quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

VENERÁVEL MESTRE


 

Consiste no representante maior de uma Loja Maçônica, sendo o seu presidente e condutor dos trabalhos de uma sessão em Templo, tratando-se, também, do responsável legal da Loja perante a sua Potência Maçônica, assim como às demais instituições ligadas à Sublime Ordem e ao mundo profano.

Por ocasião das sessões de sua Loja, o Venerável Mestre representa Salomão na condução de seu povo. O Maçom, no desempenho desse honroso cargo, não pode ter apadrinhados, amigos nem inimigos, já que todos os membros da Loja são seus irmãos e colaboradores, devendo, desse modo ser tratados de forma fraternal, numa verdadeira convivência sincera e igual.

Cumprir e fazer cumprir fielmente o Vade Mecum e o Regulamento Geral da sua Potência Maçônica, assim também como o Regulamento Interno da sua Loja. Ser Venerável de uma Loja não é uma função espinhosa como muitos assim o dizem.

Missão espinhosa é comandar uma horda de baderneiros e não um grupo seleto de Maçons, os quais são homens livres e de bons costumes. A insígnia de um Venerável Mestre é originalmente, um esquadro, enquanto as suas atribuições, além das previstas nos rituais maçônicos, são:

a) Presidir os trabalhos da Loja, de combinação com o que originam as Leis Maçônicas;

b) preparar juntamente com o secretário, as pautas das reuniões;

c) assinar conjuntamente com o orador e o secretário, os balaústres das sessões, após a aprovação pelo plenário;

d) despachar o expediente, bem como constituir regras administrativas;

e) baixar atos de sua própria lavra, além de resoluções das decisões do plenário da Loja;

f) instituir comissões para fins característicos;

g) por ocasião das reuniões, outorgar a palavra aos obreiros, negá-la ou cassá-la, quando motivo justificado assim o determinar;

h) interromper os trabalhos ou encerrá-los, se não for possível manter a ordem e a disciplina nas reuniões;

i) deliberar com tolerância e aceleração as questões de ordem que forem levantadas;

j) colocar em sufrágio, após as arremate do orador, os contextos aventados na “Ordem do Dia”;

k) possibilitar ao tesoureiro proceder ao pagamento dos dispêndios na dotação da Loja, dando ciência ao plenário na reunião seguinte;

 l) analisar com assiduidade os “Livros Contábeis” da Loja, fazendo ajustar as anormalidades averiguadas;

m) acatar as exigências do Grão-Mestre de sua Potência, com relação ao recolhimento de livros e documentos produzidas pela Loja, bem como apresentar os subsídios e elucidações, quando solicitado por ele;

n) desempenhar comando disciplinar sobre os Maçons presentes à sessão da Loja, fazendo cobrir o Templo a qualquer obreiro que venha alterar a ordem dos trabalhos;

o) subscrever o encerramento do “Livro de Presença”, ao término de cada sessão; p) elaborar a previsão orçamentária juntamente com o tesoureiro;

p) questionar a sua Potência sobre as deliberações adversas à legislação desta;

q) instaurar processo disciplinar contra obreiro do “Quadro da Loja”, que tenha empreendido falha grave, tanto no âmbito maçônico como no mundo profano;

r) impedir com segurança, contendas sobre matérias que possam embaraçar a harmonia e a fraternidade da Loja;

s) informar com antecedência ao seu substituto legal, quando de possíveis faltas às sessões da Loja, bem como nos casos de impedimentos;

t) despachar solicitações à sua Potência, quando da concretização de sessões magnas que a Loja venha a realizar;

u) iniciar, elevar, exaltar, filiar e regularizar obreiros com os protocolos ritualísticos, após a aceitação dos adequados “quit-placet”, despachados pela sua Potência;

v) esparzir de forma confidencial, as investigações atinentes aos processos de iniciação, filiação e regularização;

w) nomear e dispensar livremente os oficiais administrativos e litúrgicos, desde que não sejam possuidores de mandato eletivo; x) nomear os membros das Comissões Permanentes da Loja;

y) oferecer para julgamento do plenário, na última reunião ordinária do seu encargo, o Relatório Administrativo e Financeiro da sua gestão;

z) encaminhar a sua Potência, escutado o plenário da Loja, as reivindicações e os expedientes formulados por obreiros;

z-1) requerer ao Grão-Mestre da sua Potência, devidamente abonada, a isenção de interstício para elevação e exaltação de obreiros;

z-2) manter sob malhete, pelo prazo de quinze dias, qualquer recurso que aquilatar pernicioso à boa ordem dos trabalhos ou à concórdia da Loja, diligenciando no sentido de superá-lo. Não conseguindo, deverá levar o assunto à análise do plenário. – O Venerável Mestre, tem acento no Trono de Salomão, porém esta regra, por motivos hierárquicos, apresenta exceção, ou seja:

Encontrando-se presentes à sessão o Grão-Mestre ou o Grão-Mestre Adjunto da sua Potência, o Venerável deverá lhes passar a presidência dos trabalhos, lhes cedendo, consequentemente, o Trono da Loja, passando, então, a ocupar a cadeira situada à direita deste. Por outro lado, nas faltas e impedimentos do Venerável Mestre, este será substituído, obedecendo a seguinte ordem:

a) Pelo Primeiro Vigilante;

b) pelo Segundo Vigilante, na falta do Primeiro; e,

c) na ausência de ambos, pelo Venerável Mestre de Honra ou pelo ex-Venerável mais moderno, desde que tenha autorização para tal, e, mesmo assim, nos casos de excepcionalidade.

Dicionário Maçônico Cristão.

Gilberto Lyra Stuckert Filho.

 

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

FELIZ NATAL

MEUS QUERIDOS IRMÃOS

Hoje estamos aqui para mandar, a cada um, uma mensagem de Paz e Amor em virtude do Natal que se aproxima e do final de Ano e Chegada do Novo Ano de 2026.

