O Profeta Amós era um
trabalhador braçal, um boiadeiro e cultivador de sicômoros (árvores que geram
um fruto parecido com o figo).
Ele é originário da
cidade de Tekua, aldeia situada há dez quilômetros ao sul de Belém. É conhecido
ainda como sendo um dos assim chamados “Profetas Menores”, não por ter pouca
importância, mas sim pela extensão de sua obra, considerada pequena em vista de
outros profetas da Bíblia, mas tão brilhante quanto as outras.
O seu ministério foi
exercido no século VIII a.C. durante os reinados dos Reis Uzias (ao sul de
Israel) e Jeroboão II (ao norte de Israel). Sua obra foi marcada por uma
profunda crítica social e religiosa. Ele denunciou a desigualdade social de seu
tempo, bem como o uso idólatra da religião, transformada em mero instrumento
que serve à alienação e usada como fachada para a iniquidade.
O Profeta Amós é um
revolucionário, um socialista de seu tempo que não se deixou levar pelas aparências
de uma época marcada, sobretudo, pela prosperidade material. Contudo, mesmo com
abundância, o povo de Israel passou por uma profunda inversão de valores,
deixando-se levar pela soberba, ganância, luxúria e todo tipo de perdições.
Dessa forma, a obra de
Amós é caracterizada pela crítica ao enriquecimento da sociedade à custa dos
pobres; ao suborno e corrupção de juízes nos tribunais; à opressão, violência e
à escravidão dos pobres; ao comportamento das mulheres ricas, que para viverem
no luxo, estimulavam seus maridos a oprimirem os fracos etc. (1)
No que toca à
religião, Amós denuncia seu caráter meramente ritualístico e vazio. Assim ele
diz em seu livro: “Eu odeio, eu desprezo as vossas festas e não gosto de vossas
reuniões. Porque, se me ofereceis holocaustos...,não me agradam as vossas
oferendas e não olho para o sacrifico de vossos animais cevados. Afasta de mim
o ruído de teus cantos, eu não posso ouvir o som de tuas harpas! Que o direito
corra como a água e a justiça como um rio caudaloso”. (Am 5: 21-24)
E dentro desse
contexto de críticas, Amós, na terceira parte de seu livro, relata cinco
visões, sendo que a terceira delas interessa de forma particular à maçonaria.
Trata-se da visão do fio de prumo.
No capítulo 7,
versículos de 7 a 8, Amós assim relata: “Assim me fez ver: Eis que o Senhor
estava de pé sobre um muro e tinha sobre a sua mão um fio de prumo. E Iahweh me
disse: Que vês, Amós? Eu disse: Um fio de prumo. O senhor disse: Eis que vou
pôr um fio de prumo no meio do meu povo, Israel, não tornarei a perdoá-lo. (Am
7: 7-8 – tradução da Bíblia de Jerusalém).
Ora, é o Senhor mesmo
Quem estava sobre o muro na visão de Amós. E o prumo que segurava em Suas mãos
é altamente revelador. Ele revela nossa intrínseca tortuosidade, nosso desalinhamento
e desequilíbrio moral.
Da mesma forma como o
pedreiro se utiliza do prumo para procurar falhas na obra em que se debruça
assim se dá quando Deus coloca seu prumo em nossas vidas, fazendo aparecerem
todas as falhas, todas as misérias escondidas em nossos olhares dissimulados,
em nossas palavras vazias e em nossas ações e omissões egoístas.
Mas o que é este prumo
de Deus em nossas vidas? Será a Bíblia (ou qualquer outro livro sagrado a que
seguimos)? Será nosso caminho pessoal? Os padrões sociais e políticos de nosso
tempo? Nossa consciência?
A Ordem maçônica tenta
nos mostrar qual será esse prumo na vida particular de cada maçom, transmitindo
por meio de alegorias e símbolos antigos mistérios que podem ser traduzidos em
retidão moral e bons costumes para aquele que de fato os persegue em seu íntimo
construtor.
Mas há um fato curioso
nesta passagem. Nem mesmo Deus julgou aleatoriamente o seu povo. Antes disso,
Ele passou sobre nós o seu prumo sagrado, para que toda falha fosse posta às
claras. Assim, não cabe ao Homem passar seu prumo particular na parede alheia,
achando-se ridiculamente capaz de medir os erros de seu irmão com medida
própria.
Não cabe em nós tamanho amor para realizar essa tarefa de sublime
construção da alma do nosso próximo. Isso é assunto entre o Pai e seu filho,
porque no prumo do homem há juízos e preconceitos, medidas diferentes
alicerçadas na miséria de nossa alma. Mas o prumo de Deus contém a dádiva do
arrependimento e a certeza da retidão no amor maior de Sua caridade. (2)
O prumo de Deus revela
nossos pecados à luz do dia, não deixando nada a coberto.
E ao lançá-los à luz,
Ele espera de nós tão somente humildade e trabalho para quebrarmos nossos
tijolos mal assentados e recomeçar nossa obra fundada na promessa de que seguindo-O,
encontraremos pela frente apenas consequências do amor.
Ir.’.Rafael Guerreiro
ARLS Três Colinas n.
69 – Franca (São Paulo, Brasil)
NOTAS:
1. Extraído de:
http://judaismohumanista.ning.com/m/discussion?id=3531236%3ATopic%3A77;
2. Extraído de: http://www.lojamontemoria.com.br/artigo.asp?cod=262;