segunda-feira, 24 de março de 2025

INTERCÂMBIO MAÇÔNICO


 

Este breve e despretensioso artigo chega aqui, no imperfeito e impreciso mundo linguístico humano, com o franco propósito de preparar e ousar semear uma ideia no jardim do pátio do nosso Templo Interior. Alguns irmãos, agora mesmo, lendo este texto já poderão – instintivamente – até interromper seu entendimento, algo não benéfico para iniciados e livros pensadores, por precipitadamente avaliarem que se deva exaltar mais a importância da construção de nosso próprio Templo Interior do que empenhamos algum tempo na reflexão do tema aqui proposto.

Peço, de qualquer forma, a fraterna confiança de todos os senhores para perseverarem, a despeito de cada vez mais comum deficiência temporal, imposta pelo mundo profano, até a conclusão da exposição desta estrutura de ideia germinativa e frutífera, uma, quiçá, semente de Luz que em mim ocorreu e deseja chegar até os olhos de sua compreensão benemérita e maçônica.

Após nascermos aprendizes e recebermos a Verdadeira Luz, de forma semelhante a um bebê humano recém-nascido, tudo nos é estranho: pessoas, palavras, frases, encenações, rituais, cenários, iluminação, paramentos. Serve-nos tal analogia para termos a devida paciência e o devido zelo para com todo neófito, a começar por nós mesmos, enquanto cruzando por essa condição. Quando “tirar de casa e levar o recém-nascido para passear?”

Não nos parece ser sensato, ainda que o contexto possa acontecer que, um irmão com algumas sessões em sua Loja, mal comece a digerir os novos e inicialmente complexos conhecimentos ritualísticos de seu Rito, seja já levado por um Mestre Maçom para visitar uma Loja que seja praticante de um Rito diverso do seu. Não se trata de não confiar na capacidade do Neófito, mas, sim, de preservá-lo de uma frustração, uma confusão, por não assimilar todas as informações que ele for exposto. Imagine um passeio ao exterior com um ser tão recente?

Cabe aqui uma pequena e reflexão adicional: O quanto os Mestres que apadrinham os candidatos profanos realmente estão preparados, ou renovadores em espírito, para abraçar toda a responsabilidade que é garantir e dar a devida atenção ao seu afilhado até que cruze os portais do 1º e dos 2º graus simbólicos?

Além disso, os Mestres de cada Loja buscam debater e instruírem-se sobre a conduta maçônica desejada ao Mestre Padrinho Maçom, dirimindo as dúvidas ou usos e costumes equivocados quanto a isso? Qual o impacto de um Aprendiz ou Companheiro que convida um profano pedindo a um Mestre que seja o padrinho mesmo sem ter estudado profundamente o candidato? Esse mesmo Mestre entende que poderia recusar o convite ou, no caso de aceitar, deveria honrá-lo como se fosse uma decisão própria até esse candidato atingir o mestrado?

Quanto às Lojas que apresentam dilemas, oxalá temporários, tais como um quadro restrito ou uma baixa frequência dos obreiros, que por vezes inviabilizam a execução do Ritual, podem vir a precisar de espaçar suas reuniões de semanais para quinzenais, ou até mensais.

Talvez um relacionamento distanciado entre as lojas do mesmo Rito ou falta de abertura e/ou interesse em ouvir e falar sobre a realidade de cada Loja.

Não se deve ter qualquer julgamento sobre esses casos específicos, pois é preferível manter os neófitos na presença do Sagrado o máximo possível, para tanto, a visitação oferece uma possibilidade. O que aqui nos propomos reflexivamente, adicionalmente, é se cada Mestre responsável em acompanhar seus Companheiros e suas Aprendizes com algum planejamento para atingir tal objetivo, sem descobrir as necessidades dos Irmãos sob sua tutela:

  • Foi pesquisado, a tempo, qual Loja Simbólica Regular existe, do mesmo Rito, que poderia recebê-los?
  • Caso só haja uma Loja de outro Rito para ser visitada, algum Mestre está apto, ou seja, tem cultura maçônica enriquecida o suficiente para preparar os visitantes basicamente sobre a essência do Rito no Grau proposta?
  • Foi procurado, em um contato prévio, saber da Loja a ser visitada qual será a Ordem do dia/ temática/ instrução a ser abordada, para os Irmãos visitantes entenderem e aproveitarem ainda mais sua noite?
  • Existe o traje, quando há visitação do irmão menos experiência saber/ ser instruído/ reforçado sobre o básico quanto ao vestuário, paramentos e postura no Templo?

Feita a necessidade de reflexão, convencida o excelso Irmão leitor, que manteve aberto seu entendimento até aqui, para repensarmos quais os benefícios possíveis, para os Irmãos dos diversos Ritos Maçônicos regulares, de cultivarmos o bom costume de entender também, ainda que minimamente, o universo maçônico decifrado por outros ritos, tão belo e tão rico quanto o que percebemos individualmente.

Qual palavra teríamos sobre isso para promover o bem do nosso quadro e da Maçonaria em Geral? Seria essa prática algum portal para que seja tão melhor que os irmãos vivam em uma união mais palpável, mais próxima, mais real?

Uma Maçonaria Universal, mais unida e fortalecida de verdade, poderia elevar a qualidade de sua egrégora ao ter, em cada simbólico jardim templário um espaço, um quinhão de terra fértil para considerarmos o plantio desta semente de nos conhecermos melhor, dando um exemplo energético sutil do que seria o caminho da felicidade social, a qual sairia da teoria filosófica e que começaria na prática entre nós.

Tal semente poderia gerar, dentre outras, as plantas e árvores, frondosas e frutíferas, do Amor Fraterno, tão bem simbolizado na “Romã” e “tríplices abraços” do Rito Escocês, no “Cordial Aperto de Mão” do Rito Schröeder, no “Saúde, Força e União” do Ritual de Emulação etc. sessão ritualística, com tão belo Jardim, ornamentado e agradável, com sorrisos sinceros e fluência acolhedora do conhecimento nossa sobre a história e modo de trabalhar maçônicamente deles?

