De
acordo com Lavagnini (2008), a palavra templo se origina do latim tenebrae,
que significa trevas. O mesmo autor nos diz que tal nome alude ao antigo
costume de se fazer os templos em grutas ou criptas – lugares escuros e ocultos
– ao amparo da indiscrição profana. E que assim, todos os templos deveriam ser,
antes de tudo, ambientes de recolhimento e silêncio, distinguidos por uma
penumbra favorecedora da concentração e elevação mental.
Oliveira
Filho (2022) ressalta que “uma vez consagrado, um Templo Maçônico passa a ser
um recinto santo, exigindo-se respeito e veneração.” Assim, ninguém poderá
ingressar nesse ambiente, qualquer que seja o pretexto, antes do início da
Sessão, excetuando-se os Obreiros que tiverem que prepará-lo.
Há
regras para a organização do cortejo e para a entrada e saída do recinto. Não
somente, todo obreiro retardatário deverá ingressar no espaço
ritualisticamente, e os Irmãos só poderão retirar seus paramentos e insígnias
quando estiverem novamente no átrio.
Sobre
os espaços contíguos ao Templo Maçônico, Da Camino (2014) nos instrui que
“na
sala dos passos perdidos, permanece o efeito do profano, uma vez que o maçom
ingressa no edifício onde está instalado o templo e mantém diálogos profanos,
cumprimentos, assuntos interrompidos da semana passada, enfim, o dia a dia
comum. Lentamente, prepara-se o ingresso no átrio, que é o subconsciente; tudo
o que é profano permanece na sala dos passos perdidos.”
Em
contraste com o exposto, é relativamente comum que as práticas maçônicas para
realizar as reuniões não sejam totalmente seguidas, ou que, tomados pelas
preocupações cotidianas que a todos alcança, tenhamos dificuldade para nos
concentrar nas reuniões.
Indo
um pouco mais além, sabemos pela experiência que, individualmente, possui alta
volatilidade os sentidos que os símbolos nos evocam, como interpretamos os
momentos vividos e como apreendemos as informações que nos chegam.
O
significado que daremos para cada um dos eventos que experimentamos é
dependente sobretudo do nosso estado emocional no instante do ocorrido. Por
exemplo, um trecho das Sagradas Escrituras pode ser entendido de certa maneira
em um momento, enquanto a releitura, mais adiante, provavelmente evocará no
leitor sentido diverso.
Outro
fato relacionado com a percepção humana é o de que se ouvirmos uma nota
contínua emitida no limite da audibilidade, o som parecerá interromper-se a
intervalos regulares para começar de novo. Esse fenômeno é causado por
oscilações da nossa atenção e não por qualquer modificação na nota (Jung,
2002). Esses eventos revelam sutilezas da natureza humana, e evidenciam o quão
difícil é manter a concentração nas diversas situações que vivemos.
Evidentemente,
há estratégias para minimizar nossas limitações físicas e psíquicas, e, visto
sob esse prisma, fica mais fácil compreender a necessidade de se melhorar a
aderência ao ritualismo maçônico. Consequentemente, não será difícil perceber a
relevância do que ocorre nos momentos que precedem cada reunião, para que essa
seja mais proveitosa.
Assim,
não por acaso, a adoção de rituais é procedimento farto ao longo das eras.
Nesse sentido, caracterizam os espaços ritualísticos desde tempos imemoriais, a
presença de etiquetas e símbolos, combinados com o bom uso da sonoridade e do
refinamento da plasticidade do ambiente. Juntos, esses recursos possuem o poder
de despertar, integrar e harmonizar os sentidos dos presentes, criando
sutilmente, condições para o exercício da atenção, da reflexão e da acomodação
do espírito.
No
caso da Maçonaria, são formalidades diligentemente aperfeiçoadas no decurso de
milênios, e representam a sabedoria acumulada pelas gerações. Temos assim à
nossa disposição, os frutos, embora eternamente inacabados, de inumeráveis
experimentações, lutas e sacrifícios, nos exigindo apenas zelo e disciplina a
favor do cumprimento do que foi estabelecido para a realização das cerimônias.
E a
entrada no templo, relevante parte desse contexto, quando sistematicamente
executada de acordo com as tradições, nos remeterá imediatamente às
expectativas e preparação psicológica relativas à reunião da qual estamos
prestes a participar.
Ademais,
é muito provável que a adoção rotineira da entrada ritualística proporcione
vários outros desdobramentos benéficos aos trabalhos da Loja. A pontualidade
para o início da reunião a ela se interliga. O uso da Sala dos Passos Perdidos
fortalece a interação entre os Irmãos, condicionando a qualidade da formação da
Egrégora Maçônica quando no Templo.
A
previsibilidade e repetição própria dos ritos favorece a integração psíquica do
participante. Esses aspectos colaboram também para a otimização do tempo da
reunião. Se curto, não cria meios para suavizar a inquietude. Se longo,
atribula os sentimentos. No tempo perfeito, os procedimentos seguem com
fluidez, como uma brisa suave que toca a face e modula a alma de cada Obreiro.
E, como resultado, desperta o vibrante desejo que a próxima reunião logo
chegue.
Autor:
Mauro José de Oliveira
Mauro
é Mestre da Loja Maçônica Novos Tempos Nº 288 – GLMMG, Oriente de Belo
Horizonte
Nota
Aprendiz
Maçom Gr⸫ 1 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2012
Referências
DA
CAMINO, Rizzardo. Breviário Maçônico, 6ª. ed., São Paulo: Madras, 2014
Ritual
de Companheiro Maçom Gr⸫ 2 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2017
D’ELIA
JÚNIOR, Raymundo. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz, São Paulo:
Madras, 2012
JUNG,
C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002
LAVAGNINI,
Aldo. Manual do Aprendiz Maçom – A Maçonaria Revelada, Porto Velho,
2008
OLIVEIRA
FILHO, Denizart Silveira de. A Lenda de Hiram Nos Graus Inefáveis do R⸫E⸫A⸫A⸫ – O Templo de Salomão. São
Paulo: Madras, 2022
Ritual
Aprendiz Maçom Gr⸫ 1 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2012