuindo para algo maior.

Este ciclo não é apenas uma sequência lógica; ele se retroalimenta. À medida que você age com Caridade, reforça a sua Fé e renova a sua Esperança, criando um círculo virtuoso que torna cada superação mais significativa.

Esta abordagem prática com base nas virtudes teologais oferece uma estrutura espiritual e psicológica que equilibra a visão positiva, a ação decidida e o amor altruísta, proporcionando um caminho consistente para enfrentar e superar os desafios da vida.

O trecho bíblico de Mateus, no capítulo 10, versículos 26 a 33, contém palavras de Jesus que inspiram confiança e coragem aos seus discípulos, especialmente em momentos de perseguição e adversidade. Vamos analisá-lo sob a óptica das virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e a sua aplicação na superação de problemas.

Texto Sagrado: Mateus 10:26-33 (resumo e contexto)

  • Jesus encoraja os discípulos a não temerem, pois tudo será revelado e conhecido (v.26-27).
  • Ele afirma que devem anunciar sem medo, mesmo em face de opositores (v.28).
  • Enfatiza o cuidado divino, comparando a proteção de Deus aos pardais (v.29-31).
  • Declara a importância de confessar a Cristo perante os homens, prometendo reconhecimento diante de Deus (v.32-33).

Comentário sob a óptica das Virtudes Teologais

Esperança: “Não temais” (v.26, 28, 31)

Jesus começa com um chamado à Esperança: “Não temais”. Ele assegura aos discípulos que a verdade prevalecerá e que nada ficará escondido. Isso evoca a certeza de que o bem triunfará, mesmo quando as circunstâncias parecem sombrias. Na prática, a Esperança dá-nos força para acreditar que os desafios podem ser superados, pois há uma ordem divina que governa o mundo e um propósito superior que guia as nossas ações.

Fé: “Não temais os que matam o corpo…” (v.28)

Aqui, Jesus apela diretamente à Fé: confiar em Deus mais do que nos perigos mundanos. Ele lembra que a alma é mais preciosa que o corpo, enfatizando a necessidade de focar no espiritual e eterno, em vez de se deixar dominar por medos terrenos. Na aplicação prática, equivale dizer que a Fé nos dá coragem para enfrentar adversidades, confiando que Deus está no controle e que as nossas ações, mesmo quando desafiadoras, têm valor eterno. Assim, enfrentamos os problemas sem sermos paralisados pelo medo.

Caridade: “Proclamai sobre os telhados” (v.27)

Jesus instrui os discípulos a anunciar a mensagem sem medo, declarando-a publicamente. Isso demonstra Caridade, pois a proclamação da verdade divina é um ato de amor ao próximo, ajudando outros a encontrar a mesma luz e redenção. Isto significa que a Caridade aqui está no ato de compartilhar a verdade e agir com coragem. Esta disposição de fazer o bem, mesmo em circunstâncias adversas, reflete o compromisso com algo maior do que os próprios interesses.

A promessa do reconhecimento (v.32-33)

Jesus conclui com a promessa de que aqueles que o confessarem perante os homens serão reconhecidos por Ele diante de Deus. Esta promessa reforça a relação entre Fé, Esperança e Caridade, de tal forma que a Esperança está na recompensa eterna nos motiva a seguir em frente, a Fé em Jesus Cristo como mediador nos dá confiança no caminho, e a Caridade no ato de confessar e viver a mensagem fortalece a nossa comunhão com Deus e com o próximo.

Integração com a reflexão sobre superação de problemas

O que o evangelista Mateus nos diz nestes versículos é um guia prático para lidar com problemas. A Esperança: Acredite que o bem e a verdade prevalecerão. A Fé: Confie no cuidado e na proteção de Deus, agindo sem medo, e a Caridade: Faça o bem e proclame a verdade, mesmo em situações difíceis, pois isso transforma problemas em oportunidades de crescimento espiritual.

Isto nos lembra que, ao enfrentarmos dificuldades com essas virtudes, caminhamos com coragem, propósito e confiança, fortalecendo a nossa alma e o nosso compromisso com Deus.

