SÍMBOLOS E ALEGORIAS


“Do mesmo modo que os antigos filósofos egípcios, para subtrair seus segredos e mistérios aos olhos dos profanos, ministravam seu ensino por meio de símbolos e alegorias, a maçonaria, continuando a tradição egípcia, encerra seus ensinamentos e filosofia em símbolos e alegorias, pelos qual oculta suas verdades ao mundo profano, só as revelando àqueles que ingressam em seus templos (ritual ap.`.maç.`.)”


O que se observa no escopo da filosofia maçônica simbólica universal, como se pode depreender na citação acima, é que o universo de seu conhecimento que tem como objeto a construção moral da humanidade se dá através de conjunto de símbolos e alegorias. 

Como uma expressão de idéias elaboradas através da história da humanidade na sua relação com a natureza, os símbolos e alegorias, carregam consigo significados e interpretações que variam de acordo com a capacidade intelectual e o conhecimento das pessoas que os interpretam. Neste sentido, antecipo minhas escusas quanto aos entendimentos errôneos que possa cometer neste trabalho.

Segundo o dicionário Aurélio, símbolo é  aquilo que, por um principio de analogia, representa ou substitui outra coisa, ao passo que alegoria compreende a exposição de um pensamento sob forma figurada, ainda, ficção que representa uma coisa para dar idéia à outra; ou, a seqüência de metáforas que representam uma coisa nas palavras e outra nos sentido.

Contudo, seria muita pretensão abordar um tema tão vasto e profundo na historia da maçonaria neste pequeno estudo. Neste sentido, procuraremos abordar o mundo simbólico e alegórico maçom através dos conteúdos que estes símbolos e alegorias representam para o primeiro grau de aprendiz na construção e reforço das virtudes necessárias para a superação das suas próprias imperfeições. 

Os primeiros elementos simbólicos apresentados ao aprendiz constituem uma variedade de percepções sensoriais auditivas, tácteis e visuais durante o ritual da iniciação, na qual lhe é induzido o reconhecimento das suas profanas limitações perceptivas para o real entendimento do conjunto do conhecimento simbólico maçônico e para o qual deverá desenvolver as habilidades virtuosas das luzes da sabedoria, da força e da beleza, que sustentam seu templo, e para a construção harmoniosa, justa e perfeita da humanidade. 

Durante o ritual de iniciação do aprendiz maçom, no momento em que lhe é retirada a venda dos olhos pela primeira vez, o iniciado se vê situado a um conjunto de expressões sob lusco-fusco da luz de velas. A que mais se apresenta pelo fato de ser a mais ininteligível é expressão V.I.T.R.I.O.L. esta expressão contempla as iniciais das antigas doutrinas iniciáticas alquimistas que significa: "visita interiorem terrae rectificando que invenies occultum lapidem", ou seja, “desce às profundezas da terra, e retificando-te, encontrarás a pedra oculta”.

Desde o dia em conheci esta expressão, precisei enterrar minha ignorância e aprofundar no conhecimento do seu significado. O que me foi mais interessante neste estudo, superados os significados, literal e figurado da expressão, o seu significado oculto é findo na contemplação e permanência da nossa própria ignorância.

Neste sentido, este símbolo carrega a universalidade da constante busca do homem para melhorar a si mesmo e à sociedade. É um convite à busca da essência da alma humana. É utilizando a alegoria de chaves, “o grão tem de apodrecer e morrer para dar à luz a nova planta (neófito)”.

O painel alegórico da loja do 1º grau, como o próprio nome diz, contempla, a exemplo do parágrafo anterior, muito mais do que um conjunto literal, figurado e oculto de símbolos, mas pretende expressar nesse conjunto simbólico, o caminho, as ações e os instrumentos necessários ao aperfeiçoamento moral das nossas limitações e imperfeições.

O painel constitui para o aprendiz, o segundo contato com este aspecto do simbolismo maçom. se no primeiro momento iniciático lhes são apontadas suas limitações, neste, o legado maçom lhe orienta o caminho operativo e filosófico pelo qual deverá seguir para o seu aperfeiçoamento.

Ao que tudo indica a alegoria expressa neste painel contem também seus significados em pelo menos três dimensões para o desenvolvimento, a saber, engloba ao mesmo tempo as perspectivas para o desenvolvimento individual, social e espacial. a título de exemplo, sob o aspecto do individuo, o conjunto das virtudes a serem potencializadas.

Sob ótica do desenvolvimento social, a relação entre os indivíduos e o produto destas virtudes no meio social e, por conseguinte as abordagens sob o aspecto estético no entendimento e harmonização das relações com a natureza.

