O MITO SOLAR NA MAÇONARIA: RESQUÍCIOS DE ANTIGAS CULTURAS?

 




“As lendas que acompanhavam os mistérios e cultos dos povos antigos giravam em torno da marcha aparente do Sol declinando para o ocaso, para expressar, em linguagem figurada, que ele era aparentemente vencido pelas trevas, representando na mesma alegoria o gênio do mal; mas reaparecia depois como o herói vencedor ressuscitado.” (Figueiredo, 2009, pág. 483)

COMENTÁRIOS INICIAIS

Quantas são as passagens com as quais nos deparamos em nossos Rituais maçônicos que aludem direta ou metaforicamente ao astro rei, o sol?

Certamente, um bom número delas. E se considerarmos a variedade de Ritos que compõem a Maçonaria, ficará ainda bem mais difícil quantificar isso. Assim que, seria muita pretensão querer explanar aqui nesta sucinta peça de arquitetura todos os aspectos que envolvem um tema desta magnitude. Então, falaremos quando muito de alguns tópicos no decorrer deste trabalho, desde já, aconselhando aos leitores que se interessarem em saber mais, que é imperioso reforçarem o seu aprendizado com mais leituras versando sobre o tema.

Deidades solares, culto solar, adoração ao sol, mito solar, todas estas expressões remetem ao passado da humanidade, sendo que, a veneração do sol e o culto às deidades solares foram largamente praticadas durante o passado da humanidade.

Muitas das culturas que se destacaram no decorrer dessa história podem ser citadas quanto à prática dos cultos solares: babilônios, persas, hindus, egípcios, romanos, chegando até o nosso continente americano com as civilizações dos incas, dos maias e dos astecas.

A ideia de que a adoração ao sol possa ser a mais antiga das religiões humanas, já foi compartilhada por muitos estudiosos. De qualquer forma, o sol, por ter ocupado um lugar proeminente em muitas daquelas religiões antigas, em forma de idolatria, ainda guarda muitos resquícios desse seu simbolismo e dessa mitologia até mesmo em certas religiões conhecidas da atualidade.

Por outro lado, pelo menos duas daquelas culturas do mundo antigo parecem ter alguma preponderância quanto aos aspectos que envolvem simbolismo e se destacam, sobretudo, por suas prováveis influências na Maçonaria. Nossos rituais revelam que no exercício da ritualística, uma parte do simbolismo ali contido alude, por vezes, mesmo indiretamente, a alguns daqueles cultos, os quais foram praticados por antigos povos, dos quais, citamos como exemplos, os persas e os egípcios.

Um daqueles antigos cultos, o culto iniciático de Mitra, em algumas das suas práticas revela possuir algumas similaridades com a Maçonaria, mas, não é uma posição de consenso entre os estudiosos, essa sua influência, por isso, a razão de usar o termo “indiretamente” logo acima. Muitos dos cultos praticados na antiguidade desapareceram, outros evoluíram, ou até, ganharam novas roupagens.

Um pouco das origens sobre o mito solar e uma mostra dessa influência provinda dessas duas civilizações que foram citadas, será o leitmotiv do trabalho a ser desenvolvido na sequência.

 

O SOL: AS REFERÊNCIAS NA BÍBLIA E A CONCEPÇÃO DOS HEBREUS

Conforme o teólogo R. N. Champlin, no Antigo Testamento, as referências ao sol chegam ao número de 120. No Novo testamento, a palavra para referir-se ao sol (do grego helios) é usada cerca de 33 vezes. (Champlin, 2008, pág. 260)

A título de ilustração, é muito importante deixarmos registrado que, ainda que estejamos falando da Bíblia em específico, principalmente do Antigo Testamento, isso por si só já remete à Bíblia hebraica, que é a matriz, digamos assim.

Por outro lado, o mais importante aqui neste contexto a ser registrado é que a adoração ao sol era proibida de forma rigorosa pela lei mosaica (Deut. 4.19). Os hebreus, no período posterior ao êxodo, acabaram entrando em contato com outros povos, seus contemporâneos e estes sim, eram adoradores do sol: no Egito havia o deus-sol Rá, o qual era adorado ou a deidade principal que constava no panteão dos egípcios. Na Babilônia havia o deus Utu (masculino), e os cananeus tinham a Sps, uma deusa, o que nos vem revelar que o sol podia ser transformado tanto em deidades masculinas como femininas. (Champlin, 2008, págs. 260-261).

Só que, a teologia dos sábios hebreus desprezou todas essas invenções criativas, e soube reduzir o astro sol a algo criado em vez de considerá-lo um deus das coisas.

 

FÉ RELIGIOSA, MISTICISMO E CIÊNCIA

Ainda com base nos escritos de Champlin, e para que tenhamos uma ideia geral sobre o que representou o sol para as culturas antigas, esse desejo em conhecer mais e mais sobre o sol de parte dos antigos, acabou fomentando o desenvolvimento de algumas das ciências da antiguidade, então, chamamos a atenção para outros aspectos que valem ser descritos, ainda que, resumidamente, tudo em função da atenção que o sol mereceu pelo homem desde a antiguidade, pois, além de ser motivo de adoração, era alvo da curiosidade e de observações atentas do homem.

Com o passar do tempo se criou toda uma mitologia e até os rudimentos de algumas ciências, tanto foram os conhecimentos científicos reunidos acerca desse astro. Em algumas das culturas mais avançadas daqueles tempos, fruto dessas mesmas observações e estudos contínuos acerca dos movimentos do sol, da lua e das estrelas, foram dados impulsos fundamentais para a elaboração de calendários, cada vez mais precisos em seus dados, o que envolveu também sofisticados cálculos matemáticos.

Também, os conhecimentos adquiridos para a formação do que, a princípio, conhecemos como astrologia, a qual começou como uma mistura de misticismo e ciência, e acabou sendo a precursora da futura astronomia. Na verdade, nesse período da história do homem, havia uma mistura de misticismo, fé religiosa e ciência (esta última, ainda incipiente).

 

COMENTÁRIOS:

Já que citamos o nome da astrologia, lembremos que as colunas zodiacais em número de doze que estão presentes em nosso templo maçônico, tem a importante função de representar a revolução anual que o sol cumpre em sua trajetória, assim como, seus ciclos produtivos correspondentes a cada uma das estações da natureza. Isso simbolicamente, vem representar a senda que o maçom cumprirá do ponto de vista iniciático e que pode ser comparada a essa trajetória que o sol cumpre.

 

DAS INFLUÊNCIAS COM RAÍZES PERSAS

Deidades solares são deuses e deusas (entidades divinas) que representam o sol ou um aspecto seu relacionado ao poder ou à força.

Com sua origem na Pérsia antiga (atual Irã) e depois fazendo parte também do culto de mistério romano, o deus Mitra era uma deidade solar.]