As Virtudes Teologais na senda maçônica

As virtudes teologais — Fé, Esperança e Caridade — encontram um solo fértil para aplicação na Maçonaria, uma instituição que busca o aperfeiçoamento moral, espiritual e intelectual do indivíduo. Elas podem ser integradas à jornada maçónica de forma prática e simbólica, contribuindo para o crescimento pessoal e o fortalecimento da fraternidade.

Fé: o alicerce da confiança na obra

A Fé na Maçonaria não está necessariamente vinculada a dogmas religiosos, mas à crença num princípio superior, representado pelo Grande Arquiteto do Universo. Ela orienta o Maçom a confiar no plano divino, na bondade intrínseca da humanidade e no poder transformador da verdade. Na prática da Senda Maçônica relacionada ao trabalho interno, a Fé inspira o Maçom a acreditar na sua capacidade de lapidar a pedra bruta, transformando os seus vícios em virtudes, e no trabalho coletivo, confiança na egrégora da Loja e nos objetivos comuns, promovendo harmonia e união entre os irmãos.

Esperança: a visão do progresso e do futuro melhor

A Esperança é uma virtude central para o Maçom, pois ele trabalha pela construção do Templo da Virtude — tanto em si mesmo quanto na sociedade. É ela que impulsiona o indivíduo a superar desafios, acreditando que os seus esforços contribuem para um mundo mais justo e fraterno. Na aprendizagem contínua, a Esperança atua no aprimoramento intelectual e espiritual por meio do estudo e da prática dos ensinamentos maçônicos. No impacto social, a crença de que as ações filantrópicas e os valores maçônicos podem transformar a sociedade num lugar mais ético e solidário.

Caridade: o amor em ação

A Caridade é a expressão mais tangível do amor fraternal, que permeia todos os graus e ritos maçônicos. É a prática da ajuda desinteressada e da empatia, tanto dentro da Loja quanto fora dela.

Na prática da Senda Maçônica, entre os irmãos, a Caridade manifesta-se no apoio mútuo, no compartilhamento de conhecimentos e na compreensão das dificuldades individuais, e na sociedade, a Hospitalaria, uma das colunas da Maçonaria, é um reflexo direto da Caridade, demonstrada através do auxílio aos necessitados e de projetos sociais.

Integração das virtudes na jornada maçônica

No Grau de Aprendiz, a Fé sustenta o Aprendiz no seu compromisso inicial com a busca do conhecimento e da verdade. No Grau de Companheiro, a Esperança guia o Companheiro na jornada de aperfeiçoamento intelectual e na busca do equilíbrio entre os mistérios do universo e de si mesmo, e no Grau de Mestre, a Caridade torna-se a virtude fundamental, simbolizando o amor maduro que transcende o ego e trabalha pelo bem maior.

A manifestação das virtudes na Loja

Nos Rituais, a invocação do Grande Arquiteto e as orações na Loja reforçam a Fé. A Esperança é simbolizada pela luz que ilumina o caminho do Maçom, enquanto a Cadeia de União exemplifica a Caridade no laço fraternal. Nas Práticas, a gestão do Tronco de Solidariedade e o apoio aos irmãos em dificuldade são expressões concretas dessas virtudes, e na filosofia, os símbolos maçônicos, como o Compasso e o Esquadro, evocam a harmonia e a medida justa que decorrem da vivência dessas virtudes.

Assim, a aplicação das Virtudes Teologais na senda maçônica significa internalizá-las como guias para a construção de um Templo Interior forte e harmonioso. A Fé nos dá a base; a Esperança nos move adiante; e a Caridade nos conecta aos outros, tornando a jornada coletiva e transformadora. Desta forma, o Maçom não apenas lapida a sua pedra, mas contribui ativamente para a construção de uma sociedade mais justa e iluminada.

