O APRENDIZ QUE SE TORNOU UM MESTRE


Havia uma vez um aprendiz que sonhava em se tornar mestre maçom. Ele admirava os mestres que conhecera em sua loja, e desejava aprender os segredos e mistérios que eles guardavam. Ele se esforçava em cumprir as tarefas que lhe eram designadas, e em assimilar os ensinamentos que lhe eram transmitidos. Mas ele não se contentava com isso. Ele queria mais. Ele queria saber o que havia por trás dos símbolos, das alegorias e dos rituais da ordem. Ele queria descobrir o que fazia dos mestres maçons homens sábios e virtuosos.

Um dia, ele tomou coragem e foi falar com o seu venerável, o líder da sua loja. Ele lhe perguntou, com respeito e humildade, o que ele precisava fazer para se tornar um mestre maçom. O venerável olhou para ele com bondade e lhe disse:

- Meu filho, para se tornar um mestre maçom, você precisa estudar os símbolos, as alegorias e os rituais da ordem, e praticar as virtudes maçônicas de fraternidade, tolerância e beneficência. Você precisa trabalhar constantemente e perseverantemente na busca da verdade e do aperfeiçoamento.

O aprendiz ficou surpreso com essa resposta. Ele pensou que o venerável lhe diria algo mais profundo e revelador. Ele pensou que o venerável lhe confiaria algum segredo ou mistério que ele deveria conhecer para se tornar um mestre. Ele pensou que o venerável lhe daria alguma prova ou desafio que ele deveria superar para se tornar um mestre.

Ele não se conformou com a resposta do venerável. Ele achou que o venerável estava escondendo algo dele. Ele achou que o venerável não confiava nele. Ele achou que o venerável não queria que ele se tornasse um mestre.

Ele resolveu procurar outro mestre que pudesse lhe revelar os segredos e mistérios da maçonaria. Ele deixou a sua loja de origem e partiu em uma jornada pelo mundo. Ele visitou muitas lojas e países, e conversou com muitos mestres de diferentes origens e tradições. Ele fez a mesma pergunta a todos eles: o que eu preciso fazer para me tornar um mestre maçom?

Mas em todos os lugares que ele foi, ele recebeu a mesma resposta: para se tornar um mestre maçom, você precisa estudar os símbolos, as alegorias e os rituais da ordem, e praticar as virtudes maçônicas de fraternidade, tolerância e beneficência. Você precisa trabalhar constantemente e perseverantemente na busca da verdade e do aperfeiçoamento.

O aprendiz ficou cada vez mais frustrado e decepcionado com essa resposta. Ele não entendia como isso podia ser suficiente para se tornar um mestre maçom. Ele não entendia como isso podia ser tudo o que havia na maçonaria. Ele não entendia como isso podia ser o segredo e o mistério da maçonaria.

Ele continuou a sua busca por muitos anos, mas nunca encontrou o que procurava. Ele nunca encontrou um mestre que lhe revelasse os segredos e mistérios da maçonaria. Ele nunca encontrou um mestre que lhe dissesse algo diferente do que o seu venerável lhe havia dito.

Ele começou a perder a esperança e a fé na maçonaria. Ele começou a duvidar de si mesmo e dos outros. Ele começou a se sentir sozinho e vazio.

Ele decidiu voltar à sua loja de origem, já velho e cansado. Ele queria pedir perdão ao seu venerável por ter duvidado dele, e reconhecer que ele tinha razão. Ele queria voltar ao seu lugar de aprendiz, e recomeçar do zero.

Ele chegou à sua loja de origem depois de muito tempo. Ele encontrou o seu venerável ainda vivo, mas já muito idoso. Ele se aproximou dele com reverência e lhe disse:

- Meu venerável, eu vim lhe pedir perdão por ter duvidado de você, e reconhecer que você estava certo. Eu viajei pelo mundo inteiro em busca dos segredos e mistérios da maçonaria, mas nunca os encontrei. Eu percebi que você me disse a verdade desde o início. Eu percebi que eu desperdicei a minha vida em uma busca vã. Eu percebi que eu me afastei do verdadeiro caminho da maçonaria. Eu quero voltar a ser seu aprendiz, e recomeçar do zero.

O venerável olhou para ele com amor e lhe disse:

- Meu filho, você não precisa me pedir perdão, nem se arrepender do que fez. Você fez o que achou que devia fazer. Você seguiu o seu coração. Você buscou a luz. Você não desperdiçou a sua vida, mas a enriqueceu com experiências e conhecimentos. Você não se afastou do verdadeiro caminho da maçonaria, mas o percorreu de uma forma diferente. Você não precisa voltar a ser meu aprendiz, pois você já se tornou um mestre.

O aprendiz ficou confuso e lhe perguntou:

- Como assim, eu já me tornei um mestre? Eu nunca descobri os segredos e mistérios da maçonaria. Eu nunca fiz nada de extraordinário ou digno de nota. Eu nunca me senti um mestre.

O venerável sorriu e lhe disse:

- Meu filho, você já descobriu o maior segredo e mistério da maçonaria: que não há segredo nem mistério. Você já fez algo de extraordinário e digno de nota: você se manteve fiel à sua busca pela verdade e pelo aperfeiçoamento. Você já se sentiu um mestre quando compreendeu que o único trabalho da maçonaria é o trabalho de si mesmo.

O aprendiz ficou emocionado e lhe perguntou:

- Então, isso é tudo? Isso é o que significa ser um mestre maçom?

O venerável abraçou-o e lhe disse:

- Sim, meu filho, isso é tudo. Isso é o que significa ser um mestre maçom.

E assim termina a história do aprendiz que se tornou um mestre maçom.

 

A SIMBOLOGIA DA CAPELA DOS OSSOS E A CÂMARA DE REFLEXÃO


 

“Pensar que as coisas desta vida hão de durar sempre, é escusado. Até parece que anda tudo à roda: à Primavera segue-se o Verão, ao Verão o Outono, ao Outono o Inverno, ao Inverno a Primavera, e assim o tempo gira nesta roda contínua. Somente a vida humana corre para o seu fim mais ligeira do que o tempo, sem esperar renovar-se, a não ser na outra, que não tem fins que a limitem.”

Trecho do Capítulo LIII do Livro O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha. Edição Especial 400 anos, Lisboa, Portugal.

Na cidade mais antiga de Portugal e uma das mais remota da Europa, Évora, pouco mais de 100 km de Lisboa, cuja fundação dá-se à época do domínio romano, encontramos alguns monumentos erguidos por mestres construtores, como o Templo a Diana, e a Igreja de São Francisco.

