Por volta do ano 300 o Imperador romano Constantino tornou o
Cristianismo religião oficial do império romano, ficando a Palestina sob a
guarda do império. Peregrinos iam e vinham da Terra Santa com o objetivo de
visitar os locais onde Jesus teria pregado a sua doutrina. Um dos locais
preferido era a basílica de Anastasi, edificada pelo imperador Constantino, que
fora construída onde teria sido o Santo Sepulcro.
A ocupação da Palestina pelo Islã no século VII, não impediu que
as peregrinações dos cristãos acontecessem até Jerusalém. Isto foi devido à
habilidade de Carlos Magno em fazer um tratado com o califa de Bagdad, Ha-run
al Rashid.
Porém, no início do Século XI, mais precisamente no ano de 1009,
a região passou para o califado egípcio, que rompeu os tratados existentes e o
novo califa saqueou Jerusalém e destruiu o Santo Sepulcro, exacerbando o
fanatismo islâmico e impondo uma perseguição aos infiéis cristãos. Apesar da
violência praticada pelos árabes, as peregrinações continuavam mesmo com o
risco de não poderem voltar para casa.
Esta agressão levou os cristãos europeus a fazerem incursões
isoladas à Terra Santa, com a violência a aumentar em frequência e intensidade.
O grande cisma da Igreja em1054, com a separação da igreja romana da ortodoxa e
a derrota do imperador bizantino Aléxio Comenus pelo exército turco, levou Roma
a pensar numa intervenção na Terra Santa.
Em 27 de Novembro de 1095 foi instaurado pelo papa Urbano II o
concílio de Clermont, que convocou o povo a libertar Jerusalém das mãos dos
árabes. O papa fez ainda uma viagem pela Europa mostrando que além da
libertação da terra santa, existia também a possibilidade de conquistar novos
feudos e saquear uma região muito rica.
Estes dois últimos apelos chamaram à atenção, pois a Europa
nesta fase da idade média estava repleta de nobres não primogênitos, ociosos
que vagavam como mercenários e esta seria uma oportunidade para este tipo de
pessoas conquistarem algo, já que não teriam direito pela hierarquia a bens
herdados de seus pais.
A primeira cruzada iniciou-se após a convocação papal e em 1099
a cidade de Jerusalém foi conquistada após sequencia de grandes saques e
violência praticada pelos cruzados contra a população muçulmana. Nesta primeira
empreitada oficial dos cristãos, estava um cavalheiro francês chamado de Hugues
de Payns, que fez voto de fé unindo para sempre o seu destino com Jerusalém.
No ano de 1100 foi fundado o Outremer (palavra
francesa que significa além do mar), os estados latinos do oriente compostos
pelos condados de Edessa, Jerusalém e Antioquia.
O reino latino no oriente era grande e mal protegido. A igreja
do Santo Sepulcro (reconstruída) passou a abrigar os monges gregos (ortodoxos)
e a grande mesquita Cúpula da Rocha abrigou os monges latinos. Estes últimos adotaram
as regras de Santo Agostinho e incentivaram os laicos que trabalhavam com eles
a fazerem os votos de viverem junto aos monges. Entre estes leigos estava
Hugues de Payns.
Em 1119 um grande massacre de cristãos ocorreu próximo do Rio
Jordão, fato que levou o rei de Jerusalém, Balduíno II, a criar uma milícia
independente, subordinada à igreja. Assim, em 1120 Hugues de Payns e mais
alguns leigos são convocados, sob a liderança do primeiro, a formarem esta
milícia, onde perante o Patriarca de Jerusalém, Gormono de Picquigny, fizeram
três votos monásticos, de OBEDIENCIA, POBREZA E CASTIDADE. Foi doada aos
cavaleiros uma parte do palácio próximo das ruínas do Tempo de Salomão. Com
isso passaram a serem chamados de Cavaleiros do Tempo ou Templários.
O grupo pretendia implementar a fraternidade, os votos de
pobreza (no sentido de despojamento material) e de penitência. Mas para formar
uma milícia era necessária a aquisição de armas, roupas e animais que eram
muito caros na época. Precisariam de grande apoio financeiro e logístico.
Devido ao tamanho do reino cristão no oriente, grande era o trabalho dos
templários com tão poucos homens. O recrutamento no reino latino era
insuficiente. Assim, com autorização do rei de Jerusalém, Hugues de Payns viaja
para a Europa para pedir a bênção papal, apoio financeiro e recrutar novos
cavaleiros.
