CAMINHOS DA LUZ – A IDENTIDADE DA MAÇONARIA




As fontes instituidoras da Ordem Maçônica surgi­das há vários séculos passados, vêm atravessando um longo tempo sem deixar que a mencionada instituição perca a sua verdadeira e primitiva identidade, conferindo-lhe uniformidade universal, preservando-a, proporcionando-lhe consistência material e direcionando obstinadamente ao alcance dos seus “fins supremos” caminhos luz

É dessas referidas fontes que se extraem vastos concei­tos e inúmeras interpretações do que, de fato, se possa entender por maçonaria, na essência da própria palavra.

E mais, no meio de todo o seu enunciado, faz-se pre­sente um eficiente método de aperfeiçoamento que é utilizado como instrumento indispensável e necessário à formação maçônica ideal dos seus adeptos.

Como é notórias, as ditas fontes, que se constituem dos princípios, preceitos, fundamentos e de todo o ordena­mento jurídico maçônico em vigor, recomendam a quem faça parte da mencionada instituição, a incondicional observância das regras de comportamento e de conduta fundamentadas na ética, na moral e nos bons costumes.

Vez por outra, tais regras são lembradas de modo sucinto por meio de frases de efeito como “ser Maçom é ter sobre os ombros um pesado fardo”; “ser Maçom é aceitar mais responsabilidades”; ser Maçom é estar disposto a acatar mudanças em relação aos padrões de comportamento recomendados pela maçonaria” e outras expressões assemelhadas. 

Isto ocorre com frequência nas palavras de maçons mais antigos, que já galgaram alguns degraus de conhecimento dentro da Ordem, em ocasiões propícias com o intuito de esclarecer aos novos iniciados, de forma objetiva, que os empreendimentos da referida instituição são nada menos que uma obra monu­mental, inacabada, sem prazo determinado para ser con­cluída e cujos trabalhos demandam esforço e muita dedi­cação.

Sim, há uma razão de ser para tudo isto! Não se pode deixar de reconhecer na maçonaria o seu poder, a sua com­petência, o seu preparo, os seus méritos e a capacidade dos seus membros, em cujas colunas ela se apóia mantendo-se como uma entidade de ações perenes, de devoção às suas sublimes aspirações, e ainda ser, ao mesmo tempo, uma espécie de banco escolar que tem por fim transfor­mar homens bons em célebres vultos benfeitores da humanidade. 

Incontestável esta afirmativa porque há provas materiais abundantes nos seus arquivos dando conta de que incontáveis iniciados, ao assimilarem os preceitos e os fundamentos da Ordem, renasceram para uma nova vida tornando-se homens imortais na história de muitos povos.

A maçonaria sempre recomendou aos seus adeptos: Além da retidão de caráter, que se mantenham perseve­rantes na luta em busca do aprimoramento moral, intelec­tual e espiritual; que se curvem e se rendam perante a virtude, morrendo, de vez, para o erro; como entidade espiritualista que é, emana sinais de alerta aos maçons induzindo-os a praticarem constantemente a caridade, pois o seu exercício revela o desempenho de uma das mais sublimes e essenciais aditividades da referida ordem, sendo interpretado, quando decorrente da vontade da própria alma, como gesto de amor que reduz a distância entre criatura e criador; por fim, que os maçons trabalhem e se esforcem com dedicação na construção de um mundo cada vez melhor para quem nele habita.

Neste sentido, os seus propósitos vão desde o combate ao excesso dos prazeres mundanos, ao desvio de conduta, na maioria das vezes, motivados pela adesão ao tráfico e ao consumo de drogas, até a luta incessante contra a imo­ralidade, a ilegalidade e os preconceitos vulgares, medi­ante o emprego do bom exemplo dos seus membros e a devoção de cada um na prática constante das boas ações.

Entretanto, dentro de uma sociedade como a de hoje, que adota padrões comportamentais (em grande parte) eivados de vícios e erros de toda sorte, se compararmos a adoção de tais regras como conduta ideal a ser seguida pelos iniciados da maçonaria, sem dúvida, o resultado levar-nos-á ao convencimento de que esta difícil tarefa possa mesmo ser entendida como pesado fardo colocado nos ombros daqueles que se dedicam e se esforçam no cumprimento do dever maçônico.

Mas, visando o alcance dos seus ideais supremos, a mencionada instituição proporciona a todos os seus obre­iros a possibilidade de evoluírem e adquirirem progresso em relação aos preceitos da Ordem, utilizando-se da dou­trina do aprimoramento comportamental difundida nos seus rituais.

Esta doutrina tem, entre as suas múltiplas fina­lidades, a de afastar os maçons, tanto quanto possível, das trevas da ignorância, dando-lhes pleno conhecimen­to e capacitação para poderem, à luz da razão, optar livre­mente pelo caminho do bem, valor humano que a maço­naria universal recomenda seja tomado como fonte inspiradora de todas as ações e atitudes dos seus iniciados.

Porém, como tanto se ouve a prática do bem e o com­bate ao mal exigem do Maçom sérios sacrifícios. Um deles, como dispõe um dos seus rituais, é “saber impor um freio à impetuosa propensão ao erro para se elevar acima dos vis interesses” que atormentam muitas mentes. É preciso também trabalhar intensamente até acostumar o espírito a “curvar-se ante as grandes afeições e a não con­ceber senão ideias sólidas de bondade.”

