Vez ou outra,
estudiosos da Maçonaria perguntam-se do por que da baixa frequência nas Lojas
e, embasados nos parcos registros da história, inferem-nos a ideia de que
sempre foi assim.
A diferença
sensível encontrada nos registros das Lojas e da Ordem é a alegação de que
existe, hoje em dia, uma menor quantidade de membros, dentro de uma maior
quantidade de Lojas, presumindo-se que, antigamente, em um Oriente indefinido,
a mesma quantidade de obreiros pertenceria a um menor número de Lojas, o que
aparentemente daria uma frequência maior.
Entretanto, em uma
pesquisa imparcial sobre a frequência dos IIr.·. das antigas Lojas, nos áureos
tempos do início do século XX, encontraríamos, com certeza, os percentuais de
comparecimentos que não difeririam, nem para mais nem para menos, dos
percentuais de hoje.
Aliás, quanto maior
fosse o número de obreiros pertencentes a uma Loja, há tempos atrás, menor
seria a porcentagem de frequência. – Exemplificando: uma Loja de 300 IIr.·.
apresenta, hoje, a frequência aproximada de 60 a 70 membros, em média 20% mais
ou menos.
Outra com 30 ou 50
membros registra a presença de 20 a 30 OObr.·., média de 60 a 70%. A assertiva
baseia-se no fato de o autor da presente haver frequentado uma das maiores
Lojas do Brasil onde, normalmente, a presença de IIr.·., em cada sessão, não
passava de 10 a 20%, ou seja, de 30 a 60 comparecimentos para um total de 300
OObr.·., que era o Quadro daquela Loja.
Anotamos
informações da Maçonaria da U.·.S.·.A.·., onde algumas Lojas cadastram até 900
membros ou mais, e cuja média, via de regra, é de 100 a 300 OObr.·..
Entretanto, lá, as sessões de Cp. ou M.·. M.·.., somente são realizadas para as
CCerim.·. Magnas de Elevação (dita Passagem) ou de Exaltações (dita Elevação).
Nos U.·.S.·.A.·.predomina o Rito de York (Rito Emulação).
Pelo número de
OObr.·.imaginem a dimensão do Templo dessas Lojas, se todos comparecessem às
sessões das mesmas e, a impressão de vazio que daria a reunião, quando
comparecessem apenas 10% dos IIr.·.e o que seria mais provável acontecer, se as
suas reuniões fossem semanais como aqui.
A sensação de vazio
acentua-se ainda mais quando, oportunamente, presenciei “in vivo” uma palestra
a cargo de um renomado autor, em um Templo de uma grande cidade do Estado de S.
Paulo e, para que os IIr.·. tenham noção da capacidade do Templo e da realidade
do comparecimento, a dita palestra foi realizada no Oriente onde, tranquilamente,
sentaram-se 25 ou 30 pessoas e ainda sobraram cadeiras.
As colunas do Ocidente
ficaram completamente vazias. O prédio, enorme, tem quase 100 anos de
existência e a Loja mais de 110 anos de fundação.
Entende-se que a
sua construção foi uma obra para outra realidade que não a da presente, essa
Loja vive de glorias passadas e, atualmente, nada lembra o antigo brilho que
construiu os alicerces de uma Loja que luta para sobreviver e cumprir com os
altos desígnios que lhe foram entregues pelo G.·.A.·.D.·.U.·..
Este sentimento de
vazio fica somente na impressão, mesmo porque na nossa humilde visão, a Ordem
Maçônica está mais viva do que nunca. Um fator importante que precisa ser
levado em consideração é o fato de que nos primórdios da Arte Real no Brasil,
recebemos fortíssima influência da Maçonaria Francesa, eminentemente política,
que adotava uma filosofia racionalista embasada nos princípios do Positivismo
de Auguste Comte, muito em voga na época, daí um assédio maior por parte
daqueles que ambicionavam o poder governamental.
