ORDO AB CHAO (A ORDEM VEM DO CAOS)


 

No começo era o Caos.

Não havia luz e também as trevas não existiam.

Era o Nada, o Vazio total. Nele, o Grande Geômetra!

Um movimento milenar começou a organizar o Caos em ondas de energia.

No Caos, no Nada, o Grande Geômetra manifestou-se. E sentiu o impulso de se projetar pelo espaço infinito, de abrir as Suas asas e limitar nelas o Universo então vazio.

No princípio, criou Deus os céus e a terra. A Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.

Disse Deus: “Faça-se a Luz”! E a “Luz foi feita”. (Gênesis, 1:1-3).

Ele lança a Sua Luz no mundo e começa o Seu trabalho: arquitetar e construir o Templo da Sua Criação.

Organizando o Não Manifesto que é o Caos por essência, Ele cria as primeiras partículas que darão origem a átomos dispersos, desconexos. Átomos que formarão moléculas, substâncias, matéria. Moléculas que formarão células, tecidos, órgãos, organismos. Vontade e verbo, que formarão almas, que encarnarão espíritos nos corpos.

O Grande Criador colocou Ordem a partir do Caos.

A teoria do caos

É uma das Leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo que nos cerca.

A ideia central da teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis – caótico, portanto.

A palavra “Caos” é de origem grega e significa confusão, desordem, perturbação.

Na teologia grega, porém, Caos era tudo o que existia antes do surgir do universo: o Vazio ou o Nada.

Na teologia do Antigo Testamento, “A terra era sem forma e vazia, e as trevas cobriam o abismo”.

É da desordem que nasce a ordem.

Edward Lorenz é considerado o pai da Teoria do Caos, que inspirado na previsão do tempo, feita de maneira pouco precisa pelos meteorologistas, simulou no seu computador, o Royal Mcbee de cerca de 800 quilos, quais seriam as previsões do tempo do Estado onde morava, o Estado de Massachusetts, dadas às condições iniciais previstas pelo seu programa, temperatura, velocidade do vento, umidade e pressão.

Lorenz conseguiu mostrar que com essas variáveis era possível fazer previsões do tempo, e comprovou que pequenas causas podem provocar grandes efeitos, independentes do espaço e do tempo.

A teoria do “efeito borboleta”, e popular análise: o bater de asas de uma borboleta na Amazônia pode produzir um tornado no Texas, foi o exemplo tomado pelo cientista.

Muitos devem lembrar-se do filme Efeito Borboleta (The Butterfly Effect), lançado em 2004, provocou discussões ao nível mundial. Na trama, dirigida por Eric Bress e J. Mackye Gruber, o jovem Evan Treborn (interpretado por Ashton Kutcher) descobre ter o potencial de fazer pequenas modificações em histórias do seu passado com o objetivo de alterar o presente e, consequentemente, promover verdadeiras revoluções no seu futuro.

O Caos é o estabelecer de um padrão organizado para a desordem aparente.

É exatamente isto que estes estudos procuram mostrar: Uma ordem em fenômenos que não possuem ordem nenhuma, que são os desastres. Querem instituir uma regra para um evento totalmente desregrado, imprevisível, que pode arrasar várias vidas sem prévio aviso (estes eventos são considerados como fenômenos caóticos).

A Teoria do Caos pode aplicar-se na vida humana. Um simples evento pode causar a mudança de vários fatores na nossa vida (é a famosa gota d’água).

A Teoria do Caos que na sua concepção analisou condições meteorológicas passou a ser aplicada em vários campos, como o desenvolvimento da bolsa de valores ou análise de apólices de seguros, dentre outros.

No noticiário diário, situações em que um pequeno fator provoca grandes transformações são sempre cogitadas, como o exemplo de um pequeno atraso que alguém teve na hora de sair de casa e que levou a perder o autocarro e chegar atrasado para pegar o avião, e o avião caiu.

Um segundo de atraso foi a diferença entre a vida e a morte. Daí a pergunta que não quer calar: existe destino? Ou ele existe e muda na medida em que fazemos escolhas?

Também nas ciências do comportamento o “efeito borboleta” induz à reflexão sobre a imprevisibilidade da vida, vez que atitudes conscientes e inconscientes podem levar a resultados catastróficos.

Na medida em que os estudos evoluem novas aplicações surgem para esta palpitante teoria.