Deste ponto de vista observa-se que um dos mais úteis e indispensáveis instrumentos à prática da virtude é a fraternidade. Fraternidade é o laço que deve unir os maçons como se estes fossem verdadeiros irmãos e ami­gos.

É o companheirismo e a lealdade entre pessoas que se dispõem a trabalhar juntas, almejando o mesmo objetivo, o mesmo alvo. No seio da maçonaria é ela (a fraternidade) a responsável pela convivência pacífica e harmoni­osa entre os maçons e essa união quando fortalecida por sincero sentimento fraterno faz surgir o amor ao próxi­mo.

Esta grandeza de espírito, no entanto, não é um dom natural e para adquiri-la demanda-se um bom tempo. À medida que avançamos no nosso aprimoramento, os defe­itos e os vícios vão dando lugar às boas qualidades até surgir em nós à disposição de ajudar o nosso semelhante.

Se bem comparado, o ânimo em ajudar alguém que se encontre em estado de necessidade é uma atitude positiva que brota do nosso íntimo como divinal raio de luz com as  suas nuances e peculiaridades. É a este fenômeno que se dá a denominação de amor ao próximo. Ele distingue-se de qualquer outro sentimento humano porque é gratuito, afetivo, universal, sincero, desinteressado e se manifesta marcando a sua presença em cada boa obra que realiza­mos.

Adicionada ao sentimento fraterno de amor ao próxi­mo está também à solidariedade, disposição esta que consiste em alguém ajudar o seu semelhante, prestando-lhe um favor no sentido de superação das dificuldades decorrentes da causa que o estiver envolvendo, de manei­ra desinteressada, sem a intenção de receber recompensa alguma, o que acontece quase sempre pela convicção de se estar praticando um ato de justiça e nada mais.

No caminho de encontro com a luz, que por costume chamamos de aperfeiçoamento maçônico, de igual modo se faz presente à tolerância.

Do ponto de vista social, ser tolerante é admitir, nos outros, modos de pensar, de agir e de sentir diferentes dos nossos. É a capacidade que deve­mos ter de ouvir e aceitar os outros, da maneira como realmente são, respeitando cada um nas suas convicções e diversas formas de entender a vida desde que tais con­vicções e formas não atentem contra direitos alheios.

A tolerância é a atitude mais útil e mais louvável na vida social porque o tolerante é capaz de aceitar opiniões e comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social, eliminando, desta forma, os sentimentos preconceituosos e racistas que comumente se manifes­tam no relacionamento humano.

A tolerância, às vezes, confunde-se com a paciência porque uma faz parte da outra. A tolerância é a virtude da paciência, segundo Santo Tomás de Aquino, visto que, dada a nossa imperfeição comum, temos que esforçar-nos em ser tolerantes ou pacientes uns com os outros.

Sacramentada em juramento solene, a obediência à maçonaria consiste no respeito pelos seus ensinamentos e no cumprimento destes, na forma como recomenda a referida instituição, o que implica dizer que o homem Maçom, para se tornar fraterno, solidário e tolerante, terá que admitir mudanças no seu padrão de conduta, conhe­cer bem os postulados, preceitos e normas da Ordem e perseverar na sua prática.

O pleno alcance destes objetivos, embora admitidos como tarefa dificílima, tem o seu lado compensador porque se trata de um aprimoramento de alta relevância do qual se beneficiam ambas as partes (Maçom e maçona­ria) e quem o atinge merece a honra, a respeitosa condi­ção e a dignidade de ser reconhecido por toda a irmanda­de como obreiro “justo e perfeito”.

Anestor Porfírio da Silva M I – ARLS Adelino Ferreira Machado Or de Hidrolândia – Goiás


QUAL SERÁ O FUTURO DA ORDEM MAÇÔNICA?



Abaixo, algumas informações sobre a Maçonaria no Brasil.

Obs. 1: 51% dos Maçons brasileiros têm acima de 60 anos.
Obs. 2: apenas 1/3 dos Maçons brasileiros tem menos de 46 anos de idade.
Obs. 3: Há um choque de gerações na Maçonaria brasileira entre os Maçons com menos de 46 anos e os de mais idade. A geração sub 46 foi educada por metodologias de ensino pós freireanas e piagetianas (a partir de 1970), nas quais se incentiva o questionamento, o exercício da antítese, o que parece ser, de certa forma, mal visto pela geração mais velha. A geração mais jovem também apresenta características mais críticas, tem uma média maior de nível de escolaridade e de hábito de leitura.
 (fonte: relatório da CMI).

Ainda segundo o relatório da CMI, os anseios dos Maçons mais jovens divergem essencialmente dos anseios dos Maçons idosos. Como estes são a maioria nas Lojas brasileiras, aqueles acabam por perder o interesse nos assuntos maçônicos, desligando-se, assim, dos quadros das Lojas.

Outro fator citado pelo relatório da CMI são as insatisfações apontadas, as quais ficaram em terceiro e quarto lugares, respectivamente, quais sejam os chamados "profanos de avental", como são conhecidos no Brasil os maçons que não têm comportamento maçônico; e os chamados "donos de Loja", fenômeno em que um Ex-Venerável Mestre ou um pequeno grupo desses buscam concentrar o poder de tomada de decisão em uma Loja.

