POR QUE É QUE OS HOMENS (REALMENTE) SE TORNAM MAÇONS


 

Nenhum homem aderiu à Maçonaria porque George Washington era Maçom. O mesmo se aplica a Truman, um presidente dos EUA e orgulhoso Maçom. Os seus legados podem inspirar admiração, mas esses nomes, por si só, não estimulam o coração de um homem a entrar pelas portas da Maçonaria.

E o mesmo se pode dizer dos muitos heróis maçônicos que marcaram a nossa história. Embora os honremos legitimamente e contemos as suas histórias, ninguém se junta à Maçonaria porque pensa que isso fará dele uma réplica desses grandes homens.

A Maçonaria não tem a ver com se tornar famoso ou alcançar uma grandeza histórica…

Trata-se de algo muito mais pessoal, baseado na vida quotidiana dos homens que conhecemos e admiramos.

E o incrível trabalho de caridade?

A Maçonaria é amplamente conhecida pela sua filantropia que ajuda os mais necessitados.

No entanto, nenhum homem se associa apenas para doar dinheiro. Não é preciso ser Maçom para doar generosamente para caridade.

Também não são os pormenores dos nossos rituais, por mais belos e profundos que sejam, que trazem os homens às nossas portas. Antes de se juntarem, a maioria dos homens tem pouco ou nenhum conhecimento da profundidade dos nossos rituais ou dos registos cuidadosos que mantemos.

O funcionamento interno de uma Loja, os seus procedimentos, atas e exatidão cerimonial, são estranhos aos que estão fora dela. Por conseguinte, o nosso ritual também não é a razão pela qual os homens procuram ser membros.

Então, por que é que os homens aderem à Maçonaria?

A resposta é simples: são inspirados por alguém que conhecem. Pode ser um pai, um avô, um amigo próximo ou mesmo um colega. Pode ser o vizinho do fundo da rua que sempre pareceu comportar-se com uma dignidade tranquila ou o mentor que deu conselhos sábios na altura certa.

Quem é a pessoa não importa tanto quanto o que ela representa.

O que importa é que o indivíduo é alguém para se admirar, um homem cuja vida incorpora valores que valem a pena ser imitados.

Esse exemplo é o que desperta o desejo de um homem de aderir. Ao longo de gerações e continentes, esta admiração pessoal tem sido o maior recrutador.

Milhões de homens aderiram à Maçonaria devido a uma relação que tiveram com um Maçom cujo carácter falou mais alto do que quaisquer palavras.

É a integridade, a bondade, a sabedoria e a força silenciosa dos maçons quotidianos que ilumina o caminho para que outros os sigam.

Se quisermos assegurar o futuro da Maçonaria, temos de nos concentrar em ser esse tipo de homem.

Alguém que vive os valores da Ordem, tanto nas grandes como nas pequenas formas. Alguém cuja conduta, em público e em privado, reflete os ensinamentos da Maçonaria.

Ao vivermos estes princípios, oferecemos aos outros um exemplo tangível do que a Maçonaria representa e porque é importante.

E aqui está a coisa mais bonita… Quando vivemos desta forma, alguém vai reparar. Quer seja um filho, um vizinho, um colega ou um amigo, alguém será atraído pela luz que transportamos. Eles vão querer entender o que nos faz ser quem somos. Quererão saber o que nós sabemos.

Em última análise, o crescimento da Maçonaria está enraizado em algo tão intemporal como a ligação humana. Ela prospera quando nós, como maçons, vivemos autenticamente.

Ao sermos homens dignos de admiração, tornamo-nos os exemplos vivos que inspiram outros a se juntarem a esta grande e antiga fraternidade.

A próxima geração de maçons virá não por causa dos nossos rituais, da nossa caridade, ou mesmo dos nossos heróis, mas por causa de quem somos e de como vivemos.

PS: Um nosso estudo recente mostra que a maioria dos homens são atraídos para a Maçonaria mais tarde na vida, muitas vezes inspirados por alguém que admiram – um pai, mentor ou amigo.

Tradução de António Jorge, M M

Fonte

  • Blog MasonicFind

 

 

PROCURA-SE UMA LOJA GOSTOSA NA MAÇONARIA

“O ótimo é inimigo do bom” (Voltaire)

Era uma vez, em um Oriente distante, uma Loja gostosa.

Parafraseando o consultor americano Jim Collins, em seu livro “Empresas feitas para vencer”, ousamos especular: não temos ótimas Lojas, principalmente porque temos boas Lojas.

Não faltam críticas ao funcionamento de nossas Oficinas, em especial no que se refere à gestão e qualificação dos obreiros. Um questionamento recorrente é: vale a pena o desgaste pela exigência em relação ao atingimento do “ótimo” e criar um clima onde nem o “bom” seja alcançado?

Alguns irmãos comentam que, conforme o contexto, a paz é mais preciosa do que a perfeição. Outra corrente afirma que é melhor colocar o sarrafo ou a régua bem no alto mirando algo desafiador do que se contentar com a mediocridade. O tema é controverso, pois o que é bom para alguns não o é para outros. Porém, o que fazemos de melhor pode sempre ser incrementado.

Sem sofisma, equívoco ou reserva mental que possam criar obstáculos, combater o discurso pela busca da perfectibilidade não pode ter como fim a acomodação e implantação da mediocridade. O foco deve sempre ser: ainda podemos fazer muito mais!  Desdenhar o planejamento e projeção do futuro compromete a sobrevivência de qualquer forma de organização. O que nos espera lá adiante não pode ser uma confirmação do atraso.

“Não devemos ter medo das novas ideias! Elas podem significar a diferença entre o triunfo e o fracasso.” (Napoleon Hill).

Em algumas Lojas, gestores com deficiência na habilidade de liderança não permitem que obreiros se destaquem, principalmente os mais jovens. Ainda que em menor número, alguns veteranos contaminados pela síndrome do “esse cara sou eu”, ensejando uma pompa sabichona, têm dificuldades em continuar a aprender e sair da zona de conforto, pois fazem o que fazem da mesma maneira há anos e ainda gozam de relativo sucesso entre os pares.

Precisam de uma Loja para chamar de sua. E são felizes nesse autoengano, em especial quando ouvem que são repositórios de grande saber maçônico e festejados exemplos a serem seguidos. Possuindo um fraco por elogios, e por vezes protagonizando momentos de fofura e disfarçada carência, adoram afagos e sempre esboçam um sorriso brejeiro e uma falsa expressão de encabulamento. Com descarada falsa modéstia, respondem aos elogios: menos, menos!

Na realidade dinâmica, temos a concorrência de Lojas que atraem bons candidatos por estarem acima da média e não se contentam com pouco. Nelas, Aprendizes e Companheiros não são meros espectadores e têm suas potencialidades exploradas. São Oficinas bem geridas, disciplinadas na ritualística, ricas nas atividades e observam o cumprimento das regras. Em geral têm belos projetos sociais e são respeitadas pela comunidade.

