sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A INICIAÇÃO MAÇÔNICA

Os ritos de passagem são frequentemente integrados por referências ou representações à vida anterior dos que se submetem ao rito (de onde vens), por uma ou mais provas que devem ser superadas (o que és) e por referências ou representações daquilo a que se acede (para onde vais), designadamente aos deveres ou obrigações inerentes à nova situação que é atingida.

O rito de passagem que é a Cerimônia de Iniciação maçônica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.

Durante praticamente todo o decurso da Cerimônia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos verazmente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçom.

Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja – e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.

Porque assim é, tudo é organizado para que o máximo de atenção do candidato esteja concentrado no que se passa. Quando é que a nossa capacidade de atenção está no seu nível máximo? Quando estamos perante o desconhecido. Daí a importância de que o candidato ignore o que se vai passar.

Mas o objetivo principal da Cerimônia de Iniciação é TRANSFORMAR um profano num maçom. Importa, então, que esta efetue essa transformação. Para que tal ocorra, há que causar uma impressão no candidato, que seja o agente dessa transformação.

Isso não ocorre com a mera leitura de um texto ou a simples exposição de normas de conduta, ou sequer com a prestação de provas que, na realidade, são tão acessíveis que não há memória de terem sido falhadas. Isso ocorre com a integração de tudo isto num conjunto e numa ambiência que, vividos em direto, sem avisos prévios, sem se saber o que virá a seguir, efetivamente marquem o candidato. O que se procura é que quem se submeter a uma cerimônia de iniciação maçónica nunca a esqueça, em dias de sua vida!

Para tal, o candidato é o centro de interesse de toda a atuação de toda a Loja durante todo o tempo em que decorre a sua iniciação, em toda a sua integralidade. Procura-se atingir, tocar, todos e cada um dos cinco sentidos do candidato. É importante, assim, tudo o que o candidato vê (e o que não vê…), tudo o que ouve e entende (e tudo o que, ouvindo, não entende, no momento…), tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que sente (e tudo o que se passa sem que ele diretamente sinta…).

A Cerimônia de Iniciação maçônica é uma cerimônia complexa para quem a executa e para quem a ela é submetido. Para quem a executa, porque, para ser feita de forma a que ela atinja os seus objetivos, se impõe concentração, coordenação e cooperação de todos os presentes, pois todos, realmente todos, os membros de uma Loja presentes participam na Cerimônia de Iniciação e contribuem para a criação do clima que permitirá o desabrochar de um maçom no interior de quem a essa cerimônia é submetido. Para este, porque, impreparado, despojado e indefeso, enfrenta uma aluvião de sensações que – sabemo-lo! – lhe será impossível devidamente processar no momento. Mas é por isso mesmo que a Cerimônia de Iniciação é marcante!

Uma Cerimônia de Iniciação bem executada, bem vivida, será fonte de ensinamento e reflexão ao longo de toda a vida. Não será imediatamente compreendida na sua integralidade. Mas isso não importa. O que importa é que marque quem a ela se submeteu. Marcará quando é vivida. Marcará de novo quando, pela primeira vez, o então já maçom assistir à iniciação de outrem. Voltará a marcar sempre que assistir a uma iniciação, sempre que executar uma função numa iniciação, sempre que dirigir uma iniciação.

E, se a sua Iniciação for proveitosa, se o maçom souber dela tirar toda sua lição e a aplicar ao longo do resto de sua vida, desejavelmente quando chegar o momento da sua Suprema Iniciação, do Derradeiro Ritual de Passagem, da sua Passagem ao Oriente Eterno, recordar-se-á do dia em que esteve, impreparado, despojado e indefeso, perante o Desconhecido e passou adiante e… não temerá!

Rui Bandeira

 

 

sábado, 23 de agosto de 2025

A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DA MAÇONARIA


 

Para se falar na Origem Documentada da Maçonaria, foi preciso fazer esse giro pelos arraiais da Maçonaria Mística. E depois demonstrar que até o ano 1000, o que servia de proteção, como Casa e Lar do homem – era a Madeira. E que a profissão que predominava e sobressaia, era a de Carpinteiro e Marceneiro. Tanto era verdade, que as primitivas Organizações – as Guildas – eram compostas de homens que praticavam essas duas Antigas Profissões.