Nesta, em um anexo, está erguida a Capela dos Ossos construída no século XVII por frades franciscanos, estes teriam chegado a Évora em 1224, oriundos da Galiza e quando Francisco de Assis ainda era vivo.

Certamente, o que chama e atrai atenção de todos os turistas que visitam a cidade de Évora é a Capela dos Ossos. Sua construção teve um único objetivo, chamar a atenção dos visitantes, pois, sendo uma construção muito peculiar, suas paredes e pilares foram revestidos por milhares de ossos e crânios humanos.

Toda a ossada fora retirada dos mais de 40 cemitérios abandonados que existiam na região de Évora e que ocupavam muito espaço na cidade.

Desta forma, os monges em um trabalho hercúleo, requisitaram as ossadas e como dito, querendo chamar os olhares de todos, sobre a brevidade da vida humana e sua transitoriedade, encontraram uma forma única e tocante, revestir a Capela com ossos e crânios, criando um espaço de reflexão sobre a vida.

 É certo que se tornou um local turístico, alguns destes, com olhar de pura curiosidade histórica, outros tem uma visão mais espiritualista, mas, a Capela dos Ossos, cumpriu fielmente o objetivo inicial dos frades, um espaço para meditação e estímulo à humildade e mais ainda, queriam mostrar a todos os visitantes que tudo na Terra é impermanente.

Cabe ainda destacar o aviso, que está no frontispício da Capela, “Nos ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”, ou seja, mais uma mensagem de que a vida é transitória e breve.

Saindo de Évora, deixando a Capela dos Ossos, vamos ao encontro de outra construção, se assim podemos dizer, que não está aberta à visitação, e a qual só pode ser adentrada, por pessoas que passaram por um processo de seleção criterioso.           

Estamos falando da Câmara de Reflexão, espaço físico que fica dentro de uma Loja Maçônica, lugar este sigiloso onde cada um deve entrar uma única vez em sua vida maçônica. A sua origem remonta ao Egito Antigo, e tem como simbologia bem próximo daqueles da Capela dos Ossos.

Naquela, o espaço é preparado sob luz tênue onde estão expostos símbolos e frases de impacto e reflexão, na qual, o candidato a iniciação, o profano, tem o primeiro contato com a simbologia maçônica, tais como: o pão e a água, o enxofre e o sal, a ampulheta, o testamento, o galo, a foice, os símbolos da morte (esqueleto e um crânio humano).

Importante destacar que cada objeto ou frases (nem mais, nem menos) que estão nesta sala tem o seu significado maçônico, e que o iniciado uma vez recebendo a Luz da Verdade, isto é, tornando-se um Aprendiz Maçom, seguirá os estudos dos mesmos nos Graus seguintes.

 Frise-se nenhuma pessoa é admitida na Maçonaria se não passar um tempo na Câmara de Reflexão. A Câmara, nas palavras de Sérgio Couto:

É definida como um recinto com paredes e teto pintados de negro, com uma mesa e um banco toscos. Na mesa são encontrados uma ampulheta, um tinteiro com uma caneta, um crânio humano, um vaso com sal, velas e papéis que devem estar preenchidos. Quando a porta de tal lugar é fechada, não é possível ouvir nenhum ruído externo. A pessoa que lá está deve ler algumas instruções que estão nos cartazes e papéis da mesa.

O silêncio incita a meditação, e o cheiro de mofo mais os símbolos mortuários impressos nas paredes servem para lembrar que a morte chega para todos os vivos. Dessa maneira, o maçom terá certeza de que retornou ao “ventre materno” da Terra e que deve “renascer” para novas compreensões. (COUTO, 2009, pág. 58 grifos nosso)

Simbolicamente um dos objetivos dessa passagem pela Câmara é exatamente a que os monges Franciscanos da Capela dos Ossos tinham em mente, isto é, a reflexão sobre a brevidade da vida e que a morte é inevitável e ainda que devemos viver com humildade.

Findando essas breves reflexões, deixando a Capela dos Ossos e a Câmara de Reflexão, retorno novamente a Portugal, agora não em Évora, mas sim, no ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998, José Saramago.

Em sua obra As Intermitências da Morte, Saramago, nos traz importantes reflexões sobre a morte, e, em apertada síntese, conta-se que a morte deixou de acontecer em um pequeno país. A alegria tomou conta de toda a população, mas, logo em seguida começaram a perceber o grande problema que acarretaria com a greve da morte.

A certa altura da narrativa, temos a preocupação de um padre que diz “sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja”.                   

Mais à frente: “As religiões, todas elas, por mais voltas que lhe dermos, não têm outra justificativa para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca.” A grande mensagem que fica da obra de Saramago é: “a morte é necessária para todos”.

Meus queridos II todos nós já passamos pela Câmara de Reflexão, talvez poucos conhecem a Capela dos Ossos e reduzido leitores conheceram a obra citada, e, nas palavras de Saramago, “Se não voltarmos a morrer não temos futuro”, cabe a seguinte reflexão: nós maçons já experimentamos a “primeira morte” e “estamos nos preparando para a segunda?” 

Antônio Marcos Teodoro Silva

Aprendiz Maçom CMI 333589

ARLS – Adelino Ferreira Machado nº 1957 

Bibliografia:

SARAMAGO, José. As Intermitências da Morte. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2005.

COUTO, Sérgio Pereira. Dicionário Secreto da Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2009.

A capela da humildade, de Eugênio Mussak, da revista Vida Simples, edição 194, de abril de 2018, ed. Caras.

Disponível em: https://www.visitevora.net/capela-ossos-evora/. Acesso em 10/03/2023 às 16:44h.

Disponível em: https://igrejadesaofrancisco.pt/capela-dos-ossos/. Acesso em 10/03/2023 às 16:57.

 

O PERFIL E O SEGREDO DE UM VENERÁVEL JUSTO E PERFEITO


 

Antes de mais, importa esclarecer que o cargo de Venerável Mestre não deve ser encarado como um passo inevitável no percurso de um maçon. Pretendo com isto dizer que, eventualmente, nem todos os maçons chegarão a ser VV:. MM:., já que o critério de escolha deve ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade.