Como as notícias correm, e impedidos de chegar ao ótimo individual, muitos iniciados recentes, talentosos e com vontade de se desenvolverem, munidos de coragem e em busca de desafios, procuram outras Oficinas com ambiente de aprendizado e de coisas boas para fazer, como acontece frequentemente no mercado de trabalho. O pior é quando, desiludidos, abandonam a Ordem, pois uma eventual propaganda negativa desmotiva a captação de candidatos potenciais.

Temos conhecimento de situações em que novos irmãos sugerem mudanças e são criticados por sonharem com melhorias, e sofrem do descrédito daqueles que apenas desejam uma Loja gostosa de frequentar, com sessões rápidas, tranquilas, sem muitos desafios e que, de preferência, não abra espaço para debates, silenciando aqueles que tentam abespinhar os velhos Mestres demandando reflexões mais profundas. Gestores dessas Lojas atuam no sentido de que a dinâmica do poder não sofra ameaças e tudo permaneça sob o mais absoluto controle e apatia.

Mesmo quando gestores mais modernos tentam alterar o status quo, a reação da velha guarda é automática, alegando que sempre foi assim e que administrações anteriores teriam sido mais exitosas, constrangendo, vez por outra, o Venerável Mestre que se vê tolhido em suas iniciativas, mesmo ao fazer das tripas coração.

Quase sempre, alguns rabugentos ao decantar feitos do passado e o quanto fizeram pela Loja, ameaçam deixá-la, sair da maçonaria caso alguma mudança seja implantada. Com falso pudor, reafirmam que é assim que pensam etc. e tal. Posam de sábios e terminam a fala dizendo: “era o que continha Venerável Mestre, desculpe a sinceridade!”.

Em seguida, sentam-se triunfantes. Impávido, visivelmente controlando as emoções, o VM prossegue, e a Loja silenciada caminha ligeira para encerrar a sessão e continua gostosa, como sói acontecer. A dinâmica das sessões não sofre ameaças e tudo permanece sob o mais absoluto controle.

Supimpa! Porém, caso fechem as portas, a comunidade a que pertencem não sentirá a menor falta, cabendo aos obreiros procurar outras Oficinas.

Mas, a história não termina aqui. Como toda moeda tem dois lados, não poderíamos deixar de registrar a situação daqueles irmãos que não conseguem acompanhar o ritmo das Lojas de alto desempenho e logo “vazam na braquiara” (sic).

Segundo comentários na Sala dos Passos Perdidos, partem à procura de uma Loja gostosa, preferencialmente aquela em que o intervalo entre a Iniciação e a Exaltação seja o mais curto possível, que não exija trabalhos e estudos, para se acomodarem à sombra das colunas e apenas curtir o lado social da Maçonaria, o imprescindível companheirismo, sempre regado com farta comilança.

Não raras vezes irmãos com esse perfil costumam levar junto outros que já deram o que tinham que dar e que vivem a decantar feitos do passado e exaltar suas próprias qualidades, e não se sentem à vontade junto às novas gerações que entram com toda força e vigor. Parodiando Millôr Fernandes, aqueles que veem a Maçonaria com um grande passado pela frente. Que sejam ambos felizes, pois continuamos irmãos! Cabe ainda um lembrete muito importante: sempre há vagas em Lojas gostosas.

Refletindo sobre a afirmação do físico dinamarquês Niels Borh de que “fazer previsões é difícil, especialmente sobre o futuro”, não podemos arregar e permitir que nossas Lojas sejam eternas devedoras de um rol de seres especiais que resistem a mudanças, irreverentes, aferrados a uma forma de pensar, de olhos fechados à evidência dos fatos e que sonham apenas em desfrutar da companhia dos irmãos, reclamando por comendas, homenagens, aplausos e mais aplausos, comprometendo seriamente a dinâmica das Lojas, que seguem o destino traçado por Lewis Carroll no qual quanto mais Alice caminha, mais longe fica do seu destino. No caso vertente, as Lojas andam para trás mesmo. Não podemos descurar das tradições, do legado recebido e a entregar às próximas gerações.

A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas escapar das antigas (John Maynard Keynes).

Autor: Márcio dos Santos Gomes 

*Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro  da Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda (BH); Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON; Membro Correspondente da Academia Maçônica de Letras de Piracicaba (SP); Membro Correspondente da Academia Internacional de Maçons Imortais; e, colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

 


SOBRE MAGIA, OCULTISMO E MAÇONARIA

“A Maçonaria tem pôr fim a investigação da Verdade, o culto da Moral e a prática da solidariedade; incentivar o progresso intelectual e social da Humanidade; estender a todos os homens os elos fraternais que unem os maçons na superfície do Globo, lutando, incessantemente, contra todas as manifestações de ignorância, fanatismo e superstição, que são os maiores males que afligem a Humanidade”

A definição de Maçonaria apresentada acima alinha-se com a concepção tradicional da Ordem, apresentada desde suas origens britânicas e suas ideias encontram-se nas constituições e regulamentos gerais de diferentes Obediências, ainda que com formulações adaptadas e palavras diferentes.

Ela afirma o ideal maçônico superior da Fraternidade, da valorização da livre investigação da verdade pelo uso da razão e dos efeitos deletérios da superstição e do fanatismo.

A MAÇONARIA PRATICA MAGIA?

Para procurar resposta para essa pergunta, é necessário entender o significado dessa palavra. Nos dicionários encontramos que “Magia” é a:

“Arte ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas”.

E… MAGIA EXISTE?

Em geral todos nós somos filiados a uma das religiões ou grupo místico/religiosos existentes. Essas diferentes instituições entendem a realidade universal composta tanto por aspectos empíricos, como também por aspectos trans empíricos, metafísicos.

Cada uma delas define sua compreensão da realidade transcendentes à sua maneira, dentro de seu acervo de doutrinas e crenças. Assim, estamos habituados aos relatos de curas e experiências insólitas situadas nessa área incerta, indefinida, das ocorrências inexplicáveis dentro dos parâmetros da ciência, do racional.

Experimenta-se o poder da fé e a cada dia descobre-se mais interrelações entre as disposições psico/espirituais e as reações físico/emocionais. Paradoxalmente, nossa cultura atual ainda que imersa nos produtos tecnológicos e descobertas cada vez mais abrangentes da ciência, experimenta em alguns de seus diferentes grupos e divisões componentes, uma ânsia pelo maravilhoso, pelo mágico.

Observamos o surgimento e crescimento de cultos que incentivam essa aspiração pelo controle dos eventos palpáveis por métodos simples que tenham resultados transcendentes.