Com o advento das Construções de Pedras e Alvenarias, começa a florescer e destacar-se outra profissão – a dos Canteiros, Entalhadores. Isso começou a acontecer a partir do século XII. Grandes quantidades de guerreiros seguiram na Primeira Cruzada, rumo à Cidade Santa de Jerusalém, que estavam nas mãos dos Sarracenos, dos Infiéis.

Nas Estradas precárias da Europa, grupos de Salteadores e Bandoleiros cresciam em número e em audácia. As Propriedades do começo do 1º século do 2º milênio eram atacadas por hordas de famintos e estrangeiros. Daí a necessidade de se erguerem muralhas, fortalezas para proteger os Burgos e seus proprietários, famílias e servos.

O Cristianismo estava em pleno progresso. Povos e mais povos eram catequizados pelos Soldados de Cristo – isto é, Bispo de grandes capacidades de catequeses. E a Igreja ao receber Reis e a Nobreza, em suas fileiras, passou a contar, também, com uma ajuda financeira muito grande de seus novos Fiéis.

E com dinheiro se faz muitas coisas. Então aqueles feios amontoados de madeira sujeito ao fogo e aos raios e outros fenômenos da natureza, começavam a dar lugar às Grandes Catedrais de Pedras, como mostramos logo no início deste trabalho.

Entre os anos de 1100 e 1300, milhares de Igrejas, Catedrais, Mosteiros, conventos etc. foram erguidos na Europa. E para dar conta de tanto trabalho, uma leva de homens foi se especializando na arte de construir.

Uma Arte Antiga, mas pouco divulgada. E essa leva de Profissionais de Pedra, precisava se organizar. Precisavam de um Estatuto. Precisavam de um espaço só seu. Foi então que Doze Freemasons (Pedreiro especializados em trabalhar na Pedra Franca), liderados por Henry Yevele, é bom guardar bem esse nome – Henry Yevele, nasceu em 1320 e morreu no ano de 1400 – foram até a Prefeitura de Londres, levando um esboço de um Estatuto do Trabalhador da Pedra e, numa audiência com o Alderman (Prefeito) e os Edis, apresentaram seu esboço de Estatuto, onde previa, além da Obediência às autoridades locais, também previa uma fidelidade (quase canina), ao Rei e à Religião Vigente, e, ainda, um pedido para que suas reuniões fossem fechadas, sem a presença de pessoas que não estivessem ligadas a ela.

Esses 12 homens saíram daqui, do local onde está Igreja, Antiga Guilda – desta Guildhall, no dia 2 de fevereiro de 1356. É bom repetir – dois de fevereiro de 1356.

Aqui está o Berço, o Dia, o Mês e o Ano do Nascimento da Maçonaria Documentada. Enquanto não apresentarem outro Documento, confiável, mais antigo. Este Documento que se encontra ainda hoje, na Biblioteca da Prefeitura de Londres, levará a glória e terá o privilégio de ser o Documento Maçônico mais antigo.

Mas para que não surja ou permaneça nenhuma dúvida, segundo o pesquisador da Quatuor Coronati, o Irmão G. H. T. French:

“O Primeiro Código ou Regulamento dos Maçons da Inglaterra, é datado de 2 de fevereiro de 1356, quando, como resultado da disputa entre Carvoeiros e Maçons, Pintores, Doze Mestres de uma Obra, representando aquele ramo da Arte de Construir, foram até ao Prefeito e Edis de Londres, na sede da Prefeitura e eles obtiveram uma Autorização Oficial, para que fizessem um Código e um Regulamento Interno, para a Instalação de uma Sociedade e, acabar, de vez, com a disputa e, também, para que de uma forma geral, ajudasse nos Trabalhos.

O Preâmbulo do Código confirma que aqueles homens, foram lá, realmente juntos; porque o seu Ofício, até então, não havia sido regulamentado, de nenhuma forma pelo Governo do Povo, como já acontecia com outras Profissões.”

Essa Sociedade dos Maçons (The Fellowship os Masons) durou, ou prevaleceu sozinha durante 20 anos – até 1376, quando foi fundada a Companhia dos Maçons de Londres.

Incidentemente, a primeira Regra desse Regulamento, regido naquela ocasião, como objetivo da “Delimitação em Disputa”, quando estabelecida “que, muitos homens da profissão podiam trabalhar em qualquer serviço relacionado com sua profissão, desde que ele fosse perfeitamente hábil e conhecesse muito bem a profissão.”