Da mesma forma, exemplificando o conteúdo literal, figurado e oculto na simbologia maçônica, a pedra bruta, contém simbolicamente o seu sentido literal no conjunto do painel alegórico, a aparência de nada mais que uma pedra no canto da loja. em seu sentido figurado, é através dela que todos nós iniciamos e é o objeto de nossas ações na maçonaria e por fim em um de seus sentidos ocultos, aí de ordem pessoal, ao observar suas irregularidades e asperezas, poderemos questionar e contemplar a nos mesmos sobre o prisma das nossas próprias asperezas e imperfeições da moral, nossos vícios, a nossa imobilidade pela intolerância, e a dureza pela ignorância. 

Simbolicamente a filosofia maçônica dispõe em seu legado da maçonaria operativa o conjunto dos instrumentos para o aperfeiçoamento da pedra bruta.

Desbastá-la de suas imperfeições exige em suas ações de aperfeiçoamento, sabedoria, força e beleza na utilização dos instrumentos do compasso, esquadro, a régua, o nível e o prumo. 

O compasso e o esquadro são observados sempre juntos em loja. Compõem simbolicamente a espiritualidade, o conhecimento e a retidão e a perfeição que devem estar sempre presentes nas ações dos maçons.

Referem-se ainda às dimensões relativas à justiça, retidão e equidade no julgamento dos atos humanos. Em loja de aprendiz, a sobreposição do esquadro sobre o compasso e estes sobre o livro da lei, representa ainda a matéria predominante sobre o espírito, em alegoria a imaturidade, desarmonia e desequilíbrio entre estes componentes complementares da existência humana. 

O nível maçônico em seu sentido literal aponta-nos espacialmente a horizontal em relação ao eixo perpendicular (vertical) da terra que pode ser auferida pelo prumo. Em seu sentido oculto, por sermos todos iguais perante as leis naturais e sociais, expressa a igualdade, a tolerância e a imparcialidade que devem estar contida nas nossas ações e julgamentos.

O prumo, por estar sob a ação da força da gravidade aponta sempre para o eixo central da terra, expressando, portanto a situação que melhor acomoda ou equilibra a ação desta força. Em seu sentido mais oculto, ponderam o equilíbrio e estabilidade como atitudes virtuosas presentes nas nossas ações e ao mesmo tempo refere-se à profundidade que devemos imprimir na busca da nossa verdadeira essência.

A régua por sua vez, dividida em 24 polegadas, compreende a mensuração e a delimitação de nossas ações em relação ao tempo e ao espaço. Isto é, as medidas de espaço e o tempo para a realização do nosso trabalho. Ao mesmo tempo em que requer a compreensão, os limites e as conseqüências dos nossos atos.

CONCLUSÃO

A ordem maçônica “é um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”. Neste contexto, procuramos exemplificar através algumas representações alegóricas e simbólicas presentes no painel alegórico do grau de aprendiz, os significados literal, figurado e oculto sob as limitações da percepção e do conhecimento de um aprendiz. 

É patente o grau de dificuldade no entendimento mais integral do universo simbólico existente, como por exemplo, as relações internas entre os símbolos e alegorias no conjunto da filosofia maçom.

Ao aprofundar neste estudo, fica evidente a dimensão da ignorância sobre o real sentido e significado de todo o simbolismo ai presente, mas remete concomitantemente a consciência ao desafio e busca do entendimento e conhecimento desse universo, da mesma forma alegórica que se busca o conhecimento e entendimento do universo da existência humana no interior de cada um. 

Finalizando, é indiscutível o conteúdo de sabedoria existente na filosofia e ensinamentos da ordem maçônica. Na gênese do esoterismo encontram-se os aspectos ligados fundamentalmente à espiritualidade, que não que dizer religiosidade. a espiritualidade congrega a síntese das faculdades intelectuais e físicas da humanidade e as suas expectativas frente ao universo.

A simbologia, portanto, procura preservar o conhecimento não só pelo seu aspecto de conteúdo, mas trás no conjunto de suas emanações a memória histórica de todo o âmago da humanidade.

Ir.’. Amaury Ângelo Gonzaga

G.’.L.’.E.’.M.’.T.’.
A.’.R.’.L.’.S.’. Trabalho e Progresso nº. 17 - Chapada dos Guimarães

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.

Charlier, Rene Joseph. Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica. Edições E. D. O. Ribeirão Preto, SP.

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ.

Figueiredo, Joaquim Gervásio. Dicionário de Maçonaria. Editora Pensamento. São Paulo, SP. 

Carvalho, Assis. O Aprendiz Maçom. 2ª ed. Londrina: ed. Maçônica. `` a Trolha``, 2001.

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