Entre 1124 a 1130, Hugues começa sua viagem por Roma, onde
recebe as bênçãos papais e privilégios que dariam condições para ordem crescer
e fortalecer. Dentre outros incluíam: isenção de impostos, livre trânsito e
principalmente autorização para receberem doações. Após a passagem por Roma,
Hugues faz uma maratona pela Europa.
Além dos motivos de fé, grande número de cavaleiros mercenários
ou sem atividades vislumbraram uma oportunidade de deixar a vida de fora-da-lei,
servir a uma causa nobre e seguir uma carreira brilhante. Para dominar a
arrogância, a violência e prepotência militar, Hugues recorre a um grande
conhecedor da alma humana, Bernardo, o São Bernardo. Entrega-lhe a carta de
Balduíno II, onde pedia que este elaborasse para os templários regras
monásticas adequadas, que fossem compatíveis com a necessidade da guerra e ao
mesmo tempo adaptada a uma ordem religiosa. Onde normas de conduta em que a
penitência, a humildade, obediência absoluta a superiores e
disciplina duríssima, fossem utilizada para cortar os impulsos de gente nem
sempre bem intencionada.
O frade guerreiro do templo teria de associar a mansidão e
humildade do monge com a nobreza e a coragem do verdadeiro cavaleiro. Entre
outros deveres, São Bernardo incluiu a perda da vaidade (o Templário teria
vestes próprias e poucas, não se deveria preocupar com a aparência); Equilíbrio
harmônico entre o corpo e o espírito; poderiam ser somente homens de
preferência viúvos; coragem e bravura para morrerem sob a bandeira do Cristo;
terem a solidariedade como forte sentimento comunitário, onde tudo o que
pudesse desagregar como competição, inveja, ciúmes, calúnias era drasticamente
condenado; Respeito pela hierarquia, onde no topo estaria o Grão-Mestre. A vida
Religiosa e administrativa da ordem subordinava-se a setenta normas.
As iniciações na ordem aconteciam a noite. O Candidato esperava
do lado de fora e por três vezes dois cavaleiros se dirigiam a ele para
perguntar o que desejava ao qual respondia por três vezes que a sua vontade era
entrar na ordem.
Após a entrada, era dito ao pretendente que a vida seria dura e
perguntado se seria capaz de suportar as asperezas que o aguardavam; que não
esperasse benesses, honrarias e riquezas. Que deveria fugir dos pecados do
mundo, servir ao Nosso Senhor, ser pobre e fazer penitência
Perguntavam-lhe novamente se ele estaria disposto a ser servo e
escravo da casa.
Perguntavam-lhe se estava disposto a renunciar à própria
vontade.
Se as respostas fossem sim, o candidato era retirado e a
assembleia debatia o desejo do candidato de entrar na ordem e se havia alguém
que soubesse algo a respeito do candidato, deveria falar nesse momento. Não
existindo nada, o candidato era admitido.
O candidato era instruído e retornava ao templo, ajoelhando-se e
fazia o juramento.
O Grão Mestre perguntava-lhe: Pensaste bem? Ainda estás
decidido a submeter-te às dificuldades e às asperezas que vigoram na casa?
Em caso de resposta positiva, a Assembleia levantava-se e orava
para que o novato fosse bem sucedido.
DE seguida nova bateria de perguntas era feita e no final o Grão
Mestre dizia: Procurai não mentir, pois se o fizeres, sereis considerado
perjúrio e tereis de abandonar a casa.
No final o candidato era submetido ao teste de obediência, onde
lhe era solicitado que cuspisse na cruz. O candidato poderia fazê-lo em sinal
de obediência (geralmente cuspindo ao lado da cruz) ou negando-se a fazê-lo em
função do juramento de servir a Nosso Senhor.
Por último o candidato aprovado era beijado levemente na boca
pelo capelão. Estas duas últimas partes da ritualística foram utilizadas para a
condenação da ordem sob alegação de homossexualidade e negação a Cristo.
Os nobres europeus que desejassem auxiliar a ordem moral e
financeiramente, doavam recursos, posses e edifícios. Tudo o que fosse
produzido nas terras ou proveniente do aluguer era transferido para a Terra
Santa.
A transferência de dinheiro induziu a ordem a desenvolver com
rapidez técnicas bancárias e financeiras. Passaria a ser grande emprestadora de
dinheiro, logicamente evitando a usura. O fato do voto de pobreza e de despojo
de vaidades, sendo que cada Templário poderia ter no máximo quatro denários,
deu ao Templo a reputação de honestidade, fazendo com que nobres e reis ricos
confiassem aos templários os seus capitais, que para além da custódia, faziam
render o dinheiro. Para guardar tanta riqueza foi construída em Paris uma
fortaleza para guardar dinheiro e tesouros.