Fica o convite ao respeito às diferenças Rituais que existem, bem como ao ato de buscar conhecermos “a nós mesmos” enquanto Fraternidade que somos, além do isolado Ser posto que não se pode amar ao que não se conhece e não se esquecerá daquilo que se ame. Amemo-nos, reconheçamo-nos como Maçons, de fato e que assim possamos viabilizar ainda mais esse Amor Fraterno, do qual tanto se fala.

Por fim, que nesse Jardim metafórico, ainda que ele, simbolicamente, esteja externo à edificação onde ocorrem os trabalhos Ritualísticos de cada Loja, possa ser cultivado a ideia aqui proposta, a qual florescendo frutificará e ornamentará a composição, tanto da nossa Loja e Obreiros, quanto do Templo Interior do próprio Maçom – em eterno aprendizado, atraindo frutos de apoio universal, disponibilidade mútua e visão livre, pensada sobre um todo.

Autor: Adriano Ferreira Gazzo

*Adriano é Companheiro Maçom na BARLS Cidade de Esteio nº 16, n0 Oriente de Esteio-RS, jurisdicionado à MRGLMERGS

 

quarta-feira, 19 de março de 2025

A PLURALIDADE DE RITOS MAÇÔNICOS NO BRASIL


 

“De fato, é um laurel da Maçonaria Brasileira a Pluralidade de Ritos, porque o exercício de Ritos Regulares faz com que a nossa Obediência abrigue, generosamente, as várias correntes Filosóficas e Doutrinárias do Mundo Maçônico, desde o Agnosticismo até o Teísmo. Seria um atentado à História e à Justiça se, em obediência a imposições ilegítimas e alienígenas, criássemos agora obstáculos aos Ritos”

(Álvaro Palmeira)
Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil – 1963 / 1968)

A Gênese dos Ritos

Conceituamos rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia e, por extensão, designa culto, religião ou seita. Maçônicamente é a prática de se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio.

Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos surgiu. Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor um sistema de cerimônias e práticas, ainda sem o título de Rito, que normalizava as reuniões maçônicas.

Somente a partir de 1740 é que uma infinidade de ritos varreu o chão maçônico da Europa. Para evitar heresias, um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques, palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum órgão internacional para reconhecer ritos. Acima do 3° Grau, cada Rito estabelece a sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.

Um rito maçônico, usando simbolismo próprio, é um grande edifício. Deve ter projeto integrado, dos alicerces ao topo. Cada rito possui detalhes peculiares. A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos graus simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.

Os Ritos praticados no Brasil

Conforme observamos, existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o mundo. No Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles reconhecidos e praticados internacionalmente e outros com valor apenas regional. São eles, o Rito Schroeder ou Alemão (pouco praticado no Brasil), o Rito Moderno ou francês, o Rito de Emulação ou York (o mais praticado no mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e Aceito (o mais praticado no Brasil).

O RITO SCHROEDER foi criado por Friedrich Ludwig Schroeder que, ao lado de Fessler, foi um dos reformadores da Maçonaria alemã. De acordo com o prefácio do ritual editado em 1960 pela Loja “ABSALON ZU DEN DREI NESSELN” (Absalão das Três Urtigas), Schroeder introduziu o rito na sua Loja a 29 de junho de 1801 e este rito, desde logo, conquistou numerosas Lojas em toda a Alemanha e noutros países onde passou a ser praticado, principalmente por maçons de origem alemã.

É um rito muito simples e trabalha, como o de York, apenas na chamada “pura Maçonaria”, ou seja, na dos três graus simbólicos, já que não possui Altos Graus. No Rito Schroeder a expressão “Grande Arquiteto do Universo” é usada no plural – “Grande Arquiteto dos Universos (GADU).

O RITO MODERNO, criado em 1761, foi reconhecido pelo Grande Oriente da França em 1773. A partir de 1786, quando um projeto de reforma estabeleceu os sete graus do rito – em contraposição ao emaranhado dos Altos Graus da época -, ele teve grande impulso espalhando-se por toda a França, pela Bélgica, pelas colónias francesas e pelos países latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Já no início do século XIX, o Grande Oriente do Brasil – primeira Obediência brasileira – foi fundada em 1822, adoptando o Rito Moderno, antes do Rito Escocês que só seria introduzido em 1832.

Em 1817 houve a grande reforma doutrinária que suprimiu a obrigatoriedade da crença em Deus e da imortalidade da alma, não como uma afirmação do ateísmo, mas por respeito à liberdade religiosa e de consciência, já que as concepções religiosas de uma pessoa devem ser de foro íntimo, não devendo ser impostas.

O Grande Oriente da França, que acolheu a reforma, queria demonstrar com isso o máximo de escrúpulos para com os seus filiados, rejeitando toda e qualquer afirmação dogmática. Esta atitude provocou uma rápida reação da Grande Loja Unida da Inglaterra que rompeu com o Grande Oriente da França. O caso envolveu não apenas uma questão doutrinária como ainda político-religiosa.

O RITO YORK é considerado bastante antigo. A Grande Loja de Londres, durante muito tempo após a sua fundação, teve uma influência muito limitada, pois a grande maioria das Lojas britânicas continuava a respeitar as antigas obrigações, permanecendo livres sem aderir ao sistema obediencial.

O centro de resistência à Grande Loja era a antiga Loja de York, de grande tradição operativa e que dava aos membros da Grande Loja o título de “Modernos”, enquanto eles próprios se autodenominavam “Antigos”, pelo respeito às antigas leis.

O que os Antigos censuravam nos Modernos era a descristianização dos rituais, a omissão das orações e da comemoração dos dias santos, contrariando assim os mandamentos da Santa Igreja (Anglicana).

O cisma entre os Antigos e Modernos durou até 1813, quando as duas Grandes Lojas se fundiram formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, que adoptava o Rito dos Antigos de York.

A Constituição deste Supremo Órgão foi publicada em 1815. O rito não possui Altos Graus, tendo além dos três simbólicos, uma quarta etapa designada de “Real Arco”, que é considerada uma extensão do Mestrado. O Rito de York, por ser teísta, está mais ligado aos países onde os cultos evangélicos predominam, pois o clero desses cultos tem dado à Maçonaria o apoio e o suporte necessário para a sua evolução e crescimento.