Tornou-se popular a utilização, a princípio metafórica, de fenômenos assombrosos descobertos pela ciência, ocorridos no interior dos elementos. Com o tempo esses conceitos perderam, para muitos, seu caráter metafórico e começaram a ser entendidos como possíveis descrições do mundo macroscópico. Independentemente de sua associação original a fenômenos que ocorrem apenas em circunstâncias especiais de âmbito limitado, seus efeitos foram estendidos e associados a todos os aspectos da área limítrofe entre a realidade e a fantasia.

Deste modo, o princípio que estabelecia a observação científica, com seu aparato instrumental, interferindo na realidade do mundo atômico e nas respostas que recolhia, tornou-se para o público a afirmação de que a consciência do observador altera a realidade observada.

E atribuem a essa distorção interpretativa fundamento científico!

Apesar das experiências comentados acima sobre a inexplicável e incompreendida interface entre o transcendente e o natural, palpável, sua utilização e domínio não é tão simples como certas concepções doutrinárias querem fazer crer.

Um físico Indiano trabalhando nos EUA escreveu artigos e livros em apoio a essa interpretação metafórica de eventos atômicos, desencadeando doutrinas e interpretações espirituais da Física Quântica, que, para os físicos tradicionais, descreve apenas fenômenos ocorridos a nível atômico. Os colegas do cientista indiano fizeram-lhe uma proposta drástica para testar a afirmação que a consciência do observador altera a realidade:

“Salte de um edifício de 20 andares, e com sua consciência, modifique a realidade para chegar ao solo sem qualquer dano.”

Obviamente, o desafio não foi aceito, pois cabe aqui também aquela pequena frase: “Não é bem assim”.

Para os adeptos dessa ideia, eu tenho duas propostas bem mais discretas e simples, sem o “glamour” hollywoodiano do salto do edifício: segure entre seus dedos uma mecha, alguns fios, ou mesmo um único fio de seus cabelos e, utilizando apenas sua vontade/consciência, faça com que mude de cor.

Ou então, mais simples, acenda uma vela, protegida de correntes de ar e, sem usar qualquer artifício físico, mas apenas sua vontade, faça a chama aumentar e oscilar, para um lado e outro, segundo sua vontade.

Conheço alguém que diz ter obtido sucesso com a segunda experiência.

Os filmes de magia, como Harry Potter e os de super-heróis, com poderes também mágicos fazem imenso sucesso e contribuem na formação do imaginário popular. A rede mundial de comunicação, internet tem contribuído de modo decisivo na divulgação e ampliação das crenças nesses aspectos místico esotéricos da realidade.

Pouco a pouco distanciam-se, tendendo a sumir no horizonte, ou a se confundir, limites entre conceitos de superstição, fantasia e realidade.

Lembrando o que dizem os dicionários: Superstição é Crendice; crença sem fundamento racional e lógico que faz com que alguém crie certas regras singulares, tenha medo de coisas inofensivas ou acredite em coisas sem fundamento.

Como foi citado no início deste texto, muitos documentos maçônicos associam superstição à ignorância e fanatismo, considerando-os: … “Os maiores males que afligem a humanidade”.

Observe-se que a Maçonaria exige que para serem iniciados, os candidatos JÁ POSSUAM A CRENÇA no Grande Arquiteto do Universo.

Ela não desenvolve qualquer procedimento para induzir essa crença, facilitar o acesso ou proximidade do homem com Deus. A Ordem busca homens que JÁ TENHAM essa proximidade e assim estejam mais qualificados para desenvolver seus ideais de fraternidade.

Essa proximidade, já terá sido adquirida pessoalmente, segundo os preceitos das religiões que cada um livremente pratica.

É nelas, as religiões individuais, que ocorre o desenvolvimento espiritual dos maçons, não nas reuniões de loja, onde não se pratica qualquer culto religioso.

Portanto, não existe uma “Espiritualidade maçônica” específica, pois a Maçonaria não possui ensinamentos com esse conteúdo nem procedimentos com esse objetivo. Nas sessões em Loja os maçons se reúnem para conviver fraternalmente, desenvolver e aplicar seu conhecimento da arte real, da história e filosofia da Instituição.

Um dos fatores que contribuem para os equívocos interpretativos é a adoção pela Maçonaria de expressões de cunho religioso, como “Templo”, “Ritualística”, “Liturgia”, se bem que esses termos também sejam utilizados fora do contexto religioso.

Fala-se, por exemplo de um estádio como “Templo dos Esportes”; de uma biblioteca, como “Templo do Conhecimento”, comenta-se que juízes e advogados devem “Respeitar a Liturgia do Cargo”.

Não obstante o posicionamento oficial maçônico sobre o tema, muitos autores maçons interpretam procedimentos e símbolos maçônicos à luz de ensinamentos de outras instituições, tirando delas conclusões e doutrinas que tangenciam e por vezes mergulham, nos conceitos de superstição e fanatismo.

O uso repetido dessas interpretações, muitas vezes acaba por incorporá-las nas práticas de várias lojas e ensinadas como se fossem ensinos maçônicos.

Assim, fala-se de “Egrégoras” e efeitos mágicos da “Cadeia de União”, entre outras considerações de caráter mágico/ocultista.

Em primeiro lugar, “Egrégora” não é conceito ou ensino maçônico. Trata-se de enxerto importado de grupos espiritualistas e tem raízes em religiões orientais.

Quando comento que determinado conceito não é maçônico, não entro no mérito da análise de sua suposta realidade, se ele é, necessariamente equivocado ou fantasioso.

Reporto-me simplesmente, ao fato de que ele não está contido nos ensinos maçônicos tradicionais.

Isto é, não se encontra no acervo de conteúdo das iniciações e instruções correspondentes (ao menos naquelas que não tiverem sofrido inserções drásticas), que é a maneira tradicional pela qual a maçonaria apresenta seus ensinamentos.

A Maçonaria tradicional não se ocupa do tema.

AS INICIAÇÕES MAÇÔNICAS SÃO ATOS MÁGICOS?

Alguns autores sugerem transformações, renascimentos, acesso a níveis superiores de consciência e especiais conhecimentos, produzidos pelas iniciações.

A Sociedade Teosófica tem como lema um pensamento que creio ser uma unanimidade:

“Não há Religião Superior a verdade.”

Obviamente, existem controvérsias a respeito do conteúdo de verdade em diferentes conceitos e doutrinas. Mas podemos adaptar esse pensamento e dizer:

“Não Existe Afirmação Superior a Verdade.”

Isto é, devemos sempre examinar o possível conteúdo de verdade em diferentes afirmações feitas a respeito da Maçonaria.

Verdadeiras serão aquelas que corresponderem aos fatos.

Então vejamos:

AS INICIAÇÕES MAÇÔNICAS TRANSFORMAM OS INICIADOS?

É verdade que muitos iniciandos concentram-se profundamente nos procedimentos da cerimônia e assimilam o significado de seus princípios e propostas a ponto de se emocionarem quando da sua conclusão.

Mas isso é totalmente diferente das supostas transformações com aquisições de poderes comumente descritas.