Segundo levantamentos feitos, nos tempos áureos da ordem, os
Templários tinham-se espalhado por toda a França, no centro norte da Itália,
Portugal, Espanha, Alemanha, Hungria, Países Baixos, Inglaterra, Escócia,
Irlanda, além claro da Palestina.
Para se movimentarem, para transportar bens gerados na Europa e
encaminhados para a Palestina, para transportar dinheiro e tesouros, os
Templários criaram uma grande frota de navios que passaram também a prestar
serviços de transporte de cargas e pessoas para nobreza e reis.
No oriente, além das atividades de proteção dos peregrinos, os
templários desenvolveram grande capacidade de negociação com os chefes árabes
da região. Chegando ao ponto de serem requisitados para serviços delicados de
missões diplomáticas por reis e papas. Mantinham relações cordiais com emires,
sempre baseados em interesses econômicos e políticos sem a contaminação por
argumentação religiosa. Inclusive permitiam que fiéis muçulmanos fizessem suas
preces na grande mesquita Cúpula da Rocha, onde ficavam como já ditos os monges
latinos.
Em 1144 o condado de Edessa (o condado mais ao norte) foi tomado
pelos árabes. Dando origem à segunda Cruzada. Foi o maior exército cristão
formado, e apesar disto foi um fracasso de estratégia. Agrediu mais cristãos
(Império Bizantino – Constantinopla) do que muçulmanos. Ao contrário da
fracassada campanha do exército cruzado, os Templários participaram de forma
exemplar e imaculada.
Problemas de ordem política e administrativa dentro e entre os
reinos latinos no oriente enfraqueceram ainda mais a frágil estrutura dos
reinos cristãos. Em 1184 Saladino entra em Jerusalém recuperando para as mãos
islâmicas a Terra Santa. Saladino que vinha de conquistas em territórios
árabes, teve misericórdia com os cristãos de Jerusalém, mas não teve o mesmo
comportamento com os templários e hospitalários. Torturou-os até a morte.
A derrota de Jerusalém aconteceu pela falência dos poderes e da
inabilidade política dos nobres feudais que governavam a região. Mas a culpa
recaiu sobre os Templários, porque tinham como objetivo primordial defender a
Terra Santa e a queda de Jerusalém e do Santo Sepulcro representavam a falência
do ideal.
Os principais inimigos dos Templários não foram os muçulmanos,
mas a inveja, a cobiça e a ganância de reis e religiosos. Os privilégios
que adquiriram quando de sua formação tornaram-nos muito ricos (a Ordem e não
os Templários). Mesmo no auge da história dos templários (final do século XII),
começaram a surgir descontentamento de sectores da igreja e de outras ordens
religiosas, que perdiam rendas em detrimento dos cavaleiros.
A sociedade ocidental que havia acatado e tolerado os
privilégios iniciais e até a arrogância da Ordem (no auge), não estava mais
disposta a suportar as falhas dela. A situação agravou-se com a queda de
Jerusalém, quando grande parte dos cavaleiros retornaram para a Europa, e já
não se justificavam mais tais privilégios. Estima-se que nesta época, 15.000
templários inativos passaram a exercer funções burocráticas administrando o grande
patrimônio da ordem.
Em 1291 a queda de Acre, pois fim ao Outremer e
desferiu golpe fatal na ordem templária e nos hospitalários. No concílio Ailes
1292, o papa Nicolau IV decreta a fusão das duas ordens. Houve resistências em
ambas e a fusão nunca aconteceu.
Morre Nicolau IV e o próximo papa, Bonifácio VIII, via com bons
olhos os templários, inclusive porque recebeu deles grandes somas em
empréstimos. Por outro lado, o pontífice tinha vários atritos diplomáticos e
religiosos com o rei francês Felipe o Belo. Já nesta época a ordem estava
dividida em duas frentes, a de França onde estava o centro administrativo e
financeiro e a ordem de Malta na ilha de Chipre, composta de militares
envolvidos em relações com os governos da região.
Durante a queda de Acre morre em combate o Grão-Mestre Guillaume
de Beaugeu. Em Malta tinha-se destacado um cavaleiro que assistia em combate a
certos casos de imoralidade e corrupção dentro da ordem. Era um homem de grande
experiência de campo onde tinha feito a sua história de honra e dedicação. Este
cavaleiro chamado Jacques de Molay foi indicado para ser o novo Grão-Mestre.