O RITO ADONHIRAMITA nasceu de uma polêmica entre ritualistas em torno de Hiram Abiff, chamado de ADON-HIRAM (Senhor Hiram) e ADONHIRAM, o preposto das corveias, depois da construção do Templo de Jerusalém, de acordo com os textos bíblicos. O rito, depois de uma época de grande difusão, acabou desaparecendo. Todavia, no Brasil (onde foi o primeiro rito praticado), ele permaneceu, fazendo com que o país seja hoje o centro do rito, que teve os seus graus aumentados de treze para trinta e três. O Rito Adonhiramita é deísta.

O RITO BRASILEIRO teria sido criado em 1878, em Pernambuco, mas tem a sua existência legal a partir de 23 de dezembro de 1914, quando foi publicado o Decreto n° 500, do então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, Lauro Sodré, fazendo saber que, em sessão do Conselho Geral da Ordem tinha sido aprovado o reconhecimento e incorporação do Rito Brasileiro entre os que compunham o Grande Oriente do Brasil.

Depois o Rito desapareceria, para ressurgir em 1940 e novamente em 1962, praticamente desaparecer, até que em 1968, o Decreto n° 2080, de 19 de março de 1968, do Grão-Mestre Álvaro Palmeira, renovava os objetivos do Ato n° 1617 de 3 de agosto de 1940, como o marco inicial da efetiva implantação do Rito Brasileiro. A partir daí, o rito teve grande crescimento no país.

O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou a nascer na França, quando Henriqueta de França, viúva de Carlos I, decapitado em 1649, por ordem de Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em Saint-Germain-en-Laye, para lá se retirando com os seus regimentos escoceses e irlandeses e os demais membros da nobreza, principalmente escocesa, que passaram a trabalhar pela restauração do trono, sob a cobertura das Lojas, das quais eram membros honorários, o que evitava que os espiões de Cromwell pudessem tomar conhecimento da conspiração.

Consta que Carlos II, ao se preparar para recuperar o trono, criou um regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661. Este regimento possuía uma Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de 1688 e que foi a única Loja do século XVII cujos vestígios ainda existem, embora os stuartistas católicos devam ter criado outras Lojas.

O termo “escocês”, já a partir daquela época, não designava mais uma nacionalidade, mas o partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses na sua maioria. Assim, após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na França dois ramos maçônicos: a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas livres, e a inglesa com Lojas ligadas à Grande Loja.

A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em 1735, escolher um Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à fundação da Grande Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta designação só apareça em 1765. O escocesismo, na realidade, só se concretizou com a introdução daquilo que seria a sua característica máxima, os Altos Graus, através de uma entidade denominada “Conselhos dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”.

Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25 graus, o qual, incorporado ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus, concretizada do primeiro Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter sido um rito deísta, não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam as Igrejas Evangélicas e vicejou mais nos países latinos onde predomina o Catolicismo. É necessário explicar que actualmente o caráter deísta do Rito Escocês Antigo e Aceito misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo predominante. O REAA tem o mesmo forte carácter teísta do Rito de York.

Conclusão: A Unidade na Diversidade

A Maçonaria caracteriza-se pela diversidade e sempre admitiu a pluralidade de ritos. O Sistema do Rito Único, caso existisse, não seria um bom sistema. A Ordem reuniu sistemas diversos formando uma unidade superior, perfeitamente caracterizada que é a Doutrina Maçônica.

A Maçonaria convive com muitos ritos, uns teístas, outros deístas sem esquecer os agnósticos.

Afinal, há muitas maneiras de se relacionar com Deus. Mas há um detalhe: o Maçom não pode ser ateu. Em decorrência deste eclectismo, as manifestações maçônicas disseminadas no mundo ao longo do tempo, apresentam-se com grande diversificação, havendo Unidade na Diversidade.

É possível que a máxima “E PLURIBUS UNUM” (A Unidade na Diversidade), inscrita no listel que envolve a parte superior do Selo dos EUA seja de origem maçónica. Afinal, todos os chamados “pais da pátria” daquele país foram maçons, a começar por George Washington.

Lucas Francisco Galdeano – Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Distrito Federal.

Referências Bibliográficas

  • CASTELLANI, José. Curso Básico de Liturgia e Ritualística. Londrina, Ed. “A TROLHA”, 1991;
  • FARIA, Fernando de. Rito Brasileiro de Maçons Antigos, Livres e Aceitos. “O SEMEADOR” n° 8 (2a fase) Jul. – Dez. 1990;
  • OLIVEIRA, Arnaldo Assis de. Escocesismo. Trabalho para aumento de salário no Ilustre Conselho de Kadosch n° 22, 1992;
  • “EGRÉGORA” n° 1 / Jul. – Ago. 1993; n° 2 / Set. – Nov. 1993; n° 3 / Dez. 93 – Fev. 1994; n° 4 / Mar. – Mai. 1994; n° 5 / Jun. – Ago. 1994.

 

sexta-feira, 14 de março de 2025

O QUE É FRATERNIDADE?

Frequentemente ouvimos reformadores zelosos dizerem que os homens precisam aprender a ser seres sociais, que o individualismo, o egoísmo e todas essas crenças são prejudiciais em seus efeitos e que a socialização da vida trará uma era com a qual William Morris sonhou quando escreveu que “a fraternidade é o céu, a falta de fraternidade é o inferno.” (Ou ele usou a palavra “companheirismo”? Não importa.)

Por mais admirável que seja o espírito e a intenção desses reformadores, há uma falácia no cerne de sua teoria. Nós, humanos, já somos seres sociais: nascemos assim. Dizer-nos que precisamos nos tornar sociais é como dizer aos peixes que vivam na água.

Quando um bebê nasce, desde o primeiro instante, ele se encontra no seio de uma família e está ligado por laços indissolúveis ao pai, à mãe, aos irmãos. Conforme cresce, descobre que tem vizinhos ao seu redor.