Dedico esta linda mensagem em "idioma maçônico" para todos os maçons que repartem comigo, e entre si, o universo em que vivemos.

O Natal e o Ano Novo se aproximam!

Roguemos ao Grande Arquiteto do Universo, para que possamos:

. Medir nossos projetos com a exatidão da régua de 24 polegadas;

- Remover de nossos sonhos os empecilhos, com a ajuda da alavanca;

. Aplainar nossos caminhos com a horizontalidade do nível;

. Vencer nossos problemas com a potência do maço e o corte do cinzel;

. Festejar nossos feitos com os olhos voltados para o Alto, tal qual a verticalidade do prumo;

. Emitir nossos livres pensamentos nas linhas retas do esquadro e nos círculos do compasso;

. Detectar as nossas imperfeições com o malho e o cinzel na Pedra Bruta;

. Buscar o progresso espiritual rumo à Pedra Polida;

. Afastar nosso desânimo com o conforto encontrado nas páginas do Livro da Lei;

. Ter a prosperidade em nosso Lar, tal qual a profusão dos grãos das romãs;

. Contar com o mais belo brilho do Sol em cada amanhecer que aponta no Oriente;

. Lembrar-nos de render graças ao Grande Arquiteto do Universo por tudo que Ele nos reserva no espetáculo de nossas Vidas, no tempo exaurido pela Ampulheta.

E na noite de Natal, ao lado dos nossos familiares, irmãos Maçons e amigos, possamos elevar nossos pensamentos por 3 x 3 vezes em favor da Humanidade!

FELIZ NATAL À TODOS OS IRMÃOS ESPALHADOS PELA FACE DA TERRA!

 Paulo Edgar Melo

 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

O MEDO- A PERSPECTIVA DE UM MAÇOM

Convosco quero partilhar um tema mais ou menos consciente em cada um de nós, que desde muito cedo, é difundido na nossa programação de vida, através de ensinamentos e formatações e que de forma sutil vai provocando inúmeros estragos e limitações...o medo!

De forma mais ou menos consciente na vida de cada ser, o medo mostra-se integrado na programação de vida, revelando sinais e propostas de melhoramento interno, que na grande maioria das vezes, requerem níveis mais despertos de consciência e atenção, para que sejam ultrapassados processos limitadores e limitativos do potencial humano intrínseco a todos e a cada um de nós.

O ego, agente regulador do processo individual de conhecimento e aprendizagem, permite através do medo, julgar formas e acontecimentos, na procura incessante, nem sempre descodificada, da ilusória sensação de proteção, aceitação e bem estar.

Dependendo da forma como cada ser foi programado, através de um conjunto de vivências pessoais, assim julga e interpreta, subjugado aos filtros criados que, no decorrer do seu processo individual e coletivo de crescimento, foram sendo construídos e estruturados.

O medo, torna-se assim numa potente ferramenta de controle e condicionamento, que desde cedo, passou a ser utilizado, como forma de dirigir e subjugar vontades em benefício dos interesses próprios.

O medo, é no meu entender o maior e mais difundido veneno, a antítese do nosso processo intrínseco de evolução, que se encontra institucionalmente liberalizado e disseminado pela grande maioria da população mundial.

O medo impede e castra a capacidade de ação.

Tenho para mim uma máxima de vida que diz: “No dia em que largarmos esta experiência terrena, e ficarmos frente-a-frente com Deus, entenda-se a nossa consciência, Ele não nos vai perguntar o que fizemos, mas antes, o que não fomos capazes de fazer!! ”. E aqui, seremos obrigados a entender, por força das circunstâncias, que por medo, muito deixamos de fazer, hipotecando assim, esta maravilhosa oportunidade de vida.

E muitos, no seu processo final de vida encarnada, deixam transparecer no olhar, o espelho da alma, um sentimento de desperdício e frustração!

Quantos de nós deixamos escapar uma determinada oportunidade, matando-a mesmo antes de nascer, pelos filtros de medo e julgamento que nos impediram de agir??

Quantos de nós vivemos vidas infelizes com elevados níveis de frustração, por não conseguirmos agir escutando o nosso coração?? subjugados a padrões, com os quais não nos identificamos, mas que ao abrigo de convenções estruturadas, com medo de as quebrar, não ousamos transpor??

Pois é MM
QQ II, muito provavelmente TODOS!

Mas já me darei por feliz se pelo menos tiver despertado em vós, a necessidade de estarmos permanentemente atentos e vigilantes aos acontecimentos condicionados pelo o medo, que no meu entender, quando não devidamente descodificados, tornam-se na maior contradição do princípio orientador da nossa Ordem – o de nos cumprirmos como homens e de trabalharmos a nossa pedra bruta, sem medo!

Tenho para mim uma linha orientadora de vida que ensina. Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta! E nesse sentido, vejo o medo como um filtro que nos impede de despertar do percurso da ilusão, que nos impede de encontrar o caminho de volta para a casa! Impede-nos de olharmos a necessidade de aprimoramento interior de forma isenta e construtiva, camuflando todo o processo evolutivo e isentando, de forma mais ou menos temporária, as reais necessidades corretivas que a todos e a cada um de nós, individualmente dizem respeito.

O adiar permanente da necessidade de alinhamento com o MOMENTO PRESENTE, o único ponto da nossa existência onde nos é permitido alcançar estados de consciência verdadeiramente únicos e onde o medo não reside, conduz-nos a um constante sentimento de frustração pela busca incessante de algo que não temos e que procuramos alcançar mais na frente, aliando no tempo a expectativa de satisfação que teima em chegar...

O passado, já passou é por isso história, o futuro por ser uma expectativa é uma incógnita, o momento presente, é assim chamado, por se tratar de uma dádiva... um verdadeiro presente!