Daí por diante, eles passaram a trabalhar segundo esse Código. E muitos outros foram surgindo, formando o que chamamos de Old Charges, ou Constituições Góticas.

*Colaboração do Ir.·. Renato Burity extraído de “O Aprendiz Maçom” de Francisco de Assis Carvalho, saudoso Xico Trolha.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

VELHOS IRMÃOS, FORTES COLUNAS.


Essa crônica é uma homenagem viva aos fundadores da nossa Loja e aos Irmãos mais experientes que, com sabedoria e perseverança, nos legaram o que hoje temos o privilégio de continuar.

A pressa moderna por vezes não combina com quem já viveu mais. E é justamente essa incompatibilidade que alimenta um dos preconceitos mais ignorados da atualidade: o etarismo.

O incômodo com os mais experientes vem, em parte, da nossa dificuldade em aceitar a passagem do tempo. “Eles naturalmente ficaram mais lentos, não andam tão rápido, falam mais devagar — e isso as vezes incomoda a alguns”. Por vezes de forma consciente e desrespeitosa, outras inconscientemente. O que parece apenas falta de paciência esconde uma intolerância real com quem envelheceu e agora é visto como estorvo em uma sociedade que, em 99% das situações, valoriza apenas o desempenho.

O etarismo não é algo perceptível e gritante. Ele acontece quase sempre em pequenos gestos e detalhes: cortando uma fala, suspirando com impaciência, ignorando uma opinião. E tudo isso vai minando o espaço social dos idosos sem que percebamos. Dentro e fora da nossa Ordem. O resultado é um ambiente onde o Irmão idoso precisa se adaptar ou se esconder. Não há espaço para desacelerar, refletir ou simplesmente ocupar o tempo com o próprio ritmo. O Irmão excluído acaba se afastando e deixando de ir às reuniões. É preciso acolhimento.

No mundo profano e na Maçonaria, essa exclusão vem disfarçada de eficiência: “Você anda devagar na rua e o outro já buzinou atrás. Virou um incômodo”. O mundo não está mais preparado para quem caminha fora do ritmo da pressa coletiva. Essa lógica é cruel porque desumaniza. Deixa de ver o idoso como pessoa para tratá-lo como obstáculo. Como se sua presença prejudicasse o andamento da vida dos outros, e da Loja que ajudaram a erguer e manter de pé.

Fingimos que nunca vamos envelhecer. E esse medo se transforma, frequentemente, em desprezo por quem já chegou lá. “Os Irmãos mais jovens acham que não vão envelhecer. Mas vão”.

Esse tipo de pensamento pode criar distância entre gerações e alimentar o ciclo do preconceito. Ignoramos os idosos para não confrontar o próprio futuro e, com isso, normalizamos a exclusão. A rejeição ao idoso é, muitas vezes, uma recusa simbólica ao tempo. E isso compromete a possibilidade de construir uma sociedade mais acolhedora, mais justa e preparada para o envelhecimento populacional.

Na Maçonaria, cada Irmão é um pilar. Alguns são alicerces que sustentam o Templo desde sua fundação. Honrá-los não é apenas justo — é essencial. Afinal, o Compasso e o Esquadro não distinguem a idade da pedra, apenas a sua firmeza e retidão.

Na simbologia do Templo, a Coluna da Sabedoria representa justamente a experiência, o discernimento e o conhecimento acumulado — qualidades encarnadas por nossos Irmãos mais velhos. Ignorar sua presença é fragilizar nossa própria estrutura.

E se a Fraternidade é o cimento da Maçonaria, que sentido teria deixarmos que nossos Irmãos mais experientes se sintam alheios ao convívio da Loja que ajudaram a construir?

“Vamos ter que nos preparar para viver numa sociedade mais velha.” Os dados mostram que nossa população está envelhecendo, mas as atitudes ainda parecem presas ao passado. Incluir os mais velhos exige mudar o olhar. Isso envolve escutar mais, julgar menos e entender que a vivência acumulada é uma riqueza, e não um peso.

Valorizar o idoso é, acima de tudo, valorizar a própria humanidade. Porque envelhecer é um privilégio. E a forma como tratamos os outros agora define como seremos tratados depois. Na vida profana e na caminhada Maçônica.