Giovanni Angius, MI, 33º – REAA – Membro da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Orvalho do Hermon nº 21, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica do Estado do Espírito Santo – Brasil

 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

NÃO FALEM MAL DA MAÇONARIA PERTO DE MIM

 

O imortal compositor brasileiro Herivelto Martins, numa das suas mais belas criações musicais (Cabelos brancos), ao usar a frase “… Não falem dessa mulher perto de mim!”, certamente queria dizer que se sentiria indignado se alguém se arvorasse ao direito de falar mal de certa mulher pela qual era apaixonado.

Parafraseando o grande compositor brasileiro, quero dizer com a mesma indignação: Não falem mal da Maçonaria perto de mim…

Muitos oradores e escribas são contumazes em falar e escrever as mais variadas queixas contra a instituição maçônica. Estas atitudes nada constroem e exercem um efeito negativo devastador, principalmente sobre os Irmãos Aprendizes, ainda na tenra idade de formação maçônica.

As críticas são as mais variadas:

  • “… Ela está inerte”;
  • “… Não é mais como antigamente”;
  • “… Não tem mais discurso”;
  • “… Não tem mais representação política”;
  • etc…

Ouvi, ainda como Aprendiz, do grande mestre Ambrósio Peters, que a instituição maçônica sempre permaneceu fiel aos seus princípios. Os maçons é que, provavelmente, não cumprem os seus desígnios.

A Maçonaria tem sido coerente com as necessidades dos povos na busca das suas realizações. Além disto, os seus feitos são silenciosos e duradouros. Muitas das suas ações, nos níveis comunitário, regional, nacional ou mundial, apresentam resultados de longo prazo.

Podemos fazer muitas autocríticas quanto a diversos procedimentos das nossas Instituições, mas nunca olvidar que a Maçonaria somos nós mesmos e que a sua grandeza dependerá única e exclusivamente das nossas ações.

Hoje, não temos mais Independência nacional por fazer nem República a proclamar. Os problemas da pátria, no entanto, são outros e muito graves, dentre eles, a luta pela cidadania plena do nosso povo, se é que queremos falar de participação social e política.

A prática maçônica no Brasil abrange, pelo menos, três grandes áreas. A primeira é a prática da fraternidade e da benemerência; a segunda é o estudo e a prática do esoterismo e a terceira é a participação social e política nos processos de transformação do mundo profano.

Dificilmente encontraremos estes três perfis reunidos em cada Maçom. A maioria deles se dedica prioritariamente às práticas inerentes à fraternidade, à benemerência e ao aperfeiçoamento individual sempre de forma discreta, como convém.

Dado o exposto e abstraindo as incorreções e/ou equívocos, proclamamos a todos os Irmãos a assumirem a postura de indignação contra os discursos meramente reclamatórios sobre a nossa sagrada Instituição. Deixemos para os nossos tradicionais e desinformados detratores o papel de críticos da nossa existência.

Ao invés de críticas, vamos sugerir projetos de atuação.

A compreensão da verdadeira Filosofia Maçônica, por exemplo, exige previamente um ferramental esotérico capaz de abrir as nossas mentes à compreensão. Por que não lutar por isto?

A organização e a disciplina da Ordem Maçônica, com núcleos espalhados por todo o território nacional, são qualificações inéditas entre as organizações não governamentais do nosso país. É evidente que a Maçonaria poderia fazer um trabalho bem maior em prol do crescimento da qualidade de vida do nosso povo e da modernização do país.

Irmãos de diversas lojas e potências têm encontros marcados nas inúmeras instituições públicas, governamentais ou não, para influir com espírito maçônico no processo da verdadeira evolução do nosso povo, em direção à liberdade, fraternidade e igualdade.

Nas democracias modernas, faz-se necessário que a nossa instituição adopte um padrão ideológico para situar as propostas de ação da Maçonaria. Não é necessário receber um rótulo como os aplicados aos partidos políticos. O inadmissível é que ela seja ideologicamente conservadora.

