Não posso negar que a
religiosidade teve e ainda tem um papel social importante. As religiões
estabeleceram padrões éticos necessários à humanidade, criaram orientações para
os relacionamentos interpessoais bem sucedidos, e com o desenvolvimento da
consciência da dimensão espiritual da humanidade, deu origem a sentimentos de
conexão e de admiração pelas maravilhas da criação, deu até um sentido de
propósito a existência e uma consciência da unidade do Ser material e espiritual.
A religião é manancial da esperança e da confiança no futuro, e pode evitar ou
suavizar o comportamento desesperado.
No entanto, não podemos
negar que a religião também deu origem a um sentimento de superioridade e
autojustiça, a crença de que um povo, um grupo, um segmento da humanidade tem
uma ligação mais estreita com a Divindade do que outros, a convicção de que
alguns sabem precisamente a vontade do Criador, que são os únicos que conhecem
a verdade - em suma, ao extremismo, ao preconceito, ao ódio e à justificação da
opressão e da violência em nome do próprio Criador.
Nenhuma religião está
isenta de tais excessos. É só estudar a história da humanidade, que vamos
encontrar a morte, a tortura, a escravidão, etc., exercida por diversos povos,
em diferentes momentos dessa história, em nome de um Deus Violento, Vingativo,
Irado, Etnocentrista, que determina que o “Seu Povo”, destrua, destroce,
aniquile... outro povo.
Se esse é o deus das
religiões... Então, eu quero renunciar à religião.
Se 'religião' significa
certeza absoluta de que uma pessoa sabe o que Deus pretende, o que Deus quer da
humanidade, em vez da humildade de que não podemos compreender plenamente a
vontade divina, então eu não quero a religião.
Sempre entendi a
religião como a tentativa humana de alcançar a Divindade – mas, sem olvidar
nossa incapacidade de alcançar os desígnios Divinos, da nossa insignificância e
temporalidade do Ser, para ‘o que está além do tempo e do espaço’, variáveis
incognoscíveis para o Homem. Temos que distinguir entre o Criador e o criado, o
primeiro conhece e compreende a mente humana, já os seres humanos são incapazes
de conhecer e compreender plenamente a vontade Divina.
Nós, seres humanos, só
podemos fazer o nosso melhor. Existe uma Lei Natural de distingue o ‘Bem’ do
‘Mal’, não é necessário nenhuma religião para mostrar ao Ser Esclarecido essa
diferença. Uma religião que faz a afirmação de que decifrou totalmente a
vontade divina não pode, a meu ver, mais servir a sua função primária de
infundir na humanidade a humildade e nos ajudar a admirar a grandeza e a
generosidade de Deus em criar o universo e o homem.
Se 'religião' significa
orgulho em si mesmo e de seu povo, em oposição ao orgulho de ser uma boa
pessoa, então eu não quero a religião. Não há nada de errado em enaltecer o
próprio povo, mas há algo completamente falho em não aceitar que todos os seres
humanos são criados na mesma origem Divina.
Quando nos dizem para
'amar o próximo', isso implica que devemos odiar alguém que não é nosso
próximo? Quando nos dizem para 'proteger o estranho', nossa proteção se estende
somente aos estranhos que se conformam com nossos caminhos? Rejeito
inteiramente qualquer ideia de que Deus criou algumas pessoas mais dignas de
amor e arrimo do que outras.
Eu rejeito qualquer religião
que diga possuir um vínculo especial, uma aliança, que a sua ligação com Deus é
a única aliança verdadeira. Isso sugere que os sentimentos de Deus são
limitados, que ele só pode ter uma relação afetiva, que ele só pode amar um
povo, um grupo, os membros de uma religião, o que é totalmente incompatível com
a minha concepção de Deus.
Se 'religião' significa
amor etnocêntrico pela própria nação, povo, grupo ou terra, em oposição ao amor
por Deus e toda a sua criação, então eu não quero a religião. Um discípulo
perguntou ao mestre porque o deus criou somente um humano, Adão, em vez de
povoar a terra com muitos seres humanos. O mestre pensou um pouco e respondeu:
“- se alguém, algum dia lhe disser – ‘meus antepassados são maiores que os
seus’, você poderá responder – ‘todos temos o mesmo ancestral’. Todos os seres
humanos descendem de Adão, que foi criado pelo próprio Deus”.