A evolução da sociedade e o surgimento cada vez maior de novos conhecimentos fazem com que as teorias recebam contribuições das mais diversas áreas do conhecimento não apenas de ciências sociais. Temos que ter a mente aberta para novas observações e descobrir como usar estas informações em nosso benefício.

Devido à grande velocidade com que as transformações têm ocorrido, administrar torna­-se cada vez mais uma tarefa árdua, isto porque os recursos cada vez mais escassos ou racionalizados, competitividade acirrada e as várias realidades, precisam ser vistos de maneira global e interdependente, o que  faz com que a escolha de uma estratégia afete drasticamente o resultado e os envolvidos. É o principio da causa e efeito em ação continua.

Causa e efeito x teoria do caos

A Lei de Causa e Efeito acompanha e regula os seres na sua evolução em experiências vividas nos mundos da forma, desdobrando-se ao longo de milênios, ajustando e reajustando a expansão da consciência humana.

Esquecemos que um hoje bem harmônico e organizado resultará em felicidade amanhã.

O Dalai Lama diz-nos na sua sabedoria, misto de experiência de vida e dádiva divina:

“Só existem dois dias do ano sobre os quais nada pode ser feito. Um deles chama-se ontem e o outro amanhã. Portanto hoje é o dia certo para você amar, sonhar, ousar, produzir e acima de tudo, acreditar… O ontem é irrecuperável, não há o que nele se pensar e o amanhã, nada será sem o dia de hoje. É no aqui e agora que devemos cultivar bons e precisos pensamentos e ações, pois só assim, um amanhã tão esperado poderá vir a existir”.

A Lei de Causa e Efeito, algumas vezes chamada de lei do plantio e da colheita, é conhecida como a lei principal, pois dela emanam todas  as outras.

Todas as leis, como a vida, têm um princípio de causa e efeito. Não há exceções.

Se for agricultor e plantar milho, vai colher milho.

Se plantar tomates, vai colher tomates, e não feijão ou soja.

A causa é o plantio, o efeito é a colheita…

Se semear pensamentos negativos na sua mente, é isso o que vai obter ou colher na vida: resultados negativos.

No entanto se semear pensamentos positivos, colherá resultados positivos.

Por outras palavras, se fizer ou disser alguma coisa, essa é a causa, então deve esperar pelas
consequências, ou o efeito.

A ordem vem do caos (ordo ab chao)

Esta metáfora também encontra paralelo nos modernos conceitos científicos que tratam da formação do universo físico. Se de um lado a relatividade provocada pela velocidade com que as partículas se dispersam no vazio cósmico nos mostra um universo caótico e indiferente, semelhante ao que se dizia existir nos primeiros momentos da sua criação, a gravidade existente nos corpos formados pela condensação da energia luminosa, que se transforma em massa, força essas partículas a se reunirem e se constituírem em sistemas.

A física moderna ensina que o equilíbrio universal é causado pela contraposição da energia positiva que é gasta pelo universo na sua expansão e pela energia negativa gerada pelos campos gravitacionais que mantém os sistemas planetários. Quer dizer, um embate entre a relatividade e a gravidade, na organização dos sistemas essas forças são representadas pela sinergia (que gera e aglutina) e pela entropia (que consome e dispersa).

Este também é o processo que gera o conhecimento. A energia concentra-se em locais específicos do organismo (os neurônios do cérebro) e gera a atividade psíquica.

Através dessa atividade nós vamos conhecendo o mundo em que vivemos.

E desta forma o mundo organiza-se, a lógica nasce e o que era desordem e ignorância passa a ser ciência. Surge a ordem no caos. ORDO AB CHAO.

Portanto, podemos concluir que a Evolução é a Ordem a partir do Caos. Somente assim a Ordem viria através do Caos.

Na topologia do conhecimento humano reconhece-se, enfim, que há uma forma de energia forçando a matéria universal a se dispersar e preencher o vazio cósmico em princípio, e outra que promove a sua organização, por agrupamento.

Analogamente, poderíamos dizer que esse mesmo processo ocorre na formação dos dois substratos que sustentam o fenômeno da vida, ou seja, a mente e o corpo. Enquanto o organismo se forma na dispersão, pelo fenômeno da cissiparidade, que é a multiplicação celular a partir de um zigoto, a mente desenvolve-se pela cefalização, que é o processo que permite a reunião e o processamento das informações vitais em corpos infinitamente pequenos, os neurônios.

