SIMBOLATRIA – VENERAÇÃO EXCESSIVA POR SÍMBOLOS


Há muitos anos, grande parte de escritores maçônicos, afirmam que o simbolismo maçônico constitui um meio privilegiado para alcançar as “mais altas verdades da ordem”. Esta crença leva alguns Irmãos a buscarem significados mais profundos para os nossos símbolos, em áreas frequentemente não relacionadas à Maçonaria. E isso se torna o principal assunto nos trabalhos apresentados em loja.

O resultado disso é o desenvolvimento de um simbolismo tal que os símbolos são reverenciados por si só, o que parece estabelecer um novo culto, a “simbolatria” ou veneração excessiva aos símbolos maçônicos.

A ideia de um “conhecimento de ordem maior” inacessível pelos meios habituais disponíveis para o homem, mas que pode ser alcançado através do uso de símbolos, estava em voga desde a origem da Maçonaria, sendo uma das principais preocupações dos primeiros maçons. Este conceito foi potencializado por alguns autores, como Oswald Wirth, Jules Boucher, René Guénon, Jean-Pierre Bayard, entre outros…

Boucher, por exemplo, escreveu: “A Maçonaria abre o caminho para a iniciação, ou seja, o conhecimento, e seus símbolos permitem o acesso a isto”.

Esta declaração nos informa que os símbolos maçônicos são o meio de ascender a certo conhecimento. Na verdade, a simbolatría é um desvio desta declaração, um exagero dessa teoria, que tem pelo menos quatro características: Ausência de método, exacerbação interpretativa, a teoria da livre interpretação de símbolos e a perda do senso comum mais básico.

Descrevendo estas características:
1 – Ausência de método ou afirmações sem provas.
Guénon escreve, por exemplo: “o simbolismo é o melhor meio para ensinar as verdades de ordem superior” (Símbolos da Ciência Sagrada).

Bayard continua: “Essa linguagem silenciosa (símbolo), refletindo a tradição e a ordem cósmica, pode desvendar a essência das coisas” e também “o simbolismo é um pouco de todas as ciências e sua síntese” (Periódico Francês, Chaîne d’união, 1948-1949).

Bem, esses textos nunca são acompanhados por instruções que permitiriam um Símbolo, de passar conhecimento. Não há exposição sistemática de alguma forma de acesso ao conhecimento através de símbolos maçônicos. Para a falta de método, como olhar para uma coisa e encontrar outra, catalogar símbolos maçônicos serve como uma solução alternativa para a pesquisa científica, que desprende tempo, dinheiro e muitas horas de reflexão para um entendimento plausível.

2 – A exacerbação interpretativa
A interpretação moral dos símbolos é geralmente considerada trivial, inadequada e indigna da “verdadeira” Maçonaria, e, portanto, é quase que rejeitada.

Boucher escreve: “Quando se fala de símbolos somente como dissertações morais, pode-se ter certeza de que este nem sequer recebeu a inteligência básica dos símbolos”.

Graças aos nossos antepassados, “nossos antigos Mestres”, a inserção da maioria dos nossos símbolos na maçonaria, foi justamente pelo ensinamento moral contido neles, ou nas suas interpretações. Mas alguns autores preferem aulas de explicações sobre ciências ocultas, numerologia, astrologia, cartas de tarô, magia, alquimia ou cabala e assim constituem as suas fontes interpretativas.

Boucher, que era um adepto da magia, escreve, por exemplo, sobre o irmão “guarda do templo”: “a ele é fornecido com uma espada mágica destinada a dissolver os conglomerados fluídicos. O guarda do templo requer uma qualificação mágica.”

Wirth gosta de cartas de tarô, outros são dedicados a numerologia, muitos autores são inclinados para a Cabala, sem saber ao menos uma palavra hebraica.

Infelizmente, todos estes simbolistas foram copiando interpretações uns dos outros, e se esforçaram para propor novas interpretações, cada vez mais excessivas, e como às vezes os autores não conhecem o assunto tratado, em vez de ler, passaram a “copiar e colar” obras de segunda ou terceira mão, o que leva a desastres.

3 – A livre interpretação de símbolos
Alguns defendem a ideia de que todos podem interpretar livremente um símbolo, o que dá margem para uma frase como esta: “o símbolo que não significa uma realidade, evoca necessariamente, tudo e o seu contrário, ou vice-versa, é claro”. Este é um claro exemplo de que a livre interpretação sem considerar fatos concretos, dá margem para qualquer tipo de invenção, o que acredito não ser a finalidade do ensino maçônico.

4 – Perda de sentido crítico
Acrescente a característica anterior, a perda de sentido crítico que atinge os maçons quando falam de simbolismo. Não quero aqui, travar o livre pensador que cada um de nós deve desenvolver. Mas, quando se trata de falar de símbolos e simbolismo, eu acho que há uma abolição total desta qualidade, e vemos que alguns sofrem de uma cegueira mental e estão dispostos a engolir todos os erros e absurdos que lhe são apresentados.