Anualmente é eleito pelos seus pares um novo Venerável Mestre que, entusiasmado pelo cargo, cheio de enorme boa vontade e responsabilidade, prepara o seu programa de atividades, nem sempre o conseguindo cumprir com o êxito desejado. Isso pode ser visto através da forma como a Loja evolui ao longo do Veneralato:

pelo nível de envolvimento e adesão dos IIr:. às atividades da Loja,

pelo nível de indiferença ou ausências às Sessões;

pelo nível de não cumprimento de compromissos junto do Tes:.,

pela falta de apoio, comprometimento, incompreensão e afastamento de alguns Irmãos.

Formalmente falando, o V:.M:. deve ser um homem sensato, de conduta irrepreensível, com as qualificações para ensinar e para aprender a desempenhar muito bem a sua função. É preciso iniciar a jornada pela base, pelo estudo, de modo a não nos faltar a paz, o equilíbrio e a tolerância para discernir quem será o melhor candidato.

Um brilhante orador, professor, empresário, médico, juiz ou advogado, nem sempre pode ser qualificado para “guia dos Irmãos” de uma Loja Maçônica. Ter um nome famoso, riqueza e posição social, dispor de força ou de autoridade, não são qualificações para este fim.

Devemos ter a certeza de que ele possui conhecimentos maçônicos, compreensão e prática da fé raciocinada que deverá utilizar para facilitar a jornada evolutiva de todo o quadro de obreiros da Loja. Devemos também assegurar-nos de que tem a vontade “correta” para desempenhar este cargo.

A vaidade pode conduzir um homem a considerar-se poderoso e infalível; porém, os mais avisados sabem que na Maçonaria não existem “poderosos e infalíveis” e, sendo uma fraternidade, não há outra Instituição onde melhor se aplique o lema: “liberdade, igualdade, fraternidade”.

Um dos problemas internos das Lojas é que muitos Irmãos mais presunçosos e despreparados, depois de serem exaltados, deixam de estudar, achando que atingiram a “Plenitude Maçônica”.

Estes são os primeiros a tentar encontrar vias rápidas e alternativas para serem candidatos ao cargo de V:.M:., tendo sucesso em Lojas que, sem critérios ou cuidados, promovem a sua eleição, propiciando o desrespeito pelas tradições da Ordem por pura omissão, conivência ou até cobardia.

Outras vezes Irmãos, por melindres, intrigas, ou apenas pela satisfação de vaidades pessoais ou birra, indicam candidatos para o “trono de Salomão”, somente em função dos seus relacionamentos.

Estes candidatos, uma vez eleitos e empossados, pouco contribuem para a Ordem Maçónica e/ou para a Loja, tendem a banalizar a ritualística, ou a achar que mudar e inventar futilidades é sinônimo de modernização e inovação.

É necessário que meditem sobre a disciplina que envolve o estudo, a reflexão em torno dos princípios maçônicos, e o empenho responsável de renovação do verdadeiro maçon.

O que devemos fazer para ajudar a impedir o sucesso desses insensatos que faltam à fé jurada?

Percebendo qual será o seu “programa administrativo ou de trabalho”;

Vendo o modo como se comportaram nos cargos exercidos nos últimos anos;

Avaliando se aprenderam a lidar com o diferente;

Percebendo que grau e que tipo de envolvimento têm com a Loja e com os IIr:..

Considerando o seu carisma, ou seja, as suas qualidades de liderança.

É imprescindível ter também em consideração aspectos como, o conhecimento doutrinário; se chefia a sua família de forma ajustada; se dispõe de tempo disponível que possa dedicar à Loja e à Ordem, sem com isso prejudicar a sua atividade profissional e familiar, etc. Quanto mais claramente conseguirmos ver as qualidades do candidato, mais valioso ele se torna para nós.

Somando o conjunto destas e de outras qualidades, podemos avaliar se, no seu conjunto, o candidato reúne o necessário para assumir este desafio.

Uma escolha apressada de alguém desqualificado poderá trazer resultados muitas vezes desastrosos. Não bastam anos de frequência às reuniões ou a leitura de alguns livros maçônicos, para se dominar o conhecimento exigido.

Para desempenhar este cargo, é preciso estudar – única forma de alcançar o conhecimento necessário – porque aprender é, evidentemente, um ato de humildade. Mas para adquirir sabedoria, é preciso observar. Só assim conseguiremos, ao invés de colocar o homem no centro de tudo, descobrir o tudo que está no centro do homem.

Para desempenhar este cargo, é preciso também “estarmos envolvidos”; é preciso preocuparmo-nos com os nossos IIr:., com a Loja em si mesma, com a Ordem, etc. Em resumo, é preciso sentirmos que o nosso percurso está intimamente ligado a todos os que de alguma forma se relacionam, direta ou indiretamente, com a Loja. Desempenhar as funções de Venerável Mestre implica reconhecer quem são estes “stakeholders”, e investir no reforço das suas ligações à Loja e entre eles próprios.

O candidato, quando preparado e com o perfil adequado, pode desempenhar esta missão, conduzindo-a com mãos suficientemente fortes para afagar e aplaudir; sabedoria para ensinar e modéstia para aprender, e por este conhecimento, fazer-se paciente, puro, pacífico e justo; adquirindo a aptidão para reconhecer o seu limitado poder e abundantes erros; a sua capacidade e suas falhas; os seus direitos e deveres; dispor de força para, ciente de tudo isso, libertar-se das paixões humanas e assim adquirir a antevisão e o equilíbrio necessários para se livrar dos obstáculos no seu Veneralato, levando Paz, Amor Fraternal e Progresso à sua Loja.

O Venerável Mestre escolhido tem que ser um líder agregador que entusiasme os seus Irmãos pela sua dedicação e abnegação à Maçonaria. Os grandes Mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita benevolência. Tratam os Ilr:. da forma como desejam ser tratados e ajudam-nos a serem o que são capazes de ser: filhos amados do Grande Arquiteto do Universo, portanto IRMÃOS.

O Venerável Mestre precisa compreender que assiste ao outro o direito de ter uma opinião divergente da sua. Deve procurar criar uma empatia com o crítico, ver o assunto do ponto de vista dele, manifestando entender o seu sentimento. Sendo todos iguais, ninguém é mais forte ou mais fraco e deixa que perceba isso. Só assim ele compreenderá que o seu direito de opinar (participar) está a ser respeitado.

Quando um Irmão necessita falar ouve-o; quando acha que vai cair, ampara-o; quando pensa em desistir, estimula-o.

A bondade e a confiança dos seus pares que o elevaram a essa posição de destaque, exige ser usada com sabedoria, aplicando-a no comprometimento da justiça, nunca na causa da opressão.