Zoroastro é a designação grega para Zaratustra, grande legislador persa fundador de uma das mais antigas religiões que ficou conhecida por várias outras denominações: Culto do Fogo, Magismo, Mazdeísmo, Zoroastrismo. A prática do bem e das virtudes era um dos preceitos do Zoroastrismo.

 

Conforme o Irmão Theobaldo Varoli Filho:

“O crente deveria livre e conscientemente amar e servir a Ormuz e evitar ou expulsar as forças malignas de Angra-Main-Yu ou Ariman, o Inimigo, equivalente a Satã ou o diabo dos cristãos.” (Varoli Filho, 1977, pág. 98)

 

E mais adiante, ainda se referindo aos cultuadores da religião:

“... deviam nos seus cultos, ficar voltados para o Oriente ou ponto cardeal do nascimento do Sol. De certo modo, o Sol era o olho de Ormuz, o criador, construtor, vivificador. No zênite, isto é, ao meio-dia, o sol, irradiando o máximo de luz, reduzia as sombras e o homem, de pé, completamente iluminado não poderia fazer sombra a ninguém. (...) O trabalho místico acompanhava o Sol, cuja luz decaindo e aumentando as sombras para o lado do Oriente (cansaço humano), morria completamente à meia-noite, hora do máximo de trevas, mas ocasião que o astro-rei começava o seu renascimento ou a sua volta, razão pela qual os discípulos se despediam com um banquete frugal.” (Varoli Filho, 1977, pág. 99)

 

COMENTÁRIOS:

Evidentemente haveria muito para discorrer sobre a história e os princípios dessa que é uma das mais antigas religiões, mas, fugiríamos do nosso propósito aqui que é somente mostrar o quanto (e isso já fica explicito a partir do pequeno trecho extraído de uma das obras do Irmão Varoli) já é possível captar no tocante às influências e similaridades que chegaram até a Maçonaria.

O Zoroastrismo, religião sobre a qual falamos um pouco, não se conservou puro por muito tempo, vindo com o tempo a se misturar com outras religiões. Além dos novos cultos que surgiram como resultado dessas fusões, o culto de Mitra voltou com força. Sobre o deus Mitra veremos um pouco mais logo na sequência.

A doutrina, que a princípio dividira o mundo em uma força do bem (Ormuz) e as forças do mal (Ariman) sofreu modificações no seu panteão, digamos assim, onde havia um deus único – Mazda, que era secundado por Mitra, deus do sol.

 

OS CULTOS MITRAICOS

O Mitraísmo era um culto de origem persa que acabou se difundindo bastante na antiguidade, tanto que chegou a ser adotado em vários continentes, além de ter exercido influências em outros cultos praticados pelos essênios, gregos, cristãos e muçulmanos, e bem depois na Maçonaria. Em Roma, particularmente, no primeiro século da era cristã, o culto acabou se espalhando velozmente, dentro do exército romano e das classes mercantis e escravas, sendo que, uma quantidade substancial de templos foram construídos.

Mitra era uma das mais antigas divindades persas, e como já foi dito, o deus- sol. Do Vade-Mécum Maçônico, de autoria do Irmão João Ivo Girardi, retiramos a seguinte passagem do verbete MITRA:

“Trata-se de uma divindade mediadora, colocada entre o bem e o mal, entre Ormuzd e Ahriman, dispensadora de benefícios, mantenedora da harmonia no mundo e protetora de todas as criaturas. Sem ser o sol, é invocada com este por ser sua representação. É a força imanente do Sol, e com tal concebida como a reguladora do tempo, a iluminadora do mundo e a agente da vida.” (Girardi, 2008, pág. 430)

 

CULTO SOLAR MITRAICO E SOLSTÍCIOS

De um artigo de autoria de um dos nossos grandes pesquisadores, o Irmão Hercule Spoladore, transcrevemos a seguinte passagem:

“O culto solar mitraico é similar aos outros cultos solares, sendo no hemisfério norte a noite mais comprida do ano de 24 para 25 de dezembro no início do solstício de Inverno. Era celebrada nesta data a festa do natalis invicti solis (nascimento do Sol vitorioso). Este culto solar influenciou a Maçonaria, através do cristianismo, porém com outra roupagem.”

 

COMENTÁRIOS:

Já no Egito antigo havia outras tantas deidades que estavam ligadas ao sol, sendo que, os cultos que mais se destacaram foram os de Amon Rá, Horus e Aton, em vista de que estavam associados diretamente aos faraós.

No presente trabalho, com relação às influências egípcias, iremos nos ater aquelas que são detectadas na Lenda de Hiram, lenda que é afeta ao Grau de Mestre na Loja Simbólica e que possui continuidade em mais detalhes por vários Graus da Loja de Perfeição (Graus Superiores). A bibliografia sobre a lenda de Hiram é bastante rica e facilmente encontrável, isso para aqueles Irmãos que estiverem interessados em pesquisar mais sobre o assunto.

 

A LENDA EGÍPCIA QUE PRECEDE A LENDA DE HIRAM NA MAÇONARIA

Em seu artigo “A Herança Egípcia na Maçonaria” o Irmão José Castellani faz um resumo da história do Egito, onde em determinados períodos deixa evidente o quanto o culto solar acabou sendo marcante. Vejamos:

“A V dinastia assinala a decadência do Antigo Impérios já que, nele, encontramos o início da teocracia, implantada pelos sacerdotes da cidade de Heliópolis – nome dado pelos gregos e que significa ‘cidade do sol’ – a seguidores fanáticos do deus Rá, que suplanta, politicamente, o deus Ftá, de Mênfis. (...) O fim do Médio Império é assinalado pela invasão dos hicsos, povo de origem semita o qual seria responsável pela ida dos hebreus ao Egito. Ao fim do domínio dos hicsos, que foram suplantados pelos faraós tebanos, inicia-se o Novo Império, cujos principais soberanos foram Tutmés III, Ramsés II e Amenófis IV. Este último, que reinou de 1370 a 1252 a.C., passou à História como o soberano que ousou quebrar o excessivo poder dos sacerdotes de Amon, tornando-se um místico do Sol, simbolizado por seu disco (Áton); mudou o seu nome para Aquenáton (‘horizonte do disco’), conhecida pelo nome de Tel-el-Amarna, tentando tornar universal a sua religião solar monoteísta.” (Castellani, págs. 16 e 17, 2003).

Já com relação à Lenda de Hiram, na transcrição da passagem abaixo em que ele fala sobre a Lenda de Osíris, retirada do mesmo livro, fica evidente alguns pontos em comum entre as duas.