No MOMENTO PRESENTE a expectativa de futuro não existe, como tal o medo do que poderá vir a seguir, deixa de existir

Pois é meus queridos irmãos, vivemos identificados com a imagem cartunesca do burrico que se deixa conduzir pelo dono sem escrúpulos, com uma vara, um fio e uma cenoura atada na ponta, que montado na garupa do pobre animal, acena a cenoura na frente do burro, que, sem a poder alcançar, motivado pelo medo de passar fome, acelera o passo para a comer... e assim se perpetua um ciclo que alicerçado no tempo, nos conduz com expectativa de momentos melhores... momentos esses que nunca chegam, pois não estão na frente. Estão no momento presente. E enquanto deste processo não estivermos conscientes, andaremos no encalço do inalcançável

Despertemos!

Foquemos a nossa atenção no percurso pessoal de crescimento para que a todos nos possa despertar, a cada momento, a permanente necessidade de crescimento, livre, ou cada vez menos limitada, de barreiras que nos impedem de manifestar a magnitude do nosso verdadeiro ser. Querendo dizer, interpretemos a cada momento a necessidade de nos ligarmos internamente, para nos mantermos alinhados na nossa própria essência, através do foco e atenção.

Este é um trabalho constante... parafraseando Jesus: “Orai e vigiai”

O nosso processo evolutivo, quando vivido em verdade, requer a consciência permanente deste princípio. A consciência do momento presente. Como a única porta de acesso e verdadeira ferramenta evolutiva ao alcance de todo o Ser humano. É nele que a noção de medo se desvanece, pois a expectativa do que vira a seguir, deixa de existir.

Procuremos conscientemente a cada momento, viver libertos das amarras do medo, esse potente veneno, antítese do verdadeiro crescimento humano.

Para finalizar, gostaria de deixar-vos a referência a dois livros, que representam para mim a estrutura do que acima partilhei convosco:

“O Poder do Agora”, de Eckhart Tolletaten

“As mensagens escondidas na água”, de Masaru Emoto

Se no primeiro livro sugerido, que muito provavelmente alguns de vós já leram, o título tudo diz, já o segundo fala de um cientista que criou um aparelho capaz de tirar fotografias das moléculas da água. Ele prova cientificamente, com resultados verdadeiramente surpreendentes, reportados em diversas imagens fotográficas, que através de emoções e pensamentos, é possível alterar a composição molecular da água.

Ora se identificarmos que 80% o nosso corpo é composto por água, torna-se mais importante ainda descodificar e trabalhar conscientemente as emoções que, tal como o medo, para além de interferirem no equilíbrio mental, físico e espiritual, atrasam e diminuem o potencial evolutivo do ser humano.

Compete-nos pois, assumir o controle deste processo!

Mário Tomás-MM

 

 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

CONSTRUINDO PONTES

Recorrente expressão que temos ouvido nas diversas narrativas e abordagens maçônicas é a de que a missão precípua do maçom é a de “construir pontes” ao invés de erigir muros.

O emprego desta terminologia é uma clara referência ao estágio atual das retaliações e políticas insensatas que acabaram por gerar proibições na Inter visitação entre Irmãos de Potências distintas, bem como a adoção de ações desmedidas e sem lastro de legitimidade com interpretações obtusas sobre Reconhecimento e Regularidade por parte de algumas dessas Potências.

Cabe, contudo, fazer uma concisa e tênue ilação à referida expressão, intimamente ligada ao Grau 19 da Maçonaria no grau filosófico do Rito Escocês Antigo e Aceito, sem obviamente adentrar em qualquer aspecto simbólico, alegórico, ritualístico ou de mérito dialético, obedecendo a hierarquia e os segredos de cada grau da Sublime Ordem.

No referido grau 19, o maçom é chamado de GRANDE PONTÍFICE ou SUBLIME ESCOCÊS. Este grau filosófico representa justamente a construção de pontes entre a ignorância e a sabedoria. Algo extremamente procedente para combater o cenário atual de que se revestiu a Maçonaria nesses últimos 7 anos.

A palavra PONTÍFICE origina-se do LATIM.

“PONS” - ponte

“FEX” - flexão do verbo fazer

Ou seja; “construtor de pontes”, termo que se referia a um membro do principal colégio de sacerdotes da Roma Antiga, responsável por supervisionar o culto religioso e à construção e manutenção das pontes, que eram cruciais para a cidade.

Com o tempo, o título passou a ser associado a figuras com autoridade religiosa, sendo hoje usado principalmente para se referir ao papa, ou seja; o Sumo Pontífice.

Por uma circunstância histórica, a Maçonaria Especulativa tomou o termo emprestado da Igreja como forma de argumentar e explicar o propósito de sua finalidade.

Trata-se de um grau cujo foco reside na busca por conhecimento, verdade e progresso moral e intelectual, e este grau prepara o maçom para os estudos filosóficos mais profundos dos graus subsequentes.

Na Maçonaria, a ponte é uma analogia para o acesso e o exercício do meio racional, crítico e científico de superar as trevas da ignorância, do fanatismo e do dogmatismo.

O oposto a este processo é erigir Muros, que filosoficamente representam a proibição, o impedimento às relações sociais, culturais e fraternas entre os Maçons, desvirtuando assim, o espírito e o caráter universal da Maçonaria, que como princípio e fundamento respeita todas as raças, etnias, cores, e crenças religiosas, sem qualquer distinção.

A rigor neste grau de “Grande Pontífice” o maçom é desafiado a se livrar de superstições, da arrogância e dos preconceitos, bem como de serem exemplos de sabedoria, justiça e integridade.

É por este motivo e inspirado por estes significados, que em variadas ocasiões, ouvimos nosso Sereníssimo Grão Mestre proferir esta expressão. A rigor, maçônicamente, construir pontes é pavimentar caminhos mais consistentes pelo aprimoramento de nossa consciência.

Newton Agrella-MI

 

 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

ATÉ ONDE VAI A TOLERÂNCIA NA ORDEM MAÇÔNICA?