Assim, a camada mais jovem, com comportamento mais questionador, aponta suas insatisfações em relação aos "donos de Loja", "reuniões sem conteúdo" e "desinteresse dos irmãos". Já a camada mais velha aponta suas insatisfações em relação aos "profanos de avental", "desvalorização das opiniões" e, pasmem, "reuniões demoradas".

Por fim, analisando os dados da pesquisa do Ir Ismail em conjunto com o relatório da CMI, podemos notar que a Maçonaria brasileira vem seguindo os prognósticos outrora trazidos pelos estudiosos e historiadores maçônicos, ou seja, se nada for feito para inverter o quadro atual, em 15 anos a Maçonaria brasileira experimentará uma queda vertiginosa na quantidade de seus membros, ocasionando o fechamento de diversas Lojas e Potências.

Os pesquisadores maçônicos sérios são unânimes em afirmar que ainda há muita desvalorização dos Aprendizes e Companheiros em Loja, os quais são relegados a "escorar" as paredes das Lojas nos extremos Norte e Sul, sem um planejamento de preparação, capacitação e desenvolvimento dos recém iniciados.

Geralmente são ministradas as instruções obrigatórias e nada mais.

Vamos planejar o futuro da nossa Ordem. Você também é responsável!


Enviado por  Ronaldo Ramiro De Paula


MAÇONARIA - MUDANÇA DO MODELO MENTAL



Perplexa, a sociedade moderna assiste simultaneamente a ruptura de antigas estruturas societárias e a emergência de uma nova ordem mundial. Acompanhar as mudanças em curso no mundo e estar afinado com seu diapasão e implicações são deveres de todo ser mortal que deseja administrar relativamente bem sua vida neste plano do Universo.

Refletir para reconstruir poderia ser o lema a ser adotado pela atual geração de maçons nesse limiar do Terceiro Milênio. Para pensar a Maçonaria do século XXI é preciso partir da base do modelo mental (ou modo de pensar, ou sistema de pensamento) por meio do qual construímos o nosso mundo.

Há poucas esperanças de mudar o mundo que elaboramos, ao longo de nossa interação com ele, se não modificarmos antes o modo de pensar que utilizamos Maçonaria do século XXI: pensar, sentir e viver para essa construção.

Assim, propomos que, do ponto de vista do Acolhimento Maçônico, o pensar (que inclui o sentir), e o viver sigam a seguinte dinâmica: mudar o modo de Sentir; mudar o modo de Pensar; mudar o modo de Falar; mudar o modo de Agir.

O diagrama exprime algumas das principais dimensões do ser humano: o sentir, o pensar, o falar e o agir. Todas estão entrelaçadas, de modo que modificações em qualquer uma repercutirão sobre as demais. Trata-se de uma abordagem integrada e integradora, na qual tudo acolhe tudo e por tudo é acolhido.

Isso significa que é preciso, antes de tudo, compreender que o privilégio dado por nossa cultura à tecnociência, em prejuízo das humanidades, é um dos principais obstáculos à colocação, em prática, das iniciativas ou objetivos da Maçonaria.

Portanto, desde o início convém ter em mente que aquilo que se deseja é introduzir ações de acolhimento numa cultura que é ou está basicamente não-acolhedora, uma cultura na qual a competição predatória, a devastação da natureza e a exclusão social não recebem o grau de atenção e questionamento que deveriam.

Estas palavras, porém, não devem ser tomadas como desestímulo ou pessimismo, mas sim como um convite à reflexão. Para pôr em prática os objetivos sociais da Maçonaria é preciso mudar de modelo mental. Trata-se de uma mudança ampla e profunda, que não pode ser feita por meio de iniciativas superficiais e de curto prazo.

Eis o nosso desafio. Sem compreendê-lo e buscar meios de superá-lo, nossas boas intenções cairão no vazio.

Lidar com esses obstáculos exige, antes de tudo, que pratiquemos o que propomos. O pensar inclui o sentir. Em geral, sentimos antes de pensar. Ou, de modo inverso, o que pensamos produz sentimentos. Pode-se dizer, então, que o sentir e o pensar se influenciam mutuamente, isto é, estão em relação circular.

Para trabalhar a interação entre o sentir, o pensar, o falar e o agir propõem começar examinando o que sentimos diante do sofrimento e da doença ou de outro infortúnio. 

Nossa proposta é iniciar pelo sentir e depois entrar em contato com o que pensamos segundo vários pontos de vista, ou seja, o dos que podem e deve resolver o problema, o do “paciente” ou queixoso, o de seus familiares e o da comunidade.

Examinemos alguns dos nossos sentimentos diante de tais situações e da necessidade de buscar atendimento, ou mesmo da necessidade de, fora dessas situações, procurações preventivas.

Em geral, os profissionais, como é a praxe em nossa cultura, foram preparados para sentir, pensar, falar e agir com base na lógica binária: o modelo mental de causa e efeito, a lógica do “ou/ou”. Trata-se de um padrão que exclui em vez de acolher, que separa em vez de juntar, que fala de ações, não de interações, de vivência e sobrevivência em vez de convivência.