Se todos iniciados saíssem transformados da cerimônia de iniciação, como se sugere, a maçonaria seria coerentemente acusada de utilizar métodos de lavagem cerebral agindo sobre os indivíduos independentemente de suas vontades. E todos os iniciados seriam igualmente transformados. Ora conhecemos casos de maçons que não assimilaram princípios maçônicos, e alguns chegam mesmo a serem expulsos da Ordem (existem os chamados “Profanos de Avental”).

Logo, não existe essa transformação compulsiva.

Na verdade, a maçonaria não possui nenhum método coercitivo para impor ensinamentos ou comportamentos aos seus filiados. Ela tem como uma das exigências para a iniciação, que o candidato seja LIVRE e de bons costumes. As iniciações simplesmente apresentam aos candidatos princípios e ensinos da Instituição e os incentiva a pô-los em prática.

E QUANTO A TRANSMISSÃO DE PODERES?

Ora, só poderia transmitir poderes quem já fosse possuidor de tais dons. Quem os possui?

Entre os ensinos maçônicos não existe nenhum tipo de exercício para desenvolvimento de atributos psico/místico/espirituais, com objetivo de alcançar especiais percepções ou poderes para realizar maravilhas.

E QUANTO À REVELAÇÃO DE VERDADES TRANSCENDENTES?

Os maçons que já passaram pelas iniciações sabem que tais revelações especiais não existem e os rituais estão ao seu alcance, permitindo a qualquer momento rever todos os procedimentos, ensinamentos e símbolos neles contidos.

O ideal do aperfeiçoamento maçônico é tido como um trabalho consciente, árduo e determinado, que dura toda a vida do maçom que se empenha em eliminar aspectos negativos de sua atuação e personalidade e melhorar mesmo o que já está bom.

Seria impossível alcançar esse aperfeiçoamento em uma cerimônia, por mais bem elaborada e executada que fosse.

A Maçonaria apresenta seus ensinamentos por meio de iniciações aos diferentes graus e suas correspondentes instruções.

Estas, abordam apenas os temas dentro do escopo de interesse maçônico, que não incluem descrições do Além, teorias cosmogônicas sobre a origem do Universo nem sobre a natureza do Ser, e não coincidem com objetivos e ensinos de diferentes instituições que possuem esse tipo de instruções.

A Maçonaria defende o livre pensar e a livre expressão do pensamento

Seguindo esse princípio, se assim desejar, qualquer maçom pode dedicar-se ao estudo desses temas não abordados pelos ensinos maçônicos, buscando literatura ou contato com grupos que os desenvolvam. Mas nenhum maçom deve trazer esses conhecimentos de outras instituições nem tentar inseri-los entre os ensinos maçônicos.

Estas são comumente encontradas em escritos de maçons místicos e apresentadas como sendo concepções alcançadas apenas por poucos maçons, aqueles mais espiritualizados, que alcançam o “verdadeiro” significado da Maçonaria.

Ora, essa formulação estimula a vaidade de pertencer a uma casta de “Maçons especiais”, quando, na verdade, nada mais é do que uma versão adaptada da antiga fábula da “Roupa Nova do Rei”: “Só quem for inteligente e de origem nobre, pode ver e apreciar a “Roupa Nova” do rei”, que na verdade, estava nu!

Quanto a isso, algumas considerações são necessárias. Entre os maçons que adotam interpretações místicas da Maçonaria, nunca encontrei um único que seja, que tenha aprendido as interpretações que adota NA Maçonaria. Sempre estão em uma das seguintes categorias: são maçons espíritas, rosa-cruzes, leitores de textos teosóficos ou cabalistas, e interpretam símbolos e procedimentos maçônicos segundo as doutrinas das escolas de pensamento citadas.

Lembrando o que foi dito acima, não entro no mérito das doutrinas dessas instituições. Nada tenho contra elas, pelo contrário, conheço e aprecio algumas de suas formulações.

Apenas ressalto que seus ensinos não podem ser apresentados como maçônicos se não são abordados nos documentos maçônicos tradicionais.

Quanto à “Cadeia de União”, tema de descrições de aspectos mágicos por alguns autores, seu objetivo maçônico é claramente determinado: transmitir a palavra semes tral, ou reforçar o ideal de fraternidade da Loja.

Como a expressiva maioria dos maçons têm tendências religiosas, e no Brasil, a também expressiva maioria das religiões são variações do cristianismo, alguns utilizam o momento, para fazer preces em favor de irmãos ou familiares doentes. Mas essa atividade não é prescrição maçônica.

No que se refere ao sinal de socorro, outro procedimento com interpretações destorcidas, sua definição e ensino é clara: dirige-se aos outros maçons, “Filhos da Viúva”, não a uma suposta “Fraternidade Branca” de maçons falecidos.

Um irmão de minha loja, dirigindo à noite em certa ocasião, teve um contratempo e foi obrigado a parar na estrada. Fez o sinal e logo um maçom estacionou a seu lado e o socorreu.

Conheço o caso de um irmão do GOBSC, que teve sua carteira furtada em um aeroporto nos EUA. Também fez o sinal, e logo foi atendido por um maçom, que até lhe emprestou 100 dólares, os quais lhe foram enviados após a chegada do irmão socorrido ao Brasil.

Esses aspectos místico/ocultistas são interpretações de alguns autores, cujos ensinos, pela repetição sem contestação, acabam equivocadamente aceitos como se fossem maçônicos.

A ausência de contestação pode ser atribuída a dois aspectos. O primeiro, falta de conhecimento maçônico do tema; o segundo, ao entendimento equivocado do princípio de tolerância, pois este não se aplica a compactuar com o erro.

Esses autores confundem a legítima liberdade de adotar as concepções metafísicas que preferirem, com sua apresentação como doutrina maçônica, o que é inadmissível.

Assim, doutrinas/ensinamentos maçônicos são aqueles temas abordados e desenvolvidos nos rituais de graus tradicionais reconhecidos pela comunidade maçônica (“Meus irmãos como tal me reconhecem”, lembram?). Todos os outros conceitos e descrições, por mais significativos, belos, profundos e supostamente verdadeiros que sejam, se não forem abordados nos referidos graus, não são parte do acervo de ensinos maçônicos, por maior que seja o “pedigree” dos autores que os utilizem.

Autor: Eleutério Nicolau da Conceição

Eleutério é Mestre Instalado, obreiro da ARLS Alferes Tiradentes Nº 20, oriente de Florianópolis, da GLSC; membro da Academia Catarinense Maçônica de Letras; membro fundador da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (2021); autor das seguintes obras: Maçonaria, Raízes Históricas e Filosóficas; Maçonaria no Mundo e na Sociedade; O Grau de Aprendiz e seus Mistérios. Em coautoria com Walter Celso de Lima: Dueto Sobre Sabedoria, Força e Beleza; Reflexões Históricas e Filosóficas.