Quando chega à idade escolar, aprende que há centenas de outras crianças como ele. Na vida adulta, provavelmente se casará e terá sua própria família. Se tiver uma ocupação, perceberá que seu trabalho diário só é possível porque há milhões de outros seres humanos com os quais compartilha interesses comuns.

A natureza social do mundo se reflete na estrutura do próprio corpo e da mente. O homem possui a faculdade da fala, o que implica que há outros ao seu redor com algo a comunicar e que ele também tem algo a comunicar a eles. Quase todo o seu pensamento se refere às suas relações com os outros.

Quando ele se dedica ao aprendizado, a maior parte de seu conhecimento trata de outras pessoas e do que fizeram ou foram. A própria consciência individual, segundo os psicólogos, é de tal natureza que, se um bebê crescesse sozinho em uma ilha deserta, ele se tornaria idiota ou insano, não importando o quão saudável fosse seu corpo. Não há como um homem se tornar um ser social, porque ele já o é e jamais poderá ser outra coisa.

A socialidade é um fato orgânico, embutido na natureza do homem e do mundo humano, do qual ele não pode escapar, assim como não pode escapar de sua própria pele. Este fato, ao que me parece, é absolutamente essencial para uma compreensão correta do nosso tema.

Esses fatos são tão evidentes para nós que parece impossível que qualquer pessoa madura possa ignorá-los. No entanto, foi exatamente isso que ocorreu, e com milhões de pessoas, pois essa compreensão do homem como ser social por natureza é uma das conquistas do pensamento moderno e da pesquisa científica.

Durante muito tempo, os psicólogos presumiram que o homem surgia como um indivíduo solitário, sem conexão com os outros, e que gradualmente assumia relações sociais. Sociólogos e economistas políticos se esforçavam para explicar como uma individualidade autossuficiente como a do homem poderia ter formado comunidades. Rousseau propôs a teoria do “Contrato Social” para explicar o fenômeno; Hobbes trouxe outra teoria, e assim por diante.

Economistas começaram seus tratados descrevendo um homem hipotético vivendo sozinho em uma ilha deserta e depois tentavam demonstrar como seus interesses econômicos o levariam a formar associações industriais com outros. Teólogos imaginavam o homem surgindo como uma unidade solitária, que depois deveria ser levada a se relacionar com Deus e com outros homens.

Todas essas teorias, então e agora — pois ainda sobrevivem de alguma forma —, são inúteis porque partem do pressuposto de que o homem é uma unidade solitária que precisa se tornar social por esforço próprio, enquanto a verdade é que ele já é social desde o princípio.

Sendo isso verdade, fica evidente que a fraternidade não é apenas uma aspiração sentimental, sentida por pessoas sensíveis e buscada por idealistas. Pelo contrário, ela já é um fato, tão real e sólido quanto a rocha-mãe que sustenta as montanhas.

Praticar a fraternidade é descobrir que nós, humanos, já somos irmãos por natureza e que nunca seremos felizes ou viveremos em harmonia com as leis e forças do nosso próprio ser até aprendermos a amar uns aos outros e cultivarmos o espírito fraternal. Quem acredita que somos, por natureza, como lobos ou tigres, impedidos de nos devorar apenas pelo medo ou pelo costume, e que apenas aqueles que constroem suas vidas sobre o egoísmo têm a natureza a seu favor, comete um erro fatal.

O único homem que tem a natureza ao seu lado é aquele que constrói sobre o fato de que o ser humano é um ser social e que, portanto, jamais poderá ser feliz até viver em harmonia com seus semelhantes.

Os psicólogos, que realizam cuidadosas investigações sobre os instintos, nos dizem que a antiga ideia de que o instinto mais poderoso do homem é o da autopreservação, com tudo o mais sendo secundário, é uma falácia terrível.

A verdade, segundo eles, é que os instintos voltados para os outros, como o instinto da paternidade e o instinto da socialidade, são igualmente primitivos e igualmente poderosos, e que o indivíduo que os suprime sofrerá de inúmeras formas. Por que alguém, ao ver uma pessoa prestes a se afogar, mesmo que seja um total desconhecido, abandonaria esposa e filhos para se lançar na água, arriscando a própria vida? Ele não raciocina nem argumenta sobre o assunto; age por instinto.

A necessidade de viver uma vida fraterna está escrita nas próprias fibras do nosso ser, e quem vive em oposição a essa necessidade se condena a um estado anormal em que sua felicidade desaparecerá. Isso, ao que me parece, é uma das primeiras leis da fraternidade: não se trata de um luxo sentimental, mas de uma necessidade, tal como pão, ar e água.

Podemos descrever a fraternidade como o desenvolvimento normal dos instintos sociais ou como um ajuste sábio e sensato do indivíduo à sua comunidade. Quem faz esse ajuste não o faz por mero sentimentalismo ou desejo piedoso, mas porque essa é a realidade da natureza humana. Assim como o homem precisa estar em relação correta com os alimentos que ingere para manter a saúde, ele também precisa estar em relação correta com seus semelhantes para viver com felicidade.

Aquele que compreende que a fraternidade é uma forma de sabedoria e que a realidade exige sua prática não será perturbado por dificuldades sentimentais. Tampouco permitirá que experiências pessoais o tornem amargo em relação ao ideal fraterno. Pode ser que eu e meu vizinho sejamos completamente opostos um ao outro. O que eu admiro, ele detesta. O que ele ama, eu odeio.

Seu temperamento é contrário ao meu. Nossas ocupações entram em conflito. Não conseguimos conviver socialmente porque nossas diferenças são muitas. Mas isso não tem nada a ver com a fraternidade. Ser fraterno não exige que gostemos pessoalmente de todos, nem que todos gostem de nós. Isso pertence ao domínio das amizades privadas, não à fraternidade.

Se não posso gostar do meu vizinho, ainda assim posso ser seu irmão. Posso ser justo em todos os meus negócios com ele. Posso me recusar a prejudicá-lo ou a falar mal dele. Posso manter uma atitude de boa vontade e desejar-lhe felicidade. Posso estar sempre pronto a ajudá-lo e jamais colocar obstáculos em seu caminho. Se tivermos uma divergência, posso enfrentá-la como um homem, honestamente e sem rancor infantil. Essa atitude é o espírito fraterno, e pode florescer mesmo onde a amizade pessoal for impossível.

