Esta
prancha surge como resultado da minha vivência pessoal durante o último ano maçônico
e da vontade de contribuir para a discussão sobre as relações da nossa Augusta
Ordem com a sociedade profana neste final de século. Discussão tão pertinente
como polemica, mas mesmo assim incontornável nestes tempos de mudança que
vivemos.
Existem basicamente dois tipos de pessoas que são iniciadas
na Maçonaria: aquelas que pela sua vida pessoal, pelos seus estudos, hobbies,
pelos seus interesses mais variados e pela sua vivência pessoal já conhecem
grande parte dos temas que orientam a Maçonaria, e como tal poderão já estar a
par da temática maçônica; e aquelas que não conhecendo conscientemente esses
temas, possuem um "potencial maçônico", (uma pedra bruta) que poderá
ser desenvolvido, caso lhes sejam facultadas as ferramentas e as a unidades corretas,
na altura certa.
Tais pessoas acabam por ser contactadas por amigos já
iniciados, que reconhecendo nelas esse potencial lhes sugerem o ingresso na
Maçonaria. Note-se que não se trata de um "recrutamento" no sentido
mais prosaico do termo, mas sim uma sugestão para o ingresso numa ordem onde
potencial maçônico pode ser ampliado e desenvolvido, ou seja, onde a pedra
bruta poderá começar a ser desbastada e aperfeiçoada.
Eu pertenço a este último grupo de pessoas. Após a minha iniciação
houve um período inicial em que a minha atenção era canalizada para o aspecto
visual do ritual. Em que - e não há que ter vergonha de dizê-lo - a atenção era
mais dirigida para os gestos que os meus irmãos faziam e aquilo que diziam, do
que para o significado desses gestos e dessas frases. Contudo após a
mecanização do ritual, surge a fase de meditação sobre o seu significado e o da
temática maçônica em geral.
É nesta fase que senti a pouca informação que possuía. Pois
embora o meu Vigilante me recomendasse que fizesse a minha interpretação e
interiorização do ritual, sentia que me faltavam informações básicas sobre a
Maçonaria. Muitas vezes tive a sensação de ter apanhado um "comboio em
movimento", pois para poder compreender e (vaidade das vaidades) acompanhar
as conversas a que assistia, necessitava de proceder à pesquisa dessas
informações, tendo sempre o cuidado de me lembrar de que a informação que
recolhesse era sempre a expressão do ponto de vista do autor, e como tal
deveria "peneirar" essa informação para retirar as interpretações
mais pessoais dos fatos mais consensuais. Procurei, pois essa informação nos
livros, nas pranchas dos meus irmãos que, entretanto me iam chegando às mãos...
e na Internet...
Por que a Internet? Por um lado por "deformação
profissional" profana. Por outro, pelo conhecimento da Internet como um
caldeirão cultural, onde diariamente comunicam milhões de pessoas. Algures, no
meio dessa Babel imensa, deveriam estar maçons...
E a surpresa foi agradável. Uma pesquisa minuciosa leva-me
a concluir que a nossa Augusta Ordem está convenientemente representada. E
embora reconheça com alguma tristeza que a maior parte dessa representação se
refere ao conhecimento norte-americano (Estados Unidos e Canadá), a
universalidade da Maçonaria permite que se aproveite muito do que lá está.
Antes de continuar convém realçar o perigo de se tornar a nuvem
por Juno. A Internet nunca poderá substituir o trabalho em loja. Numa era em
que está na moda falar da Internet, importa conhecer tanto as suas
potencialidades no campo da troca de experiências e conhecimentos maçônicos
como os seus limites, sem "embandeirar em arco" ou perder a noção do
que é de fato importante: a vivência maçônica no seu todo, nomeadamente o
trabalho como obreiro em loja.
A Internet é basicamente um meio de troca de informação
entre os seus utentes em duas vertentes distintas:
A DISPONIBILIZAÇÃO DE INFORMAÇÃO.
Por um lado temos centros que disponibilizam informação
para consulta por parte de qualquer utente. Surgem aqui locais pertencentes a
alguns irmãos mais empenhados, Lojas e mesmo Grandes Lojas. A título de exemplo
saliento as Grandes lojas do Japão, Espanha, Itália, Finlândia, Austrália
Ocidental, de vários estados e províncias dos Estados Unidos e Canadá, uma
variedade de lojas do continente americano, a Loja de Pesquisa da Califórnia do
Sul ou ainda a Sociedade Philalethes.
É aqui possível obter informações sobre as atividades das
Lojas e Grandes Lojas, sobre os seus membros, obter textos sobre a nossa ordem,
ou ainda uma compilação das perguntas mais frequentes - um pequeno manual,
ideal para maçons recém-iniciados - onde se responde a uma série de perguntas
que versam a nossa ordem, o seu relacionamento com a sociedade profana, a
relação das crenças de cada pessoa com a maçonaria, quais as atitudes a tomar
em resposta a provocações anti- maçônicas, etc.
Dentro dos documentos disponíveis é de referir ainda uma
coleção de Bulas Papais que afetaram direta ou indiretamente a nossa ordem,
vários conjuntos de imagens digitalizadas de temas maçônicos ou ainda o texto
do livro "Morals And Dogma" do irmão Albert Pike.