Pergunta coloquial e de dificílima resposta à luz de nossos usos e costumes, permitindo a formatação de um compêndio, tamanha a amplitude dos posicionamentos emanados de muitos irmãos.

A tolerância é um dos pilares da convivência humana. É ela que permite que diferentes pensamentos, culturas, religiões e estilos de vida coexistam num mesmo espaço sem que o caos se instale. Mas, como toda virtude, ela tem limites. E é justamente nesses limites que se revela o dilema de cada sociedade, de cada indivíduo.

Somos ensinados, desde cedo, a respeitar as diferenças. Na escola, aprendemos que o coleguinha tem outro jeito de falar, outro tom de pele, outra fé, e que isso não diminui o valor de ninguém. Crescemos acreditando que aceitar o outro é sinal de maturidade e de humanidade. E, de fato, é. O problema começa quando a tolerância deixa de ser virtude e se transforma em passividade diante do inaceitável ou, pior ainda, de permissividade.

Até onde tolerar a injustiça? Até onde suportar a mentira disfarçada de opinião? Até onde aguentar o preconceito vestido de “sinceridade”? É nesse ponto que a tolerância, mormente a Maçônica, se vê diante de sua fronteira mais delicada: quando respeitar o outro significa violentar a si mesmo.

Há quem confunda tolerância com concordância. Não, não são a mesma coisa. Eu posso tolerar a ideia do outro sem jamais concordar com ela. Posso permitir que se expresse, mas não preciso me calar diante do que considero nocivo. Tolerância não é resignação. É equilíbrio.

O perigo está quando, em uma Loja Maçônica, em nome da paz, é decidido silenciar diante do intolerante. Quando o ódio se esconde atrás do direito de expressão e a violência se disfarça de liberdade. A tolerância não pode ser uma via de mão única. Se for, vira submissão.

É preciso lembrar que toda democracia se sustenta nesse jogo frágil de limites. Permite-se o diferente, mas não se deve abrir espaço para o que destrói a diferença. Quem prega a exclusão, a violência e o desrespeito não podem ser protegidos pelo manto da tolerância. Ser tolerante com o intolerante é dar-lhe a arma que voltará contra nós.

Na vida cotidiana maçônica, a medida da tolerância é ainda mais sutil. Quantas vezes suportamos calados pequenas agressões de um irmão ou de “grupinhos”, acreditando que é melhor não criar conflitos? Quantas vezes deixamos que um irmão ultrapasse nossa linha de respeito, só para manter o “clima leve”? E, ao final, percebemos que o peso de engolir tudo corrói por dentro.

Tolerar não significa aceitar tudo. É preciso saber dizer não. É preciso aprender que a firmeza também pode ser um gesto de respeito: respeito a si mesmo, respeito ao próprio limite. A fronteira entre a paciência e a omissão é tênue, e cada um precisa descobri-la em seu coração.

Talvez a verdadeira sabedoria emanada da Coluna Jônica esteja em cultivar uma tolerância ativa, e não passiva. Aquela que escuta, mas que também responde. Que compreende, mas que também delimita. Que permite o diferente, mas não o destrutivo.

No fundo, a pergunta não é apenas “até onde vai a tolerância na Maçonaria?”, mas também: “até onde eu suporto ser menos do que sou, em nome da Paz, da Harmonia e da Concórdia?”. A resposta não está nos livros, nem nas leis, mas na consciência de cada um.

A tolerância é nobre. Mas, como toda virtude, quando ultrapassa o limite, degenera. E, nesse instante, aquilo que era ponte se torna abismo. Cabe a nós vigiar o ponto exato onde a tolerância deixa de construir e começa a destruir.

Porque, no fim das contas, ser tolerante é aceitar o outro sem perder a si mesmo. E, se a tolerância exige a nossa própria anulação, então já não é tolerância — é rendição.

E ninguém deveria ser rendido em nome daquilo que nasceu para libertar. Aí surge um grande dilema: até quando ou qual o meu limite de tolerância para com meu irmão?

Essa é uma pergunta profunda. Quando falamos em tolerar o irmão — seja de sangue, de Ordem Maçônica ou até mesmo no sentido espiritual de “próximo” — entramos num território delicado.

Podemos dizer que a tolerância com o irmão vai até o ponto em que não nos leva à autodestruição. É nobre suportar falhas, compreender limitações, perdoar erros. Afinal, todos nós erramos e, em algum momento, também precisamos da paciência alheia.

Mas tolerar não significa aceitar abusos indefinidamente. Se a convivência passa a ferir a dignidade, o respeito ou a paz interior, é sinal de que o limite foi ultrapassado. Nesse momento, é possível — e necessário — amar à distância, preservando o coração sem se submeter ao que causa dor.

Ou seja:

 Toleramos para dar espaço ao crescimento do outro e ao nosso.

 Não toleramos quando isso alimenta injustiça, violência ou destruição.

O próprio Jesus ensinou o perdão sem medidas, mas também mostrou firmeza quando enfrentou a hipocrisia e a opressão. Perdoar é eterno, mas conviver em silêncio com o erro e o mal não é exigência espiritual — é aprisionamento.

Portanto, podemos tolerar o irmão enquanto houver possibilidade de diálogo, mudança, respeito e esperança. Mas, quando a tolerância vira cumplicidade com o erro ou ferida contra nós mesmos, o caminho é o afastamento sereno, sem ódio — apenas com amor e firmeza.

Aí entramos em outra seara: até quando devemos perdoar ao nosso irmão?

Na Maçonaria, o perdão e a tolerância são conceitos fundamentais que se entrelaçam, moldando a conduta e os relacionamentos dos maçons. Ambos não são apenas ideias abstratas, mas princípios ativos que os membros são encorajados a praticar no seu dia a dia.

O perdão, na perspectiva maçônica, é visto como um ato de libertação pessoal e de reconciliação. Não se trata de esquecer a ofensa, mas de liberar a si mesmo da amargura e do desejo de vingança. A Maçonaria ensina que a raiva e o ressentimento são pesos que impedem o crescimento espiritual e a evolução pessoal. Ao perdoar, o maçom não apenas beneficia a outra pessoa, mas, de forma mais crucial, a si mesmo.