No desempenho de sua função terá sempre em consideração que ninguém vence sozinho, mas jamais permanecerá ofuscado pelas influências dos que o apoiaram ou se deixará dominar por qualquer tentativa de predominância.

Ele, como V:.M:., é responsável por tudo o que acontecer de certo ou de errado em sua Loja. Por mais que se queixe da “herança perversa recebida” do seu antecessor; de Iniciações de candidatos mal selecionados, fardos que agora estão a seu cargo; de Irmãos que faltam ao sigilo, à disciplina; da desorganização da Secretaria e da Tesouraria da Loja, que motivam contrariedades, causam prejuízos de ordem moral e monetária de difícil reajustamento. Perante um cenário destes, deve concentrar-se antes no que tem feito para modificar, agilizar e melhorar este quadro.

A condução de uma Loja dá trabalho, requer paciência, é como se fossemos tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. Deve ser feita com destreza, dedicação, vontade e habilidade.

Importa também perceber que temos nos nossos Irmãos os reflexos de nós mesmos. Cabe-nos, por isso mesmo tentar compreendê-los, pela própria consciência, para poder extirpar espinhos, separar as coisas daninhas, ruins, que surgem entre as boas que semeamos no solo bendito do tempo e da vida, já que que se não forem bem cuidadas serão corrompidas.

A atitude do Venerável Mestre pode ser descrita como um conjunto de diversos aspectos complementares:

Fraternidade – quando o Venerável Mestre lança a semente da união.

Consciência – quando nos convida a analisar os nossos feitos para reconhecer erros cometidos.

Indulgência – quando aos defeitos alheios pede paciência.

Amor – quando floresce um sentimento puro de amizade aos olhos de todos.

Bondade – quando convive com os nossos erros, incompreensões, medos, desânimos, perdoando de boa vontade.

Justiça – quando deixa que cada um receba segundo os seus actos.

Felicidade – quando nos lábios de um Irmão aparecer um sorriso, e outro sorri também, mesmo de coisas pequenas para provar ao mundo que quer oferecer o melhor.

Instrutor – quando valoriza a ritualística, o simbolismo, utilizando as Sessões Ordinárias como uma forma objetiva de instruir o Irmão, incentivando o estudo e a discussão de tudo que seja relevante para a Ordem em particular e para a sociedade em geral.

Mestria – quando estimula os IIr:. a apresentarem trabalhos de conteúdo, elaborados por eles, e recusa simplesmente cópias retiradas de livros, revistas ou Internet, e o que é ainda mais inconveniente, insensato e desastroso, o recurso do plágio, ou seja, à cópia ou imitação do trabalho alheio, sem menção do legitimo autor.

Mestre sim, porque, sempre independente, nunca perde a alegria, nunca se acomoda e, como fiel condutor que representa o grupo, que ocupa a primeira posição de comando, isto é, comanda (manda com) os seus liderados em qualquer linha de ideia, se assume como o líder. Quando ao sair das reuniões cada um de nós se sentir fortalecido na prática da Arte Real, do bem e do amor ao próximo, podemos apelidar o local de Loja Maçônica Regular, Justa e Perfeita.

Acabando a tristeza e a preocupação, surge então a força, a esperança, a alegria, a confiança, a coragem, o equilíbrio, a responsabilidade, a tolerância, o bom humor, de modo que a veemência e a determinação se tornam contagiantes, mas não esquecendo o perigo que representa a falta do entusiasmo que também contagia.

E, finalmente, quando se aproximar o final do seu Veneralato, deve fazer uma reflexão sobre quais foram as atitudes reais de beneficência que tomou; referimo-nos não só ao auxílio financeiro a alguma Instituição filantrópica, mas também ao “ombro amigo” na hora necessária, ou o empréstimo do seu ouvido para que as queixas fossem depositadas.

O Venerável Mestre nunca deve deixar de agradecer por ter sido a ferramenta, o instrumento de trabalho criado por Deus, usado como símbolo da moralidade, para trazer luz, calor, paz, sabedoria, beleza para muitos corações e amor sem medida no caminho de tantos Irmãos.

Ao encerrar o se mandato, é importante que consiga afirmar a todos os obreiros de sua Loja: “não sinto que caminhei só. Obrigado por estarem comigo. Obrigado por me demonstrarem quanto bem me querem. Eu também vos quero bem. Gostaria de continuar, mas é tempo de “passar o malhete” e dizer: MISSÃO CUMPRIDA!”

Nas nossas reflexões, que o amor desperte nos nossos corações e juntos, com os olhos voltados para frente, consigamos tenacidade para construir o presente e audácia para arquitetar o futuro, por isso, NUNCA DEVEMOS DEIXAR O NOSSO VENERÁVEL LUTAR E CAMINHAR SÓ!

Esta não é a enumeração exaustiva de todas as qualidades que distinguem o Venerável Mestre ideal, mas todo aquele que se esforce em possuí-las, estará no caminho que conduz a todas as outras.

Caro leitor, espero tê-lo ajudado a entender “O perfil e o Segredo de um Venerável Justo e Perfeito…”

Adaptado (de forma muito livre) de texto escrito pelo Ir:. Valdemar Sansão

 

ALTOS GRAUS MAÇÔNICOS


 

A formação de um maçom está formalmente concluída logo que concluída a cerimônia pela qual ele é elevado ao 3.º grau e assume a qualidade de Mestre Maçom.

Todos os “segredos” lhe estão transmitidos, todas as “lições” lhe estão dadas, o método maçônico de evolução é-lhe conhecido. A partir desse momento, o Mestre Maçom é um Aprendiz que aprende o que tem de aprender, como pretende, segundo as suas prioridades e preferências.

Acabou a sua aprendizagem e tem a sua “carta de condução”. Mas aprender o quê? Tudo o que lhe foi exposto, apresentado, mostrado.

Todos os símbolos, rituais, ornamentos, textos, que lhe foram fornecidos ao longo da sua formação. Não que tenha de saber esses textos de cor. Mas porque todos esses elementos são pistas, sinais, caminhos abertos à sua individual exploração.

Aonde conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À interiorização das virtudes e normas de comportamento e princípios que devem reger a conduta de um homem bom e justo e que procura aproximar-se o mais possível do conceito de homem perfeito. Por quê?

Porque crê que é esse trabalho, esse esforço, esse objetivo, o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da nossa existência, porque o nosso caráter, o nosso espírito, a nossa alma (chamasse-lhe o que se quiser) necessita desse esforço, desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e passar adiante (chamasse-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou Nirvana, ou o que se quiser).

