Nascido em tempos remotos, a
figura do Mestre de Cerimônias se confunde com a história do cerimonial.
Rituais, cerimônias faziam parte
da rotina do homem primitivo. Temor ao desconhecido, necessidade de
acreditar em algo, solidão, disputa pelo poder, tudo se transformava em
cerimônias de adoração, de oferta. Nobres à frente, súditos atrás, assessores
ao lado, o anunciador dessas solenidades estava sempre em destaque.
Era o início da figura do Mestre
de Cerimônias. Encontramos sua presença entre os gregos, três mil anos a.C.,
anunciando as fases das reuniões que aconteciam nos anfiteatros.
Mil anos a.C., a China e o Japão
utilizavam o Mestre de Cerimônias, para a narração dos torneios de arco e
flecha. Já nessa época, ele utilizava a força e ritmo da voz para destacar as
equipes mais importantes, calcado num conceito de poder e nobreza.
Na Roma antiga, ele surge na
figura do chefe dos trombeteiros que, sobre seu cavalo, após o toque das
trombetas, anunciava a passagem do Imperador ou as medidas reais como aumento
de taxas, maior submissão, proibições e sanções.
Em nossa era, ele aparece na
figura do arauto, vestido de acordo com os costumes da época, anunciava a
entrada dos convidados em festas da nobreza batendo três vezes um bastão sobre
um batente, produzindo um som alto e seco.
Assim, foi se firmando a figura
do Mestre de Cerimônias. Sempre em posição de destaque, iniciando e conduzindo as
fases de uma solenidade, hoje diríamos que é uma das pessoas mais importantes
para a implantação de um evento, pois a partir de sua presença "as coisas
começam a acontecer".
Em hipótese nenhuma estamos
desprezando os outros integrantes da organização de um evento - o coordenador
do cerimonial, as recepcionistas, os operadores de equipamentos
específicos, tradutores, manobristas, pessoal de serviços gerais. Cada um tem
sua função específica na organização do evento.
Por isso, o Mestre de Cerimônias não deve ser
confundido com o Chefe do Cerimonial.
E isso é o que vemos sempre, resultando num
acúmulo de funções para esse último e comprometendo o sucesso do
empreendimento.
O Chefe do Cerimonial ou
Coordenador de Eventos é responsável pelo planejamento, coordenação e
organização do evento, em todas as suas fases, além do protocolo de implantação
com as precedências e tratamentos de acordo com a legislação específica,
planejando o roteiro da solenidade.
Neste momento, entra o Mestre de
Cerimônias que, a partir desse roteiro, produzirá o script final, anunciando as
fases do evento.
É impossível para o Chefe de
o Cerimonial ser o Mestre de Cerimônias, pois o primeiro tem tantos detalhes
para verificar que necessitaria, volta e meia, sair da tribuna para resolver os
percalços que acontecem durante um evento. Esse corre-corre resultaria em
uma ansiedade natural, comprometendo a fase mais bela do evento: a sua
implantação.
Quem deve ser o Mestre de Cerimônias?
Quais características precisa
ter?
Ele precisa de conhecimento,
treinamento e aperfeiçoamento de sua função; necessita saber o que faz e como
sair de imprevistos, como se dirigir e conquistar a platéia, sem aparecer. Sim,
sem aparecer, porque mesmo conduzindo o acontecimento, existem os anfitriões,
os convidados especiais, os conferencistas e a platéia. São esses os donos do
evento.
Vaidade, prepotência e arrogância não fazem parte
da função do Mestre de Cerimônias. Também humildade excessiva, timidez, medo
do público e pânico não combinam com ele.
Diz o estudo da oratória que
para o bom orador "não adianta apenas falar com elegância, é preciso
persuadir e convencer".
E conta ainda que, "a diferença
entre os dois maiores oradores que o mundo conheceu, Demóstenes e Cícero (Roma,
ano 106 a.C.); quando Cícero discursava o povo exclamava: 'Que maravilha', e
quando Demóstenes falava, o povo seguia em marcha.
É isso que o bom Mestre de
Cerimônias precisa ter: determinação e entusiasmo, que convençam a platéia que está
apresentando aquilo que corresponde às suas expectativas, complementado por
clareza e objetividade, utilizando acima de tudo, aquilo que temos de mais
forte: o dom da palavra.
Publicado no Jornal
Do Aprendiz, edição de novembro / 2014