Enfim todo um manancial dinâmico de informação. Dinâmico
porque a informação aumenta com o passar do tempo, assim como o n.º de Lojas e
Grandes Lojas representadas. Espero ansiosamente pelo dia em que possa ver a
Grande Loja Regular de Portugal e porque não, a nossa respeitável Loja,
representadas na Internet.
A COMUNICAÇÃO ENTRE UTILIZADORES
Uma segunda vertente da Internet prende se com a
comunicação entre utilizadores em geral entre maçons em particular. Em tempo
real, numa amena conversa eletrônica, ou através do envio de mensagens de
correio, é possível a troca de impressões entre irmãos separados por milhares
de quilômetros. Nesta área salientam se algumas listas de discussão temática
versadas na maçonaria. Estas listas funcionam como centros aglutinadores de
mensagens, enviadas e distribuídas aos subscritores da referida lista. “Como
exemplos temos a UKMason list, versada em assuntos relacionados com a maçonaria
inglesa, nomeadamente com a UGLE, só admitindo como subscritores maçons
pertencentes a lojas reconhecidas pela UGLE; e a mais “popular” freemasonry
list”, que não restringe os subscritores, nem o conteúdo: dos assuntos a serem
discutidos.
Contudo trata-se de uma lista moderada, onde não são
tolerados ataques pessoais nem faltas de educação entre os participantes. Como
subscritor desta lista desde Outubro do ano passado, devo dizer que tenho pena
que o dia não tenha mais horas, para me permitir acompanhar com mais detalhe o
que se vai discutindo, dada a quantidade de informação que circula diariamente
- entre 10 a 50 mensagens diárias, consoante seja dia de trabalho ou fim de
semana. Sendo óbvio que nem todas as mensagens são relevantes em termos de
conteúdo, não posso deixar de referir alguns dos temas que têm sido discutidos:
O relato de uma sessão da Grande
Loja da Rússia, constituída em 1995 e do andamento dos seus trabalhos.
Relatos sobre experiências de
passagem de grau.
Diferenças entre Lojas que trabalham
normalmente no 1.º grau e Lojas que trabalham normalmente no 3.º grau.
O significado de alguns símbolos nos
templos maçônicos.
Qual o espírito da maçonaria.
Poemas maçônicos.
Compilações de publicações maçônicas
e os respectivos contactos.
Críticas a livros maçônicos
recentemente publicados.
Atividades de beneficência.
Diferenças entre os vários ritos e
diferentes interpretações do ritual em várias Lojas.
etc., etc., etc.
Esta troca de ideias implementam o trabalho em loja,
permitindo-nos ter acesso a pontos de vista de irmãos com mais experiência. Sob
este ponto de vista poderia ser levado a considerar a internet como um
"templo virtual". Contudo a minha interpretação das relações entre a
Maçonaria e a Internet têm os seus limites.
A falta de muito do que dá sentido a - um templo e às sessões em Loja, como sejam o aspecto ritual dos trabalhos a envolvência de cada maçom nesse ritual e a não sacralização do templo - sacralização essa só possível pela presença física dos maçons levam-me a considerar que o conceito de "templo virtual" - possível em termos tecnológicos - só faria maçonicamente sentido em termos pedagógicos, como auxiliar para os aprendizes que se iniciam no desbaste da sua pedra...
A falta de muito do que dá sentido a - um templo e às sessões em Loja, como sejam o aspecto ritual dos trabalhos a envolvência de cada maçom nesse ritual e a não sacralização do templo - sacralização essa só possível pela presença física dos maçons levam-me a considerar que o conceito de "templo virtual" - possível em termos tecnológicos - só faria maçonicamente sentido em termos pedagógicos, como auxiliar para os aprendizes que se iniciam no desbaste da sua pedra...
Convém ainda referir que tem de existir certo cuidado com o
que se diz e principalmente como se diz. A Internet não é um meio fechado nem
suficientemente seguro para permitir uma troca de segredos maçônicos (senhas, etc.)
pela rede.
Como a comunicação é feita de forma verbal (isto é, pelo
que se escreve e não pelo que se faz), é muito importante conjugarmos o
conteúdo das nossas missivas com o estilo literário em que são escritas - a
ironia pode ser uma faca de dois gumes - e existem pessoas que se ofendem muito
facilmente com o que é escrito.
Finalmente é de notar que a informação maçônica que circula
na rede, não difere da que está disponível em livros, que podem ser adquiridos
por qualquer maçom ou profano...
No meu caso pessoal, decidi refletir o meu grau de aprendiz
na minha utilização maçônica da Internet. Até agora tenho utilizado o meu
"privilégio do silêncio", observando, escutando e aprendendo com a
experiência, a postura, a cultura, e porque não dizê-lo, com as asneiras de
alguns irmãos (a pedra ainda não é perfeita) que navegam nestas "águas".
Neste mundo cada vez mais agitado, onde o tempo dedicado às
nossas profissões profanas é cada vez maior, e o tempo disponível para atividades
maçônicas cada vez menor, onde a velocidade de acesso à informação se torna tão
importante como a informação em si, a internet surge como meio privilegiados
para encurtar tempo e distâncias, permitindo o contacto e a troca de
informações entre irmãos de uma forma rápida e eficiente, desde que se tenha
sempre a perspectiva que nada poderá substituir o contacto pessoal entre
irmãos, à assistência das sessões em loja e o convívio que daí resulta.
Autor Desconhecido
(A:. M:.)