Nos momentos históricos em que a Ordem foi mais visível, no auge do iluminismo, os maçons assumiram a ideologia liberal. Guardadas as diferenças históricas, aquela insurgência foi mais radical do que uma opção ao Marxismo no tempo atual.

Sem tecer julgamento de valor e sem apresentar qualquer crítica, é bom lembrar que a Maçonaria brasileira sempre foi frequentada maioritariamente pelas elites da pequena burguesia, com perfil político conservador, com nuances de liberalismo.

Alguém poderá dizer que a Maçonaria não precisa de ideologia, que ela admite a liberdade de todos os credos religiosos, políticos e muito mais.

Como já dissemos, não estamos falando de ideologia política stricto sensu, mas de uma linha de pensamento político-filosófico que abrigue o nosso discurso que é essencialmente de mudanças e progressista.

Concluindo, poderíamos dizer que a Maçonaria brasileira atual vai bem, obrigado, na sua tradicional prática da fraternidade e da benemerência. Como não há mais Independência nem República para proclamar, aqueles irmãos com ânsias de participação sociopolítica devem olhar para frente. O momento brasileiro é fertilíssimo e carente de grandes brasileiros que desejem, efetivamente, salvar o nosso país do desmando, da corrupção e do atraso a que nós temos submetido.

Alguém me disse que esse sonho começa com uma revolução na educação, para proporcionar condição de igualdade na busca da plena cidadania. Educação com igualdade, somente será possível por meio do ensino público, laico e de qualidade – há bem pouco tempo atrás, esta era uma bandeira de luta dogmática da Maçonaria. Esta bandeira de lutas continua atual. Vamos retomá-la?

Santo Zacarias Gomes, ARLS Acácia da Ilha nº 31- Florianópolis – SC – Grande Oriente de Santa Catarina (GOSC)

 


sexta-feira, 4 de julho de 2025

ESPELHO E REFLEXO – DO SÍMBOLO AO SIGNIFICADO

Os Símbolos e Ritos só fazem sentido se forem vividos e percebidos duma forma interiorizada, portanto contida e Reflexiva:

 Os Símbolos, indiciam significados, agitam e aguçam a mente, prometem metáforas e revelações;

 Os Ritos, servem e canonizam os símbolos, fazem perceber uma Ordem e nessa ordem adivinham-se princípios e virtudes, disciplinas e etapas e, mais importante, uma via, quase um trilho, para o conhecimento, sabedoria e, em alguns casos, para a sacralização do homem.

É pela Iniciação que se divisa e compreende a premência deste Universo, que se preconizam alguns significados, que se antegozam revelações e sentimos uma Obediência.

É no silêncio do Aprendiz que os Ritos lhe zelam pela observância dos sentidos, explanam virtudes e prefiguram Símbolos.

Refletindo, isto, foi o que me foi dado ver.

No ritual da minha Iniciação, depois de me ter sida concedida a Luz, fui confrontado com o meu pior inimigo, eu, obviamente, ali denunciado, pelo reflexo da minha imagem no espelho.

Por detrás dele, para minha alegria e contentamento, estava um Amigo, oferecido Padrinho, hoje um Irmão.

É sobre este reflexo que quero refletir e concentrar a minha atenção

O conceito de espelho aplica-se, genericamente, a qualquer superfície ou objeto polido, reconhecidamente capaz de reproduzir e, ou, refletir a Imagem de objetos visíveis e confrontáveis que se lhes apresentem.

Assim, quando comummente falamos de espelhos, ou de um frontispício (espelho) de um templo, falamos de matérias com propriedades refletoras e reflexivas, respectivamente.

De ambos se imaterializa a centelha, a luz e a sombra,

O Reflexo, o único que parece ainda emprestar e revelar ao espelho o agente do seu significado; já não existem espelhos, morreram pela essência do reflexo, que agora liberto, entrecruza-se e confronta-se com o real.

Este real já não cabe no profano, mudou-se, está em evolução, segue uma senda, tenta projetar-se nas virtudes e na fraternidade humana.