“A Lenda de Osíris (o Sol) e de Ísis (a Lua) também deve ser considerada como a precursora da lenda do artífice Hiram Abi, ensinada no terceiro Grau Maçônico. De acordo com a lenda egípcia _ em rápidas pinceladas _ Osíris, morto por seu irmão Seti, teve o seu corpo encontrado por Ísis, que o escondeu. Seti ou Tifão, encontrando o corpo, esquartejou-o e o dividiu em quatorze pedaços, e foram espalhados pelo Egito. O corpo, todavia, foi reconstituído por Ísis e, redivivo, passou a reinar, tornando-se a deus e o juiz do reino dos mortos, enquanto seu filho Hórus lutava com Seti e o abatia. Essa lenda, inclusive, não é totalmente egípcia, pois, com pequenas variações, fazia parte do patrimônio místico de todos os povos da Antiguidade, como um mito solar; na realidade, Osíris (o Sol), é morto por Seti (as trevas no 17º dia do mês egípcio, Hator, que marca o início do inverno, e revive no início do verão. (Castellani, pág. 21, 2003)

 

COMENTÁRIOS:

Mas, uma coisa seria a afirmação de que a Lenda de Osíris deve ser considerada como uma precursora para a Lenda de Hiram, e outra coisa é construir uma versão essencialmente solar da Lenda onde Hiram o personagem passa a significar o próprio sol e onde tudo no decorrer da lenda “gira” em função da transição do sol pelos doze signos do zodíaco. A referência aqui é sobre a versão bastante astrológica criada por Ragon, e que é discutível.

 

OCIDENTE E ORIENTE: DO NASCER AO POR DO SOL

No intuito de ilustrar melhor este que é um sucinto trabalho e que já vai quase chegando ao seu término, transcrevo algumas das linhas que fazem parte de uma peça de arquitetura de autoria do Irmão José Lopes Pereira Filho, que vem para definir a importância do sol e da luz em contraposição às trevas, nada mais, nada menos do que aquilo que os povos antigos sintetizaram em seus cultos, e que sobram resquícios na Maçonaria:

“O Ocidente é o lado ou aspecto do mundo onde o Sol se põe, onde a luz que o ilumina declina, se oculta e se torna invisível, embora faça entrever sua presença, no último clarão do ocaso, antes de deixar o mundo submergido nas sombras escuras da noite.

O Oriente, o lado oposto, o aspecto do mundo de onde nos vem, nasce emana Luz: onde na realidade, aparece e brilha pelo seu próprio resplendor, esclarecendo e fazendo desaparecer as trevas da noite.” (Pereira Filho, pág. 36, 1999)

 

COMENTÁRIOS FINAIS

Como pudemos perceber no decorrer deste trabalho, que é somente uma mostra mínima sobre a influência do mito solar nos rituais maçônicos, o assunto merece ser explorado bem mais, pois, é importante conhecermos, tanto a origem do simbolismo contido em nossos rituais, em nossas cerimônias maçônicas, como também, de onde provém, de que povos, de quais religiões ou cultos iniciáticos antigos a Maçonaria sofreu influências, ainda que, depois, tenham sido moldadas e adaptadas aos nosso Rituais e aos nossos costumes.

Os resquícios desses mitos e lendas, sejam egípcias, persas, babilônicas, hebraicas, ou até de outros povos se fazem presentes na Maçonaria e não haveria como negar essa que é a influência do mito solar e que repartiu muitos aspectos em comum entre algumas das mais conhecidas civilizações da antiguidade.

Simplesmente, abrir e fechar a Loja numa alusão ao curso que o sol descreve no firmamento, contemplar o sol em vários dos seus simbolismos espalhados pelo templo maçônicos e no conteúdo dos nossos Rituais, nos remete constantemente a vários passados, povos antigos e suas práticas e a uma gama de influências que chegaram deles até a Maçonaria, algumas já quase se diluindo, outras bem nítidas.

 

CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS:

Internet

“Deidade Solar” – disponível em: pt.wikipedia.org/ dicionario.sensagent.com

“Influência dos Símbolos dos Povos Antigos na Maçonaria” – Hercule Spoladore – Loja de pesquisas Maçônicas Brasil – Londrina PR – disponível em: 1library.org/document

JB NEWS, nº 370 de 02 de julho de 2011: “Colunas Zodiacais” – autoria do Irmão Pedro Juk.

 

Revistas:

A TROLHA, nº 155, setembro de 1999: “Desde o Ocidente ao Oriente” – Artigo do irmão José Lopes Pereira Filho.

 

Livros:

CADERNOS DE PESQUISAS 20: “A Herança Egípcia na Maçonaria” – Artigo de autoria do Irmão José Castellani - Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. – 1ª Edição – 2003

CHAMPLIN, R. N. “Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia” – Hagnos Editora – 2008 – 9ª Edição

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. “Dicionário de Maçonaria” – Editora Pensamento - 2009

GIRARDI, João Ivo. “Do Meio-Dia à Meia-Noite Vade-Mécum Maçônico” -

ISMAIL, Kennyo. “Desmistificando a Maçonaria” – Universo dos Livros Editora Ltda. 2012

Por Irmão José Ronaldo Viega Alves

O CONHECIMENTO LIBERTADOR

 




No passado, o radicalismo de ter sido criado e batizado na Assembleia de Deus, em Santa Cruz, impunha que somente nós alcançaríamos os céus.

E isto se daria porque era uma sociedade com conceitos sóbrios e próprios do que seria o pecado e de como evitá-lo e com regras rígidas também de expiação dos mesmos.

Lembro da mamãe na praia de maiô, mas com uma saia por cima, e dos comentários de que as mulheres Batistas, Presbiterianas e Metodistas não iriam para o céu porque usavam calças compridas e brincos.

Eu cresci, estudei, vivi em sociedade diversa e com o conhecimento evoluí do insípido Radicalismo para a Compreensão da vida e seus ditos mistérios.

Diante do inusitado, é mais cômodo crer nas tradições que buscar uma resposta racional que contradiga conceitos radicados na infância.

Mas se não houver a Dialética para questionar e investigar o que se impõe como verdade única e absoluta, haverá apenas os extremos do que se julga Certo ou Errado e nunca o TALVEZ.

E este questionamento não pode ser apenas opinativo; requer uma dedicação pessoal aos estudos para desenvolver conhecimento e ser capaz de evoluir sua cognição sobre a Filosofia da Vida, sobre o viver em sociedade, sobre sua consciência como cidadão do universo.

Amadurecer não é apenas ato temporal que se espera da velhice. O amadurecer é um processo racional onde as ações passam a refletir a temperança de quem já é capaz de subjugar as emoções pueris e agir ponderado com a requerida racionalidade e interação social.

Aproveite o dia para refletir se já é capaz de avaliar seu lugar neste Universo, à começar por seu lugar nesta Sociedade, no seu Trabalho, em sua Família.