Em especial, é um modelo que privilegia as partes isoladas, em prejuízo das relações. A esse respeito Václav Havel, ex-presidente de República Checa, tem uma frase que não deve ser esquecida: “Educação é a capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos”.

Por sua vez, Elizabeth Rondon Amarante, neta do Marechal Rondon, em contato com os índios myky, descobriu que na língua deles não existe o verbo “viver”; em seu lugar está o verbo “conviver”, que significa morar, viver com, viver com o mundo, com os outros e consigo mesmo.

Relação, eis a palavra-chave, a argamassa do Maçom. Se soubermos tudo sobre uma espécie vegetal ou animal, uma técnica, um tratamento, etc., podemos dizer que somos especialistas, eruditos. Mas só quando compreendemos e vivemos as relações entre as pessoas, as coisas e os fenômenos é que somos realmente educados.

Nesse sentido, Maçonaria é educar. E a formação maçônica é, pois, um processo pedagógico. No contexto das ações de formação de profissionais, a maior preocupação de nossas escolas e faculdades, predominantemente voltadas para a tecnociência, é instruir, adestrar e treinar.

Mas poucas educam. Poucas ensinam aos que nelas estudam a compreender que a percepção das relações, das interações, pode diminuir a incerteza e, portanto, atenuar o medo. Uma sociedade regida por um sistema de pensamento que privilegia a divisão, o afastamento, o não-acolhimento é uma sociedade de desconhecidos, de estranhos. O desconhecimento produz a desconfiança, e esta alimenta o medo e é por ele realimentada.

Se tivermos medo de entrar em contato com nossos sentimentos, emoções e subjetividades acabamos adotando uma visão de mundo em que tudo nos parece externo objetivo. É como se não compartilhássemos o mesmo mundo com as pessoas com as quais lidamos no cotidiano. Como, então, colocar-nos no lugar delas?

Esse raciocínio faz lembrar um mito da Grécia clássica: a história do Curador Ferido. Conta a lenda que a arte de curar foi ensinada por Apolo ao centauro Quíron. Este, por sua vez, a transmitiu a Esculápio, o deus da medicina. Com Quíron, Esculápio aprendeu a praticar a cura pelas ervas. Entretanto, Quíron tinha uma ferida que, jamais, cicatrizava: ele vivia curando os outros, mas estava sempre doente, sempre sofrendo, e, por isso, era capaz de compreender os sofrimentos daqueles a quem tratava.

Esse mito pode ser interpretado como uma sugestão da necessidade que o maçom tem de reconhecer a sua própria vulnerabilidade, isto é, precisa tomar consciência de sua própria ferida, que representa a possibilidade de ele próprio “adoecer” e sofrer. 

Em outros termos, colocar-se no lugar do outro para poder avaliar o sofrimento dele e, então, exercer a solidariedade e a fraternidade.

No contexto das ações interpessoais, nossos modos básicos de sentir têm como apoio a divisão, a fragmentação, a pouca compreensão do que significa relacionar-se, ligar-se, acolher, comprometer-se, compartilhar.

Nossas ações são, em geral, vistas como relações de uso. Nos vemos como fornecedores de produtos e serviços que se destinam a “usuários”.

O uso pressupõe o descarte e a posterior exclusão, isto é, um segmento da população utiliza outro e depois o descarta. Em suma: nosso sentir atual é desagregador, separador, disjuntivo. Não compreendemos bem a extensão e a profundidade da ideia de relação, junção, participação.

Nosso sentir é o de quem não aprendeu a pôr-se no lugar do outro. É um sentir não-maçônico, não-acolhedor. Se, como no diagrama a pouco apresentado, a Maçonaria é identificada com um processo que requer a simultaneidade de várias iniciativas, é necessário começar pela modificação do nosso modo de sentir.

A primeira providência para tanto é educacional. Ela requer uma reaproximação com a cultura humanística, que vem há longo tempo sendo posta em plano secundário.

Luiz Carlos Silva


OS SEGREDOS DA MAÇONARIA, O SILÊNCIO E O SABER CALAR-SE



Por poucos que sejam, há, de fato, segredos na Maçonaria. Num tempo e numa sociedade em que a vida de cada um se encontra cada vez mais exposta, não é senão natural que a simples existência de segredos cause curiosidade e mesmo perplexidade. Contudo, a existência dos segredos tem mais do que uma justificação.

Em primeiro lugar, há as razões culturais, morais e éticas. Diz-se da Maçonaria ser “um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”.

Ora, se os sistemas de moralidade variam de sociedade para sociedade, as raízes anglo-saxônicas da Maçonaria são bem visíveis através daquilo que esta valoriza como a delicadeza de trato associada aos gentlemen, ou essa mistura de contenção e refreamento que constitui a tão conhecida fleuma britânica.

Pode, nesta perspectiva, dizer-se que o segredo, o silêncio e o “saber calar “são manifestação de três virtudes que a Maçonaria muito preza: a circunspeção, a discrição e o auto-controlo.

Terá sido esta atitude, a par de um contexto histórico de guerras religiosas e de luta política de que a Maçonaria queria (e quer) manter-se afastada, que ditou o 6º Landmark, “A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.”

