Meu Irmão, de onde vens?
De uma loja de S. João, Venerável Mestre.
Que se faz lá?
Exalta-se a virtude e combate-se o vício.
Que vens aqui fazer?
Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e realizar
novos progressos na Maçonaria.
Devo então presumir que és maçom?
OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!
Logo na cerimônia de Iniciação o novo Maçom é instruído sobre a
forma de reconhecer e de ser reconhecido Maçon.
Aprende assim um determinado SINAL, um específico TOQUE, que
representa o pedido da PALAVRA SAGRADA, como responder a esse pedido e que
palavra é essa.
Uma razoável memória permitirá que, a partir daí, saiba como
proceder para que os seus Irmãos Maçons o reconheçam como tal.
Mas esta é a mais básica das básicas noções que o novel Maçom
recebe então quanto a esta matéria. Com efeito, mui fraco Maçom seria aquele
que se limitasse a confiar em tais atos externos para que o reconhecessem como
tal. Atrevo-me mesmo a dizer que só quem se tivesse limitado a passar pela cerimônia
de iniciação, e mesmo assim de forma desatenta, poderia admiti-lo.
Na verdade, todos sabem que em Maçonaria tudo é simbolicamente
transmitido, o que vale por dizer que através de um translúcido véu, para que
quem o receba, entrevendo, medite e, meditando, conclua e, concluindo, aprenda.
Todos sabem que, em bom rigor, em Maçonaria nada se ensina,
apenas se coloca os ensinamentos à disposição, para que quem quer saber,
observe, pense e aprenda. É por isso que costumo dizer, em iconoclasta
simplificação, que a Maçonaria se aprende por osmose…
Assim, aquele que quer ser reconhecido como Maçom pelos Maçons
não deve limitar-se ao que explicitamente lhe foi ensinado na instrução
incluída na sua iniciação.
Melhor será que não esqueça que, recém-iniciado, ainda está
aprendendo a aprender e só por isso lhe deram clara e diretamente o que
pomposamente quem desconhece a essência da Maçonaria considera “profundos
segredos”.
Assim ficará, por breves momentos o novel Maçom convencido que
ficou sabendo “excelso segredo” mas, aprendendo a aprender, em breve aprenderá
que, como já há pouco exclamei, tal “excelso segredo” não passa de uma muito
básica de entre as básicas noções que deverá apreender e que irá apreendendo.
Ao invés, o que deve um Maçom fazer para que seja reconhecido
como tal pelos seus Irmãos, foi-lhe transmitido, sim, na sua iniciação, mas
como tudo o resto que merece ser retido em Maçonaria, de forma encoberta, indireta,
para que, em devido tempo, medite e aprenda por si, bem melhor do que se lhe
fosse diretamente ensinado, pois dessa forma mais trabalhosa e difícil de
aprender sempre resulta que não apenas se sabe ou memoriza, antes se
interioriza e compreende e só aquilo que é adequadamente interiorizado e
compreendido é digno de ser tido como vero Conhecimento.
Então, que aprendi eu sobre a forma de ser reconhecido Maçom
pelos meus Irmãos?
Aprendi que, para me ser dado acesso ao Templo onde meus Irmãos
estavam reunidos, necessário foi que alguém em quem todos confiavam, o Irmão Experto,
a todos garantisse que eu era “livre e de bons costumes”.
Livre sou e livres somos sem grande mérito nosso, com muito
mérito daqueles que nos antecederam , pois de há muito que a escravatura foi
abolida em nossas terras.
Mas “de bons costumes” tive de ser para merecer entrada no
Templo e consequentemente de bons costumes tenho de continuar sendo, se nele
quero permanecer.
Primeira conclusão pude então tirar: para ser reconhecido como Maçom
pelos meus Irmãos necessário é que permaneça de bons costumes, isto é, íntegro,
honesto e de modo geral cumpridor das minhas obrigações perante Deus, eu
próprio, a minha família e a sociedade.
Mas se tal é condição necessária para ser reconhecido maçom
pelos meus Irmãos, não é, porém, condição suficiente – mesmo conhecendo eu o
SINAL, o TOQUE e a PALAVRA SAGRADA…
Importa assim continuar buscando este pequeno Graal, pomposa
forma de referir à busca do Conhecimento que vale a pena conhecer!