Avalie se seus conceitos da infância ainda são predominantes nos extremos de sua opinião ou se já é capaz de ajuizar novas interpretações para, ao menos, questionar a possibilidade de um TALVEZ.

Ainda há tempo para amadurecer e melhorar sua interação no seio de sua família, no Trabalho, na Sociedade e no Universo.

Hoje me dei conta de que para se alcançar os céus não é necessário tanto sacrifício ou radicalismo, basta amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Não precisa amar mais ou menos, apenas amar igual...

Bom dia e boas reflexões meus irmãos.

Sidnei Godinho


SOMOS REALMENTE MAÇONS OU APENAS PAGAMOS QUOTAS?


 

A Maçonaria é uma Fraternidade envolta em mistério. Podemos constatá-lo não só pelos seus símbolos e cerimónias, mas também pelas definições que certas organizações maçónicas e certos maçons lhe atribuem.

Assim, sabemos por duas fontes, representando os dois pilares predominantes da Fraternidade, o inglês e o francês, que a Maçonaria é “uma das mais antigas organizações sociais e caritativas do mundo” ou uma “instituição iniciática por excelência secular, filosófica e progressista”.

Uma terceira definição que encontramos (perpetrada a partir dos EUA) é que a Maçonaria é uma organização dedicada a “tornar os homens bons melhores”.

Se fôssemos autossuficientes, poderíamos limitar-nos a estas definições. Mas como somos Maçons e devemos estar constantemente em busca da Verdade, poderíamos dissecá-las e analisá-las para formular uma quarta definição, diferente das anteriores.

Embora nos reunamos em Lojas, contactando com homens pertencentes a diferentes culturas, meios sociais e cultivemos o princípio da entreajuda, poderia ser um erro dizer que a Maçonaria é uma organização social e caritativa.

Se reduzíssemos a este ponto, não passaríamos de meros contribuintes com aventais tolos e participando em cerimónias sem sentido.

Para atingir tal objetivo, apenas precisaríamos de uma caixa registadora, de um caixa e de alguns bares onde nós pudéssemos encontrar para perder o nosso tempo, socializando sem qualquer objetivo em particular.

Embora os graus da Maçonaria contenham certos aspectos filosóficos, reduzi-la a uma organização puramente filosófica significaria que ela não tem qualquer semente de verdade conhecível e que todas as interpretações dos seus símbolos são deixadas à invenção das nossas próprias mentes. Estaríamos assim na posição de procurar nela algo que nunca poderíamos encontrar.

Embora com a ajuda das lições morais que os graus da Maçonaria oferecem possamos dizer que nós podemos tornar melhores, devemos ter em conta o fato de que podemos ser boas pessoas sem sermos Maçons.

Seria uma tentativa de transformar a Fraternidade num culto se disséssemos que só os Maçons são boas pessoas e que não se pode ser uma boa pessoa sem a Maçonaria.

Relativamente à população mundial, o número de maçons é muito pequeno, e não podemos ter a certeza de que apenas alguns milhões de pessoas são boas ou estão interessadas em se tornarem melhores, dado que nem sequer temos a certeza de que todos os maçons estejam interessados neste aspecto.

… afinal, o que é a Maçonaria?

A Maçonaria é uma organização tão misteriosa que, para a maioria dos seus membros, é ela própria um mistério, e tão conspiratória, dir-se-ia para desfazer as ilusões de certos profanos, que há irmãos nas suas fileiras que parecem conspirar na maior de todas as conspirações possíveis: a contra a própria natureza humana, dotada de razão e de uma inteligência que os animais não possuem.

Ao mesmo tempo, é uma organização com um objetivo nobre, tanto para os irmãos que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, como para os profanos que, podendo constatar isso, batem às portas do Templo e pedem para serem recebidos, a fim de se juntarem a ela para a sua missão superior.

Se olharmos para as definições oferecidas pelos estudiosos da Fraternidade, tais como W. L. Wilmshurst, Albert Mackey, Albert Pike, e muitos outros que estão entre os poucos que conseguiram dar-lhe significados mais adequados do que os de alguns contemporâneos, encontramos que:

“A Maçonaria é uma ciência, […] um sistema de doutrinas que é ensinado, de uma maneira peculiar em si mesma, por alegorias e símbolos “

(Albert Mackey,
O Simbolismo da Maçonaria)

“[a Maçonaria] não foi feita para almas frias e mentes estreitas, que não compreendem a sua elevada missão e sublime apostolado “

(Morals & Dogma do REAA,
Albert Pike).

“Aqueles que entram nela, como a maioria faz, ignorando completamente o que lá vão encontrar, geralmente porque têm lá amigos ou sabem que a Maçonaria é uma instituição devotada a altos ideais e benevolência e com a qual pode ser socialmente desejável estar ligado, podem ou não ser atraídos e lucrar com o que lhes é revelado, e podem ou não ver nada para além da forma nua do símbolo ou ouvir algo para além da mera letra da palavra.”

A sua admissão é uma autêntica lotaria; a sua Iniciação permanece muitas vezes apenas uma formalidade, e não um despertar real para uma ordem e qualidade de vida anteriormente não vivenciadas; a sua adesão, a menos que tal despertar resulte eventualmente do estudo cuidadoso e da prática fiel dos ensinamentos da Ordem, tem pouca ou nenhuma influência maior sobre eles do que a que resultaria da sua adesão a um clube puramente social”.

(O significado da Maçonaria,
W. L. Wilmshurst).

Estas afirmações podem parecer arrogantes para alguns irmãos e, também contrárias aos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que a Maçonaria defende ferozmente. Mas será que se pode ser livre sem ser educado? Pode alguém ser igual ao resto dos seus semelhantes se não for livre? Pode alguém considerar-se seu irmão se não for igual a ele?

E por último, mas não menos importante: pode alguém chamar-se Maçom se não for educado, livre, irmão dos seus semelhantes, se não aprender e se não se empenhar na missão de orientar os outros a fazerem o mesmo?

Aqui está a importância da educação de um homem que deseja tornar-se Maçom, e quantas desvantagens são dadas à Maçonaria por aqueles profanos que se juntam para fins mesquinhos, mas que encontramos entre nós e reconhecemos como tal, como Irmãos.

Podemos aprender sobre tais Irmãos no artigo de Albert Mackey intitulado “Maçons que leem e Maçons que não leem“:

O Mestre Maçom que sabe muito pouco, se é que sabe alguma coisa, do grau de Aprendiz, deseja ser um Cavaleiro Templário […] O auge da sua ambição é usar a cruz templária sobre o peito. Se ele entrou no Rito Escocês, a Loja de Perfeição não o satisfará, embora forneça material para meses de estudo.

