A Ordem Maçônica
sempre cultivou a aproximação com grandes vultos das artes e da literatura
universal, pois os mesmos sempre habitaram nossos templos; recebemos luzes e damos
como reciprocidade, sinceridade e fraternidade. Fazemos intercâmbios!
A Ordem, como entidade
separada da grande sociedade, sempre teve influência na vida dos grandes
pensadores da humanidade. Não vou cair no lugar comum de nominar essas figuras;
o grande público poderá reconhecê-los, baseado na repercussão das suas vidas.
Apenas como curiosidade
histórica, permita-me citar o genial Wolfgang Amadeus Mozart, iniciado na
maçonaria em uma época de grande dificuldade de relacionamento entre nossa
instituição e os Estados monárquicos.
Mozart foi
influenciado pelos influxos do iluminismo da nossa Ordem, não como artista,
pois o gênio já nasce gênio, mas sim na sua vida privada, em relação à grande
sociedade.
A maçonaria deu-lhe
guarida em momentos de dificuldade existencial, facilitando, de alguma maneira,
a realização da sua magistral obra. Sabemos que o que se cria em sociedade tem
mais vida do que aquilo que se cria na solidão.
Tenho arquivado nos
meus guardados, cópia de um bilhete que Mozart enviou a um irmão da Ordem, na
semana que estreava a ópera de sua autoria Cosi Fan Tutte:
Salzburg, 20 de
janeiro de 1790
Querido irmão
Puchberg,
Se você puder,
empreste-me outros 100 florins.
Sinceramente, seu
irmão
W.A. Mozart
Provavelmente, muitos
leitores podem estar se perguntando: que entidade é esta que se propõe como
está dizendo o articulista, influenciar os homens. Sabemos que a maçonaria
continua sendo um mistério para boa parte da população; para muitos porque
estes não se interessam em buscar respostas para suas dúvidas; para uns poucos,
por juízo preconceituoso e apressado.
Para tentar esclarecer
estes e aqueles, gostaria de definir a maçonaria, copiando o que nos diz o
historiador José Castellani: "É uma instituição iniciática, filosófica,
filantrópica e evolucionista. Proclama a prevalência do espírito sobre a
matéria, pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade,
por meio do cumprimento inflexível do dever. Suas finalidades são: liberdade,
igualdade e fraternidade".
Podemos, também, ouvir
o maçom Fichte, famoso filósofo alemão do século 18, amigo de Emanuel Kant: "É uma instituição destinada a cancelar a unilateralidade da cultura
recebida pelo homem na grande sociedade e elevar esta cultura, constituída pela
metade, à cultura universal e puramente humana".
Se a definição de Fichte é
mais sintética, também nos obriga a tentar explicar para os leitores, o que
imaginamos que a nossa Ordem possa dar para a cultura universal.
Cultura para a
religião: Como cidadão do mundo espiritual, devemos impedir que a religião fosse
unilateralmente concebida, interferindo em nossas ações e dirigindo nosso
intelecto.
Cultura para o Estado:
É o estabelecimento da íntima ligação entre o sentimento do direito e a
consciência do cidadão. Em outras palavras, observar, como maçom, com a mais
escrupulosa exatidão, as leis do seu país. Estas, por mais deficientes que
sejam, são sempre melhores do que nada.
No entanto, a
imposição das autoridades não pode levá-lo a raciocinar como se existisse
apenas o seu país, porque fazemos parte da humanidade inteira.
Se as leis editadas
por estas mesmas autoridades são consensualmente contrárias à justiça, o maçom
não se propõe a cumpri-las. Não faz isto simplesmente por ser maçom, mas sim
como homem de caráter integro.
Cultura para a
Educação: É o despertar para nossa capacidade, como racionais, de dominar e
proteger a natureza. É o uso de instrumentos da razão para transformar o homem,
com reentrâncias do caráter semelhantes a uma pedra bruta, ainda não polida
pelo cinzel do pedreiro, em um indivíduo justo e de atitudes perfeitas.
Quais são os meios de
que a Ordem maçônica dispõe para cumprir este desiderato?
O ensinamento e o
exemplo, respondem em uníssono, a voz dos obreiros da Arte Real, acumuladas
através dos séculos; o ensinamento propicia o saber, porém, não pressupõe
condições para agir.
A decisão, a ser
emanada do seu foro íntimo, poderá levá-lo a concretizar esta etapa com
sabedoria. Se, ao lado desta disposição, comparando nossa vontade e o desejo de
executar a ação, com atitudes positivas que assimilamos de quem acreditamos,
leva-nos a pensar que estamos trilhando o caminho da razão.
Muitos leitores, por
não pertencerem à nossa Ordem, indicariam uma terceira via a via da emoção, ou
seja, a tentativa de atingir o alvo sensível do interlocutor, o seu coração,
como fazem muitos oradores públicos.
Comovendo o indivíduo,
fazendo-o verter lágrimas emocionadas podemos, de fato, conduzi-lo a uma
efêmera boa ação; após enxugar os olhos, com o desaparecimento do embasamento
momentâneo da visão, passado a êxtase do espírito, ele é o mesmo homem de
antes.
Mesmo que o leitor
jamais entre em uma loja maçônica, espero que possa acolher em seu coração o
sentimento maçônico, segundo o qual tudo o que diz respeito à humanidade e à
sua evolução desperta nossa atenção e interesse.
Não afirmo que os
maçons são necessariamente melhores do que os outros homens, e, tampouco, que
não se consiga alcançar a mesma perfeição fora da Ordem. O que afirmo,
respaldado em séculos de imutável ritualística, é que o maçom tem obrigação de,
pelo menos, se equiparar aos melhores homens e mulheres da grande sociedade.
Por Ir.'. Hélio
Moreira