 Quantas vezes uma frágil harmonia se consegue, sabe-se lá com que custo, pela exaltação dos pontos de concórdia, e pela minimização da exposição dos pontos de dissensão… É por isso que, em Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de cada um – ao mesmo tempo em que se espera que cada um tenha aprendido a, no seu exercício, não ameaçar a harmonia, o equilíbrio e a fraternidade.

Em segundo lugar há razões simbólicas e metodológicas. Diz-se que, nos tempos da Maçonaria Operativa, seria através de sinais secretos, próprios de cada uma das classes de operários, que os seus membros se identificariam perante os tesoureiros para assim receberem os seus salários diferenciados.

Do mesmo modo, cada grau – Aprendiz, Companheiro e Mestre – tem os seus próprios sinais de reconhecimento, os seus próprios segredos que não podem ser revelados aos de grau inferior.

A natureza do que se cala é menos importante do que a aprendizagem do guardar silêncio, do calar-se e do refrear-se. Sem calar não se pode ouvir; é por isso que nas sessões é imposto absoluto silêncio aos Aprendizes e aos Companheiros.

Como exercício, fora destas, são-lhes confiados os “segredos de grau”, que não passam, neste sentido, de um mero exercício de contenção. Por outro lado, a separação entre os graus evidencia e promove o progresso de cada maçom, e permite que, expostos aos mesmos conceitos na mesma ordem cronológica, todos percorram caminhos relativamente semelhantes.

Os símbolos marcam o caminho, e a sua interpretação ou o aprofundamento do seu estudo constituem segredos na medida em que antecipação do conhecimento dos mesmos poria em risco a sua frutuosa interiorização.

O silêncio não termina, porém, com a elevação a Mestre, antes se transfigura de silêncio imposto em silêncio voluntário. De fato, um Mestre deverá ter já interiorizado o que a sabedoria do povo nos repete: que, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro.

Por fim, e em terceiro lugar, encontra-se a reserva da identidade dos irmãos, o que não deixará de fazer sentido face à incompreensão, rejeição e mesmo perseguição de que os maçons foram – e, infelizmente, são ainda em muitos lugares – alvo, pelas mais diversas razões, das políticas às religiosas.

Não obstante ser cada um livre de assumir publicamente a sua condição de maçom está-lhe absolutamente vedado revelar a de quem o não fez.

Por poder causar danos reais na vida daqueles cuja identidade fosse indevidamente revelada considero ser este, de entre os vários que os maçons juram guardar, o único segredo verdadeiramente digno desse nome.

Blog “A Partir Pedra” – Texto de Paulo M.

VAIDADE DE VAIDADES, TUDO É VAIDADE!



Quando ainda era aluno do antigo 2° grau tive um professor de Geometria Descritiva, chamado Enio que me ensinou a seguinte frase:

“O importante não é o anel de grau e sim o grau do anel”, isso quer dizer que não adianta a ostentação de símbolos se eles não correspondem ao conhecimento adquirido.

E o que isso tem a haver com a maçonaria? Resposta tudo!

É comum encontrar Irmãos com o peito cravado por inúmeras medalhas, que comparecem as Sessões Magnas parecendo verdadeiras árvores de Natal.

Será que eles possuem o mérito dessas comendas?

Tenho observado que muitos Mestres, ao serem chamados para cumprirem alguma tarefa, não sabem nem pegar e conduzir uma espada.

As Lojas pecam e muito na transmissão do conhecimento, poucas se dedicam a exigir dos aprendizes e companheiros méritos para ascensão dos graus, quando fazem, cobram decoreba de questionários e trabalhos que hoje são encontrados, facilmente, na internet.

O sentido, o porquê das coisas e dos símbolos é negligenciado.

Mestres apresentando trabalhos? Nem pensar!

Tenho notado que Companheiros, que ao atingirem ao grau de Mestre, são imediatamente convidados para fazerem os graus, considerados filosóficos.

Como assim, pergunto alguém recém exaltado, que nada conhece do grau de Mestre, e ainda pior, nem dos graus de Companheiros e Aprendizes, podem fazer os graus superiores?

Como combater a vaidade se ela é tão exposta para que todos a vejam.

Nem eu e ninguém somos donos da verdade e do conhecimento, devemos estudar sempre, não adianta ter chegado ao grau 33 sem nada saber, a Maçonaria é linda, e cabe aos seus membros se tornarem dignos de a ela pertencer.

Vamos estudar meus Irmãos, vamos deixar as comendas na gaveta, sejamos humildes e lutar pela divulgação do que ela nos ensina.

Paulo Edgar Melo
Membro da ARLS Cedros do Líbano, 1688 - GOB-RJ
Miguel Pereira - RJ
   

 
   



O MESTRE E A LUTA CONTRA A VAIDADE



“O segredo da sabedoria, do poder e do conhecimento é a humildade” Ernest Hemingway

Tomo a liberdade de partir do pensamento do Grande Ernest Hemingway para suscitar as reflexões que se seguem:

Muitas vezes esquecemo-nos que as nossas diferenças de graus são “simbólicas” e cometemos o grave equívoco de não discernirmos o que se trata de simbologia do grau com outros conhecimentos e temas que deveriam ser fraternalmente debatidos entre quaisquer Maçons, independente do seu grau simbólico ou filosófico.