Nota

  1. Definição presente, com diferentes formulações, em Constituições de múltiplas obediências. 

 

 

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O MESTRE INSTALADO


 

1 – Mestre Instalado é grau, dignidade, cargo, oficialato ou qualidade? 

R – Mestre Instalado não é grau. É apenas um título distintivo para aquele que exerce ou já tenha exercido o veneralato de uma Loja Simbólica.

2 – Se for grau por que nunca fez, e ainda não faz parte dos 33 graus da Maçonaria (Graus Superiores ou Altos Graus)?

R – Como foi dito não é grau. Agora “altos graus da Maçonaria”? O melhor seria “altos graus” como particularidade de alguns Ritos. Maçonaria Moderna Universal e tradicional é composta por três Graus – Aprendiz, Companheiro e Mestre. Daí pelo título de Mestre Instalado não ser nenhum Grau, também não há como lhe associar com os ditos altos graus que nada, mais nada mesmo, tem a ver com o Franco Maçônico Básico. Altos graus, se assim podem ser reconhecidos, são particularidades de alguns Ritos e não da Maçonaria como um todo.

3 – Se não é grau, por que em sessões de algumas Lojas no Brasil, e só no Brasil, os Mestres Instalados são convidados a ocuparem o Oriente do Templo e os Mestres Maçons investidos nos Graus Superiores ou Altos Graus (4° ao 33º) não são convidados da mesma forma para ocuparem o Oriente, sendo que estes sim são reconhecidos por todas as Potências mundiais como Graus Superiores ou Altos Graus?

R – Primeiro que “altos graus” não são reconhecidos mundialmente na unanimidade das Obediências mundiais. Como dito anteriormente, o título de Mestre Instalado, quando existe, e conforme a vertente maçônica faz parte do simbolismo maçônico. Normalmente, ex-Veneráveis têm assento no Oriente, principalmente como distinção para aqueles que já exerceram a presidência de uma Loja Simbólica. Em complemento à questão, qualquer grau dito acima do de Mestre tradicionalmente não faz parte do simbolismo. Portadores dos ditos “graus superiores” são tratados no simbolismo apenas como Mestres Maçons. Repetindo, grau acima do terceiro é particularidade de rito e não faz qualquer diferença em Loja Simbólica.

4 – Qual o avental do Mestre Instalado?

R – Em linhas gerais, ele possui no lugar das rosetas o símbolo do nível/prumo (perpendicular e vertical) chulamente conhecido como “tau” invertido, a despeito que a letra grega “tau” não tem significado algum na Maçonaria, muito menos invertido, ou de ponta-cabeça. Ainda, nos dois lados da face do avental prendem-se duas fitas na cor da borla de cujas pontas aparecem adornos compostos por correntes e bolinhas que tradicionalmente na Inglaterra são, ou eram franjas prateadas.

5 – Qual a joia do Mestre Instalado?

R – Em exercício do veneralato é o Esquadro de ramos desiguais. Na França o ex-Venerável usa uma joia composta por um Compasso sobre um quarto de Círculo com a figura do Sol ao centro e às vezes substituído pelo Olho Onividente. Já na Inglaterra o “Past-Master” carrega a joia composta pelo Esquadro e a representação pictográfica da 47ª Proposição de Euclides (Teorema de Pitágoras). Como esclarecimento, na França “instalação” em Maçonaria é sinônimo de posse e tradicionalmente não existe a figura do Mestre Instalado, senão do Venerável Mestre e do ex-Venerável. Já o título de Mestre Instalado e Mestre Instalado Passado é tradição dos Trabalhos Ingleses e, por extensão, da Maçonaria Norte-Americana.

6 – Quais os paramentos do Mestre Instalado?

R – Além do avental e da joia citados nas questões 05 e 06, cuja joia fica presa em um colar decorado como motivos maçônicos (geralmente ramos de acácia), o Mestre Instalado usa punhos também decorados que, em muitos lugares estes somente são privativos do Venerável (no Brasil, o GOB adota esse procedimento).

7 – Quando, onde e como se declarar/identificar Mestre Instalado?

R – Não entendi a questão, salvo se for para a composição de um Conselho de Mestres Instalados para a instalação de um Venerável. Esse Conselho legalmente só existe para tal e nunca para interferir na direção da Loja. Um Conselho desse tipo é prerrogativa da Obediência que a nomeia para o ato da Instalação e a dissolve após estiver à missão cumprida. No Grande Oriente do Brasil, o RGF regula as atribuições do Mestre Instalado.

8 – Quando, onde, por que, como e em quais circunstâncias foi instituída a Instalação de Mestres na Maçonaria?

R – A figura do Mestre Instalado é tradição da Maçonaria inglesa com o advento da Moderna Maçonaria e a inauguração do primeiro sistema obediencial. Nos anos que se seguiram com a fusão dos Antigos (1.717) e os Modernos (1.751) que resultaria na Grande Loja Unida da Inglaterra em 1.813, o sistema inglês não tardaria, por influência da instalação do Rei no trono inglês, a adotar esse costume criando uma cerimônia específica acompanhada de uma exposição lendária o que viria resultar no título conhecido como Mestre Instalado. A propósito, o Grau de Mestre na Maçonaria somente viria aparecer a partir de 1.724. Anteriormente ao fato a Maçonaria Operativa e posteriormente Especulativa era composta por apenas dois graus. A razão do título de Mestre Instalado, provavelmente esteve ligada a aristocratização da Sublime Instituição (ver a influência da Royal Society) que a partir da fundação da Primeira Grande Loja em Londres, já se preparava e previa o intento em um futuro breve.

9 – Mestre Instalado é uma invenção da Maçonaria Brasileira ou faz parte da história cultural da Maçonaria Inglesa? Ou foi instituído pelas Grandes Lojas?

R – Como já comentado, o procedimento de instalação é costume integrante da Maçonaria inglesa. No Brasil em primeira instância isso acontecia nas Lojas que praticavam os Trabalhos de Emulação, confundido como título com o de York, comum no sistema Norte Americano. A Maçonaria brasileira que é filha espiritual da França, sempre teve na sua grande maioria de Lojas ritos ligados a essa espinha dorsal, dentre esses o rito majoritário no País que é o Escocês Antigo e Aceito.

Ao longo da história da Maçonaria no Brasil, uma dissidência do GOB daria origem em 1.927 às Grandes Lojas Estaduais (CMSB). Ocorreria então o fato do reconhecimento dessa nova Obediência pelas Grandes Lojas Norte Americanas que praticavam, e ainda praticam o Rito Americano que é decalcado nos Antigos de York de origem inglesa. Por essa influência as Grandes Lojas Brasileiras adotariam equivocadamente no Rito Escocês Antigo e Aceito (que é de origem francesa) práticas que poderíamos dizer anglo-americanas. Dentre as tais, apareceria o ato de Instalar o Mestre eleito para o veneralato da Loja.