Na Maçonaria, chamamos o vínculo que une os homens nesse esforço de “Laço Místico”. É impossível descrevê-lo, mas aqueles que o conhecem por experiência não precisam de definições. Ele mistura amizade e cooperação, mas é algo maior que ambas.

Por mais que possamos definir esse vínculo, é verdade que aquilo a que nos referimos é, na realidade, a esperança do mundo. Somente quando os homens estiverem unidos por esse laço, sejam ou não maçons, a humanidade poderá avançar em direção à felicidade. Pois, no fim das contas, o mundo é uma unidade, e a raça humana é uma só. Essa é a verdadeira natureza da humanidade, e ela nunca poderá ser feliz até que todos ajam em harmonia com sua essência.

Aqueles que zombam das aspirações pela unidade racial, pelo internacionalismo e por todos os esforços para aproximar os homens uns dos outros, e as mulheres entre si, não sabem do que falam, pois, ainda que não percebam, são eles que estão iludidos por sentimentalismos vazios e miragens imaginárias — não aqueles que trabalham para construir a vida sobre as bases em que ela foi destinada a repousar.

Na medida em que um homem compreende a fraternidade e age em conformidade com suas exigências, ele sempre trabalhará pela unidade humana. Em sua loja maçônica, ele não será uma força de divisão e distração. Em sua comunidade, será um bom cidadão, que entende que a sociedade tem o direito de exigir sacrifícios de seus membros.

Ele sustentará e defenderá os princípios de seu país e se oporá a toda influência que contribua para sua degradação e fragmentação. Usará seus esforços para combater a antipatia racial, as diferenças religiosas e o ódio de classes.

Estará sempre contra a guerra, o fanatismo, os ciúmes nacionais e as ambições injustas, as intrigas de falsos estadistas e a complacência pública com vícios sociais. Essa é sua missão como verdadeiro soldado da fraternidade.

A Maçonaria desempenhou um papel crucial na promoção dessas condições, e a parte que ainda lhe cabe desempenhar “é maior do que os doze trabalhos de Hércules”. É algo grandioso para o mundo que, em tempos em que o espírito de conflito e divisão está tão disseminado, exista uma organização internacional poderosa de homens que pregam e enfatizam a necessidade de unidade, harmonia e cooperação entre as nações.

Gosto de pensar que a Fraternidade Maçônica é uma grande escola onde os homens aprendem a fraternidade praticando-a com seus irmãos maçons, pois quem começa praticando entre seus irmãos acabará, mais cedo ou mais tarde, por praticá-la com todos. E gosto de imaginar que a Maçonaria é um mundo dentro do mundo, onde esses hábitos de fraternidade estão se desenvolvendo e um dia se enraizarão em toda parte. Assim como o jardineiro semeia suas plantas no abrigo da estufa durante o inverno para depois levá-las ao ar livre, dentro dos braços protetores da Fraternidade está crescendo um espírito que, à medida que as condições permitirem, se espalhará por toda parte.

O grande trabalho do mundo só pode ser realizado pelo esforço conjunto e cooperativo de todos os homens. No momento, esse mundo está despedaçado, sangrando em cada ferida. Isso não significa que a fraternidade tenha fracassado. Significa que um mundo sem fraternidade é um fracasso.

A fraternidade é o único meio viável para curar as dores da humanidade. Cada indivíduo que aprende na loja maçônica as lições de fraternidade e as aplica em sua vida cotidiana contribui para uma nova ordem onde reinará a paz para todos os homens.

Algo que deve realizar tal obra não pode ser uma frágil manifestação de sentimentalismo privado. Trata-se de uma força mundial capaz de empreendimentos gigantescos. Aqueles que a veem apenas como um aperto de mão e uma tapinha nas costas estão lidando com ela como crianças. A fraternidade é uma lei universal, destinada a transformar a terra em conformidade consigo mesma. Como força mundial, é algo magnífico, imponente, quase divino.

"Eu proclamo a palavra de ordem primordial, dou o sinal da Democracia; Por Deus! Não aceitarei nada que não possa ser compartilhado por todos nós mesmos termos... Sonhei em um sonho que vi uma cidade invencível contra os ataques do restante do mundo; Sonhei que essa era a nova Cidade dos Amigos; nada ali era maior do que a qualidade do amor forte — era ela que guiava todo o resto...Rapidamente se ergueu e se espalhou ao meu redor a paz e o conhecimento que transcendem todos os argumentos da Terra, e sei que a mão de Deus é a promessa da minha própria, e sei que o espírito de Deus é o irmão do meu próprio, e que todos os homens que já nasceram são também meus irmãos, e as mulheres, minhas irmãs e amantes, e que o esteio da criação é o amor...Seria um sonho? Não! O sonho é a ausência disso, e, sem isso, a vida e sua riqueza não passam de ilusão, e todo o mundo, um sonho!" (Walt Whitman, Folhas de relva)

Autor: H. L. Haywood

*A tradução do texto original foi realizada com uso de IA.

 

 

terça-feira, 11 de março de 2025

CONSCIÊNCIA DO MAÇOM


 

O Maçom é sempre obediente? Não! Ele obedece a uma treinada consciência voltada para o bem e baseada em princípios morais.

Consciência é capacidade humana que pode ser treinada e desenvolvida.

É o utilitário de segurança mais usado pelo homem sábio com vistas à pureza moral. É ela quem efetua comparações com padrões de moral que freiam o mal. A constante convivência com pessoas detentoras de elevada moral injeta na mente comportamentos, pensamentos, crenças e diretrizes que a treinam.

Estudar e filosofar temas morais também contribui na sua boa edificação. Mas não é suficiente! É necessário querer e estar disposto em aceitar mudanças, orientações e advertências. Quando certa ação conflita com o padrão desenvolvido no condicionamento moral, soa o aviso de alerta ao início da contenda, empunha-se a consciência como escudo. Ela acusa e defende o homem do proceder que prejudica.