E recordo então que, a dado passo, ouvi mesmo alguém dizer-me
que o que estava diante de meus olhos era o símbolo da cegueira em que se acha
o homem dominado pelas paixões e mergulhado na ignorância.
Meditando, pude então a segunda conclusão chegar. Para além de
ser livre e de bons costumes, para ser reconhecido como maçom pelos meus Irmãos
haverei que dominar minhas paixões, e não por elas ser dominado, e procurar
sair da profana ignorância, isto é, utilizar os instrumentos que a Maçonaria, a
Loja, o Venerável Mestre, cada um dos meus Irmãos, me vão proporcionando, para
ir aprendendo, conhecendo e, sobretudo, CONHECENDO-ME, nas minhas forças,
sempre poucas, e fraquezas, sempre demais.
Mais um passo avancei, mas ainda não tenho a tarefa terminada,
mais caminho tenho para caminhar!
Mais adiante, ouvi ser-me dito que o homem justo era corajoso e,
tendo-me sido perguntado em quem depositava minha confiança me ter sido
sussurrada a resposta de que essa era depositada em Deus.
Pensando, conclui então minha terceira conclusão: para ser
reconhecido maçom pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes,
dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim
mesmo, e crente.
Mas, atenção!, Ser justo não é ser justiceiro, ser corajoso não
é ser temerário, ser crente não é ser beato. É necessário, como mais adiante
ouvi ser-me dito, “o justo equilíbrio de força e sensibilidade que constitui a
sabedoria, isto é, a ciência da própria vida”.
Finalmente, já reconhecido como maçom, foi-me chamada a atenção
para os deveres de beneficência de um maçom, mais uma vez temperados pelo justo
equilíbrio, pois “a caridade deixa de ser uma virtude quando é praticada em
prejuízo dos deveres mais sagrados e mais prementes: uma família a sustentar,
filhos para educar, pais velhos a manter, compromissos civis a preencher”.
Meditando sobre estas noções de fraternidade e solidariedade,
pude assim chegar à quarta conclusão, que tive por final: para ser reconhecido maçom
pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas
paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, crente, fraternal
e solidário.
E tendo chegado a esta putativamente definitiva conclusão,
preparei-me, para, satisfeito, descansar. Porém, ocorreu-me então que, tendo
Deus descansado apenas ao sétimo dia, grande prosápia minha seria pretender
poder fazê-lo após apenas quatro conclusões!
E então pensei mais, e espero que melhor, e cheguei a mais outra
conclusão (que será assim a quinta…), a de que estava cometendo o pecado do
orgulho ao pensar que destas meditações alguma pólvora de particular valor
descobrira, pois, afinal, mais bem escrito do que eu escrevera, mais simples do
que eu arrazoara, tudo está no texto por onde começamos e por onde, completando
o círculo e o ciclo da busca, é asado concluir (e esta será portanto a sexta e
última conclusão, a que finalmente me habilitará a descansar, sem remorso
superior ao que deriva da minha reincidente prosápia de, pela segunda vez em
apenas dois parágrafos, ousar comparar-me ao Criador…).
Devo, então, presumir que é Maçom?
Os meus Irmãos reconhecem-me como tal.
O que é um Maçom?
É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do
rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.
Que significa nascer livre?
O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os
preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.
Quais são os deveres de um Maçom?
Evitar o vício e praticar a virtude.
Como deve um Maçom praticar a virtude?
Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.
Como poderei reconhecer que és Maçom?
Pelos meus sinais, palavras e toques.
Como interpretas essa resposta?
Um Maçom é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e
franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela
solicitude fraterna que manifesta para com todos os que se acha ligado pelos
laços da solidariedade (toques).
Termino com a esperança de que os meus Irmãos não necessitem de
se certificar que eu conheço os sinais, palavras e toques, para que me
reconheçam como Maçon. Mas, se algum desejar interrogar-me sobre eles, que a
minha memória me permita sempre responder satisfatoriamente.
E, se porventura a memória me trair e eu falhar essa prova, que
aquele Irmão que me interroga, em face do que conheça de mim … apesar disso me
reconheça como Maçom, pois que espero merecer sempre poder dizer que:
OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!
In Blog “A Partir Pedra” – texto de
Rui Bandeira (23.01.08)