Ele gostaria de subir mais rapidamente na escala de classificação, e se por esforços perseverantes ele puder atingir o topo do Rito e ser investido com o trigésimo terceiro grau, pouco lhe importa qualquer conhecimento da organização do Rito ou das lições sublimes que ele ensina.

Atingiu o auge da sua ambição e é-lhe permitido usar a águia de duas cabeças.

 Esses maçons distinguem-se não pela quantidade de conhecimentos que possuem, mas pelo número de joias que usam.

Darão cinquenta dólares por uma condecoração, mas não darão cinquenta cêntimos por um livro”.

O mesmo acadêmico visionário afirma ainda que:

[A Maçonaria] deteriorar-se-á em clubes sociais ou meras sociedades de beneficência. Com tantos rivais nesse campo, a sua luta por uma vida próspera será difícil.
.
O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência dos seus membros”.

Na era da Internet, podemos facilmente observar o fenômeno maçónico global e como as suas palavras começam a tornar-se realidade.

Vemos cada vez mais membros para os quais é mais importante debater se o seu anel maçônico deve ser usado com as pontas para dentro ou para fora, cada vez mais membros que se sentem lisonjeados pelos títulos e distinções que ostentam e se sentem infalíveis.

Vemos em certas áreas do mundo como ela declinou ainda mais do que Albert Mackey e outros “previram”, Lojas inteiras ou Grandes Lojas inteiras a se tornarem clubes de negócios ou lobbies políticos sob a cobertura de uma chamada Maçonaria que só eles conhecem.

Vemos como a Maçonaria tem cada vez menos inimigos no exterior e cada vez mais no interior, e a principal causa disto é a falta de compreensão do que a Maçonaria realmente deve ser.

Somos mais de seis milhões de membros, pertencentes a diferentes Grandes Lojas, Lojas, Ritos, mas que têm essencialmente a mesma missão: o progresso de nós próprios e da Humanidade em direção à Liberdade.

E, no entanto, vemo-nos a nós próprios e à Humanidade numa contínua regressão, num contínuo estado de escravatura.

Talvez a Maçonaria tenha aberto demasiado as suas portas. Talvez alguns não tenham compreendido que a sobrevivência da Maçonaria, para atingir o seu sublime objetivo, não está no número de membros que tem, mas na sua qualidade.

Vale a pena parar por um segundo e refletir:

… somos realmente Maçons, ou apenas membros que pagam quotas?

Gabriel Anghelescu – Gabriel Anghelescu é um Maçom romeno interessado nos aspectos espirituais e esotéricos da Fraternidade.

A sua paixão pelo esoterismo e pela Maçonaria começou numa idade precoce. O seu primeiro contacto com sociedades iniciáticas foi a Ordem Internacional De Molay, uma organização para-maçônica para rapazes dos 12 aos 21 anos. Foi iniciado no Capítulo Jacques de Molay, em Bucareste, onde mais tarde cumpriu um mandato como Mestre Conselheiro do seu Capítulo.

Tradução de António Jorge, M M

Fonte

Revista Maçônica online The Square Magazine

 

VEJO QUE TENS VIAJADO MUITO, IRMÃO!

 

Onde quer que possas estar,
Onde quer que te detenhas a meditar,
Seja longe, em terras estranhas,
Ou simplesmente no lar, doce lar,
Sempre sentes um grande prazer,
Que faz vibrar as cordas do coração,
Apenas em ouvir a fraterna saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão!”

Quando recebes a saudação do Irmão
E ele te toma pela mão
Isso comove-te e toca-te no íntimo
Numa emoção incontida, por demais profunda.
Sentes que aquela união de Irmãos,
Que é um anseio da humanidade inteira,
Que se realiza no estender das mãos
E na voz a dizer fraternalmente:
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E se és um estranho,
Solitário em estranhas terras,

Se o destino te deixou derreado,
Batido e à beira da morte, longe do lar,
Não há sentimento mais completo
Que aquele que te sacode sob a saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E quando chegar, finalmente, tua derradeira hora,
O momento de empreender a mais longa das viagens,
Revestido do branco avental de cordeiro
E sob a escolta dos Irmãos que já passaram,
O Guarda Interno da Porta de Ouro,
Com Esquadro, Régua e Prumo
Pedir-te-á a Palavra de Passe
E dir-te-á, então,
“Passa. Vejo que tens viajado muito, Irmão”

Autor: desconhecido, do Oriente de Montana – USA

 

A ACÁCIA NA MAÇONARIA


 

Não vamos entrar em discussão sobre as centenas de espécies de acácia, pois esse não é o objetivo. Tendo a acácia na maçonaria um papel simbólico, a espécie de acácia pouco nos importa. Vamos ao que interessa:

Como sabemos, os judeus sofreram forte influência dos egípcios durante o tempo em que estiveram naquele território. Assim, muitos traços culturais, sociais e religiosos do Egito Antigo foram incorporados pelos judeus. Como exemplos, podemos citar a lenda de Anúbis, filho ilegítimo jogado no rio e posteriormente encontrado por uma rainha que o cria, e a lenda da arca do dilúvio, as quais foram recontadas pelos judeus e tiveram seus protagonistas rebatizados com nomes judaicos: Moisés e Noé.

O mesmo se deveu com a acácia, árvore sagrada dos egípcios e adotada pelos judeus. A acácia era matéria-prima para a produção de artigos sagrados no Egito, adotada pela sua alta densidade e durabilidade, não sofrendo ataque de insetos. Sua goma (conhecida popularmente como “goma arábica”) era utilizada nas cerimônias sagradas de mumificação.

Parece que os judeus aprenderam essa lição, pois a acácia foi a madeira indicada para a construção de todos os importantes objetos sagrados, como no tabernáculo, nos altares, e na arca da aliança. O fato de seu uso estar mais concentrado no “Êxodo” e aos poucos ser substituído pelo cedro e cipreste, confirma essa teoria da influência egípcia.

Até aí tudo bem, mas de onde sairia a inspiração para relacionar a acácia com a lenda de Hiram Abiff

Basta recorrermos a uma das principais lendas egípcias: a lenda de Osíris.

Seth odiava Osíris, que era tido como sábio e poderoso, então resolveu matá-lo. Ele fez um belo caixão com as exatas medidas de Osíris e convidou as pessoas para um jogo: aquele que se encaixasse perfeitamente no caixão, ganharia o mesmo de presente. Logicamente, quando a vez de Osíris chegou, o caixão era perfeito, e Seth e seus cúmplices trancaram Osíris dentro do caixão e o jogaram no rio. Sua mulher, Ísis, o procurou por muitos dias. O caixão havia encalhado e sobre ele havia brotado uma… acácia. A acácia serviu de indicação para que Ísis encontrasse o corpo de Osíris. Por essa lenda, Osíris é considerado o deus da morte e da imortalidade da alma.