Deixa de funcionar se estiver cauterizada, tornada insensível por inúmeros atentados que a desrespeitam. A consciência gera culpa e esta imobiliza a ação errada. A companhia de pessoas promíscuas e praticantes de atos atentatórios à moral prejudica o seu bom condicionamento.

É semelhante ao arrancar de terminações nervosas da carne que fica destituída de tato. A ação da pessoa passa a ser controlada pelo temor a castigos e não mais ao sentimento de culpa que imobiliza a ação do mal.

No Rito Escocês Antigo e Aceito o adepto recebe de herança cultural a direção que preconiza a obediência de caserna, disciplina marcial e rígida, influência de vetustas ordens de cavalaria e profissionais. A companhia de pessoas boas e disciplinadas auxilia no desenvolvimento de boa consciência.

Razão da boa e criteriosa escolha de novos obreiros. Profano que não possui estatura mínima em sentido moral é impedido de entrar na Maçonaria, daí a importância de rigorosas sindicâncias. Uma vez iniciado, a convivência pacífica e amorosa entre os maçons proporciona a sintonia fina da consciência sensível e inteligente.

Quem não treina a sua consciência faz de si um animal incapaz de se ocupar de outra coisa, a não ser daquela do destino próprio dos animais.

Se a consciência do Maçom está afinada com a moral, este pode até dispensar o livro da lei no altar dos juramentos. O detentor de boa consciência tem um livro da lei escrito no coração e na mente.

Para o cristão, a bíblia judaico-cristã é símbolo da sua consciência. Representa espiritualidade e racionalidade de todo homem bom dotado de consciência voltada ao bem. Aquele que passa por transformação em sentido lato, reunindo em si bons princípios morais, éticos, religiosos, emocionais, físicos e espirituais tem o alicerce da sua consciência construído sobre a rocha.

O Maçom usa a inteligência para se educar e afinar a consciência ao que ditam as leis naturais estabelecidas pelo Grande Arquiteto do Universo. Desenvolve e entende a mensagem contida na filosofia da Maçonaria, em cuja escalada peregrina ao interior de si. Trabalha a pedra por dentro nos exercícios de individuação tornando-se consciente do milagre da vida que o anima. E nesse seu mundo interior desenvolve acurada consciência, instrumento que o desculpa e acusa, diferencia entre bem e mal, percebe certo e errado.

Na história da Maçonaria observa-se que quando de parte de maçons ocorreu desobediência civil, aconteceram factos que promoveram melhorias às sociedades humanas. Treinado a consciência o Maçom desobedece a tudo o que possa bloquear o exercício da liberdade responsável, o bom uso da liberdade com possibilidades de escolhas.

O Maçom obedece mais à consciência criada pelo Grande Arquiteto do Universo que às leis, dogmas religiosos e ideologias políticas. Parte do princípio que aceitar de forma passiva às leis injustas as tornam legítimas.

A sua espiritualidade associada à sua boa consciência leva-o a caminhar conforme os elementos do seu projeto existencial onde não obedece a ordens que conflitam com a moral guardada pela consciência. Tem o dever juramentado de se rebelar contra leis e dominações injustas.

Cultiva e condiciona a sua consciência para a ação orientada ao amor fraterno; aquele sentimento em ação que soluciona a todos os problemas de relacionamento e humaniza o homem.

O treino da consciência é atividade permanente do Maçom e é por isso que ele começa cada tarefa invocando a glória do Grande Arquiteto do Universo.

Charles Evaldo Boller

Bibliografia

ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, ISBN 978-85-311-1134-1, Sociedade Bíblica do Brasil, 1268 páginas, Baruerí, 2009;

BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368 páginas, São Paulo, 2004;

CAMINO, Rizzardo da, Reflexões do Aprendiz, Colecção Biblioteca do Maçom, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 157 páginas, Londrina, 1992;

RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Volume 04, ISBN 978-85-7252-233-5, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 172 páginas, Londrina, 2007.

 

sábado, 8 de março de 2025

QUANDO UM MAÇOM DESISTE


 

Quando um maçom se demite porque não pode ser amigo de todos os seus irmãos da Sociedade, talvez não lhe tenham explicado que a amizade em Maçonaria deve ser entendida como atmosfera e não como uma relação obrigatória de todos com todos.

Quando um maçom se demite porque se ofendeu com alguma expressão, talvez não lhe tenham explicado que Maçonaria é uma escola de iniciática, onde não cabe hipersensibilidade, porque todo o espaço está ocupado pela tolerância.

Quando um maçom se demite porque o valor da quota não está de acordo com o seu orçamento (por defeito ou por excesso), talvez não lhe tenham explicado que a Loja é um corte transversal da sua comunidade e que isso também é válido em termos econômicos.

Quando um maçom se demite porque sua loja recentemente na sua comunidade, talvez não lhe tenham explicado que a Maçonaria faz filantropia, mas não é uma instituição filantrópica, que a Sociedade faz caridade, mas não é uma instituição caridosa.

Quando um maçom se demite porque os comportamentos de alguns irmãos não têm, a seu critério, as características correspondentes aos nossos princípios em 100%, talvez não lhe tenham explicado que a Sociedade é formada por homens, não por anjos, por homens que têm consciência da sua imperfeição e o desejo de melhorar tal condição. Que a Sociedade, mais do que um conclave de perfeitos, é um campo de treino para ser aperfeiçoado.

Quando um maçom se demite porque não lhe fizeram justiça na hora de distribuir as acusações, talvez não lhe tenham explicado que na Maçonaria não existe "corrida", que todas as acusações são postas de serviço transitórios, que na Maçonaria "não se consegue, se dá".

Quando um maçom se demite por falta de informação (não me disseram, não sei) talvez não lhe tenham explicado que todos os maçons têm todas as informações ao seu alcance, que a única coisa que é necessária é consultá-la porque o processo de comunicação precisa além de emissores criativos, receptores ativos.

Quando um maçom se demite porque viaja muito ou tem pouco tempo e não pode fazer coisas, talvez não lhe tenham explicado que na Maçonaria é antes de mais um fenômeno individual e depois um fenômeno coletivo porque se é 24 horas por dia e não apenas durante as festas.