O processo de perdão na Maçonaria é frequentemente comparado à ação de “desbastar a pedra bruta”, um dos principais símbolos da Ordem. Assim como a pedra bruta representa o indivíduo em seu estado imperfeito, o ato de perdoar ajuda a remover as arestas da intolerância e do rancor, permitindo que a pessoa se torne um ser humano mais refinado e virtuoso. É um passo essencial no caminho para se tornar uma “pedra polida”, pronta para ser usada na construção do “Templo da Virtude”.

A tolerância maçônica vai além de simplesmente “aguentar” as diferenças. Ela é um convite ativo à compreensão mútua e ao respeito pelas convicções alheias. Os maçons são instruídos a não discutir temas que possam gerar desunião dentro da Loja, como política partidária e disputas religiosas. O objetivo é criar um ambiente de harmonia onde o foco esteja no aprimoramento moral e ético de cada membro.

Essa tolerância é o alicerce para que o perdão possa florescer. Quando se entende e respeita o ponto de vista do outro, torna-se mais fácil compreender que todos estão em um processo de evolução, e que erros podem ser cometidos. A tolerância cria o espaço para que a compaixão e o perdão possam se manifestar, fortalecendo a fraternidade entre os irmãos.

Perdão e tolerância são interdependentes na Maçonaria:

 A tolerância é a condição prévia para o perdão.

 O perdão é a sua manifestação mais profunda.

A tolerância permite que o perdão seja possível: ao tolerar as diferenças e imperfeições dos outros, o maçom desenvolve a paciência e a empatia necessárias para perdoar quando uma ofensa ocorre.

O perdão fortalece a tolerância: ao perdoar, o maçom pratica a essência da tolerância, que é a aceitação de que todos são falíveis. Isso reforça o compromisso de respeitar e conviver com as diferenças, criando um ciclo virtuoso de harmonia.

Em resumo, a Maçonaria ensina que, para alcançar o verdadeiro aperfeiçoamento moral, é preciso cultivar tanto a tolerância — o respeito às diferenças — quanto o perdão — a libertação do rancor. Juntos, esses princípios capacitam os maçons a construir não apenas a si mesmos, mas também uma sociedade mais justa e fraterna.

Ir .'. Dário Angelo Baggieri

M.'. I.'. — CIM 157465

Cadeira nº 1 da AMLES — Patrono Alferes Tiradentes

 

 

sábado, 13 de dezembro de 2025

A MAÇONARIA ATRAVESSA UM DOS SEUS PERÍODOS MAIS SOMBRIOS

Uma Ordem construída para elevar consciências e formar homens livres está se deixando arrastar para o pântano da politicagem, das manobras de bastidor e dos arranjos profanos que nada têm de iniciáticos.

O Templo que deveria ecoar sabedoria e silêncio hoje se contamina com disputas mesquinhas por cargos, vaidades infladas e projetos pessoais travestidos de “interesse da Ordem”.

Há irmãos que esqueceram completamente que a Maçonaria não é carreira.

Não é trampolim.

Não é máquina eleitoral.

É caminho filosófico.

É ética.

É trabalho interior.

Mas alguns transformaram a instituição em praça pública de barganhas, como se nossos rituais fossem meras formalidades e nossas leis internas fossem peças maleáveis ao sabor de conveniências momentâneas.

O mais grave é ver que essa prática não apenas desvirtua a essência da Ordem — ela a profana.

Profana quando ignora a Constituição Maçônica.

Profana quando atropela regimentos.

Profana quando usa o avental para proteger interesses particulares.

Profana quando irmãos são tratados como peças descartáveis em jogos de poder.

E enquanto isso cresce, cresce também a sensação de que estamos nos afastando do verdadeiro propósito:

"Lapidar nossa pedra bruta, não disputar território político".

A Maçonaria não nasceu para ser um teatro de vaidades.

Não nasceu para ser um comitê de eleição permanente.

Nasceu para ser um farol moral.

Uma escola de virtudes.

Um espaço onde o homem comum se torna melhor do que era ontem.

Por isso, é preciso levantar a voz.

 É preciso confrontar os vícios internos com firmeza.

Não há como combater a corrupção profana quando toleramos pequenas corrupções dentro de casa.

Não há como falar de fraternidade quando há perseguição, favoritismo e coronelismo administrativo.

Não há como falar de liberdade quando o pensamento crítico é abafado pelos donos do poder.

Se a Ordem quiser sobreviver com dignidade, precisa retomar sua essência.

Precisa expulsar a mentalidade politiqueira que se infiltra sorrateira.

Precisa lembrar que um irmão sem valores nunca poderá ocupar um cargo com legitimidade.

E que nenhum avental — por mais adornado — tem valor quando quem lhe veste esquece que a Maçonaria é escola da alma, não palanque.

A reconstrução começa com coragem.

Com posicionamento.

Com a recusa em aceitar a decadência como normal.

A Maçonaria não é lugar para ambições profanas — e quem as cultiva deve ser chamado pelo nome: "desviou-se do caminho".

É hora de recuperar a Ordem — ou ela afundará sob o peso dos próprios vícios.

Ir Ricardo Martinez

 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O HOMEM E A RENOVAÇÃO MAÇÔNICA


 

“Um eterno aprendiz, nunca cessará o seu processo de aprendizagem”

A vida é uma escola continuada que temos ao nosso dispor desde o dia em que nascemos e até que exalemos o último suspiro estaremos sempre numa contínua aprendizagem.

Este processo passa talvez sem ser percebido pela maioria dos indivíduos que apenas transitam pela vida e não abstraem nenhuma lição útil para dar mais brilho aos seus espíritos.