Um corpo sob uma acácia e os ensinamentos sobre a morte e a imortalidade da alma soam familiar?

Daí a atribuir à acácia também o significado de segurança, clareza, inocência e pureza, como alguns autores querem, é forçar demais. Deixemos para a acácia sua bela missão de simbolizar a vida após a morte, assim como herdamos dos egípcios. Isso já é o bastante para um único símbolo.

Kennyo Ismail é escritor, tradutor, professor universitário, editor e um importante intelectual maçônico do Brasil.

AZUL, A COR MAÇÔNICA


 

Muitas vezes falamos de “Loja Azul” e de “Maçonaria Azul”, mas será que realmente entendemos o seu significado e a sua origem? Refiro-me ao uso da cor “azul”, juntamente com Loja ou Maçonaria.

Somos ensinados que o azul se refere à abóbada celeste e ensina a universalidade da Maçonaria. Isto é verdade e eu não iria criticar este ensinamento, mas gostaria de acrescentar e ampliar o nosso pensamento sobre a cor azul e o seu simbolismo na Maçonaria.

Apropriadamente é a cor dos graus do Antigo Ofício. Ele ensina que é o símbolo para a amizade universal e benevolência universal, como é a cor da abóbada do céu, que abraça o mundo, por isso cada Irmão Maçom deve ser igualmente extensivo nas suas virtudes de companheirismo e amor fraterno.

Entre os antigos judeus o manto do éfode do sumo sacerdote, a fita do seu peitoral e a placa da mitra eram azuis. O povo da nação judaica foi obrigado a usar uma fita azul acima da orla das suas vestes e esta foi a cor de um dos sete véus do templo.

Flávio Josefo diz-nos que a palavra hebraica para Azul era “tekelet” e que simbolicamente significa perfeição. Entre os Antigos, ser iniciado nos Mistérios era um caminho para atingir a perfeição e que falando na Maçonaria o azul, que também significa perfeição, também é utilizado para as nossas Lojas Simbólicas.

Entre os druidas simbolizava “verdade”. Os egípcios consideram o azul como uma cor sagrada, significando natureza celestial. Jeremias diz que os babilónios vestiam os seus ídolos de azul, e os chineses na sua filosofia mística o “azul” representou o símbolo da Divindade. Os hindus afirmam que o seu Deus, Vishnu, foi vestida de azul celeste, indicando assim que a sabedoria de Deus foi simbolizada por esta cor.

Entre os cristãos medievais o azul foi considerado o emblema da imortalidade, como o vermelho era do Amor Divino de Deus.

A cor azul é usada extensivamente nos graus do Rito Escocês, com vários significados simbólicos; tudo, no entanto, mais ou menos relacionada ao seu carácter original como representando amizade universal e benevolência.

No Grau 19 (Grande Pontífice), o azul é símbolo de brandura, da fidelidade, da mansidão. No grau 20 (Mestre “ad Vitam”) é usada juntamente com o amarelo e refere-se ao aparecimento do Senhor a Moisés no Monte Sinai nas nuvens de azuis e douradas. No 24° grau (Príncipe do Tabernáculo) é a cor da túnica e do avental de um Príncipe do Tabernáculo, cujos ensinamentos se referem à nossa mudança a partir desta casa de barro para a “casa não feita por mãos, mas a eterna morada nos céus”. Aqui é um símbolo do céu, como nos foi ensinado na Loja Simbólica.

Aprendemos, portanto, que pelo costume e simbolismo e não por qualquer lei aprovada ou estatutos, usamos azul ao referir uma Loja Simbólica como uma “Loja Azul”.

Autor: Foster H. Garret Tradução de Luiz Felipe Roszenweig

 

QUEM FOI BOAZ E O QUE ELE REPRESENTA PARA A MAÇONARIA


 

Na abertura dos trabalhos maçônicos no grau de aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Palavra Sagrada que é colhida do Venerável Mestre sussurradamente e silabada ao ouvido do irmão Primeiro Diácono é levada até o irmão Primeiro Vigilante, localizado no Ocidente, que a recebe e, da mesma forma seguindo a sequência, a transmite ao irmão Segundo Vigilante, localizado ao Sul, através do irmão Segundo Diácono.

Ao final desse procedimento ritualístico os Vigilantes informam ao Venerável Mestre que tudo está justo e perfeito em ambas as colunas, a palavra permanece intacta.

A Palavra Sagrada que é transmitida do Oriente para o Norte e o Sul é “Boaz ou Booz”, dependendo do ritual de cada potência maçônica, as quais possuem o mesmo significado. Mas afinal, o que vem a ser Boaz, qual o significado simbólico desta palavra para a Maçonaria e o que de fato ela representa?

No Dicionário Maçônico do nosso saudoso e memorável irmão Rizzardo da Camino Boaz é definido como[1]:

“... nome de um personagem bíblico, sem significado maçônico; contudo, é o nome dado à Coluna de ingresso ao templo que, tecnicamente, deveria ser colocada no Átrio; trata-se da Coluna “B” e a tradução do hebraico significa: “na força”. Também é a palavra de “passe” que é soletrada na forma convencional, obedecendo a um ritual litúrgico, que constitui uma parte sigilosa...”

Como pôde ser observado, de acordo com a definição descrita por Camino, a palavra Boaz possui, a princípio, três significados básicos; todavia, um dos conceitos citados acerca dessa curiosa palavra nos instiga a pensar e refletir: será mesmo Boaz apenas um personagem bíblico sem nenhum significado maçônico?

Teria mesmo o grande rei Salomão, profundo conhecedor da saga histórica de seus antepassados, famoso por sua elevada espiritualidade e genial sabedoria, escolhido aleatoriamente este nome para uma das suntuosas Colunas que guarneciam a entrada do grandioso templo de Jerusalém dedicado ao Deus de Israel?

A história de Boaz encontra-se narrada no livro de Rute que compõe a coletânea dos livros que constitui o Livro da Lei. Após tornar-se viúva e ainda jovem, Rute, uma mulher moabita que fora casada com um judeu, acompanha sua sogra Noemi de volta a Israel e conhece Boaz, primo de seu falecido esposo, que de acordo com as tradições daquela época tinha direito de resgate sobre ela, ou seja, por ser Rute uma mulher viúva de um parente próximo e que não teve filhos, Boaz poderia desposá-la casando-se com ela.

Após uma série de acontecimentos que se seguem narrados no referido livro, Rute e Boaz se casam e geram um filho que recebe o nome de Obed o qual é educado por Noemi, sogra do primeiro casamento de Rute que amavelmente fora acolhida por Boaz e os acompanhou por toda a vida.

Boaz era membro descendente da Tribo de Judá, uma das ramificações das doze tribos de Jacó; ele era filho de Salmon com Raab. Salmon era filho Naasson que era filho de Aminadabe que era filho de Arão que era filho de Esrom que era filho de Perez que era filho de Judá, o quarto filho de Jacó com Lia.