Certamente que a nossa Ordem é uma Escola para a Vida e, numa instituição voltada para o aperfeiçoamento moral do homem (e, consequentemente, da humanidade) faz-se necessária uma estrutura onde o mais experiente orienta o caminho do mais novo na Ordem. Isto é ponto pacífico.

Sem dúvida alguma a estrutura hierárquica de cargos e graus “simbólicos” merecem o nosso mais profundo respeito e reverência, pois, em tese, trazem consigo a vivência e, em muitos casos, um vasto conhecimento desenvolvido com a prática na Arte Real e, aos amantes da leitura, com muito estudo e pesquisa.

Mas, meus queridos Irmãos, volume de conhecimento está longe de se traduzir automaticamente em sabedoria, verdadeira “Pedra Filosofal” que torna o caminho humano mais suave. Insira milhões de dados num supercomputador e depois coloque-o frente a situações que exijam compaixão, resiliência, intuição, tolerância ou interpretações das nossas normas que exijam algo diverso da meramente literal (sem entrar no mérito das imperfeições existentes na nossa legislação). Certamente que nos decepcionaríamos com o resultado.

Alguns vão contra-argumentar acenando com a Inteligência Artificial e a Aprendizagem da Máquina, e tantas outras áreas correlatas do conhecimento que emergem com força colossal nos nossos dias. Não duvidamos que este dia possa chegar. Mas penso não ter tempo de vida suficiente para ver a ciência substituindo a sensibilidade humana por algoritmos inteligentes.

Estamos falando de seres humanos, da relação entre um Mestre Experiente e um Aprendiz, via de regra, atordoado com o oceano de informações disponíveis à sua frente.

A nossa Ordem é muito sabia ao testar a nossa vaidade com títulos, cargos, jóias, paramentos e graus. Sábio também é aquele Irmão que resiste a estas tentações e se vigia para nunca se esquecer da imaculada brancura e  beleza do nosso primeiro avental.

Na formação do Aprendiz, futuro Companheiro, futuro Mestre, futuro Venerável e assim por diante, precisamos ter a humildade de compreendermos que a edificação do conhecimento se faz de forma horizontal, lado a lado, olho no olho e não com o olhar superior de quem se dirige a um Irmão de grau “simbolicamente” inferior como se olhasse um súbdito ou um subalterno dentro de um quartel.

Infelizmente Irmãos falam de hierarquia (fator extremamente necessário na nossa ordem), mas sem compreenderem o momento correto em que ela se faz necessária. São nestes momentos onde a sabedoria verdadeira se faz presente e mostra os seus doces frutos.

O Modelo vertical e unidirecional de “transmissão” Professor-Aluno já deu provas da sua obsolescência. O verdadeiro educador cresce junto com o seu educando, pois o processo de qualquer aprendizagem é uma troca de saberes. Uma verdadeira “construção” onde o Mestre cerra fileiras com o seu Aprendiz, demonstrando a humildade necessária aos grandes homens.

Excetuando, obviamente, os temas resguardados pelo sigilo dos graus simbólicos, a generosidade no compartilhar das informações deve ser uma constante. Como Mestre sinto a necessidade gritante de compartilhar o pouco conhecimento que julgar útil ao meu Irmão.

Não importa se este conhecimento foi obtido à custa de muitas e muitas horas de pesquisa, estudo, leituras e buscas. Se não pudermos compartilhar conhecimento útil com os nossos Irmãos, se não pudermos tornar a vida deles um pouco melhor, de que terão me servido tantas leituras?

Os nossos neófitos, meus Irmãos, felizmente, tem sido recebidos nas nossas fileiras cada vez mais preparados. Iniciados com vivência e formação profana muitas vezes superior às do seu Iniciador! Mentes que não se conformam mais com respostas dogmáticas ou do tipo “Você vai saber quando chegar à hora!”, muitas vezes usadas como subterfúgio para a ignorância de quem é questionado.

É muito melhor e mais digno dizer: “Meu Irmão, eu não sei, mas vou pesquisar e esforçar-me para encontrar a resposta”.

Sejamos mais humildes de verdade, meus Irmãos! Aprendamos a usar o Nível sobre as nossas cabeças! Lembremo-nos do que somos feitos! Ossos! Quebradiços e destinados ao pó da igualdade!

Assim contribuiremos verdadeiramente para que os nossos Aprendizes tenham exemplos de virtudes calcadas na maior delas: a Humildade Verdadeira! Alicerce sólido para se erigir a Grande Obra.

Finalizando e agradecendo a fraternal atenção dos Irmãos, deixo uma frase atribuída ao Mestre Nazareno, que, com o devido respeito e deferência a todas as orientações religiosas, traz, para os nossos corações e mentes, o calor de uma serena reflexão.

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”
(Jesus, o Cristo)

Mario Vasconcelos
A
R L de Pesquisa Maçônica Quatuor Coronati São Paulo – nº 333


LIVRE ARBÍTRIO NA MAÇONARIA



O ser humano é livre para agir e o faz aplicando o livre-arbítrio, o que implica dirigir seu comportamento de um extremo a outro ou de bem a mal, de acordo com as informações armazenadas a priori em nosso subconsciente.

Maçonicamente falando, nosso comportamento deve buscar o equilíbrio entre esses dois extremos, para manter um equilíbrio mental.