Em termos de Maçonaria brasileira, esta se manteve por um longo tempo com a Instalação de Mestres restrita às Grandes Lojas, todavia ao longo desse tempo, muitos obreiros acabariam se mudando de uma para a outra Obediência e, por influência de Irmãos egressos da Grande Loja em aporte no Grande Oriente do Brasil, a partir de 1968 o GOB passaria também a praticar o costume de Instalação que prevalece até a atualidade de maneira consuetudinária. Mais tarde, nos anos de 1.972 e 1973 haveria o segundo grande cisma no seio do GOB que resultaria nos Grandes Orientes Estaduais Independentes (COMAB). Com essa dissidência e estando o costume de Instalação já arraigado no GOB as lojas pertencentes à COMAB herdariam também esse costume que hoje tem se tornado uma unanimidade na Maçonaria verde e amarela, fazendo com que ritos que nunca possuíram tradicionalmente a cerimônia de Instalação viessem praticar um costume neles inexistentes apenas em solo brasileiro.

10 – Há uma supremacia hierárquica do Mestre Instalado sobre o Mestre Maçom não instalado?

R – Não existe supremacia alguma, salvo quando o Mestre Instalado está na posse do Primeiro Malhete da Loja – o Venerável Mestre. Mestre Instalado como fora dito anteriormente é um título distintivo e, para adquirir esse título, inquestionavelmente ele precisa ter atingido a plenitude maçônica que é o Grau de Mestre, além de ser eleito para o cargo. Plenitude nesse caso significa o último estágio de evolução na Maçonaria Universal que é o simbolismo que, por extensão, possui apenas três graus. Não é dado o direito a nenhum Mestre Instalado entender que tem supremacia sobre os demais Mestres. O que pode existir, conforme a Obediência, no caso do Brasil, é que os Regulamentos indiquem atribuições e direitos relativos ao título distintivo, como por exemplo, ocupar lugar no Oriente, ou em se tratando da ausência precária do Venerável, dirigir uma Sessão Magna de Iniciação, Elevação e Exaltação, levando-se em conta de que o Primeiro Vigilante não seja também um Mestre Instalado.

11 – Se há a supremacia, há o reconhecimento dessa supremacia pela Grande Loja Unida da Inglaterra (dita Mãe da Maçonaria)?

R – Não há supremacia e a Grande Loja Unida da Inglaterra dificilmente se envolve nessas questões, já que lá existem os Preceptores para as diversas Províncias normalmente indicados pelo Grão-Mestre Provincial, além do livro de regulamentos editado sob o título de Regras Gerais. Geralmente na Maçonaria inglesa o Past Master imediato tem função de auxiliar o Mestre da Loja, porém sem qualquer intromissão nos trabalhos.

12 – Será que a dignidade do Mestre Instalado não é compatível apenas e tão somente com os ditos Ritos anglo-americanos, tais como o os Ritos Craft e York (Emulação)?

R – Esse título distintivo como já citado anteriormente é tradição da Maçonaria inglesa e, por conseguinte da americana. Particularmente a Instalação do Mestre da Loja como cerimonial lendário não é procedimento dos ritos de origem francesa. Para esses, quando porventura venham existir é um mero produto de enxerto.

Cabe aqui ainda uma consideração: No Craft inglês (working) não se reconhecem ritos, porém “Trabalhos”, por exemplo – Trabalho de Emulação, Trabalho de Bristol, Trabalho de Humber, Trabalho de Taylor’s, Trabalho de West End, etc. Já nos Estados Unidos da América do Norte o título de rito é reconhecido, cuja imensa maioria das Lojas pratica o Rito Americano que é baseado nos Trabalhos Antigos de York (inglês), organizado em solo americano por Thomas Smith Web, daí ser comum intitulá-lo como Rito de York.

Por esse esclarecimento o que se pratica aqui no Brasil comumente conhecido como York, não faz sentido algum, pois o aqui perpetrado é o Trabalho de Emulação e não o Rito de York (americano) como equivocadamente é conhecido.

13 – Os Mestres Instalados não são Mestres Maçons eleitos para administrar o Santo Arco Real, que também não é um grau?

R – Mestres Instalados que fazem parte dos “side degrees”, ou graus laterais, nada tem a ver com o Franco Maçônico Básico. Embora isso possa até parecer, o costume somente ingressaria para acomodar uma situação para os intitulados graus de aperfeiçoamento ingleses. Os integrantes do Santo Real Arco são recebidos das fileiras dos Mestres Maçons sem que haja a condição sine qua non de serem Mestres Instalados. Daí um Mestre Instalado do Santo Real Arco não é o mesmo Mestre Instalado do Franco Maçônico Básico, porém uma instalação específica do grau lateral.

Volto a repetir que Maçonaria Universal da atualidade possui apenas três graus. Nada do que acontece nos ditos graus superiores pode interferir no simbolismo. O contrário sim, pois qualquer obreiro que aspire galgar esses sistemas distintos, necessariamente precisa ser um Mestre Maçom.

14 – Será o Mestre Instalado mais um enxerto na Maçonaria?

R – Da Maçonaria em geral não, todavia poderia assim ser considerado no caso dos Ritos que não possuem tradicionalmente esse costume.

15 – É certo assinar a lista de presença em sua Loja ou em visitas a outras, no campo – GRAU – como Mestre Instalado, ou seria o correto 1, 2 ou 3, ou ainda, Apr Comp ou MM?

R – Como extensivamente dito, Mestre Instalado não é grau, porém um título distintivo. Se a coluna do rol de presenças solicita o grau do Irmão, ele deveria indicar apenas o seu grau simbólico.

16 – Como deve ser o tratamento ao Venerável que saí do comando da Loja, Ex-Venerável, “Past master” ou Mestre Instalado? Ou outra forma?

R – Nos ritos de vertente francesa – ex-Venerável. Nos trabalhos de vertente inglesa e Rito Americano (York) – “Past Master”. Cabe aqui também um comentário: no Brasil, além da inserção de um costume que não é tradicional em alguns ritos por conta das nossas Obediências, ainda uma boa parte delas trata ex-Veneráveis com o título de “Past Masters”.

17 – O Maçom só tem o título de Mestre Instalado enquanto ocupar o cargo de Venerável, ou mesmo depois de deixar este cargo? Por quê?

R – Há certo critério analítico no caso. Onde é tradição a Instalação, o título é sempre o de Mestre Instalado, pois todo o Venerável obrigatoriamente será um Mestre Instalado. Assim todo aquele que já exerceu o veneralato será sempre um Mestre Instalado. O que o diferencia é que ele é um Mestre Instalado no exercício do cargo de Venerável. Deixando o cargo ele continua possuir o título distintivo, só não é o Venerável. No caso da Maçonaria brasileira que adota a instalação indistintamente é a mesma coisa.