A sua ingerência
nos sistemas de governo, cuja atuação extrapolava o silêncio dos Templos, fazia
com que a militância ganhasse um espaço maior na imprensa, provocando
acalorados debates públicos e a exacerbação política da intelectualidade da
época.
Comparativamente, à
luz da história, a sensação da presença mais efetiva e a existência mais
marcante dos IIr.·., é devida à ocupação de um enorme espaço político e, consequentemente,
uma maior divulgação nesse sentido. Assim torna-se mais fácil aceitar como
coisa natural a participação maciça dos obreiros daquela época.
Sendo político o
motivo dessa maior presença, a atuação da Loja, comparada aos modelos de hoje
com referência à História, à Linguagem Simbólica, à Filantropia e ao
Esoterismo, dentro desses campos seria muitíssimo menor.
Com o quase total
desaparecimento do colonialismo, o absolutismo governamental desmoronou, deixou
de existir o terreno propício para a atuação política da Maçonaria. – Além
disso, com a ocorrência no Brasil de uma maior influência da vertente maçônica
inglesa, cujo trabalho sempre foi e é discretamente realizado no interior dos
Templos, fez-se com que não mais se receba como ato maçônico o “oba oba” das
ruas, acontecimento de influência francesa, e daí também, a impressão de um
maior vazio, hoje, dentro da Ordem. – Ainda pela ação da Maçonaria Inglesa,
existe na atualidade, outra visão da realidade sobre a nossa Ordem, onde muitos
são candidatos e poucos realmente os escolhidos.
Todos deverão
passar pela cerimônia da Iniciação, que é uma triagem ritualística “EXOTÉRICA”,
da qual resulta uma sobra minoritária daqueles que, efetivamente, serão
esotericamente “Iniciados”.
A nossa incerteza
ante o desconhecido quer pela vivência na Terra como Ser material, ou após a
morte, como provável Ser espiritual, provocará, dentro e fora do Templo, uma
ação dos maçons que se dedicarão à procura da solução do mistério.
Não encontrando a
resposta das suas dúvidas dentro do Templo, (não vamos entrar no mérito dos
motivos) haverá como resultado uma maior rotatividade no “entra e sai”, da
Ordem. A pequena Iniciação é por todos vista e sentida.
A grande Iniciação,
porém, não é a imagem do Filho da Luz recém-admitido, que se dá conta da
metamorfose sofrida, mas a experiente visão dos seus irmãos que vislumbraram
nele um possível grande iniciado, era um reduzido, porém, muito eficiente e
seleto grupo que constitui a grande força da Arte Real.
O que resulta para
olhos que só enxergam exotericamente, é uma sensação de vazio, que pode e deve
ser compreendida apenas na sua aparência. Na realidade, aquilo que uns poucos
esotericamente produzem, apesar de ínfima minoria, é incomparável e somente
podem ser aquilatados, vistos e compreendidos por outros olhos também
esotéricos.
Para esse
vislumbre, seria bom não esquecermos uma das primeiras colocações do proceder maçônico:
- “O que se faz com a mão direita a esquerda não deve saber”. A grandeza da
Ordem e da Arte devem permanecer ocultas às vistas profanas.
Assim, as obras
maçônicas não são elaboradas para que o mundo fora delas tomem conhecimento,
porém, para que sintam os seus efeitos e as oportunidades benéficas geradas.
Como outra das possíveis causas da má interpretação dos reais fundamentos da
nossa Maçonaria, o estudioso e leitor da Arte Real, examinando a sua
biblioteca, vai verificar entristecido que somente 30% daqueles livros são
realmente aproveitáveis e os outros 70% dos escritores revelam-se maus
copiadores de Rituais e descarados mercenários dos simbolismos maçônicos,
projetando e divulgando conexões e relações entre as funções ritualísticas e os
órgãos do corpo humano.