É então, agora, urgente, melhorar o Reflexo, o meu profano inimigo, aprender a refrear a sua soberba, domá-lo, vencê-lo, virtualizá-lo, atento aos caminhos do EU Real.

Intuitivamente, este EU Real, será o Espírito, uma partícula da Chama Sagrada, A Alma da Alma, a forma suprema porque Deus se revela ao Homem.

Dizem que a Alma é o Reflexo do Espírito.

Seria possível engrandecer este Reflexo, esta Alma, se não fosse Mente Espiritual?  

Desta forma, sei que as minhas reflexões de hoje, irão certamente sucumbir a uma sabedoria, que nos tempos, se perpetuará a Oriente.

José Sousa M.'.M.'.

 

 

 

domingo, 29 de junho de 2025

OS DECRETOS PAPAIS E A MAÇONARIA: UM OLHAR HISTÓRICO E TEOLÓGICO


 

À Glória do G:.A:.D:.U:.,

Meus II, em todos os Vossos GG:. e Qualidades,

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a Igreja Católica emitiu uma série de decretos e encíclicas que abordavam, de forma direta ou indireta, os perigos que atribuía à Maçonaria. Estas declarações papais, em contextos de intensas transformações sociais e políticas, pretendiam salvaguardar a doutrina e a ordem eclesiástica, condenando os valores de secretismo, relativismo moral e o individualismo que, segundo os pontífices, se associavam aos ideais maçónicos. A seguir, analisamos cada um destes decretos e o seu posicionamento face à Maçonaria.

1. INÍCIOS DO DEBATE: AS PRIMEIROS ADVERTÊNCIAS

Providas Romanorum (Bento XIV, 1751) Este decreto é um dos primeiros sinais de alerta da Igreja contra as sociedades secretas. Em Providas Romanorum, Bento XIV já manifestava a preocupação de que os preceitos de organizações como a Maçonaria pudessem subverter a disciplina e a ordem interna da Igreja. A ênfase recai na necessidade de manter a integridade dos ensinamentos apostólicos, evitando influências que pudessem minar a autoridade papal.

Inscrutabili Divinae (Pio VI, 1775)

Com o avanço do Iluminismo e o crescimento das sociedades esotéricas, Inscrutabili Divinae surge como uma resposta do pontificado de Pio VI. Este decreto ressalta o mistério da revelação divina em contraste com os segredos humanos, denunciando a natureza oculta e potencialmente perniciosa de instituições que promovem o relativismo moral e a dúvida sobre a fé tradicional.

2. CONSOLIDAÇÃO DA POSIÇÃO DA IGREJA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX

Ecclesiam a Jesu Christo (Pio VII, 1821)

Em Ecclesiam a Jesu Christo, Pio VII reafirma a centralidade de Cristo na identidade da Igreja e, ao fazê-lo, contrapõe os princípios maçónicos que tendem a desvalorizar a hierarquia e a autoridade eclesiástica. Este decreto deixa claro que a verdadeira comunhão dos fiéis passa pela adesão à mensagem de Cristo e não por práticas secretas ou iniciáticas.

Quo Graviora Mala (Leão XII, 1825)

Quo Graviora Mala é uma manifestação clara da preocupação com os males que ameaçam a ordem moral e espiritual da sociedade. Leão XII utiliza este documento para denunciar os perigos de ideologias que, ao se oporem à fé cristã, colocam em risco a coesão e a estabilidade da comunidade de fiéis. Entre essas ameaças, os ensinamentos maçônicos são vistos como um elemento desestabilizador.

3. O PERÍODO DE PIO VIII E A REAFIRMAÇÃO DA TRADIÇÃO

Traditi Humilitati (1829) e Litteris Altero (1830)

Durante o pontificado de Pio VIII, estes decretos enfatizam a importância da humildade e da fidelidade à tradição. Tanto Traditi Humilitati como Litteris Altero abordam, ainda que de forma indireta, a necessidade de rejeitar qualquer sistema de pensamento que se afaste dos preceitos revelados. A Maçonaria, com os seus rituais e juramentos secretos, é considerada incompatível com a transparência e a simplicidade que devem marcar a vida cristã.