Entretanto, ainda que não cheguemos a frequentar escolas regulares temos ao nosso dispor os costumes, as tradições, as normas de conduta transmitidas pelos mais velhos, as experiências e os conceitos de ética e moral que nos são disponibilizados.

Alguns indivíduos têm a chance de frequentar escolas, cursos profissionalizantes, universidades e expandir esses conhecimentos para além da maioria das pessoas, como pós-graduações, mestrados, doutorados e muito o que há ao seu dispor para os colocar acima da média no campo do conhecimento.

Tudo isto serve para aprimorar os espíritos que servirão para ficar em melhor comunhão consigo mesmo e com o universo que os rodeia, aí incluídos o resto da humanidade. De nada adianta tanta aprendizagem se ele não tiver como propósito o engrandecimento do indivíduo provido de alma que se relaciona com os seus iguais.

E há uma possibilidade disposta para o homem de bem que ama a liberdade e se habilita a conviver em harmonia com os seus irmãos a ajudar o Grande Arquiteto Do Universo na árdua tarefa de edificar um mundo melhor e mais justo.

A maçonaria universal possibilita a quem nela ingressa a união desses dois elos edificantes: o aprendiz e a aprendizagem, com a observância estrita de que o homem é um eterno aprendiz e que nunca cessará o seu processo de escolaridade. Na maçonaria o lema de aprender sempre precisa ser compreendido como a busca incessante pela verdade e pela evolução do espírito.

Esta é uma escola que se apresenta como uma faculdade da vida e que induz os seus integrantes a estarem em constante contato com as lições que servem para renovar o homem em todos os seus quesitos, como moral, espiritual, familiar, profissional e humano.

Um Maçom é um diligente e dedicado aprendiz, que cultua a virtude e combate os vícios que o desviam do rumo da perfeição. Nas nossas lojas buscamos aprender com os nossos irmãos a melhoria dos nossos edifícios interiores através da prática desses princípios: o exercício do amor, da tolerância, da humildade e da harmonia que deve reinar nas relações de todos os homens.

Cada Maçom é um aprendiz que tem ao seu lado um mestre pronto a ajudá-lo a rever a lição e aprimorar o ensinamento que lhe foi ministrado. Para que o aprendiz consiga abstrair em toda a sua essência o ensinamento a ele ministrado é preciso despir-se de capas e indumentárias que impedem essa evolução, por isto dizemos que um bom aprendiz consegue vencer as suas paixões e superar as suas vontades para crescer.

Somente com espírito aberto e sem vontades que nos prendem aos vícios e máculas trazidos pelas más experiências conseguimos elevar as nossas mentes à boa aprendizagem e à evolução que buscamos.

Para ingressar nas nossas fileiras o indivíduo precisa acreditar na existência de um princípio criador a quem chamamos de Deus, o Grande Arquiteto Do Universo. Isto engrandece o homem porque o coloca na senda da supremacia do amor, da concórdia, da paz e da retidão de caráter.

Assim, é imprescindível que cada irmão admitido na maçonaria seja um homem plenamente renovado na sua forma de encarar o mundo e se relacionar com os demais indivíduos que convivam ao seu redor.

Se não nos tornamos melhores quando ingressamos na nossa sublime ordem de nada adiantou o legado de lições que os nossos mestres nos transmitiram e terá sido em vão todo o tempo que dedicamos às nossas reflexões e todo o esforço que empreendemos na busca da verdade e da evolução dos nossos espíritos.

Se não conseguimos desbastar a pedra bruta que há em nós e não nos tornamos pedra polida ou cúbica o erro terá sido nosso por não sermos férteis em virtude e não nos despimos das nossas vontades e as imperfeições das nossas almas terão vencido.

O escritor francês Saint-Exupéry legou-nos ensinamentos primorosos sobre o sentido da renovação que cada indivíduo precisa ter em consonância para crescer e evoluir.

Renovar significa ser melhor a cada dia, abandonando os vícios da sociedade contemporânea como imediatismo, egoísmo, intolerância, concorrência desleal e hipocrisia.

Todos temos a oportunidade de nos reinventarmos a cada dia. Somente quem tem vontade e disciplina consegue se renovar com a aprendizagem que a vida nos possibilita.

Adolfo Ribeiro Valadares

 

domingo, 7 de dezembro de 2025

A FÁBULA DO PROFANO, ZOMBETEIRO E SEM RUMO


 

A Busca Vazia

Era uma vez um homem, um eterno profano, cujo único propósito parecia ser perturbar. Munido de uma curiosidade superficial e um falso brilho nos olhos, ele começou sua jornada: colecionar mestres da Maçonaria. Seu jogo era simples: preenchia formulários, marcava encontros e consumia o tempo precioso dos Mestres com perguntas vazias, fingindo um interesse que jamais se concretizaria.

Em menos de três anos, ele já tinha no currículo mais de trinta formulários de iniciação e conversas com igual número de Mestres. Suas promessas eram como fumaça: sumia na hora do compromisso, ignorando e desrespeitando o tempo e a boa-fé dos Obreiros.

O Zombo e a Ruptura

Um dia, reencontrou o primeiro Mestre, aquele que mais havia confiado nele. Com o coração ainda inclinado à esperança, o Mestre tentou uma última vez, explicando o processo iniciático com paciência. O Profano, porém, nem sequer esperou o final.

Ele explodiu em uma gargalhada de escárnio, apontando o dedo para o Mestre. "Maçonaria é isso? Tenho mais de trinta amigos maçons! Isso que o senhor fala não é nada!", vociferou. Zombou abertamente da Ordem, virou as costas e se retirou, convicto de que, por ter falado com muitos, sabia de tudo.

 A Queda e a Ilusão

Meses depois, navegando pelas redes sociais, a vaidade do Profano encontrou um espelho. Um indivíduo chamado Mister Willians, que se dizia "Illuminati", prometeu o que o Profano mais desejava: fama, riqueza e poder, tudo a troco de apenas 10 mil reais.