E o que é pior de
tudo isso é o fato de seus autores saírem do particular para o geral como donos
da verdade, com erros de interpretação sobre qual seja a essência da nossa
Ordem e, inclusive com ideias de quantidade e não qualidade que deveriam ficar
restritas no próprio particular. Isso é uma lastima porque nos induzem a falsas
concepções do que seja a Maçonaria em seus maiores fundamentos, erros esses que
tomados como acertos, plasmam modificações indevidas, que passam a integrar os
nossos rituais, e as nossas verdades, contribuindo para o desaparecimento dos
valores tradicionais ocultos nas alegorias e nos símbolos da ritualística e
trazendo como resultado uma quase total ignorância de conhecimentos maçônicos
da maioria dos MM.. MM, que não sabem como manterem vivos os ensinamentos e a
tradição da nossa Sublime Ordem e transmiti-los aos nossos consequentemente.
Forçar,
aleatoriamente, o aumento do número de obreiros é forçar também o aumento da
rotatividade. – Esse negativo “entra e sai” da Ordem produzirá a ampliação
burocrática que, fatalmente, irá ocupará o pouco e precioso tempo destinado
para proveitosas instruções do “saber oculto”.
A reunião
tornar-se-á enfadonha e cansativa contribuindo, deste modo, para o esvaziamento
das Lojas. O enfeitamento do pavão para o candidato visando o seu recrutamento
é uma atuação de lesa-maçonaria.
Além de não levar
ninguém a lugar nenhum, ajuda a provocar espaços vazios contribuindo para o
entra e sai, mesmo porque, uma vez iniciado, o neófito, em vez de lá encontrar
somente deuses como lhe foi acenado, encontra também diabos, às vezes, piores
que os do inferno, e que o motivará, face ao seu despreparo, para uma
estratégica e lógica retirada.
A liderança do
Ven.·. Mestre deve ser uma condição “sine qua non” e inquestionável no comando
de uma Loja, A eleição de um Ven.·.M.·. mediante um rodízio adrede preparado e
aceito pelos demais, não é aconselhável nem indicado para uma sociedade
culturalmente elitista como soe acontecer em nossa Ordem. O Ven.·.M.·. da Loja
deverá preencher uma série de requisitos que o capacitarão frente aos seus
comandados, afim de que a sua autoridade jamais seja contestada ou colocada em
dúvida.
A sua autoridade
impõe respeito e sincera aceitação e transmitirá aos demais obreiros, segurança,
harmonia e tranquilidade. A Lenda de Hiram mostra-nos a necessidade de uma
Hierarquia, onde uns comandam e outros obedecem. É inconcebível a inversão
desses valores. O Ven.·.M.·. dirige a sua Loja como um maestro dirige a
orquestra, com a batuta na mão, para manter o balanço rítmico. Ainda que esta
caia, (a batuta) seus braços não podem perder os movimentos síncronos, que
garante a execução da melodia, harmonia e ritmo.
Conclusão: Através
do tempo e mundo afora, as realizações maçônicas não foram e nem serão medidas
pelo número dos seus membros, mas pela sua capacidade de dominar as forças
fenomênicas. Se uma escada fosse construída com as três formas do Conhecimento
Humano, os degraus de cima seriam os da Filosofia; os do meio, os da Ciência e
os primeiros, os da Tradição.
A Maçonaria,
independente do número de obreiros, evoluiria por essa escada e se perpetuaria,
como tem evoluído e se perpetuado no tempo, exatamente, porque exaltando a
Tradição como a sua força propulsora, ganhou maiores conhecimentos e, também,
maior domínio das demais forças da Mãe Natureza, propiciadas que foram pelo
Saber em todas as suas formas de Conhecimento. – A Tradição é o primeiro degrau
a ser escalado.
Foi assim no começo
com uns poucos e, também, poderá e deverá sê-lo por todo o sempre, com qualquer
número, portanto nada há a temer em razão de vazios, desde que os antigos
costumes sejam respeitados e preservados.
Osvaldo Ortega
Loja Delta do Limão
445 S. Paulo-Glesp