O livre arbítrio seria definido como o poder de qualquer ser humano de tomar qualquer decisão, sem qualquer impedimento. Em outras palavras, o ser humano não tem um destino específico, indeterminado ou livre arbítrio, há um problema entre o determinismo e o livre arbítrio.

O futuro pode ser moldado pelo comportamento de hoje, se não, não faria sentido, manter nosso comportamento dentro dos parâmetros ético-morais e buscar o auto-aperfeiçoamento, enquanto nós deixaríamos a vida passar diante de nós como animais, sem ser capaz de prever o futuro.

Este tema está no campo da responsabilidade do homem e da utilidade do esforço diário.

É dever de o maçom superar o homem comum que encontramos em todos nós, renascer e buscar em nós mesmos aquele Ser Humano que é a sua própria superação, sendo esse caminho totalmente pessoal e marcado por influências externas, mas levando aqueles que servem, descartando aqueles que não servem no caminho traçado na viagem que empreendemos. (Sarmiento. 2005: 01).

Aldo Lavagnini, com base no livre arbítrio, argumenta que, como consequência, o livre-arbítrio e a liberdade individual existem para o homem em proporção ao desenvolvimento de sua Inteligência e seu julgamento.

Para o homem inteiramente dominado por suas paixões, instintos, vícios e erros, não há livre-arbítrio, como existe para o homem iluminado e virtuoso.

Os instintos e as paixões determinam constantemente suas ações, bem como as do animal, e o ligam ao jugo de uma fatalidade que é a consequência lógica ou a concatenação de causas e efeitos, isto é, a reação dupla interna e externa de toda ação.

Mas para aqueles que constantemente se esforçam para dominar suas paixões, constantemente escolhendo o mais justo, justo e elevado, o livre arbítrio, no sentido mais amplo da palavra, é uma realidade, porque através desse esforço ele se liberta dos elos que ligam o homem instintivo aos seus erros e paixões: ele sabe que a verdade e a verdade o libertam. (Lavagnini. P: 42)

É um mito falar de livre-arbítrio no mundo de hoje, porque nossos comportamentos estão condicionados a controles sociais, exercidos pelo Estado, religião, mídia, propaganda, etc.

Esses controles sociais sugerem indivíduos e a massa, afetando nosso livre-arbítrio, porque afetaram nossa capacidade livre de escolha. O pesquisador Mark Hallett diz que “o livre-arbítrio não existe, mas é uma percepção, e não um poder ou uma força motriz”.

As pessoas experimentam o livre arbítrio. Tem a sensação de estar livre. Quanto mais você examina, mais você percebe que não tem, ”ele disse. Essa ideia já havia sido levantada desde que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer disse como Einstein, que “um ser humano pode fazer o que quer, mas não quer o que quer.

A Maçonaria nos ensina a sermos nós mesmos e não somos perfeitos, para sermos nosso próprio templo interior.

Temos o potencial de criar seres humanos livres ou oprimidos, tendo que nos alimentar de pensamentos que nos ajudam a fortalecer nosso templo interior, descartando o negativo, em busca da verdade.

Temos livre arbítrio para escolher entre virtudes e vícios, entre o bem e o mal. O estudo da simbologia maçônica transmite sabedoria e segurança em nosso comportamento e ajuda a agredir as bordas negativas de nossa pedra bruta, facilitando a prática das virtudes, em nossa vida cotidiana.

A Maçonaria exige dos seus membros evolução, ética, moralidade e colocá-la em prática, para andar em linha reta. Finalmente, o livre-arbítrio deve ser usado sem afetar outro ser humano, que também tem a mesma liberdade de tomar decisões, porque, do contrário, estaríamos colocando nossa sobrevivência em risco, devido ao fato de que a parte lesada poderia tomar decisões prejudiciais algum de nós.

Por Roberto Macedo Mayo
BIBLIOGRAFIA Sarmiento Carlos. Verdade e Livre Arbítrio na busca por Maçom. Lavagnini Aldo. Maçonaria aliviada. Manual complementar. Terceira edição Fonte: Diário Maçônico

COMO VENCER NA MAÇONARIA… SEM FAZER FORÇA




Depois de muitos anos na Maçonaria, vendo carreiras meteóricas e ascensões fulminantes de homens medíocres, sem cultura geral e maçônica, sem vivência dentro da Instituição e sem trabalhos de vulto, em benefício dela, creio que posso dar, aos novos maçons, que queiram enquadrar-se nessa situação, a receita de como possuir altos graus e cargos elevados, sem o tempo necessário e legal e sem fazer força.

É claro que esta receita é apenas para as mediocridades, que não possuem capacidade suficiente para subir pelos seus próprios méritos. Eis as regras, bem simples:

Faça muitos exercícios de contorcionismo, para que a sua coluna vertebral se torne bastante flexível, permitindo desta maneira, grandes curvaturas aos que lhe são hierarquicamente superiores dentro da Ordem.

Exercite também os seus joelhos, para que eles aguentem as genuflexões aos detentores do poder.

Acostume a sua cabeça a balançar, apenas no sentido vertical e nunca no horizontal, para que possa concordar com tudo o que os seus superiores hierárquicos, na Loja, ou na Obediência, desejarem.