Mirari Vos (Gregório XVI, 1832)

Um dos decretos mais emblemáticos, Mirari Vos, de Gregório XVI, critica de forma veemente a liberdade de pensamento desenfreada e o relativismo moral. Embora não se limite exclusivamente à Maçonaria, este documento condena ideias que promovem a tolerância de múltiplas verdades e a fragmentação da fé. A Maçonaria, com a sua ênfase na liberdade individual e na igualdade entre os seus membros, é vista como um agente corrosivo da autoridade tradicional da Igreja.

4. EXPANSÃO DO DISCURSO CONSTRANGEDOR: MEADOS DO SÉCULO XIX

Qui Pluribus (1846) e Quibus Quantisque Malis (1849)

Estes decretos, emitidos em um período de intensificação das tensões ideológicas, aprofundam a crítica aos erros que ameaçam a unidade da fé. Ao expor “malos” que se espalham pela sociedade, os papas situam a Maçonaria como um dos fatores que incentivam a disseminação de doutrinas contrárias à verdade revelada e à ordem eclesiástica.

Quanta Cura (1864), Multiplices Inter (1865) e Apostolicae Sedis Moderatoni (1869)

No contexto do pontificado de Pio IX, estes documentos ampliam a discussão sobre os riscos que organizações secretas representam para a moral e para a própria estrutura da Igreja. Quanta Cura e Multiplices Inter alertam para os perigos da influência maçônica em ambientes políticos e sociais, enquanto Apostolicae Sedis Moderatoni busca moderar os excessos, reafirmando o compromisso com a tradição sem ceder a pressões modernas.

Etsi Multa (1873) e Etsi Nos (1882) Continuando a linha de defesa contra as ameaças internas, estes decretos enfatizam como os ensinamentos e práticas das sociedades secretas, como a Maçonaria, podem semear discórdia e desunião entre os fiéis. A ênfase é na preservação de uma fé única, que não possa ser diluída por práticas iniciáticas e relativistas.

5. A CONDENAÇÃO MAIS ENFÁTICA: A ERA DE PIO IX E LEÃO XIII

Humanum Genus (1884)

Considerado um dos decretos mais contundentes, Humanum Genus, de Leão XIII, dedica-se inteiramente à condenação da Maçonaria. O documento denuncia os efeitos corrosivos dos ideais maçónicos sobre a sociedade e a Igreja, apontando para a sua propensão a promover uma ruptura com a tradição, a moralidade e a ordem divinamente instituídas. O tom do decreto é marcadamente enérgico, classificando os ensinamentos maçônicos como incompatíveis com a fé católica.

Officio Sanctissimo (1887), Dall'Alto Dell'Apostolico Seggio (1890), Inimica Vis (1892), Custodi di quella fede (1892) e Praeclara (1894)

Estes decretos complementam e reforçam a condenação já expressa em Humanum Genus. Cada um, com as suas nuances, aborda diferentes aspectos da influência maçónica:

● Officio Sanctissimo e Dall'Alto Dell'Apostolico Seggio reiteram a necessidade de se preservar a santidade e a unidade da Igreja contra os ataques das doutrinas iniciáticas.

● Inimica Vis e Custodi di quella fede alertam para a agressividade das ideias maçónicas, que, segundo os papas, colocam em risco a coesão dos fiéis.

● Praeclara sublinha a importância de uma fé inabalável, livre das seduções do pensamento relativista que a Maçonaria representava.

Annum Ingressi (1902) – Leão XIII Encerrando esta sequência de declarações, Annum Ingressi reafirma a continuidade do posicionamento crítico da Igreja em relação à Maçonaria. Leão XIII, ao analisar o contexto moderno, ressalta que os perigos apontados nos decretos anteriores permanecem relevantes e que o compromisso com a verdade e a tradição cristã deve ser preservado frente a quaisquer ideologias que visem subverter a ordem divina.