Complementarmente à sua crença religiosa e em reforço e desenvolvimento desta, o maçom procura assim descortinar o inescrutável, entrever o sentido da vida e o Plano do Criador, cumprir a sua vocação.

Em bom rigor, para fazê-lo segundo o método maçônico não necessita de mais ferramentas do que as que lhe foram dadas ao longo da sua instrução como Aprendiz e Companheiro e na sua exaltação a Mestre.

Elas chegam, está lá tudo o que é necessário para que o homem bom que um dia bateu à porta do Templo se torne um homem melhor, um pouco melhor em cada dia que passa um tudo nada melhor do que no dia anterior e um não sei que pior do que no dia seguinte.

Para esse trabalho fazer, basta-lhe atentar e meditar e trabalhar nos conceitos e lições que recebeu explorar a miríade de símbolos e chamadas de atenção com que se deparou.

E tirar de cada meditação, de cada exploração, de cada esclarecimento, a respectiva lição e – mais e, sobretudo – aplicá-la na sua conduta de vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu trabalho e a obrigação de ensinar os que se lhe seguem – cedo descobrindo que será também ensinando que ele próprio aprende…

Mas alguns Mestres Maçons sentiam-se insatisfeitos, desconfortáveis. Até a sua exaltação, tinham tido um guia, uma cartilha, mentores, que auxiliavam o seu percurso. E, de repente, ainda inseguros, ainda tateando o seu caminho, os seus Irmãos largavam-nos ao caminho e diziam-lhes: “aí tens tudo o que precisas de ter para fazer o teu caminho! Procura, lê, estuda, medita, tenta, acerta, erra, quando errares volta atrás e tenta de novo até acertares.”

Não haveria maneira de guiar ainda o seu trabalho?

Não de conduzi-los, mas de fornecer como que um mapa, um guia, que facilitasse a sua tarefa?

Tudo bem que tudo o que havia a explorar e aprender já lá estavam no que lhe fora ensinado. Mas as alegorias têm de serem decifradas, os significados encontrados…

É certo que o trabalho tem de ser individual, mas… precisa absolutamente de ser tão solitário?

Está certo que cada Mestre Maçom deve procurar a sua Luz e, para o fazer, tem de se abalançar ele próprio a atravessar a escuridão, mas… não se pode dar-lhe nem uns fosforozinhos, nem umas velinhas, para ajudar a alumiar o caminho?

Cedo se chegou à conclusão que sim, que se podia. Que, embora cada um tivesse os meios de explorar o seu caminho, não havia mal nenhum em proporcionar a quem o quisesse um mapa, um guia, um roteiro, que desenvolvesse, paulatinamente, patamar a patamar, as noções que já estavam disponíveis para serem desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem através de um roteiro bem organizado.

E assim se desenvolveu aquilo a que hoje se chama Altos Graus. Nas derivas do Romantismo, muitos sistemas de altos Graus foram desenvolvidos.

De alguns deles ainda restam resquícios, tentativas de manutenção. Outros, entretanto desapareceram.

No mundo maçônico, nos dias de hoje, predominam dois sistemas de Altos Graus, do Rito Escocês Antigo e Aceito e do Rito de York. Outros são também praticados: do Rito Escocês Retificado, por exemplo.

Mas não se engane ninguém: ao percorrer qualquer desses sistemas (ou mais do que um), não se sobe não se fica mais alto, mais poderoso, superior.

Ao percorrer cada um dos sistemas de Altos Graus está-se a utilizar um guia de auxílio no nosso caminho individual. Cada grau não é um patamar.

É uma viagem de descoberta e estudo. E o grau seguinte não é um patamar superior. 

É apenas outra viagem de descoberta e estudo. De que se volta para de novo partir, seja para reestudar a mesma lição, para reestudar lição anterior, ou para explorar nova lição.

E, a todo o momento, o Mestre Maçom pode decidir fazer nova viagem segundo o seu roteiro (e tomar novo grau) ou explorar por sua conta própria. Ou fazer ambas as coisas…

A Maçonaria é um caminho de conhecimento, iluminação e aperfeiçoamento. Que cada um percorre como quer. Às vezes com roteiro.

Às vezes sem guia. Uns de uma maneira. Outros de outra. Nem sequer, bem vistas às coisas, o mais importante é o destino. Importante, importante mesmo, é afinal a viagem e o que se retém dela!

Rui Bandeira

 

O EDUCADOR MAÇÔNICO


 

O cidadão que bate na porta de um templo da Maçonaria em busca da luz, a educação que leva à sabedoria, aguarda que a ordem maçônica possua um método de ensino que o transformará em homem melhor do que já é.

Isto é evidente na redação da absoluta maioria das propostas de admissão. Tempos depois, muitos não encontram este tesouro, desiludem-se e adormecem.

Para estes, a almejada luz foi apenas um lampejo. Longe de constituir falha do método maçônico de educação de construtores sociais a rotatividade é devida principalmente a nestes cidadãos a luz não penetrar, isto porque eles mesmos não o permitem.

A anomalia é consequência do condicionamento a que foram submetidos ao confundirem educação com aquisição de conhecimentos na sociedade. É comum não perceberem a sutil diferença entre os dois propósitos. Professor de escola da sociedade ensina, transmite conhecimentos e não educa. São raros os professores das escolas que mostram caminhos e motivam o livre pensamento, e mesmo assim, isto ainda não constitui educação.

Em educação existe apenas o ato de se educar, de receber luz de fora e sedimentar em si novos conceitos, princípios e prática de virtudes. É impossível educar outra pessoa, a não ser que essa, na prática do seu livre arbítrio, consinta e se esforce em mudar a si próprio. No universo dos seres pensantes existe apenas a autoeducação. Qualquer um só pode educar a si próprio.

Ao Mestre Maçom é dada a atribuição de ensinar. Pelo modelo do mundo é da sua atribuição transmitir conhecimentos e pelo da Maçonaria é induzir o educando a decidir qual caminho deseja seguir na sua jornada.

 O método da ordem maçônica visa provocar cada um em descobrir os seus próprios caminhos. Ler em conjunto as instruções do ritual não faz do Mestre um educador maçônico, mas um professor que transmite conhecimento; ele não induz a luz, a educação da Maçonaria, a almejada sabedoria, para tal, ele carece de uma longa jornada de auto formação.