Bater palmas aos que estão acima, ajuda sempre: exercite as mãos.

Seja sempre o primeiro no cortejo da bajulação, no cordão dos “engraxadores” dos detentores dos poderes simbólicos e dos altos graus, desde que, é óbvio, eles gostem de bajulações.

Nunca diga “não”. Seja como a boa prostituta e concorde com tudo, pois negócio é negócio.

Seja sempre bonzinho com todos, fale mansa e suavemente, sem nunca alterar a voz: não dê palpites, não emita opiniões, não queira dar demonstrações de cultura e todos acharão que você é o máximo.

Procure conseguir alguns titulozinhos “profanos”; mesmo sabendo que a mediocridade não merece títulos, rastejando e implorando é possível consegui-los. O trabalho compensa, pois os títulos, mesmo imerecidos, impressionam os basbaques.

Acima de tudo, e esta é a regra principal, esteja sempre com quem está por cima. Se, todavia, aquele que estiver por cima vier a cair, não hesite em ser volúvel; mude de amo, pois a sua vaidade terá que ser maior que a sua dignidade.

Não seja independente, pois Maçom independente só sobe pelos seus próprios méritos e com esforço; além de tudo, independência é apanágio de quem tem dignidade, brio e não é medíocre, não precisando, portanto, de todas estas regras.

Seguindo estas dez simples regras, é possível, em pouco tempo, chegar aos mais altos graus (neste caso, uma boa conta bancária também ajuda), em detrimento de Irmãos mais antigos e mais capazes, e subir aos altos cargos simbólicos, com exceção do Grão-Mestrado, pois os títeres só servem para sustentar os Grão-Mestres e nunca para lhes tomar o lugar.

Quem fizer tudo isto, será logo um figurão dentro da Instituição e mesmo que não possua suficiente cultura, será um bom enganador, pois todos acharão que a possui.

A existência destes figurões fabricados é, todavia, motivo de grande desgaste, para a Maçonaria, pois ela repete, no caso, um dos grandes erros da sociedade “profana”, que  é a inversão de valores; além disso, ocupando altos cargos na Ordem e sendo reconhecidos como medíocres lá fora, eles depõem contra a própria Instituição.

Há alguns anos, um amigo e Irmão “adormecido”, portador de vasta cultura e reconhecidamente capaz, perguntou-me, a respeito de um conhecido comum nosso: – “Qual é o cargo que Fulano ocupa no Grande Oriente?” Quando eu lhe respondi, ele, atônito, exclamou: – “Puxa! Esse indivíduo, multiplicado por dois, não forma meio burro! Como vai mal a nossa Maçonaria!” – Era tolice eu tentar explicar como o “indivíduo” conquistou o cargo. Ficaram apenas a vergonha e o desencanto, próprios de quem é Maçom de brio e não gosta de ver deturpada a imagem da Maçonaria Nacional.

Em 1974, como responsável pelo Boletim da Loja “Lealdade à Ordem”, da qual fui idealizador e fundador, fiz uma crítica, abordando a mediocridade da assessoria do Grande Oriente de São Paulo ligado ao GOB, já que é notório que os cargos de confiança nem sempre levam em conta a capacidade, mas servem, mais, para premiar “os amigos do rei”.

A crítica tinha destinatário certo: era dirigida a dois “Grandes” Secretários; todavia, todos enterraram a carapuça até os joelhos. O Grão-Mestre estadual da época disse-me, então, que eu tinha ofendido a toda a cúpula. Ora, se toda a tal cúpula se sentiu “ofendida” é porque eu, realmente, me enganara: a mediocridade era total e não de apenas dois Secretários, pois quem não era realmente medíocre, não poderia se sentir atingido. Certamente todos seguiam o conselho da sabedoria antiga “Nosce te ipsum” (tradução latina da inscrição grega encontrada no frontispício do templo de Apolo, em Delfos), que significa: “Conhece-te a ti mesmo”.

Com o conhecimento deste fato, muitos poderão perguntar-me se a atual crítica também tem endereço certo. E eu responderei, imitando um antigo político brasileiro: “Nem sim, nem não, muito pelo contrário; deixemos aos pavões o benefício da dúvida”. Os homens brilhantes, que estão nos altos escalões da Maçonaria Nacional e que representam a maioria, não se sentirão atingidos. O resto? Bem, o resto… é o “resto”!

Cabe, aqui, entretanto, uma advertência final: não confundir subserviência com fidelidade, pois qualquer Maçom pode ser fiel a um dirigente maçônico,  sem ser servil, sem se desfazer da vontade própria, sem prostituir a sua consciência e sem ter a docilidade de um fantoche.

A fidelidade consiste em dar apoio, mas não aplaudir e avalizar os erros, pois o verdadeiro amigo, o amigo fiel, chama a atenção para os erros e suas consequências, impedindo que eles sejam cometidos.

Um Grão-Mestre democrático ouve os que o cercam e toma as suas resoluções de acordo com a maioria, formando uma liderança coletiva, base e sustentação da moderna democracia.

Uma assessoria que, por mera adulação, se comporta como um rebanho de carneiros, é altamente perniciosa, é a negação da liberdade de consciência, é o primeiro passo para uma nefasta ditadura, incompatível com o espírito maçônico de LIBERDADE.

José Castellani


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