Se "religião"
significa que há espaço para o ódio, antes que haja espaço para a compaixão,
então eu não quero a religião. A religião pode legislar sobre o comportamento
correto para seus seguidores, pode impor aos seus fiéis os seus dogmas, mas não
pode querer impor seus dogmas e exigir daqueles que não professam sua fé, os
comportamentos de seus membros.
Sempre esperei que as
religiões que pregam compaixão, perdão e amor, exercessem essas virtudes.
Certamente essas virtudes não se destinam apenas para aqueles que fazem parte
dessa religião. Porque então, não deveríamos destiná-las a alguém que não faz
parte dessa religião. Não posso aceitar que em nome de Deus alguém queira impor
pela força ou violência sua crença. Imitar Deus significa amar e resguardar
toda a criação.
Mas o que devo fazer? Eu
não pertenço a nenhuma religião. Mas, eu acredito em Deus e o aceito como
Criador e Mantenedor do Universo! Então, posso renunciar à religião? Eu não
quero uma religião que contraponha minhas crenças contra as dos outros e
reivindique a posse única da Verdade. Então, para mim, não seria possível
definir nenhuma das que conheço como minha "religião".
Procuro seguir as leis
legais e morais, os rituais e as tradições da minha sociedade e as tradições
culturais que meus antepassados me ensinaram, porque acredito que me ajudam a
desenvolver meus padrões éticos, minha concepção do que é importante em minha vida,
para o desenvolvimento do meu ‘self’ e de uma relação com o Transcendente.
Eu não faço as coisas
porque são definidas pela ‘minha religião’. Minhas decisões não estão separadas
da minha humanidade e da minha personalidade, e não tenho uma religião para ser
minha desculpa para os meus erros ou acertos. Eu sou responsável por minhas
escolhas. Quando, na condição de Ser Humano, fui agraciado com o ‘livre
arbítrio’, foi para que pudesse racionalmente, de acordo com minha consciência,
tomar minhas decisões e deliberar minha vida.
Finalizando, o Criador é
‘Inefável’, você pode senti-lo, mas, é incapaz de descrevê-lo... Somos
limitados, pois somos humanos, somos limitados pelo tempo e pelo espaço, como
podemos compreender Deus Eterno e Infinito? Confundimos valores materiais com
valores espirituais. A religião, na tentativa de conformar o comportamento
humano a valores socialmente aceitáveis, criou o ‘Pecado’, e colocou como
vontade do Criador, o controle de
comportamentos puramente materiais.
Comportamentos sociais como sexo, relações
de casais, etc., foram determinados pela religião, e para terem força sobre os
indivíduos foram apresentados como vontade divina! Só que Deus não se envolve
nessas coisas.
Mas, para aqueles que
acreditam que para se salvar precisam de uma "religião", não percam
de vista o que é fé e que a esperança é tudo. Não se deixem levar pela
estrutura de poder, onde os que estão no topo reivindicam o acesso único à
Verdade e a capacidade de absolver seus seguidores da responsabilidade de seus
erros, se obedecerem a eles cegamente.
Deus está em tudo e em
todos, para você conhecer Deus não precisa de intermediários ou interlocutores,
é só você senti-lo, olhe a sua volta... Tudo que você vê e sente foi criado por
Deus... Até ‘você’! Porque então, ao invés de melhorar o significado de ser um
‘Ser Criado Humano’, deixar que sua relação com o Criador seja gerida por um
indivíduo e não por você mesmo? As versões de religião que abundam por ai, para
mim falharam e para muitos outros como eu.
Seja Você... Tome suas
decisões, de acordo com sua Consciência... Não deixe ninguém dizer como você
tem que viver... Viva como você decidir... Faça o que é Legal Socialmente
aceito e você achar Certo... E SEJA FELIZ!
Eduardo G. Souza.
Ex-Grão Mestre do
GOB-RJ, atual Secretário de Orientação Ritualística do GOB