O Mestre que apenas dá instruções de forma mecânica não instrui, pois comporta-se à semelhança do modelo do mundo, onde os governos propiciam instrução e igrejas conceitos de ação e moral. Auxiliar alguém a mudar o rumo da sua jornada na presença do livre arbítrio é educação. Romper a “couraça de aço” que envolve o intelecto do educando exige uma expressão da arte mística.

É ilusão pensar que pelo fato do educando se ver mergulhado numa sociedade de homens bons, livres e de bons costumes, já seja o suficiente para fazer dele um homem bom. Se ele não o desejar e não agir conforme, de nada adiantam os melhores Mestres que nunca obterá a sabedoria maçônica. Esta só penetra num homem se este o permitir. Por mais que o Mestre se esforce, ou possua proficiência num determinado tema, se o caminho para dentro do educando não estiver aberto, isto não sedimentará e não se transformará em educação. Se o recipiendário não se abrir ao que lhe é transmitido, de nada vale o mais habilidoso educador.

O Mestre educador exerce apenas um impacto indireto, por uma espécie de indução; um potencial que todos têm latentes em si de influenciar terceiros por um conjunto de atividades intelectuais, afetivas e espirituais.

Para romper os bloqueios do educando o Mestre deve-se encontrar primeiro, mudar-se, e só então obterá a capacidade de induzir luz maçônica ao outro; de fazer o outro mudar, momento em que, mente e coração do educando se abrem e ele mesmo passa a efetuar mudança em si, exercendo o seu potencial de autoeducação.

A aprendizagem torna-se ainda mais eficiente quando as provocações provêm da ação do grupo sobre o indivíduo – é o efeito tribal fixado profundamente na mente de cada indivíduo desde os vetustos homens das cavernas – quando a maioria das barreiras e bloqueios abre espaço para a autoeducação com o objetivo de obter aprovação do grupo.

Para despertar dentro do educando as potencialidades dos seus dons, exige-se de o Mestre obter conhecimento lato da natureza humana. Para se aprofundar no conhecimento das características humanas exige-se dele que conheça antes a si mesmo, da forma a mais ampla possível – é a essência do “conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates.

Este autoconhecimento só aflora quando ele atinge a fase de autorrealização na sua vida, o último estágio que um ser humano atinge depois de atender a todas as demais necessidades, e que Abraham Maslow definiu para o indivíduo que se procura tornar aquilo “que os humanos podem ser, eles devem ser: eles devem ser verdades à própria natureza delas”.

É neste último patamar que se considera a pessoa coerente com aquilo que ela é na realidade, de ser tudo o que é capaz de ser, de desenvolver os seus potenciais. Só então é possível ao Mestre conhecer a natureza humana alheia, onde a educação passa a obter característica de arte ao invés de ciência.

Note-se que educação maçônica, a luz, a sabedoria, não têm nada a ver com decorar rituais, conhecer ritualística, ser uma enciclopédia ambulante; é uma arte que adquire contornos mágicos quando os resultados aparecem e produzem bons frutos ao induzir os outros a mudarem para melhor como edificadores sociais.

Enquanto a ciência pode ter tratamento intelectual com a transmissão de instruções, a arte de educar da Maçonaria vai muito além e alcança intuição cósmica. Enquanto o talento analisa e é consciente, o gênio intui e vai muito além da consciência, alcança o místico.

Abordagens técnicas não furam a couraça do livre arbítrio do educando, mas a alma da educação pode ser alcançada pela metafísica da arte de ensinar os caminhos para a luz. É uma mistura equilibrada de conhecimento, emoção e espiritualidade. A educação apresentará até contornos lúdicos na sua indução.

Para isto exigem-se do educador maçônico a plenitude do autoconhecimento e da autorrealização. Tal personagem porta a capacidade de induzir na mente do educando uma caminhada que o motiva para efetuar mudanças na sua vida; não porque o Mestre assim o determina, mas porque o educando assim o deseja.

Quando o Mestre adquire esta arte de atingir e motivar o educando pela autoeducação, terá quebrado a barreira da indiferença do livre arbítrio e o educando se modifica porque ele assim o deseja. Com isto o Mestre alcança a plenitude da sua atribuição.

É a razão do educador maçônico nunca ser definitivo nas suas colocações e sempre apresentar as verdades sob diversos ângulos, para que o educando possa escolher ele próprio qual é o melhor caminho a seguir.

É a razão de propiciar aos educandos a possibilidade de debater num grupo, em família, os temas com que a Maçonaria os provoca e eles mesmos definirem, cada uma à sua maneira, as suas próprias verdades. É a razão de o Mestre brincar com os pensamentos, propiciando emoção agradável, conduzindo as provocações apenas na direção certa do tema e onde cada um define as suas próprias veredas.

Em todos os casos em que o educando se sente livre para pensar e intuir ele derruba as inexpugnáveis barreiras do livre arbítrio que o impedem, noutras circunstâncias mais rígidas e ritualísticas, de obter as suas próprias verdades pelos eternos ciclos de tese, antítese e síntese.

Da mágica que se segue da absorção da luz pela autoeducação do educando é que surge a razão do Maçom nunca iniciar um trabalho sem invocar a fonte espiritual da arte de educar à glória do Grande Arquiteto do Universo, a única fonte de luz da Maçonaria.

Odiomar Luis Bitencourt Teixeira, 33º

Bibliografia

ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, São Paulo, 2007.

 

IRMÃO DE MAÇONARIA


 

“Conceda-nos o auxílio de Tuas Luzes e dirige os nossos trabalhos a perfeição. Concede que a Paz, a Harmonia e a Concórdia sejam a tríplice argamassa com que se ligam nossas obras”.

Por que começo o trabalho pelo final da ritualística meus Irmãos? Por que se pretende fechar a Oficina? Não, de maneira alguma faria tal violação aos nossos mandamentos. É necessário começar pelo fim, pelo encerramento dos trabalhos da Loja por conta da importância das palavras e do sentido “tríplice argamassa”.

A própria ritualística nos traz que a “tríplice argamassa” é composta por 3 (três) elementos que são: a “paz, a harmonia e a concórdia”. Mas por que escolher um tema desses para apresentar em Loja? Para responder tal questionamento necessário trabalhar um pouco a simbologia e o significado desses elementos tão importantes.

No Livro escrito por Raymundo D’Elia Júnior, intitulado “Maçonaria: 100 instruções de aprendiz” há o ensinamento de que uma Loja deve ser edificada a um “templo Interior” diferente do que ocorre com os profanos, ou seja, um Templo onde prevaleça sempre a piedade, a amizade e, sobretudo, extremamente Justo.”  Para o exercício da justiça Irmãos é necessário que tenhamos “paz, harmonia e concórdia”.

