Gabriel Jogang Pagés, francês nascido em 1854, com o pseudônimo de Leo
Taxil, tornou-se origem das acusações de luciferismo e cultos satânicos contra
a Maçonaria, acentuando a discordância entre esta última e o Clero.
Leo Taxil teve uma juventude turbulenta, estudando em diversos colégios
católicos dos Jesuítas, sendo expulso de alguns deles e sai da casa paterna
antes dos 16 anos.
Dedicado inteiramente ao jornalismo, em 1871 já com o pseudônimo de Leo
Taxil, para ludibriar seu severo pai, ingressa no “A Igualdade”; funda
posteriormente o “La Marote”, a “Jovem República” e em 1874 dirige “O Furacão”.
Em todas essas ocasiões, seus artigos eram uma sequência de folhetins
anticlericais, dos mais violentos, sofrendo diversos processos por excesso de
linguagem. Em 1876, foge para a Suíça, voltando posteriormente a Paris. Tinha
24 anos e começa uma carreira vertiginosa uma vez que os republicanos e
anticlericais triunfavam. Em 1879 funda a Biblioteca Anticlerical e alimenta a
França com uma enxurrada de panfletos sensacionalistas. Ganhou, com o passar
dos anos, muito dinheiro e diversos processos movidos pelo Clero.
Em 1881, Taxil havia sido Iniciado na Loja Maçônica “Os Amigos da Honra
Francesa”, da qual foi expulso após dez meses, ainda na fase de Aprendiz.
O interesse pela sua literatura sensacionalista decai, as vendas
sofreram brusca queda, o que fez que, em 1885, após intensa atividade
anticlerical, Leo Taxil declara-se “convertido”, repentinamente, sem transição
alguma. Confessa-se e passa a viver com os clericais frequentando bibliotecas
religiosas e aplica um novo golpe: começa a escrever contra a Maçonaria.
Assim, na condição de “católico penitente”, dedica-se, a partir de 1885 às
publicações antimaçônicas. Seus livros descreviam rituais maçônicos entremeados
de fantasias mirabolantes, passando posteriormente, a inventar e descrever
rituais fantásticos, cultos luciferinos, satânicos. Esses livros eram devorados
pelos leitores ávidos de sensacionalismo, tornando-se um grande e lucrativo
negócio.
O negócio floresceu e chegou ao ponto culminante com a invenção de “Miss
Diana Vaughan” no seu livro “As Irmãs Maçons”, onde tal personagem era a
sacerdotisa de um culto demoníaco feminino a que chamou de Palladismo. Tal
personagem queria livrar-se das garras do satanismo e voltar à Santa Igreja
Católica, mas era impedida pelos Maçons.
As autoridades eclesiásticas apoiavam de público e através de cartas as
“revelações” do autor, chegando algumas delas a oferecer auxílio à fictícia
Diana Vaughan. Em visita ao Vaticano, Leo Taxil foi cordialmente recebido por
Cardeais e teve uma entrevista pessoal com o próprio Leão XIII.
As obras de Taxil foram traduzidas em diversos idiomas e seus artigos
publicados em revistas e jornais católicos. Outros autores, influenciado pelo
sucesso de Taxil, e tomando-o como referência, começaram também a explorar o
mesmo tema. Durante doze anos toda essa miscelânea de imbecilidades forjadas
por Leo Taxil foi devorada por um público cativo.
Apesar da desconfiança de algumas autoridades de tudo não passar de um
embuste, os livros de Taxil continuavam a ser vendidos. Sua influência crescia
também em outras nações, a ponto de na Espanha e Bélgica serem formadas
comissões especiais para investigação da Maçonaria.
Até que finalmente, na Itália, em setembro de 1896, realizou-se um
Congresso Antimaçônico em Trento, incentivado pelo Papa Leão XIII. Lá, algumas
manifestações de descrédito dos exageros de Taxil começavam a aparecer. O
monsenhor alemão Gratzfeld, provou que Miss Diana Vaughan era um embuste, mas
não foi levado a sério.
Comissões foram criadas e aí começaram a aparecer dúvidas sobre a
veracidade dos escritos e das personagens. Começava, assim, o fim de uma
mistificação.
Depois de muito relutar, na Sociedade Geográfica de Paris, Taxil
denunciou sua própria fraude, gabando-se de ter conseguido iludir as
autoridades eclesiásticas por doze anos. A reação às declarações de Taxil foi
de tal ordem que ele teve de deixar o local sob proteção policial. Não mais se
ouviu falar sobre Taxil que veio a falecer em 1907.
Eleutério Nicolau da Conceição em Maçonaria Raízes Históricas e
Filosóficas - 1ª edição - São Paulo - Editora Madras - 1998, esclarece:
“todavia, aplica-se a este caso a conhecida figura do travesseiro de penas
sacudido ao vento: é impossível recolher todas as penas”. De tempos em tempos,
aparecem livros antimaçônicos, inspirados nas idiotices de Leo Taxil, ou de
outro autor inspirado por ele.
E, assim, os Maçons norte americanos, que periodicamente sofrem
campanhas movidas por igrejas fundamentalistas, repisando sempre as mesmas
teclas de Leo Taxil, referem-se à fraude como “The lie that will never die” – a
mentira que nunca morrerá.