Resumindo – o título de Mestre Instalado é vitalício. Um Venerável que por extensão é sempre um Mestre Instalado, somente é Venerável no exercício do cargo. Deixando-o será um ex-Venerável, todavia sempre um Mestre Instalado.

18 – Depois de deixar o cargo de Venerável o maçom não volta a ser apenas mais um Mestre em Loja?

R – Penso que a pergunta não faz muito sentido por tudo que foi dito anteriormente. Ora, se para obter o título de Mestre Instalado o obreiro obrigatoriamente deva possuir a plenitude maçônica (grau de Mestre), ele será sempre um Mestre Maçom que possui o título distintivo vitalício de Mestre Instalado. Todo Mestre Instalado não volta a ser. Ele é um Mestre Maçom.

19 – Não seria o correto instalar um Mestre Maçom que seja investido ao menos no Grau 4°?

R – Exaustivamente eu já disse – graus superiores, ou altos graus como pomposamente muitos maçons brasileiros gostam de salientar, não interferem e nada tem a ver com o simbolismo. No rigor da lei, nenhum Mestre Maçom que esteja colado em qualquer um desses “graus” pode se considerar melhor do que o Mestre. O Mestre Maçom é aquele que atingiu a plenitude maçônica. A pura Maçonaria Universal é composta por três Graus a partir de 1.724, antes possuía apenas dois. Tenho incansavelmente dito: qualquer grau, ou sistema acima do terceiro é particularidade de um Rito maçônico que não o faz melhor por possuir essa particularidade. O que diríamos então sobre ritos que não adotam nenhum sistema ou grau acima do terceiro?

20 – Quais as prerrogativas de um MI?

R – Os Regulamentos das diversas Obediências regulam esses procedimentos. No caso do Grande Oriente do Brasil sugiro consultar o Regulamento Geral da Federação.

21 – Quais os critérios para a instalação de um Mestre?

R – Estar colado do Grau de Mestre Maçom obedecido o interstício regimental de acordo com a Obediência e ser eleito para o cargo de Venerável da Loja.

22 – Onde ele tem assento?

R – O Venerável no trono (sólio), os ex-Veneráveis (Mestres Instalados) no Oriente, porém abaixo do sólio.

23 – Onde consta na planta do templo este assento?

R – Se a pergunta estiver direcionada ao REAA, sinceramente penso que deverias consultar o Ritual de Aprendiz do REAA em vigor, páginas 22 e 23, no caso do Grande Oriente do Brasil.

Em sendo de outro Rito, consultar o ritual específico e ainda, inexistindo a indicação, sugere-se consultar o Secretário do rito. Outras Obediências certamente fazem a indicação da mesma forma nos seus respectivos rituais.

24 – Qual a diferença entre o avental do Venerável? Existe o avental de Mestre Instalado?

R – O do Venerável está descrito na resposta nº 4. O do Mestre Instalado que deixou o cargo de Venerável tradicionalmente tem os emblemas nível/prumo presos aos aventais cobertos por fios bordados na mesma cor da orla do avental. Algumas Obediências não adotam esse sistema, como é o caso do GOB, onde o avental permanece o mesmo, sendo que o que o diferencia é que o ex-Venerável possui joia conforme descrita na resposta nº 5 quando alude ao costume francês. Também no GOB o ex-Venerável não usa punhos. O Ritual de Mestre Maçom do GOB para o REAA em vigência demonstra essa explicação.

25 – Se em Loja Simbólica os Aprendizes e Companheiros não podem subir ao Oriente, reservado somente os Mestres e Mestres Instalados, por que essas sessões são realizadas em Templos que possuem dois pisos, sendo o Oriente o mais elevado?

R – No caso de ritos que assim procedem, o desnível indica o limite do quadrante. Para esses casos, ao Oriente delimitado só tem acesso em Loja aberta os Mestres Maçons. Isso implica em doutrina iniciática, cujas explicações não fazem parte do mote desses questionamentos. O costume de elevar o Oriente não é unanimidade nos ritos maçônicos.

26 – Será que o Oriente elevado e circunscrito nunca fez parte da ritualística dos graus simbólicos e todos os Irmãos deveriam estar num mesmo plano, visto que um dos pilares da maçonaria é a IGUALDADE?

R – Aqui não é bem o caso de igualdade, porém de doutrina iniciática. Na pura Maçonaria nunca existiu essa divisão topográfica que limita o quadrante oriental. Nesse caso o Oriente é a parede oriental e o lugar do Venerável, considerando-se também os Irmãos dispostos à sua esquerda e direita. Com a profusão dos ritos a partir do século XVIII, sistemas doutrinários viriam caracterizar o Canteiro (Loja) de acordo com muitos costumes regionais e culturais.

27 – Qual outro Rito é semelhante ao Rito Schroeder que todos rodeiam o Tapete em um mesmo plano, Aprendizes, Companheiros, Mestres Instalados ou não?

R – Não é bem o caso de rodear o Tapete e nem o de se ocupar lugar em Loja indistintamente. Nos Trabalhos ingleses, por exemplo, a Sala da Loja possui o mesmo plano, destacando-se apenas o sólio por três degraus onde tem assento o Mestre da Loja (Venerável). Agora, Aprendizes se sentam no Norte e Companheiros no Sul. Já ritos de ilharga francesa geralmente há desnível e divisão entre o Oriente e Ocidente.

Nesse particular o Rito Escocês Antigo e Aceito que é de origem francesa, nos primórdios do seu simbolismo como pode se notar no primeiro ritual simbólico (1.804) o Templo era exatamente no mesmo nível e nem existia balaustrada. Por influência dos tais “graus superiores” que seriam incorporados pelo Grande Oriente da França junto com o simbolismo até o Grau 18 no primeiro quartel do Século XIX, criavam-se as Lojas Capitulares. Para satisfazer as particularidades capitulares, o Oriente era então elevado e dividido por uma balaustrada. Posteriormente com o retorno dos graus a partir do 4 até o 18 para o Segundo Supremo Conselho na França, extinguiam-se as Lojas Capitulares.

O problema é que mesmo extintas as Lojas Capitulares, o Oriente elevado e a balaustrada acabariam equivocadamente por permanecer no simbolismo do Rito. Essa prática arraigou-se de tal forma que hoje é praticamente impossível extirpá-la do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Autor: Pedro Juk

Fonte: JB News nº 754

 

INTERCÂMBIO MAÇÔNICO


 

Este breve e despretensioso artigo chega aqui, no imperfeito e impreciso mundo linguístico humano, com o franco propósito de preparar e ousar semear uma ideia no jardim do pátio do nosso Templo Interior. Alguns irmãos, agora mesmo, lendo este texto já poderão – instintivamente – até interromper seu entendimento, algo não benéfico para iniciados e livros pensadores, por precipitadamente avaliarem que se deva exaltar mais a importância da construção de nosso próprio Templo Interior do que empenhamos algum tempo na reflexão do tema aqui proposto.