Basta participar de qualquer grupo de debates, seja por aplicativos de comunicação, grupos de e-mail ou fóruns, que se observa claramente a disseminação de informações errôneas, sem qualquer investigação prévia, o que acaba incutindo na mente dos participantes, barbaridades no ponto de vista do real pesquisador. Aí está o risco de cairmos na máxima de Joseph Goebbels, propagandista de Adolf Hitler, “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.


Esta preocupação de estarmos especulando demasiadamente sobre a simbologia maçônica, já foi observada por alguns pesquisadores, conforme alguns exemplos de declarações que seguem abaixo:

1.) J.R. Rylands – Quatuor Coronati Lodge.
“A Maçonaria tem pouco risco de sofrer ataques de inimigos de fora das suas fileiras, mas poderia sofrer das atividades dos seus membros entusiasmados e equivocados. É difícil avaliar a extensão dos danos na amizade calorosa a Ordem, e o que pode haver no futuro pela atividade do que poderia ser chamado de escola pseudo-mística […].

No entanto, existe sem dúvida, uma rejeição a qualquer princípio verdadeiro de estudo histórico real e desprezo pelo método científico. Em sua facilidade extravagante para inventar, substituindo a fraternidade pelo individualismo, os esforços desta escola são absolutamente opostos aos objetivos desta loja […].

Como poderia haver um espírito de investigação crítica se você considera a Ordem como uma seita pseudo-mística? […] Reconhecemos que na Maçonaria há espaço para todas as categorias de escolas filosóficas, mas com certos limites […]. Mas eu sugiro que devemos sempre olhar com preocupação o surgimento de um dogmatismo onde prevalece a liberdade de interpretação, como agora […]. E, no entanto, não se pode negar que o dogma tem o seu lugar em diferentes explicações na Maçonaria praticada hoje.

Com muitas partes de cena filosófica que nos diz que a Maçonaria é isto ou aquilo, nós somos convidados a aceitar uma série de significados mais profundos e simbolismo oculto.”

2.) F.R. Worts – Aviso para os estudiosos da maçonaria (1923)
“A Ordem moderna é essencialmente especulativa e cada maçom deve necessariamente ser especulativo, de uma certa maneira, em suas atitudes frente aos seus princípios, mas há uma tendência muito grande em superar os limites da verdadeira pesquisa especulativa e exagerar nos valores simbólicos.

Esta tendência já estava fortemente desenvolvida no final do século XVIII, e nos tempos modernos evoluiu para uma questão perigosa, tanto para a ordem, como para a correta compreensão de suas exigências morais e seus ensinamentos.

Infelizmente este simbolismo extremamente exagerado foi ensinado por maçons famosos e verdadeiros como Oliver, Fort Newton e Wilmshurst, que exerceram uma grande influência em seu tempo. Tais interpretações especulativas extremas são inaceitáveis ​​[…].

 As explicações simbólicas que estão nos rituais modernos, são claras, simples e totalmente satisfatórias. É direito incontestável de cada maçom, investigar as interpretações que ocupam suas aspirações espirituais, mas deve levar em conta as linhas de Tennyson sobre a “falsidade dos extremos” e não se inclinar rapidamente para aceitar as explicações mais comuns até que você possa fazer com plena convicção”.

3.) E. Ward – Conferencias Prestonianas (1970)
“As palavras são símbolos para transmitir idéias para o espírito humano, e se deduz que durante longos períodos mudaram o significado que eles tinham, e sem dúvidas são temas que temos que considerar. Nos primeiros dias da Maçonaria muitas das palavras transmitidas por nossos antecessores tinham um sentido muito diferente do que comumente aceitamos hoje”.

4.) H. Ward em “resumos” da Loja Quatuor Coronati (1969)
“Descobrir sua própria interpretação dos nossos símbolos é o melhor tipo de exercício maçônico; o único perigo é que isso poderia te levar muito longe das explicações simples que são normalmente prestadas. Muitos de nós já vimos exemplos maravilhosos, que não têm nenhuma relação com a Maçonaria e que jamais existiu na mente de quem trouxe as palavras e os procedimentos que usamos hoje. O simbolatría (veneração excessiva de símbolos) volta o simbolismo para o complexo e obscuro.

Gera um desperdício inútil de mero simbolismo adotado para uma melhor compreensão dos conceitos morais. A Maçonaria não define o significado dos símbolos. Ela convida os seus membros a especular sobre o seu significado. Esta liberdade de interpretação é boa, mas quando levada ao extremo pode não dar nenhum benefício, e for perigoso para aqueles que não têm uma cultura maçônica suficiente.

Os símbolos são utilizados para uma melhor compreensão dos conceitos que sustentam. Eles não devem ser venerados com o objetivo de terminar a investigação daqueles que procuram ter uma interpretação que os satisfaça mais emocional do que intelectualmente.”

Conclusão
Como reflexão final sobre o assunto em pauta, entendendo a importância de se investigar, avaliar e pesquisar sobre como e por que a simbologia maçônica foi formada ou formatada pelos nossos antecessores, sendo assim deixo a seguinte expressão, para nossa reflexão: 

“NÃO A SIMBOLATRIA, SIM AO SIMBOLISMO”.

Luciano Rodrigues


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