Como cantava Renato Russo, no clássico "Pais e Filhos":

“Você culpa seus pais por tudo, e isso é absurdo. São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?”

Na Bíblia, nosso livro da sabedoria, salmo 71:9 está escrito: "Não me rejeites na minha velhice; não me abandones quando se esgotar a minha força."

É nosso dever ter carinho e respeito com nossos Irmãos mais experientes, que carregam a sabedoria dos dias vividos e a história de nossa Oficina.

Um dia, se o GADU assim nos permitir, seremos nós os "velhinhos da Loja". E o que plantarmos hoje em acolhimento será o que colheremos amanhã.

Que esta pequena reflexão inspire respeito, inclusão e consciência — dentro e fora do Templo.

Autor: Cristiano de Lima Aguiar

*Cristiano é Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG.

 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A IGUALDADE COMO PEDRA FUNDAMENTAL: QUANDO A IGUALDADE DEIXA DE SER SIMBOLISMO

Nossa Ordem aprendeu, desde cedo, que “todos os homens são livres e iguais em dignidade”. Esse mandamento foi lapidado muito antes de qualquer ideologia contemporânea. Ele nasceu da chama da fraternidade entre Irmãos — e se expressa hoje no desejo de uma sociedade mais justa.

No Brasil contemporâneo, têm ganhado força discussões que propõem tornar o sistema tributário menos desigual. Entre as medidas em debate, estão iniciativas que buscam aliviar a carga de impostos sobre quem tem rendimentos mais modestos e reequilibrar a contribuição daqueles que detêm maior riqueza, por meio de alíquotas mínimas sobre lucros e dividendos elevados. Essas propostas procuram corrigir uma distorção histórica: o fato de que, proporcionalmente, os mais pobres sempre pagaram muito mais que os mais ricos.

Importa dizer que não se trata de estimular divisões ou fomentar uma luta de nós contra eles, pobres contra ricos. Essa mentalidade de enfrentamento apenas agrava as feridas coletivas e enfraquece o ideal de unidade. Mas também não podemos fechar os olhos para uma desigualdade que é antiga, profunda e concreta, e que nega a muitos a dignidade que afirmamos ser um direito universal.

“A pior de todas as tiranias é a que oprime o homem por meio da lei.” — Rui Barbosa

Se ontem a lei autorizava a escravidão, hoje ela muitas vezes se omite diante de desigualdades que transformam milhões de trabalhadores em mantenedores involuntários de privilégios. Talvez seja ousado afirmar que existe uma forma de escravidão moderna, mas é inegável que o peso desigual da carga tributária perpetua um cativeiro econômico silencioso. A legalidade vigente pode ser usada para mascarar a opressão, tornando a tirania ainda mais perversa ao se apresentar como legítima.

Na Arte Real, é o Nível que nos recorda, sempre, que todos somos iguais diante do Grande Arquiteto e do tempo. O Esquadro, por sua vez, nos ensina a agir com retidão e a manter o justo equilíbrio em nossos julgamentos. E se a balança, como símbolo universal da Justiça, paira sobre todas as sociedades humanas, entre nós ela se harmoniza com esses instrumentos, lembrando que a igualdade não é concessão — é direito de todos.

Esse movimento por justiça fiscal reflete o princípio maçônico da igualdade: não se trata de combater pessoas, mas de construir um templo social onde ninguém esteja acima dos demais. A Maçonaria foi, por vocação, aliada da causa igualitária — de abolicionistas a defensores do voto universal. Nosso templo metafórico, feito de pedra bruta lapidada pela razão, só faz sentido se seu entorno também se harmonizar.

Portanto, toda proposta que caminhe no sentido de tornar a tributação mais progressiva — qualquer que seja o governo ou a época — é expressão de uma solidariedade civil: reconhecer o fardo injusto que pesa sobre os mais vulneráveis e promover alívio real, em nome da dignidade.

Claro: há críticas legítimas — sustentar serviços públicos, evitar evasão fiscal, controlar a inflação. Mas se nos perguntarmos: qual é o objetivo último da Igualdade? a resposta maçônica é clara: permitir que todos tenham acesso a oportunidades, liberdade e fraternidade — dentro e fora do Templo.

Conclamo, então, cada Irmão e cada cidadão a refletir:

Se afirmamos que somos iguais diante do Compasso e do Esquadro, por que tolerar um sistema que perpetua privilégios e nega justiça? Seria essa a Luz Progressista necessária para iluminar nossos caminhos nas nossas cavernas contemporâneas?