Peço, de qualquer forma, a fraterna confiança de todos os senhores para perseverarem, a despeito de cada vez mais comum deficiência temporal, imposta pelo mundo profano, até a conclusão da exposição desta estrutura de ideia germinativa e frutífera, uma, quiçá, semente de Luz que em mim ocorreu e deseja chegar até os olhos de sua compreensão benemérita e maçônica.

Após nascermos aprendizes e recebermos a Verdadeira Luz, de forma semelhante a um bebê humano recém-nascido, tudo nos é estranho: pessoas, palavras, frases, encenações, rituais, cenários, iluminação, paramentos. Serve-nos tal analogia para termos a devida paciência e o devido zelo para com todo neófito, a começar por nós mesmos, enquanto cruzando por essa condição. Quando “tirar de casa e levar o recém-nascido para passear?”

Não nos parece ser sensato, ainda que o contexto possa acontecer que, um irmão com algumas sessões em sua Loja, mal comece a digerir os novos e inicialmente complexos conhecimentos ritualísticos de seu Rito, seja já levado por um Mestre Maçom para visitar uma Loja que seja praticante de um Rito diverso do seu. Não se trata de não confiar na capacidade do Neófito, mas, sim, de preservá-lo de uma frustração, uma confusão, por não assimilar todas as informações que ele for exposto. Imagine um passeio ao exterior com um ser tão recente?

Cabe aqui uma pequena e reflexão adicional: O quanto os Mestres que apadrinham os candidatos profanos realmente estão preparados, ou renovadores em espírito, para abraçar toda a responsabilidade que é garantir e dar a devida atenção ao seu afilhado até que cruze os portais do 1º e dos 2º graus simbólicos?

Além disso, os Mestres de cada Loja buscam debater e instruírem-se sobre a conduta maçônica desejada ao Mestre Padrinho Maçom, dirimindo as dúvidas ou usos e costumes equivocados quanto a isso? Qual o impacto de um Aprendiz ou Companheiro que convida um profano pedindo a um Mestre que seja o padrinho mesmo sem ter estudado profundamente o candidato? Esse mesmo Mestre entende que poderia recusar o convite ou, no caso de aceitar, deveria honrá-lo como se fosse uma decisão própria até esse candidato atingir o mestrado?

Quanto às Lojas que apresentam dilemas, oxalá temporários, tais como um quadro restrito ou uma baixa frequência dos obreiros, que por vezes inviabilizam a execução do Ritual, podem vir a precisar de espaçar suas reuniões de semanais para quinzenais, ou até mensais.

Talvez um relacionamento distanciado entre as lojas do mesmo Rito ou falta de abertura e/ou interesse em ouvir e falar sobre a realidade de cada Loja.

Não se deve ter qualquer julgamento sobre esses casos específicos, pois é preferível manter os neófitos na presença do Sagrado o máximo possível, para tanto, a visitação oferece uma possibilidade. O que aqui nos propomos reflexivamente, adicionalmente, é se cada Mestre responsável em acompanhar seus Companheiros e suas Aprendizes com algum planejamento para atingir tal objetivo, sem descobrir as necessidades dos Irmãos sob sua tutela:

  • Foi pesquisado, a tempo, qual Loja Simbólica Regular existe, do mesmo Rito, que poderia recebê-los?
  • Caso só haja uma Loja de outro Rito para ser visitada, algum Mestre está apto, ou seja, tem cultura maçônica enriquecida o suficiente para preparar os visitantes basicamente sobre a essência do Rito no Grau proposta?
  • Foi procurado, em um contato prévio, saber da Loja a ser visitada qual será a Ordem do dia/ temática/ instrução a ser abordada, para os Irmãos visitantes entenderem e aproveitarem ainda mais sua noite?
  • Existe o traje, quando há visitação do irmão menos experiência saber/ ser instruído/ reforçado sobre o básico quanto ao vestuário, paramentos e postura no Templo?

Feita a necessidade de reflexão, convencida o excelso Irmão leitor, que manteve aberto seu entendimento até aqui, para repensarmos quais os benefícios possíveis, para os Irmãos dos diversos Ritos Maçônicos regulares, de cultivarmos o bom costume de entender também, ainda que minimamente, o universo maçônico decifrado por outros ritos, tão belo e tão rico quanto o que percebemos individualmente.

Qual palavra teríamos sobre isso para promover o bem do nosso quadro e da Maçonaria em Geral? Seria essa prática algum portal para que seja tão melhor que os irmãos vivam em uma união mais palpável, mais próxima, mais real?

Uma Maçonaria Universal, mais unida e fortalecida de verdade, poderia elevar a qualidade de sua egrégora ao ter, em cada simbólico jardim templário um espaço, um quinhão de terra fértil para considerarmos o plantio desta semente de nos conhecermos melhor, dando um exemplo energético sutil do que seria o caminho da felicidade social, a qual sairia da teoria filosófica e que começaria na prática entre nós.

Tal semente poderia gerar, dentre outras, as plantas e árvores, frondosas e frutíferas, do Amor Fraterno, tão bem simbolizado na “Romã” e “tríplices abraços” do Rito Escocês, no “Cordial Aperto de Mão” do Rito Schröeder, no “Saúde, Força e União” do Ritual de Emulação etc. sessão ritualística, com tão belo Jardim, ornamentado e agradável, com sorrisos sinceros e fluência acolhedora do conhecimento nossa sobre a história e modo de trabalhar maçônicamente deles?

Fica o convite ao respeito às diferenças Rituais que existem, bem como ao ato de buscar conhecermos “a nós mesmos” enquanto Fraternidade que somos, além do isolado Ser posto que não se pode amar ao que não se conhece e não se esquecerá daquilo que se ame. Amemo-nos, reconheçamo-nos como Maçons, de fato e que assim possamos viabilizar ainda mais esse Amor Fraterno, do qual tanto se fala.

Por fim, que nesse Jardim metafórico, ainda que ele, simbolicamente, esteja externo à edificação onde ocorrem os trabalhos Ritualísticos de cada Loja, possa ser cultivado a ideia aqui proposta, a qual florescendo frutificará e ornamentará a composição, tanto da nossa Loja e Obreiros, quanto do Templo Interior do próprio Maçom – em eterno aprendizado, atraindo frutos de apoio universal, disponibilidade mútua e visão livre, pensada sobre um todo.

Autor: Adriano Ferreira Gazzo

*Adriano é Companheiro Maçom na BARLS Cidade de Esteio nº 16, n0 Oriente de Esteio-RS, jurisdicionado à MRGLMERGS

 

Postagem em destaque

POR QUE É QUE OS HOMENS (REALMENTE) SE TORNAM MAÇONS

  Nenhum homem aderiu à Maçonaria porque George Washington era Maçom. O mesmo se aplica a Truman, um presidente dos EUA e orgulhoso Maçom. O...