CONCLUSÃO

Os decretos papais analisados ao longo deste artigo demonstram uma linha contínua e evolutiva de defesa da fé contra os perigos que os papas associavam à Maçonaria. Desde os alertas iniciais de Bento XIV, passando pelas críticas vigorosas de Gregório XVI e culminando na condenação enfática de Leão XIII, cada documento reflete o empenho da Igreja em manter a unidade doutrinária e moral dos seus fiéis. Estes escritos não só denunciaram o secretismo e o relativismo inerentes aos ensinamentos maçônicos, mas também ofereceram uma defesa robusta dos valores da tradição cristã, que continua a influenciar o debate religioso e social até os dias atuais.

Disse, V:. M:.

Michel Melo 23-04-6025

sábado, 28 de junho de 2025

UM MOTIVO PARA SER MAÇOM

Único - Desejo de aperfeiçoamento

Só existe uma motivação válida para se pretender ser admitido maçom: o desejo de se aperfeiçoar pessoal, ética e espiritualmente.

Quem, sendo homem crente, livre e de bons costumes, tiver este desígnio e estiver disposto a utilizar o método maçônico na busca do transcendente, é bem-vindo!

Esse pode estar ciente de que nada lhe é ensinado, mas tudo pode aprender.

Esse pode confiar que nada lhe é imposto, mas que de bom grado aceitará as regras de conduta que encontrará.

Esse pode e deve estar preparado para um longo, e difícil, e trabalhoso, percurso, mas verificará que nunca fará sua jornada só, antes e sempre acompanhado por seus Irmãos.

Esse pode ficar certo de que começou o seu trabalho no momento em que foi iniciado e que só o terminará no momento da sua passagem ao Oriente Eterno.

Esse, se fizer bem e persistentemente o seu trabalho, tornar-se-á melhor, portar-se-á melhor, atuará melhor, em todos os aspectos da sua vida e será assim e só assim, por virtude, da sua melhoria, que será respeitado e poderá aspirar a influenciar os demais, quiçá na Política, porventura nos negócios, seguramente nas relações sociais, mas sobretudo nos corações de quem com ele privar.

Esse será solidário e benemerente, porque assim a sua condição de maçom, de homem justo e íntegro e interessado o levará a ser, com a naturalidade de quem respira e a discrição de quem dorme.

Esse, se fizer bem e persistentemente o seu trabalho, poderá aspirar a Conhecer, a conhecer o que ninguém lhe pode transmitir, a conhecer o que só ele pode intuir, a entrever o Divino, a espreitar o Sentido da Vida e da Criação.

E, se o conseguir, vai entender que não conseguirá por palavras transmitir esse conhecimento a mais ninguém, apenas ajudar seus Irmãos a fazerem seus percursos para poderem aspirar a intuir, a entrever, a espreitar. E então perceberá que esse é o célebre segredo e o é devido à incapacidade humana de conseguir que deixe de o ser.

Esse, se fizer bem e persistentemente o seu trabalho, terá um lampejo de compreensão do significado da Vida e da Morte e não temerá esta e assim verdadeiramente cumprirá o que Camões cantou e será um d' "aqueles que por obras valorosas /se vão da lei da Morte libertando".

Esse, se fizer bem e persistentemente o seu trabalho, será, ainda que nunca nada mais sendo do que simples obreiro numa simples Loja, um verdadeiro Grão-Mestre, de si próprio, da sua consciência, de seu percurso iniciático.

Esse, ainda que nunca o tenha visto nem sentido, já usa o avental; os maçons limitar-se-ão a ajustar à sua cintura a peça visível.

Esse será o Aprendiz que eu, Mestre eternamente Aprendiz, jubilosamente ajudarei a evoluir e a tornar-se Mestre, certo de que ele próprio também me ajudará a mim, Aprendiz em veste de Mestre, a dar mais um pequeno passo no meu sempre inacabado percurso.

Esse não terá a honra de ser admitido maçom; esse honrará os maçons ao consentir em se juntar a eles.

Texto de Rui Bandeira

 

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