Ao longo dos trabalhos que são realizados em grupo, onde cada irmão Mestre tem seu papel fundamental na composição da Oficina, fazendo com que assim, mesmo com o trabalho individual seja composto o “todo”, sendo neste “todo” que as energias começam a fluir e por meio desta energia conseguimos enriquecer o nosso “templo interno”.

O fato de os trabalhos serem em grupo se respeita assim um dos mandamentos da Maçonaria chamado de Landmark. Ainda, não haveria a troca de energias se não existisse o trabalho em grupo, não enriqueceríamos com as experiências dos Irmãos se não estivéssemos em grupo.

Como ensina D’Elia Júnior, os trabalhos em Loja, em grupo, vertem do Landmark de número 9, com redação da seguinte forma, conforme o referido doutrinador: “Os Maçons se ‘congregam’ em Lojas Simbólicas.”  Logo, toda a Loja, devem os Irmãos congregarem e esta congregação, deve se dar por conta da argamassa composta pelos 3 (três) elementos, sendo eles: “Paz, Harmonia e Concórdia” que unidos e misturados torna-se a “tríplice argamassa” que une os nossos trabalhos, que une nossas energias, e que une os nossos conhecimentos tirando-nos das trevas.

Se tivéssemos como sociedade o mesmo proceder que temos em Loja teríamos menos problema, menos desigualdades sociais, menos violência, menos conflito, as relações entre as pessoas seriam mais tranquilas, com base na “Paz, Harmonia e Concórdia”. Essa ‘tríplice argamassa” nos faz crescer, nos faz termos tolerância e senso de justiça.

Para que os trabalhos ocorram de forma “Justa e Perfeita” é necessário que os Irmãos estejam entrelaçados, unidos por meio da “tríplice argamassa”, pois sem ela não há Loja, se não houver a comunhão em Loja, por meio da União, não há “egrégora”, e não fluindo a energia não passamos de simples (re)produtores de um ritual como tantos presentes na vida profana. Sem esta União e a mistura não há a troca de energias e por conta disso não ocorre o aprimoramento individual, não ocorre o “desbastar a pedra bruta” inclusive.

Vejam Irmãos que o V.’.M.’. evoca ao G.’.A.’.D.’.U.’. que una as nossas obras com a “tríplice argamassa”, sendo ingredientes dessa “argamassa” a “Paz, Harmonia e a Concórdia”, elementos faltantes em nossa sociedade.

Vivemos um tempo de preocupação, um tempo de discórdia e de (des)harmonia, um tempo de desencontros e de individualismo intenso. Estamos na era do consumismo, ou seja, da valorização das pessoas pelo o que elas têm sempre vinculado a um patrimônio ou até mesmo a estética de um poder aquisitivo, isso sempre em detrimento ao que a pessoa é como ser humano, como ser no mundo.

No contexto social atual por conta da sensação de insegurança, por conta da globalização das informações por meio da tecnologia, vivemos uma relativização do tempo estático e com isso surge também a sensação de que tudo está perdido e que estamos em desordem total.

Não podemos esquecer que Illa Priggogine, físico contemporâneo, em seus estudos aponta para ordem inclusive no caos o que é desconhecido por muitos e por conta deste desconhecimento cada vez mais as sensações em sociedade são mais intensas de que vivemos um tempo perdido.

Na contra mão da atualidade percebemos o significado magnífico que tem a evocação antes relatada que é parte do Ritual, ou seja, o pedido para que o Grande Arquiteto, que é Deus, nos una por meio das nossas obras, bem em um momento que os profanos parecem estar desencontrados e desorientados.

É nesse momento que lembro a aclamação feita por meio de Carta da Poderosa Assembleia Legislativa Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, que clamada para que nós tomemos as nossas posições neste mesmo Estado. No entanto, os irmãos podem estar se perguntando e a dúvida pairando sobre os seus pensamentos, pois a aclamação foi para aqueles que possuem um lugar ou tem a possibilidade de tomar seus lugares em uma posição social de relevância no poder estatal.

Entendo que a aclamação da Poderosa Assembleia foi ao sentido mais lato sensu do que stricto sensu, pois todos nós possuímos uma posição de destaque no seio social no qual estamos inseridos, desde a simples (que não é tão simples assim) posição de pai, chefe de família, empresário, educador, político e etc.; não importa a posição que temos ou podemos exercer, podendo inclusive ser várias ao mesmo tempo. 

É por meio destas posições e dos atos que delas decorrem que podemos plantar nas pessoas, com nossos exemplos de vida, princípios diferentes do que estes do consumo, do tirar proveito das pessoas, da (in)volução presente na sociedade.

É evidente que falta na sociedade “paz”, bem como também falta a “harmonia”, sem contar a falta de “concórdia”, pois aparentemente tenho a sensação de que estamos na era da discórdia, ou seja, é moda discordar mesmo que não se tenha fundamentos plausíveis e razoáveis para fundamentar tal discordância. Quando não vemos pessoas discordar uma das outras e chegar no calor da problematização partirem para a violência física e verbal.

Fraternos Irmãos são necessários e importantes para a evolução de nossa sociedade que passemos exemplos de “paz”, de “harmonia” e de “concórdia”, buscando o consenso e o auxílio do nosso próximo profano. É necessário que venhamos a nos importar com o que acontece em sociedade sob pena de sucumbirmos os mesmos males que vem sofrendo a nossa sociedade, sucumbirmos por valores perdidos.

Bertold Brecht, em um dos seus poemas, retrata da seguinte forma a necessária posição de tomar parte do problema e não ficarmos de braços cruzados para eles, quando necessário for tomemos a dos direitos estabelecidos sob pena de perdermos eles por falta de seu regular exercício, o poema diz o seguinte:

Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego também não me importei.

Agora estão me levando, mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.

Fraternos Irmãos cada vez mais estou certo de que temos que (re)passar a “paz”, a “harmonia” e a “concórdia” que temos entre nós em Loja para a sociedade que vivemos.

Esta (re)passagem se dará por conta dos nossos atos, na nossa probidade, dos nossos ensinamentos aos nossos filhos, aos nossos companheiros de labuta, aos nossos vizinhos, este será o nosso legado e por ele seremos lembrados.