Segundo as Escrituras Sagradas, Rute era uma mulher predestinada a dar continuidade à descendência da tribo de Judá através de seu falecido esposo Maalon, filho de Noemi com Elimeleque; mas devido ao seu infortúnio, o Senhor a fez acompanhar sua sogra Noemi de volta às terras de Israel, cenário onde tudo deveria se passar e conhecer Boaz que, além de ser um parente próximo de Maalon, também era da mesma linhagem, o que possibilitou que se realinhassem os desígnios de Deus e gerassem Obed, aquele viria a ser o pai de Jessé que gerou o rei Davi o qual foi o pai do rei Salomão cuja descendência, após 990 anos, gerou, através de Maria e José, Jesus Cristo, o Messias.

É fácil percebermos, diante de tudo o que foi narrado, que Salomão teve razões suficientes para atribuir à Coluna “B” o nome de seu trisavô Boaz, uma vez que esse realinhou a árvore genealógica de Judá figurando assim como uma coluna que guarnece a passagem para o primeiro passo a se iniciar nos augustos mistérios maçônicos.

Boaz simboliza o consolidador, aquele que estabelece o ressurgimento de algo que parecia estar perdido, mas que foi resgatado para dar continuidade a um propósito previamente traçado.

Sendo assim, não encaremos Boaz como um simples personagem bíblico sem significado maçônico, tenhamo-lo como aquele que trouxe a estabilidade. Os mistérios que envolvem a Maçonaria vão muito além de nossa simples compreensão.

Portanto, sigamos a diante com ânimos fortes e obstinados na investigação constante da verdade que é um dos objetivos máximos que impulsionam a nossa sublime instituição através dos tempos. B-O, A-Z: Boaz!

 

Trabalho maçônico concluído em 27/09/2019 pelo Ir.’. Murilo Américo da Silva, membro da A.’. R.’. L.’. S.’. Onofre de Castro Neves nº 2.555, Or.’. Carangola/MG.

 



[1] Dicionário Maçônico. Ed. Masdras. da Camino, Rizzardo. 2018

O PROCESSO DE ADMISSÃO NA MAÇONARIA (GOB) E A LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD


 

O objetivo do singelo texto é iniciar reflexões sobre a aplicabilidade da Lei Geral de Proteção de Dados- LGPD na maçonaria, conforme sugerido por um irmão, num grupo de WhatsApp, cujo nome omito, por prudência e coerência pedagógica, mas cito suas iniciais: R.B., do Oriente de São Paulo.

O processo de admissão na Maçonaria, em particular, no Grande Oriente do Brasil – GOB é sigiloso (Art. 11, do RGF), todavia, as informações do candidato são “públicas”, ou seja, é de conhecimento de “todos” no meio maçônico e são noticiadas, informadas e lidas na Lojas que compõem a Federação e algumas vezes, são informadas as outras Lojas e Potências do Oriente no qual a Loja possui sua sede. Também lhe é dada publicidade por meio de Publicação no veículo oficial de publicidade da Potência, no caso do GOB, nos Boletins Oficiais. A publicação tem por escopo possibilitar que sejam apresentadas oposições ao candidato (Art. 13, do RGF).

Tal procedimento envolve a circulação de um grande volume de dados pessoais. Por dados pessoais deve-se adotar a definição prevista inciso I, do artigo 5º, da LGPD, que é a "informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável" e ainda os dados pessoais sensíveis, definido no inciso II, do artigo 5º, assim definido, verbis: "dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural".

Por mera lógica, a utilização, o tratamento, a divulgação dos dados pessoais do candidato no contexto do processo de admissão na Ordem precisa seguir e atender necessariamente, no que aplicável, os princípios elencados pela LGPD, a saber: finalidade (art. 6º, inc. I); adequação (artigo 6º, inc. II); necessidade ( artigo6º, inc. III); livre acesso (artigo 6º, inciso IV); qualidade (artigo 6º, inciso V); transparência (artigo 6º, VI); segurança (artigo 6º, VII); prevenção (artigo 6º, VIII); não discriminação (artigo 6º, IX) e; responsabilização e prestação de contas (artigo 6º, X).

Pedagogicamente, convém destacar que a proteção jurídica da intimidade e da privacidade preexistia a LGPD, constituindo numa das expressões mais significativas dos direitos da personalidade, sendo assegurada pelo inciso X, do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Verbis: “X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”.

Nesse sentido, num juízo preliminar, pode-se elencar três pressupostos legais para o acesso, compartilhamento e utilização dos dados pessoais do candidato:

1 – O consentimento, que deve ser livre, informado, esclarecido, inequívoco e específico, notadamente se o candidato possuir dados pessoais sensíveis. Assim, urge que sejam feitos análises e estudos quanto a necessidade de alterações na legislação gobiana e no procedimento de admissão, de forma a exigir como um dos documentos que devem fazer parte do processo de admissão (Art. 5 º do RGF) o Consentimento livre, esclarecido, inequívoco e específico, bem como conter ainda a informação o candidato é uma pessoa politicamente exposta.

2 – O legítimo interesse, destarte, faz-se necessária a prévia definição por parte da Potência/GOB por meio do Poder ou órgão competente, a necessidade, finalidade e adequação dos dados dentro do contexto do processo de admissão e o

3- O atendimento do dever legal que é a necessidade daquele que colhe, obtém, armazena, etc., os dados de terceiros (no caso candidatos), de atender o art. 18, da LGPD, que compreende no direito de o candidato obter da Potência/GOB informações em relação seus dados, destaque-se, aprovada ou não sua admissão na Ordem.

Tal texto é apenas o pontapé inicial, não visou exaurir o tema e nem fixar “verdades absolutas” notadamente, num campo tão fértil de ideias, pensamentos e confusões entre Ritos, rituais e todo ordenamento jurídico a que estão sujeitas as Potências Maçônicas sediadas no Brasil.

Neste momento o importante é refletir sobre o impacto da LGPD no processo de admissão e também em outros, para que as Potências e Lojas aprimorem suas normas e adotem providências no sentido conferir tratamento adequado, responsável e seguro aos dados pessoais de todos, bem como para que a pessoa titular de dados tenha informações sobre seus direitos e a segurança que seus dados estão protegidos e utilizados sem desvio de finalidade, tudo isso com o escopo de evitar responsabilizações futuras.

Eventual imprecisão, obscuridade ou omissão serão sanadas com a ajuda, reflexão e comentários adicionais decorrentes da leitura deste texto.


