Li recentemente o seguinte comentário: «é por certo o grande mal
da Maçonaria, ser tão restritiva e seletiva na escolha dos seus “Irmãos”».
Este comentário traduz bem a ideia muito difundida de que a
Maçonaria é só para alguns muito poucos, que está cheia de “personalidades” que
não se misturam com o comum dos mortais, e que os critérios de admissão passam,
essencialmente, pelo posicionamento econômico, social ou político do candidato.
Não é verdade; a Maçonaria não é isso.
Por outro lado, não poderia dizer que a Maçonaria não seleciona
os candidatos, não exerce qualquer controle sobre as admissões, nem coloca às
mesmas qualquer obstáculo. Claro que exerce controle claro que seleciona claro
que coloca obstáculos. Os critérios de admissão, porém, são públicos e ao
alcance de todos quantos pretendam, eventualmente, juntar-se à nossa Ordem.
O principal critério advém do cumprimento dos Landmarks da
Maçonaria, que ditam muitas das restrições à admissão, como sendo a
exclusividade de membros masculinos, a obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto
Do Universo, ou a de dever ser o candidato uma pessoa honrada e de boa
reputação. Os Landmarks são como disse, públicos, apesar de não serem
universais – há Obediências que aceitam uns e rejeitam outros.
Outros critérios de seleção advêm da própria natureza e
propósito da Maçonaria, que se aprende na Instrução de Aprendiz:
– O que é um Maçom?
– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo
do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.
– Que significa nascer livre?
– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os
preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.
– Quais são os deveres de um Maçom?
– Evitar o vício e praticar a virtude.
– Como deve um Maçom praticar a virtude?
– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.
Só alguém que se identifique com estes preceitos pode ser
admitido na Maçonaria. Senão, não se iria sentir enquadrado – e não só perderia
o seu tempo, como faria os demais perder o deles. Porque a adesão à Maçonaria
implica um esforço e empenho não só pessoais como de toda a Loja que admite o
neófito, esforço esse que se prolonga por vários anos, não é de ânimo leve que
se aceita qualquer um.
Os erros de casting saem caros a todos. Por isso, a
imagem que se passa para fora deve ser essa mesma: a de que ser aceito maçom
não é algo que possa ou deva ser feito com leviandade.
Não creio que seja bom, contudo, cair-se no extremo oposto,
propalando-se uma imagem de tamanha exigência que leve a que praticamente
ninguém sinta – pelo menos até que alguém lho pergunte – que poderá, querendo,
pertencer a esta grande Fraternidade. Receio que seja este o maior obstáculo a
que a Maçonaria seja e se torne mais numerosa.
Deveras, quantos não sentirão que não encontram quem partilhe
dos princípios por que regem a sua vida – que, por acaso, até podem ser os
princípios de tolerância, diversidade, paz e fraternidade que a Maçonaria
defende e acarinha? Quantos não descobriram já, até, que se identificam com os
ideais da Maçonaria, mas acreditam que a Maçonaria é só para “Vips”, e que
nunca lhes abriria a porta?
A esses só posso dizer que ainda hoje se aplica um princípio
simples e antigo: quem quer entrar tem que começar por bater à porta. Pode ser
que tenha uma surpresa e – certamente ao fim de algum tempo – em vez de um
polegar para baixo, receba um caloroso abraço de boas vindas…
Paulo M.