Que na Maçonaria não cabe ao "se precisares de uma mão, avisa-me".

Ninguém deve nos avisar que somos precisos, é nossa tarefa perceber.

M.M:. Bruno Pregil

 

quarta-feira, 5 de março de 2025

O ESPÍRITO DA MAÇONARIA


 

Pode ser aconselhável definir as duas palavras "Loja" e "Constituição", de forma a que o seu significado verdadeiro possa estar corretamente nas nossas mentes.

Uma Loja é, em primeira instância, um lugar onde os maçons se reúnem e aí desenvolvem o trabalho do Ofício, continuam com o trabalho de construção do Templo do senhor, entram, passam e erguem-se maçons. É proeminentemente um lugar para trabalho, para a assunção de responsabilidades e para as atividades conjuntas dos maçons reunidos, a trabalhar na forma devida e sob o comando correto.

Uma Loja é também um símbolo, ou forma exterior e visível, de uma realidade interior e espiritual. Isto é frequentemente esquecido pelo maçom mediano que recusa reconhecer a sua base espiritual, estando ocupado inteiramente com as suas implicações éticas.

Esta definição leva o conceito para dentro e traz-nos perante o verdadeiro trabalho da Maçonaria, apresentando-nos o seu aspecto subjetivo, ligando assim a realidade exterior e interior. Por estas palavras é definida a maior tarefa da Maçonaria, quando avança, na Nova Era que se avizinha, para ligar "aquilo que está dentro com aquilo que está fora" e para abarcar o mundo do tangível e conhecer com isso as realidades tangíveis e intangíveis.

Este é o problema com que os maçons se defrontam hoje. Devem ver se aquilo que está por baixo e visível é verdadeiro e alinhado exatamente com o projeto que está foi colocado sobre a prancha de desenho pelo Grande Arquiteto do Universo. É por essa razão que o projeto sobre a prancha de desenho é chamado uma Loja por alguns grupos de Maçons, em seu grau específico.

A definição de uma Loja como um lugar de encontro de maçons é uma das implicações menos importantes. Predominantemente, é uma representação de uma condição, atividade ou padrão invisível; é um símbolo de algo que pode ser conhecido, mas para qual é necessário fazer alguns preparativos devidos.

Os maçons não devem ser admitidos com ligeireza aos Mistérios do Ofício. É a sua representação pictórica ou materialização dos planos de Deus para a Humanidade, revelados claramente ao Homem, assim os possa interpretar, por intermédio dos símbolos tão ricamente manifestados no Templo, nos rituais e nos planos simbólicos colocados na prancha de desenho.

Assim deve ser encarada como uma assembleia de irmãos que se encontram, na forma devida, para estudar as verdades interiores ou mistérios, que -- quando compreendidas – permitirão ao Homem cooperar mais vital e utilmente com o propósito divino.

A construção de uma Loja deve assim estar conforme com estes requerimentos e estar alinhada com o propósito interior. Este fato está a surgir lentamente nas mentes dos maçons de hoje que pensam e o interesse mais novo está a mudar para um mundo interno de significado e de valores. Isto é indicado pela nova literatura maçônica.

Os homens não se satisfazem com reuniões numa sala adornada por símbolos, participações em rituais curiosos e invulgares e dedicações de tempo, pensamento e dinheiro a algo sem qualquer significado vital e que os conduza a nenhuma compreensão ou recompensa real, exceto o inculcar dessa moralidade, caridade, conhecimento, benevolência e relacionamento fraternal que permita a um homem passar, livre e aceite, para a Loja no Alto.

Estas recompensas têm o seu valor inestimável, mas não únicas, pois são também os atributos e objetivos de todos os homens bons e o caráter fundamental de todo o ensinamento religioso no mundo.

Alguma coisa mais deve ser garantida e provada sobre a Maçonaria, se pretender manter a sua direção sobre os corações e mentes dos homens por muito mais tempo. Hoje existem cerca de cinco milhões de maçons no mundo a trabalhar sob os Ritos de Iorque ou Escocês e a sua inteligência não estará satisfeita para sempre com uma representação ritual sem significado de verdades não reconhecidas.

A sua compreensão está a atrair muita da literatura especulativa dos nossos dias, estando hoje a levar os verdadeiros maçons por outras linhas de pensamento e mais profundamente dentro do mundo das ideias e significado interior do que jamais tinha acontecido antes.

A palavra "Constituição" traz consigo duas inferências vitais. Procede de duas palavras latinas: "statuere", aquilo que está e é estabelecido, fixo ou determinado e "con", significando "juntos", o que está estabelecido, fixado e em uníssono com outros. Os maçons devem ligar este pensamento com o nome de um dos Pilares encontrados no Pórtico do Templo do Rei Salomão.

O seu significado é "Ele estabelecerá". A ideia surge de uma predeterminação na mente do Altíssimo do que deve ser estabelecido pela constituição de uma Loja; este propósito divino, ou plano, apela à cooperação (o estabelecimento com) entre o Grande Arquiteto do Universo e os Seus construtores, o Ofício reunido para trabalhar numa Loja. Apela à cooperação entre todos os membros de uma Loja para essa formação conjunta que é necessária de forma a estabelecer, fixar e materializar o plano.

Uma Loja é também uma Loja devidamente constituída quando é "levantada" corretamente, para usar a expressão corrente. Ligação com este trabalho de uma Loja, enquanto devidamente constituída e enquanto a trabalhar constantemente para uma certa ideia, pode ser útil dar aqui alguns pensamentos chave. Estes devem lançar luz sobre todo o assunto e trazer iluminação ao maçom que está devidamente orientado para o Oriente. As afirmações antigas seguintes, dadas por ordem do seu significado, podem revelar-se de utilidade real. Todavia, não são dadas na ordem normalmente indicada.