O Profano, sempre cético com a sabedoria, mas crédulo diante da ganância, não hesitou. Vendeu seu único bem, o carro, e depositou a quantia. Naquele instante, Mister Willians lhe deu a única verdade que ele ouviria: caiu na gargalhada e o bloqueou. O golpe estava consumado.

 O Preço da Arrogância

Desesperado, o Profano tentou reverter o erro. Buscou um por um os trinta Mestres, mas descobriu que a paciência tem limite: o desrespeito e a zombaria haviam custado seu acesso a qualquer ajuda. Ele estava bloqueado por todos.

Hoje, passados mais de dez anos, dizem que o Profano ajunta migalhas para tentar comprar um veículo muito inferior àquele que ele vendeu por uma ilusão. Sua vida segue sem rumo, uma prova viva de que a arrogância tem um preço caro.

 O Peso da Soberba

A humildade é a porta de entrada para a verdadeira elevação. Aquele que zomba da sabedoria e desrespeita o tempo dos Sábios se torna um alvo fácil para a ilusão e a fraude. O Profano que perdeu seu bem material não perdeu apenas dinheiro; perdeu a chance de evoluir, pois trocou a disciplina pelo escárnio e a verdade por uma mentira que lhe agradava.

Conclusão:

Não desperdice o tempo de quem quer te ensinar. A verdadeira riqueza não se compra, se conquista com esforço e respeito.

ÁTRIO DO SABER - MAÇONARIA & AMORC/CIÊNCIAS & FILOSOFIAS

 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

ERA VULGAR E ERA DA VERDADEIRA LUZ


 

Era – do latim aera, substantivo feminino, designa, dentre outros, o ponto determinado no tempo, que se toma por base ou referência para a contagem dos anos. Exemplo: a Era Cristã.

Sob esse aspecto o termo também representa o número de anos provindos a partir de algum acontecimento notável, cuja expressão época sugere o momento primordial desse episódio. É o caso bastante apropriado, por exemplo, no que se refere ao próprio começo dos tempos, ou o princípio do mundo.

Embora essa concepção seja ainda hoje especulativa, é graças a ela que muitas civilizações e religiões adotaram a sua própria “Era” relacionada com a criação do mundo. Dentre outros, os Judeus, por exemplo, concebem-na a partir do Pentateuco no primeiro livro de Gênesis, enquanto os Cristãos a idealizam a partir do nascimento de “Jesus Cristo”.

Vulgar – do adjetivo latino vulgare, menciona dente outros o que é relativo ou pertencente ao vulgo; comum, trivial, usual.

O termo “vulgar” relacionado à “era” (tempo) está presente, segundo alguns autores, embora ainda discutível, desde que os judeus estabeleceram o título “Era Vulgar” em substituição ao “antes e depois de Cristo”, fato que viria servir de parâmetro para designar o mundialmente conhecido Calendário Gregoriano, já que a Era Cristã e a Era Vulgar por força das circunstâncias se tornariam análogas.

Em se tratando de Maçonaria e o seu particular calendário, neste, o primeiro ano rotulado que aparece em antigos documentos do século XVIII é o Ano da Verdadeira Luz, em latim Anno Lucis, tido como a “idade dos cortadores de pedra” (Age of Stonecutters).

Buscando dar uma classificação independente de religião, bem como também dar um caráter de universalidade à Ordem, James Anderson, autor da Constituição de 1.723, baseado nos cálculos do bispo irlandês anglicano James Usher que houvera desenvolvido um estudo relativo à criação do mundo conforme o Livro de Gênesis e nos comentários críticos da massorat, segundo os quais a criação do mundo teria ocorrido em 4.004 antes de Cristo, Anderson então cogitou no texto constitucional que o início da Era Maçônica havia se dado 4.000 anos antes da Era Vulgar ou Era Comum (antes de Cristo).

Embora se perceba um pequeno arredondamento de quatro anos entre o resultado proposto por Usher e o adotado por Anderson prevaleceria maçônicamente o acréscimo da constante de 4.000 anos somada à Era Vulgar, cujo ano teria a mesma duração do Gregoriano, com a diferença de que o ano maçônico começaria no dia 1º de março, tendo os títulos dos meses designados conforme o seu número ordinal correspondente. Exemplos: segundo Anderson, o dia 1º de março de 2.014 da Era Vulgar (EV) corresponde ao dia 01 do mês 01 do ano de 6.014 da VL; o dia 10 de Junho de 2.014 da EV corresponde ao dia 10 do mês 04 do ano de 6.014 da VL.

À bem da verdade essa inserção de Anderson não pode ser considerada como uma regra geral e única adotada pela Moderna Maçonaria (a partir de 1.717), até porque com a evolução e a proliferação de ritos e sistemas maçônicos, particularidades nesse sentido devem ser criteriosamente observadas, sobretudo sobre o ponto de vista cultural e até mesmo religioso que possa envolver o costume.

Assim é o caso, por exemplo, de uma grande parcela dos trabalhos inerentes ao franco-maçônico básico da Maçonaria anglo-saxônica, bem como o Rito Moderno, ou Francês que adotam o calendário da Verdadeira Luz conforme o anteriormente mencionado, enquanto que o Rito Adonhiramita (origem francesa) adota um calendário equinocial que, embora também mantenha a mesma constante de 4.000 acrescida à Era Vulgar, tem o ano maçônico iniciado – ao invés do dia 1º – em 21 (vinte e um) de Março que corresponde ao primeiro dia do primeiro mês.

Já no caso do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito (também filho espiritual de França), provavelmente pela forte influência hebraica exercida sobre ele, adota para a Verdadeira Luz a constante de 3.760 [4] somada à Era Vulgar (gregoriana) entre os dias 1º de janeiro até 20 de setembro e 3.761 entre 21 de setembro e 31 de dezembro.