Autor: Cristiano de Lima Aguiar

*Cristiano é Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG

 

 

sábado, 9 de agosto de 2025

EXAMINE SEU PRIVILÉGIO E O OLHAR COMPASSIVO DO INICIADO


 

 I. Privilégio Invisível: O que não percebemos, mas carregamos

Em nossa caminhada iniciática, somos lembrados de que todos iniciamos pela mesma porta estreita. No entanto, esquecemos que cada um de nós veio de um ponto diferente do caminho profano. Alguns foram preparados pelo destino com famílias estruturadas, educação formal, exemplos éticos; outros, contudo, vieram feridos, sem referências e marcados por realidades adversas.

Devemos ter um alerta: “Corpos frágeis requerem mais cuidados”. Da mesma forma, almas que não foram nutridas com valores superiores exigem mais paciência, atenção e formação. O privilégio aqui não se refere apenas ao material, mas ao simbólico e espiritual.

 II. Formação Espiritual: Nem todos estão prontos ao mesmo tempo

A Maçonaria é uma escola iniciática e espiritual. É nosso dever entender que cada irmão está em um estágio de consciência diferente. Como o jardineiro que não exige que todas as flores desabrochem ao mesmo tempo, devemos reconhecer que a formação da alma exige tempo, cuidado e, principalmente, empatia.

A filosofia mostra no texto, o “cuidado da alma”. E isso é Maçonaria em sua essência: transformar o ser pela paciência, pelo exemplo e pela instrução contínua.

 III. O Dever do Iniciado: Compreender antes de julgar

No silêncio do Templo, muitas vezes ecoa um julgamento silencioso: “Por que ele ainda não aprendeu?” ou “Por que não age corretamente?”

Mas o Iniciado verdadeiro sabe que julgar é um instinto do ego, enquanto compreender é uma virtude da alma desperta. O privilégio de ter sido orientado, instruído, amado ou inspirado deve nos conduzir à humildade, não à arrogância.

Ser tolerante não é ser permissivo; é compreender a raiz do erro antes de aplicar o cinzel da correção. É erguer o irmão com o compasso da empatia e guiá-lo com a régua do exemplo.

IV. Trabalhar com o que se tem

Há Irmãos que chegam à Ordem com luzes já acesas. Outros ainda tateiam no escuro. Mas todos carregam uma centelha. O Iniciado deve ser aquele que, reconhecendo seus privilégios e oportunidades, transforma isso em ferramenta de serviço ao coletivo, e não em trono de julgamento.

CONCLUSÃO: O privilégio é oportunidade de servir

A reflexão que se impõe não é sobre o quanto sou melhor, mas o quanto posso ser mais útil por ter recebido mais.

A verdadeira iniciação se revela quando passamos a ver no erro do outro uma oportunidade de ensinamento, não de condenação.

Se a Maçonaria é escola, somos todos aprendizes — e os mais sábios devem ser os mais pacientes.

Se temos o privilégio da consciência, que ela nos sirva para acender a tocha daqueles que ainda caminham nas sombras.

Assim seja, no Oriente Eterno da Luz.

E lembrem-se, a humildade precede a honra.

A/D

terça-feira, 5 de agosto de 2025

A VOZ SILENCIADA DAS COLUNAS


Venerável Mestre, Digníssimos Vigilantes, Respeitáveis Irmãos

Permitam-me, com humildade e fervor, compartilhar convosco não apenas uma reflexão, mas um chamado. Um grito silencioso que ecoa entre as Colunas, clamando por escuta, por verdade, por coragem.

Vivemos um tempo estranho, em que muitos juram pela espada do Compromisso, mas ajoelham-se diante da conveniência. Onde o silêncio do Aprendiz é mais ruidoso que a fala dos Mestres, e o Companheiro, que deveria subir a escada da compreensão, vê-se perdido entre degraus de vaidades e sistemas que não reconhecem sua sede.

É preciso dizer: a Maçonaria não é uma estrutura para servir homens, mas para que homens se elevem por ela.

Onde estão as Lojas que pensam com liberdade? Onde os Irmãos que debatem sem medo? Onde estão os líderes que ouvem mais do que ordenam?