Havia um concorrente para o cargo, Hugues de Perraud, cavaleiro burocrático com
mais de 30 anos de serviços, mas que nunca tinha ido para frente de batalha e
que era aliado de Felipe o Belo. Independentemente da sua força política,
Hugues de Perraud não foi indicado e Jacques de Molay torna-se o Grão-Mestre.
Em 1306 após sequência de erros administrativos e bélicos,
Felipe o Belo desvaloriza a moeda. O resultado foi uma grande revolta popular.
Acossado, Felipe refugia-se na sede dos Templários em Paris. Segundo alguns
historiadores, Felipe vendo aquela riqueza encheu-se de cobiça e exigiu que o
Templo emprestasse ao rei 300 mil florins em ouro. Jean de La Tour, tesoureiro
do Templo, emprestou o dinheiro a Felipe sem autorização do Grão-Mestre e sem
um termo de garantia.
Jacques de Molay ao retornar em 1307 para Paris verifica a
contabilidade, descobre o enorme rombo nas contas e despede de forma
irrevogável o contador, aplicando-lhe sanção disciplinar. Jean de La Tour,
homem de origem burguesa com boas relações no trono, pede auxílio a nobres
próximos do rei. Este solicita a Clemente V, o novo papa, a recondução do
tesoureiro ao cargo. O papa exige que Jacques de Molay o readmita que o faz a
contragosto.
Felipe o Belo percebe que a Ordem não era mais intransponível, o
flanco estava aberto. Passa a difamá-la. Inicia o processo levantando dúvidas
sobre a fidelidade da ordem a Cristo. A inquisição já tinha sido instalada e
bastava uma denúncia de heresia para que as investigações se iniciassem.
A acusação de que os templários negavam Cristo cuspindo na cruz,
fato já comentando que era um teste da obediência, mas que não punia o iniciado
caso ele negasse o ato, foi usado como uma das grandes heresias praticadas. O
beijo do capelão no final da iniciação e a figura de dois homens montados no
mesmo cavalo (símbolo da simplicidade e economia) foram utilizados como
práticas de homossexualidade. Assim, em 13 de Outubro de 1307, sexta-feira,
cerca de 150 templários, inclusive Jacques de Molay, foram presos em Paris.
Á custa de longas sessões de tortura, muitos cavaleiros
assumiram culpas e assinaram falsos depoimentos. Os bens dos Templários foram
desejados por todos incluindo o rei Francês e o papa. A frota de navios
desapareceu com a prisão dos 150.
Em 18 de Março de 1314 Jacques de Molay e Geoffroy de Charny
foram queimados em praça pública. Conta-se que antes de morrer de Molay pediu
que afrouxassem a corda e olhando para Notre Dame faz uma prece a Virgem Maria,
testemunhando a sua inocência e da ordem. Lançou uma praga a Felipe por traição
e a Clemente V por abandono, de que eles em breve iriam prestar contas no
tribunal Divino. O papa morre um mês depois e Felipe antes de se completar um
ano.
Após as prisões e mesmo antes da morte do Grão-Mestre, os
templários livres dispersaram-se, vivendo como refugiados e entrando em ordens
religiosas ou não. Em Portugal e Espanha os templários tiveram mais sorte. O
Rei Português, bem como os Reis de Aragão e Castela, não vendo acusações
substanciais contra os cavaleiros não pactuam com a sua condenação. Enviam
mensageiros ao papa Clemente V e pedem que nos seus domínios, os Templários
sejam poupados, inclusive por haver ameaças de invasão muçulmana à península
Ibérica. O papa para se livrar dos problemas, concede-lhe o seu pedido, mas que
exige que o nome seja mudado. Assim, é formada a Ordem dos Cavaleiros do Cristo
em Portugal e em Espanha, a Ordem de Nossa Senhora de Montesa.
Os Templários criados ao princípio como monges guerreiros do
Cristo, excederam em muito os objetivos iniciais. Foram responsáveis pela
introdução dos conceitos de transações comerciais, fidelidade bancária,
administração austera; inventaram o cheque bancário. Trouxeram para a Europa
conhecimentos de arquitetura (as grandes obras de igrejas e castelos são pós
templários), navegação e diplomacia. A ordem acabou em 1314, mas deixou um
grande legado para o Ocidente.
Adaptado de Giovani R. Carvalho