Ordo Ab Chao na Maçonaria

Desta teorização vemos a atuação de uma Inteligência Suprema, que se compara à de um arquiteto na elaboração de um grande edifício cósmico. Daí a ideia de um Grande Arquiteto a dirigir a obra de construção do edifício universal.

Na Maçonaria a tradição de que o cosmo se constrói a partir da dialética dos opostos reflete no conflito entre o vício e a virtude. Por isso o Maçom é desafiado a refletir sobre o que é a virtude.

Por isto é que no ritual de Iniciação se indaga do iniciando o que ele entende por um e outro, especificando que a virtude é uma disposição da alma que nos induz à prática do bem e o vício é o hábito desgraçado que nos arrasta para o mal. Esta interpretação mostra claramente que a prática  da Maçonaria é entendida como uma disciplina de comportamento, na qual o indivíduo é treinado para regular os seus costumes, atingindo com isso um perfeito equilíbrio entre as forças que motivam a sua conduta como pessoa humana, partícipe de uma sociedade.

Por isto é que a Maçonaria é comparada a uma jornada em busca da luz; jornada essa que começa na iniciação e nunca termina em vida, pois não é senão na passagem desta existência para a outra que essa luz se revela em todo o seu esplendor, na forma do espírito que se liberta da matéria e se condensa em pura energia luminosa.

A dialética dos opostos, na prática maçônica, porém, não é invocada somente na sua conformação moralista. Ela também revela o caráter místico da Arte Real, naquilo que ela tem de simbólico e arquetípico. Na topografia do inconsciente humano o mal e o bem sempre estiveram conectados com cores, temperaturas, sons, direções etc.

Assim, se desenvolveram as tradições que informam que o bem se encontra no claro, no silêncio, no frio ou calor extremo, no leste, e o mal na escuridão, no barulho, no clima temperado, no oeste, etc. Estas são metáforas neurolinguísticas que expressam bem o conteúdo arquetípico da mente humana.

Não é outra a razão de os Templos Maçônicos terem a sua planta orientada do Ocidente para o Oriente (onde nasce o Sol) e a marcha ascendente do Irmão dentro do Templo sempre seguir a orientação do Ocidente (yin, escuro, feminino) para o Oriente (yang, luminoso, masculino); e também da esquerda para a direita, porque este é o sentido da rotação da Terra.

Arquiteto do Universo, que tem nas hostes celestes, nas figuras dos seus anjos os Mestres Arcanos, e nos homens os seus Pedreiros Universais. Estas metáforas são constantemente invocadas na prática maçônica e se fundamentam em vários arquétipos que a mente coletiva da humanidade, nas suas diversas fases de desenvolvimento, criou.

ORDO AB CHAO (Ordem no Caos) é uma divisa maçônica por excelência. Encontrável em todos os ritos maçônicos, ela, por si só, é explicativa dos propósitos da Maçonaria, enquanto filosofia de organização e construção de um edifício social universal. Como lema, é exclusiva do Rito Escocês Antigo e Aceito.

No sentido simbólico-filosófico pretende induzir no Maçom a colocar ordem na sua vida, para se aprimorar em todos os sentidos: intelectual, moral, civil, cultural e emocionalmente – de forma a vencer o caos que o mundo oferece aos desprevenidos e que o espírito humano apresenta pela sua própria essência.

Escola Maçônica Mestre António Augusto Alves de Almeida

Fontes

ANATALINO, João – A ORDEM NO CAOS – Texto – Recanto das Letras

BUFFONI, Salete Souza de Oliveira. – A TEORIA DO CAOS E A VIDA QUOTIDIANA – Revista Vida Simples – Editora Abril;

CHARDIN, Pierre Teilhard de. – O FENÓMENO HUMANO – Cultrix, São Paulo, 1995;

DANTON, – A TEORIA DO CAOS – Edição Independente – Macapá, 2002; GUÉNON, René. – A GRANDE TRÍADE – Ed. Pensamento, São Paulo, 1987;

PAWELS, / BERGIER, Jacques. – O DESPERTAR DOS MÁGICOS – Ed. Bertrand Russel, 1964;

RAMPA, – O TERCEIRO OLHO – Ed. Boitempo, 1968;

STEWART, – SERÁ QUE DEUS JOGA DADOS? (A Nova Matemática do Caos), Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1991;

TSÉ, – TAO TÉ CHING – (O Livro do Caminho Perfeito) – Ed. Pensamento, 1991; VERLUIS, Arthur. – MISTÉRIOS EGÍPCIOS – Círculo do Livro, São Paulo, 1988.

 

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