Há Irmãos com mais de 30, 40, 50 anos de vivência maçônica, que trazem à tona o que muitos sentem e poucos verbalizam: as Lojas, que são a alma viva da Ordem, têm sido tratadas como meras engrenagens de um sistema que teme ser questionado.

Mas nós não fomos iniciados para viver de joelhos. Fomos iniciados para erguermo-nos como Colunas vivas, sustentando o Templo da Virtude com retidão.

Se os Irmãos que ardem em vontade, estudo e entrega não são ouvidos...

Se os que buscam reformar com base em nossos princípios são vistos como rebeldes...

Se os que denunciam o apequenamento do Ideal são silenciados...

Então em que nos tornamos?

A Ordem sempre foi contracorrente. Nascemos no seio da razão iluminada, sustentados pela busca do conhecimento e pela prática da Justiça. Não podemos agora aceitar a mornidão de um sistema que teme a voz viva das Lojas e dos Irmãos dedicados.

A fidelidade do Maçom é ao altar onde jurou, não aos tronos que se erguem sobre o medo e o silêncio.

Por isso, irmãos, que esta peça de instrução sirva como brasão de coragem.

Que ela reacenda a Luz no coração dos adormecidos.

Que ela inspire aos sinceros que ainda lutam nos bastidores por uma Maçonaria viva, justa e pensante.

Não há força que vença o Espírito de Verdade quando ele habita o coração dos Iniciados.

E onde houver um único Irmão fiel à Palavra, ali estará a Centelha que pode reacender a Força de toda uma Ordem.

Somos o Templo.

Somos as Colunas.

Somos a Voz.

E a Voz não será silenciada.

Assim seja entre os que se lembram do Juramento.

T.’.F.’.A.’.

A/D

  

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O ORGULHO DO MAÇOM-O CÂNCER DA MAÇONARIA


 

Nos Templos Maçônicos, onde a humildade deveria ser a um dos pilares da jornada iniciática, um inimigo sutil e silencioso insiste em aparecer: o orgulho. Essa força, muitas vezes invisível, pode corroer a essência da Fraternidade, transformando um espaço de luz em palco de vaidades e disputas veladas.

Falar sobre orgulho dentro de uma Loja Maçônica pode parecer estranho, mas é necessário. O orgulho é como uma miragem: sedutor, ilusório e perigoso. Ele se alimenta do medo de não ser visto, de não ser reconhecido, de não se sentir especial. Mas a verdadeira iniciação ensina justamente o contrário: o valor do silêncio, da escuta, da transformação interior. O maçom não precisa provar nada a ninguém — ele apenas precisa ser fiel a si mesmo e à sua jornada.

O orgulho, muitas vezes, se disfarça. Pode vir camuflado de falsa modéstia, de excesso de conhecimento, ou até de um certo "espiritualismo performático", onde títulos e rituais viram exibição de ego. Quando isso acontece, a Loja deixa de ser um templo de construção interior e vira um teatro de competição.

Mas há uma saída. A própria tradição maçônica nos ensina o caminho da transmutação. Assim como o alquimista transforma o chumbo em ouro, podemos transformar o orgulho em humildade. Não se trata de eliminar o ego, mas de colocá-lo a serviço da obra. O orgulho pode ser matéria-prima — desde que a alma saiba lapidá-lo.

O orgulho alheio só nos fere porque toca o nosso próprio. Por isso, cada vez que ele nos incomodar, é sinal de que ainda temos trabalho a fazer dentro de nós. E esse é o verdadeiro chamado do maçom: voltar-se para dentro, sem comparações, sem máscaras, sem buscar aplausos. A pedra bruta só se torna cúbica com esforço, dor e verdade.

Neste novo ciclo que se inicia nas Lojas, que cada um de nós possa refletir sobre isso. Que o fio de prumo nos alinhe com o essencial, e que a humildade seja a luz que guie nossos passos. Afinal, como bem disse um autor anônimo:

“Os maçons se dividem entre os vaidosos, os orgulhosos... e os outros. Mas ainda não conheci os outros.”.

Inspirado nas crônicas de Pierre d'Allergida: In: https://450.fm/

 

Postagem em destaque

A MAÇONARIA E A PERFEIÇÃO

  Quando faço uma retrospectiva desde antes da minha entrada para a Maçonaria, lembro-me muito bem da minha expectativa. Após a formalização...