C.A.M. e TFA

Ir.´. Marcelo Artilheiro

Joinville (SC), 25 de maio de 2023

 

O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO (GADU)


 

Grande Arquiteto do Universo (GADU), é o Termo utilizado pelos maçons para designar a Divindade Suprema. Este termo é um conceito criado pelos maçons espiritualistas do século XVIII, que fizeram a transposição da Maçonaria operativa para a especulativa [1].

Isto significa enxergar Deus como uma Entidade que “pensa” o universo e entrega a sua construção para anjos e homens como seus delegados.

Desta forma, os anjos são os mestres (chamados demiurgos) e os homens são os operários (obreiros). Esta é uma concepção derivada dos ensinamentos da Cabala e da Gnose cristã, e foi introduzida na Maçonaria pelos chamados “pensadores rosa-cruciamos”, que em fins do século XVII ingressaram na Ordem como “maçons aceites” [2].

Este conceito integra a noção de Deus como autor do universo (Supremo Arquiteto) e as tradições dos antigos construtores medievais, que viam nas igrejas por eles construídas verdadeiras réplicas do cosmo [3]. Esta concepção também está fundamentada na Bíblia, através da construção do Templo de Salomão, que segundo os maçons medievais, teria sido construído com instruções ditadas por Deus ao rei Salomão e o seu arquiteto Hiram Abiff. Esta sabedoria secreta, conhecida somente por Salomão, Hiram e Adonhiram (encarregado das obras), estaria contida na geometria, nos símbolos, nos adereços e nas formas arquiteturais daquele Templo [4].

Além da sabedoria secreta contida na Arquitetura, haveria também um outro segredo que o GADU segredou somente à Moisés. Este segredo destinar-se-ia à construção de uma sociedade perfeita (O reino de Deus na terra, que seria a nação de Israel) e ao aperfeiçoamento do carácter do homem, para que este pudesse recuperar o estado de perfeição que possuía antes da queda.

Esta sabedoria estaria contida nos cinco livros da Torá, de forma camuflada em nomes, acontecimentos, números e parábolas [5].

Moisés escreveu as leis e os mandamentos que o povo deveria seguir, mas o verdadeiro significado daqueles mandamentos e dos rituais que ele prescreveu ao povo de Israel, constitui uma sabedoria secreta que ele transmitiu de forma oral aos mestres de Israel [6].

Mais tarde, os sábios de Israel a desenvolveram nos ensinamentos da Cabala e nos comentários do Talmude. Os filósofos do cristianismo místico a completaram com os ensinamentos de Jesus, e como resultado dessa interação nós temos hoje a doutrina conhecida como Gnose [7].

Segundo a tradição esotérica, a Cabala teria sido instituída pelo GADU como forma de comunicação entre os anjos. Era, portanto, uma espécie de linguagem utilizada pela primeira criação divina, antes mesmo Dele pensar em criar a humanidade.

Segundo os ensinamentos da Cabala, antes de Deus fazer o homem, os anjos formavam uma espécie de Irmandade, ou escola teosófica, sediada no Éden, chamada Fraternidade dos Elohins. Depois da queda, alguns desses anjos a ensinaram aos homens para que estes pudessem interpretar a linguagem divina e conhecer a verdadeira vontade de Deus, e assim poder voltar, um dia, ao estado de beatitude e perfeição que possuíam antes da queda [8].

Somente alguns poucos homens, em cada geração, receberam este conhecimento. Entre eles, Adão e seu filho Seth, que a passaram aos seus descendentes Enoque, Noé e Abraão. Esta lenda é desenvolvida na Maçonaria dos graus superiores como representação pictórica e simbólica da transmissão da sabedoria aos homens. Na verdade, trata-se da explicação de como o processo de aquisição da consciência por parte do ser humano aconteceu, e como ele se desenvolveu ao longo do tempo. É uma alegoria de profundo conteúdo esotérico, mas que também se apoia em trabalhos científicos de muito respeito [9].

João Anatalino Rodrigues

Do livro “Construtores do Universo”

Notas

[1] Maçonaria operativa é aquela formada pelos pedreiros medievais. Eles formavam guildas, ou associações que mantinham em segredo os seus conhecimentos e só os transmitiam de forma muito restrita, e mesmo assim, através de uma linguagem só conhecida pelos iniciados.

Maçonaria especulativa são as associações que se formaram em fins do século XVII, pela admissão, entre os pedreiros, dos chamados “maçons aceitos”, ou seja, pessoas não ligadas ao ofício da construção.

[2] Os “maçons aceitos” eram principalmente filósofos e alquimistas, perseguidos pela Igreja em razão da Reforma Protestante e a Inquisição.

[3] A este respeito veja-se Fulcanelli, O Mistério das Catedrais, Ed. Esfinge, Lisboa, 1968

[4] Estas prescrições estão na Bíblia, nas instruções dadas a Moisés para a construção do Tabernáculo, tenda usada pelos israelitas como santuário, antes da construção do Templo de Jerusalém. Com respeito à doutrina secreta contida na Bíblia, veja-se Northrop Frye – O Código dos Códigos – Ed Boitempo, 2004

[5] No alfabeto hebraico, cada palavra deve ser combinada com o seu número para dar o seu significado exato. O nome Jesus (Yeshua), por exemplo, equivale ao número 888, número considerado perfeito pela tradição cabalística.

[6] Os Dez Mandamentos e todas as prescrições e relatos contidos nos cinco livros de Moisés, conhecido como Pentateuco. (Génesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio).

[7] Gnose quer dizer iluminação, ou seja, a conquista da salvação pelo conhecimento das verdades divinas.

[8] A queda é descrita na Bíblia como expulsão do casal humano do Éden. Segundo a doutrina da teosofia, antes da queda, homens e anjos viviam em harmonia, e havia uma intensa interação entre as duas espécies. A razão da queda foi a ambição humana de se apropriar do conhecimento secreto, e a disposição de alguns anjos (Elohins) de transmiti-lo ao homem.

Este acontecimento é descrito na Bíblia, através da metáfora da serpente que seduz Eva para que coma a maçã, e depois a ofereça à Adão. Esta metáfora, na verdade, relaciona-se com o despertar da consciência humana (primeiro ocorrida na mulher em razão da sua capacidade de gestação). A este respeito, ver as obras de Helena P. Blavatsky, Isis Sem Véu e Doutrina Secreta- Ed. Pensamento, 1987 e 1989.

[9] Estas teses são defendidas em vários estudos científicos, entre os quais podemos destacar os trabalhos do antropólogo alemão Bachoffen (O matriacarlismo e o patriarcalismo, Alemanha-1929) e o psicanalista austríaco Carl Gustav Jung nos seus estudos sobre os arquétipos que influenciam o inconsciente coletivo da humanidade. Sobre a relação deste tema com a arquitetura veja-se o interessante estudo de Alex Horne, O Templo de Salomão na Tradição Maçônica (Ed. Pensamento, 1988).

 

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