Tiago Oliveira de Castilhos
A.’. M.’. – A.’.R.’.L.’.S.’. Sir Alexander Fleming 1773, OR.’. de Porto Alegre/RS (Brasil)

 

REFLEXÕES MAÇÔNICAS


 

Ocupei a Secr. Est. de Orient. Ritual. do GOERJ, depois do GOB-RJ e também a Secr. Ger. de Orient. Ritual. do GOB... Quando ocupava o cargo de GM Est. Adj., participei das revisões dos rituais com o Irmão Marcos José.

Sempre fui ritualista e defendi a padronização das práticas ritualísticas, mas, sempre tem um ‘mas’, passei a observar a preocupação marcante dos Irmãos com esses procedimentos, em detrimento dos ‘PORQUÊS’...

Então me recordei do meu 1º Vig., ele obrigava que cada um de nós aprendizes, erámos 4, que descrevêssemos o que entendíamos de cada alegoria e símbolo maçônico encontrado no ‘Templo Maçônico’... Assim, erámos obrigados a estudar e interpretar a simbologia dos símbolos e alegorias, emitindo nossa interpretação e opinião.

Costumamos dizer que o conhecimento maçônico está oculto por símbolos e alegorias, VERDADE! Porém, a algum tempo, os maçons não estão descobrindo esse conhecimento... Estão muito preocupados em colocar o pezinho para frente depois para trás, medindo até com uma régua a distância, sem saber porque o pé vai para a frente depois volta...

Vejo os Irmão preocupados em repetir rigorosamente movimentos, posturas e palavras sem saber o porquê, como robôs, como máquinas repetindo movimentos e como papagaios repetindo palavras e frases, sem saberem o seu significado.

Estudando a história da Ordem, observamos que a primeira organização maçônica que estruturou a organização maçônica, a GL de Londres e Westminster, em 1717, depois GL da Inglaterra e posteriormente GL Unida da Inglaterra, foi fundada por Lojas Maçônicas que se reuniam em Tabernas.

Nessa altura vemos a primeira inconsistência da ordem atualmente, ao se reunirem em tabernas, antros de beberagem, comilança e promiscuidade, não seria possível a presença de qualquer livro sagrado, prática religiosa que só foi incluída nos locais que passaram a serem específicos para as reuniões maçônicas, os ‘Templos Maçônicos’, após 1717, quando o maçom James Anderson, ministro da Igreja Protestante da Escócia, incluiu a obrigatoriedade da presença bíblia nos Templos Maçônicos, na Constituição da GL, publicada em 1723, e que ficou conhecida como Constituição de Anderson.

Nós maçons, gostamos de nos proclamar ‘Livres Pensadores’, porém, um Livre Pensador é um inconformado, alguém que não aceita qualquer coisa sem questioná-la, alguém que busca o conhecimento através do estudo, da pesquisa, do questionamento e da interpretação permanente de fatos e dados disponíveis.

Somos realmente Livres Pensadores? Ou repetidores obstinados de movimentos, comportamentos, palavras e falas, sem questionar o porquê de fazer isso ou aquilo?

A ritualística é um “MEIO” para se alcançar um “FIM”, o “Conhecimento”, mas parece que a algum tempo os maçons a transformaram em um “FIM”! Segue-se o ritual rigorosamente, sem saber o porquê das práticas ali estabelecidas... O importante é cumprir rigorosamente o que determina o ritual, sem se importar em entender o porquê...

Fico preocupado ao ver a ritualística se transformar em um dogma... Pratique o que está escrito, sem questionamento ou reflexão, quando alguém erra ou questiona uma prática maçônica, parece que está blasfemando contra os céus maçônicos!

Espero que tenham entendido minha posição... O importante não é todos fazerem igualzinho, o importante é saber o que está fazendo e por quê! Por exemplo, na abertura da Loja o importante é questionar o 1º Vig. se o Templo está coberto, e isso é claro, ninguém é cego, e todos entraram juntos e trancaram as portas, então existe várias razões para o VM, fazer esse questionamento, que obviamente não é uma razão física, bem vamos em frente, a questão fundamental é o VM questionar o 1º Vig. sobre a cobertura, então, no meu ponto de vista, tanto faz a forma como o questionamento é feito – “Irmão 1º vig. qual o 1º dever do vigilante em Loja?”; “Irmão 1º Vig. qual é o 1º dever na abertura da Loja do vigilante?”; “Amado Ir. 1º Vig. qual o 1º dever do vigilante na abertura da Loja?”; “Ir. 1º Vig. o templo está a coberto”; “Irmão 1º Vig. qual é o 1º dever do vigilante na abertura da Loja?”; como os Irmãos podem observar, o mais importante foi feito pelo VM, apenas usando frases diferente, assim, o que é fundamental, o questionamento do dever do 1º Vig., foi feito!

No passado não existiam rituais, eram compiladores, que apenas traçavam as linhas básicas das sessões. Em nome dessa tão desejada padronização, os rituais foram ficando cada dia mais detalhados, incluindo falas e depois detalhando os procedimentos.

Hoje, com os rituais tão detalhados, um sujeito de inteligência mediana e que saiba ler, compra um ritual no sebo, dá uma olhada em alguns sites na internet, que explicam tudo sobre procedimentos maçônicos, entra em uma Loja, participa da sessão e se duvidar até ocupa um cargo. Pois os rituais e os sites na internet permitem que qualquer um acompanhe uma sessão e participe só acompanhando o ritual.

Mas, como os maçons faziam no passado se não existiam frases para repetir? “Frequentavam a Loja!” E aprendiam como se desenvolve a sessão, não decoravam falas, mas, sabiam o que deveriam falar, e quando deveriam falar, não existiam comandos no ritual, como – ‘Irmão M. Cer. faça isso, faça aquilo’, mas, o M. Cer. sabia o que fazer e quando fazer, assim, um invasor, mesmo que conseguisse um compilador, não iria entender nada e nem acompanhar a sessão... Maçonaria era ensinada e aprendida de “boca a ouvido!”, coisa que ouvi de um MM inglês!

Procurem estudar, pesquisar, perscrutar, questionar e descobrir os grandes ensinamentos e conhecimentos ocultos nos símbolos e alegorias maçônicos... Cabe a você, só a você, encontrar e decifrar o conhecimento oculto, pois, cada um descobrirá a mensagem que está oculta na simbologia, que foi oculta para você descobrir... Isso é desbaste da pedra, e um trabalho pessoal, unicamente seu!

Pensem nisso...

Eduardo G. Souza

 

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