Nesse caso o ano maçônico tem início em 21 de março no equinócio de Primavera no hemisfério Norte o que por certo aspecto até se confunde com o calendário religioso hebraico (judaico) que é lunar e geralmente começa também no ponto vernal que ocorre na meia-esfera boreal do Planeta, cujo primeiro mês tem o nome de Nissan. Assim no simbolismo do Rito Escocês o dia 21 de março de 2.014, por exemplo, corresponde ao 1º dia do 1º mês Nissan do ano de 5.774 da Verdadeira Luz (2.014 + 3.760 = 5.774), enquanto o dia 21 de setembro de 2.014 corresponde ao 1º dia do 7º mês Tishrei ou Tishri do ano de 5.775 da VL (2.014 + 3.761 = 5.775).

A explicação para a diferença de constantes (3.760 ou 3.761) é porque o ano civil hebraico (judaico) geralmente quase coincide no seu princípio com o início da estação do Outono no hemisfério Norte (21 de setembro). Assim o calendário hebraico (judaico) se constitui pelo ano religioso e pelo ano civil, cujos respectivos inícios se dão muito próximos aos equinócios de Primavera e Outono no Norte. O religioso no mês Nissan próximo a 21 de março e o civil no mês Tishrei ou Tishri conexo a 21 de setembro.

Vale a pena mencionar que é no sétimo mês (Tishrei) que ocorre o Rosh Hashaná, o Yon Kippur e o Sucot.

A título de ilustração, em se tratando de Rito Escocês Antigo e Aceito e citando como exemplo os seus Supremos Conselhos norte-americanos, em linhas gerais eles adotam o termo Ano do Mundo (Anno Mundi) em lugar do título Verdadeira Luz e usam também a constante de 3.760 somada à Era Vulgar, porém a partir de 1º de janeiro até 31 de agosto e 3.761 a partir de 1º de setembro até 31 de dezembro. Nesse particular o ano se inicia em primeiro de setembro do ano em curso e se encerra em trinta e um de agosto do ano seguinte. Os meses são designados por numeração ordinal, assim setembro é o primeiro mês, enquanto Agosto, por exemplo, é o décimo segundo e último mês.

Também na Maçonaria e conforme os costumes e práticas ainda pede-se encontrar outros cálculos inerentes ao calendário, todavia os até aqui mencionados são os principais e os que mais aparecem dentro do franco-maçônico básico.

Em resumo a Era da Verdadeira Luz pode ser encontrada nos conceitos maçônicos adicionando-se as constantes de 4.000, 3.760 ou 3.761, conforme o caso, ao ano da Era Vulgar (calendário Gregoriano).

Antes de dar por concluídas as considerações, vale a pena aqui mencionar que o ideário relacionado aos calendários maçônicos e a sua afinidade com fatos históricos e lendas religiosas do passado é apenas e tão somente simbólica, não incentivando ninguém a imaginar a existência da Maçonaria junto ao princípio do mundo. O conceito provavelmente foi idealizado no intuito de simbolizar uma antiguidade para pragmática maçônica, e não a idade da Sublime Instituição que verdadeiramente possui aproximados oitocentos anos de história.

Graças ao ufanismo de alguns somados às falsas interpretações do calendário por outros é que no Brasil arrumaram uma data equivocada para a independência do Brasil dentro da Loja Comércio e Artes como sendo no dia 20 de agosto e ainda por cima sacramentaram mais tarde o erro histórico constituindo para falsa data o Dia do Maçom. Pelo calendário equinocial usado pela Maçonaria na época da Independência, 20º dia do 6º mês (início do sexto mês em 21 de agosto) correspondia no calendário gregoriano dia 09 de setembro da EV (Boletim do GOB datado no ano 1.874 da EV). No dia 20 de agosto da EV nem mesmo houve sessão no GOB, fato que pode ser verificado nas suas próprias atas de ouro concernentes à época.

Pedro Juk

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O PORQUÊ O MAÇOM LEVA O PSEUDÔNIMO DE BODE


 

Essa é, sem dúvida, a pergunta campeã entre os curiosos e uma das lendas mais difundidas sobre a nossa Ordem. Mas de onde vem essa associação?

Primeiro, a verdade nua e crua:

Dentro da ritualística, da filosofia e da simbologia maçônica, NÃO EXISTE nenhuma alegoria, ferramenta ou símbolo ligado à figura do bode. Você não encontrará bodes em nossos templos, nem em nossos rituais. O Bode não é um símbolo maçônico.

Então, qual a origem histórica desse apelido?

Existem diversas vertentes históricas que explicam como esse pseudônimo colou na imagem do maçom:

Herança Templária: A teoria mais forte remonta à perseguição dos Cavaleiros Templários no século XIV. A Inquisição acusava a Ordem de idolatrar uma figura chamada "Baphomet". Séculos depois, ocultistas desenharam essa figura com cabeça de bode. Como a Maçonaria herdou tradições templárias, os detratores transferiram a acusação (e a imagem) para nós.

O Bode Expiatório: Na tradição bíblica (Levítico), o bode era enviado ao deserto carregando os pecados do povo. O maçom, por ser um homem de segredos, discreto e que muitas vezes "pagava o pato" por defender a liberdade contra tiranos, acabou sendo associado à figura daquele que aguenta o fardo em silêncio.

Propaganda Antimaçônica: No século XIX, fraudes literárias (como as de Léo Taxil) inventaram rituais demoníacos envolvendo bodes para difamar a Ordem perante a sociedade e a Igreja. Embora desmentidas, as imagens ficaram no imaginário popular.

Hoje, o termo "Bode" foi ressignificado pelos Irmãos. O que era para ser um insulto, virou um apelido carinhoso e uma gíria interna de reconhecimento, sinônimo de um Irmão que sabe guardar segredos e é resiliente.

 

Postagem em destaque

VENERÁVEL MESTRE

  Consiste no representante maior de uma Loja Maçônica, sendo o seu presidente e condutor dos trabalhos de uma sessão em Templo, tratando-se...