Como se disse já, a
Maçonaria tem apenas três tipos de segredos: os rituais, os meios de
reconhecimento e a identidade dos seus membros. Debrucemo-nos hoje sobre os
rituais.
Recordo claramente o
"ritual" de início de cada dia de escola: entrávamos todos em fila,
ordeiramente e em silêncio, colocávamo-nos em locais pré-determinados,
respondíamos à chamada, preparávamos os instrumentos de trabalho (a caneta e o
caderno diário) e escrevíamos o local e a data do dia, seguidos do sumário;
depois disso, cada um tinha procedimentos a seguir - se, por exemplo, pretendia
falar, tinha que levantar o braço - bem como tinha variadas limitações à sua
ação - não podíamos levantar-nos sem autorização, por exemplo.
Identicamente, os
rituais maçônicos determinam e regulam uma série de acontecimentos que sucedem
durante uma reunião (a que os maçons chamam "sessão"), no sentido de
conferir alguma ordem aos trabalhos - precisamente do mesmo modo que numa sala
de aula. Assim, fazem parte dos rituais procedimentos meramente administrativos
como o são a chamada ou a leitura da ata da sessão anterior. Estes
procedimentos nada têm de secreto, e poderia dizer-se que só não se referem por
não o merecerem, de tão enfadonhos que são...
Por outro lado, os
rituais também são uma espécie de "peças de teatro", no sentido em
que há vários "atores" com "falas" e ações bem definidas e
pré-determinadas. Estas ações são um pouco mais elaboradas do que é costume
noutras circunstâncias do nosso dia-a-dia, e muito do que se diz e faz é
simbólico.
O simbolismo, em si,
não é oculto; já o significado que lhe é atribuído em determinado contexto pode
sê-lo. Há coisas que estão à vista desde o primeiro dia em que se entra num
templo maçônico e que nunca são explicadas, antes sendo deixadas - como tantas
outras - à interpretação e interiorização de cada um.
De outras é dada uma
explicação em determinado contexto, como na cerimônia de Iniciação - em que se
passa de Profano a Aprendiz - na passagem de Aprendiz a Companheiro, ou na de
Companheiro a Mestre. Esses "rituais secretos" nada têm de
interessante para quem esteja fora do contexto. Imaginem um músico a assistir a
uma secretíssima reunião de alta finança num banco; ou uma pessoa como eu,
avessa a futebol, a assistir às secretíssimas reuniões do Mourinho com a sua
equipa em vésperas de um grande jogo... Para essas pessoas, pouca ou nenhuma
valia teria esse conhecimento.
Então por que o secretísmo?
Por uma razão: porque, para aqueles a quem interessa, há um momento certo para
se saber. E porque é que há esse "momento certo", e não se pode saber
logo? Procurei um bom paralelismo que o explicasse, e creio que o encontrei:
imaginem-se a ler um bom livro policial, daqueles bem elaborados; ou a ver um
bom filme de suspense. Agora imaginem que alguém chega, e vos diz: "Ah,
conheço, já vi, foi o mordomo na biblioteca com o candelabro." Pior:
imaginem que vo-lo dizem mesmo antes de iniciarem o livro ou o filme.
Acham que irão retirar
o mesmo prazer, ler com o mesmo empenho, analisar com o mesmo estímulo? Claro
que não. A experiência ficou arruinada pelo conhecimento prévio. O mesmo se
passa com os rituais maçônicos. Por isso se recomenda a quem pretenda ingressar
a Maçonaria que não leia, não procure, não se informe. Mas, se o fizer, apenas
a si mesmo se prejudica - na mesma medida de alguém que, sorrateiramente,
ludibriando-se a si mesmo, ardendo de curiosidade, fosse ler as últimas páginas
do tal romance policial.
Por isso, e se não
pretendem alguma vez ser admitidos na Maçonaria - ou se pretendem mas querem
garantir que a experiência fique irremediavelmente arruinada - então basta
procurarem que, com o auxílio do nosso "amigo" Google, terão, com
alguma diligência e arte, acesso a dezenas de versões de rituais maçônicos de
diversas épocas, locais e obediências.
Encontrarão também, se
as procurarem, partituras de obras musicais famosas, e mesmo vídeos das mesmas.
Mas - ah! - só quem já cantou num coro ou tocou numa orquestra sabe o quão
diferente é estar de fora a ver, ou participar de dentro. Tentem que vos
expliquem a diferença, e serão unânimes: "não dá para explicar, tens que
viver a experiência para a compreenderes". Com um ritual maçônico - já o
adivinharam - passa-se o mesmo. Não se explica, não se revela, não se estuda -
vive-se, ou não se entende.
Contribuição do Ir:.Paulo M.