Que o que está em baixo seja como o que está em cima;

Existe um padrão, traçado no Céu, com qual a Humanidade se deve conformar eventualmente;

Três Mestres Maçons dirigem uma Loja;

Cinco Mestres Maçons dão forma a uma Loja;

Sete Mestres Maçons constituem uma Loja de maçons;

Sete Mestres Maçons tornam-na perfeita;

Entremos na luz, passemos do irreal ao real e sejamos erguidos para a vida;

Estes são os setes aforismos mais importantes da Maçonaria. Mas, por tanto tempo que a forma exterior da Maçonaria atraiu a atenção dos irmãos, que é difícil para muitos reconhecer que tudo o que possuímos hoje é uma forma simbólica que atualmente encarna verdades espirituais interiores não reconhecidas.

O tempo deve chegar em que esse CENTRO de onde saiu a PALAVRA – essa PALAVRA que foi cometida aos três Grão-Mestres, o Rei Salomão, Hiram, Rei de Tiro, e Hiram Abiff – deva ser o Centro em que todos os Mestres Maçons ocupem a sua posição e trabalhem a partir daí. Só então poderá ser recuperada a Palavra Perdida e o trabalho da Trindade de MESTRES concretizado na Terra. Só então pode o Plano ser visto na sua pureza e só então pode a divina Prancha de Desenho ser compreendida com o "olho da visão".

Este é o "simples olho" a que se referiu o grande Carpinteiro de Nazaré, o qual, quando ativo, habilitará o seu possuidor a reconhecer que "todo o corpo está cheio de luz". O significado, considerado maçônicamente, destas palavras de Cristo é frequentemente esquecido. Podemos aqui lançar alguma luz sobre o símbolo do "OLHO" tão bem conhecido no Ofício.

Desde tempos imemoriais e em ligação com os Mistérios antigos, as palavras, "assim em cima como em baixo" foram proclamadas e indicaram o propósito de todo o trabalho maçônico. No céu, existe um Templo "eterno, não feito com mãos". A este Templo preside a Deidade Triuna. Constitui o modelo do que aparece na Terra, ou "em baixo". Sob o domínio desta Trindade de Pessoas, existem os Construtores do templo celeste e são – simbolicamente falando – sete em número. Os "Sete, dirigidos pelo UM e os Três". É por essa razão que "três dirigem uma Loja e sete constituem uma Loja e tornam-na perfeita". Isto foi-nos narrado com beleza nas estrofes seguintes, tiradas de um escrito muito antigo, que precede em muito a Bíblia Cristã. Foi redigido na forma modernizada seguinte.

"Que o Templo do Senhor seja construído", gritou o sétimo grande anjo. Então, para os Seus lugares no Norte, no Sul, no Ocidente e no Oriente, sete grandes Filhos de Deus moveram-se com passo medido e ocuparam os Seus assentos. O trabalho de construção era começado.

As portas foram fechadas e vigiadas. As luzes brilhavam esbatidas. As paredes do Templo não podiam ser vistas. Os Sete estavam silenciosos e as Suas formas estavam veladas. O tempo não tinha chegado para a irrupção da LUZ. A PALAVRA não podia ser pronunciada. Só um silêncio reinava. Entre as sete Formas, o trabalho prosseguia. Uma chamada silenciosa partiu de cada um para o outro. Todavia, a porta do Templo permanecia fechada...

À medida que o tempo passava, fora das portas do Templo, os sons da vida eram ouvidos. A porta era aberta e a porta era fechada. Cada vez que abria, um Filho de Deus menor era admitido e o poder no interior do Templo crescia. Cada vez, a luz crescia com mais força. Assim, um por um, os filhos dos homens entravam no Templo. Passavam de Norte para Sul, de Ocidente para Oriente e, no centro, no coração, encontraram luz, encontraram compreensão e o poder para trabalhar. Entraram pela porta. Passaram perante os Sete. Ergueram o véu do Templo e entraram na luz.

O Templo crescia em beleza. As suas linhas, as suas paredes, decorações e a sua largura, profundidade e altura emergiram lentamente à luz do dia.

Vinda do Oriente, uma palavra partiu: "Abri a porta a todos os filhos dos homens, que vêm de todos os vales obscurecidos da terra e deixai-os procurar o Templo do Senhor. Dai-lhes a luz. Desvelai o santuário interior e, pelo trabalho de todos os Obreiros do Senhor, estendei o Templo do Senhor, e assim irradiai os mundos. Fazei soar a Palavra criativa e levantai os mortos para a vida".

Assim será o Templo da Luz levado do céu para a terra. Assim serão as suas paredes erguidas sobre as planícies da Terra. Assim a luz revelará e alimentará todos os sonhos dos homens.

Então o mestre do oriente despertará todos que estão adormecidos. Então o Vigilante do Ocidente experimentará e provará todos os verdadeiros buscadores da Luz. Então, o Vigilante do Sul instruirá e auxiliará os cegos. Então, o Portão para o Norte ficará completamente aberto, pois ai, o Mestre invisível com a mão acolhedora e coração compreensivo para conduzir o candidato para o Oriente, onde a Verdadeira Luz continua a Brilhar . . .

"Mas porque esta abertura das portas do Templo? "interrogam os maiores dos sete, os Três sentados. "Porque chegou a hora; os Obreiros estão preparados Deus criou na Luz. Os seus Filhos podem agora criar. Não existe mais nada por fazer ".

"Faça-se assim", veio a resposta dos maiores do sete, os Três sentados.

"O Trabalho pode agora começar. Que todos os Filhos da Terra comecem a Trabalhar " . . .

Adaptado do Livro "O Espírito da Maçonaria ", de Foster Bailey

segunda-feira, 3 de março de 2025

COMO MATAR A SUA LOJA

• Não frequente as reuniões, mas quando for lá procure algo para reclamar;

• Se comparecer a qualquer atividade procure falhas nos trabalhos de quem está lutando pela Instituição;

• Nunca aceite uma incumbência;

• Lembre-­se que é mais fácil criticar do que realizar;

• Se a diretoria pedir a sua opinião sobre um importante assunto, responda que não tem nada a dizer e depois espalhe como deveriam ser feitas as coisas;

• Não faça mais do que o absolutamente necessário, porém quando os IIr estiverem trabalhando com boa vontade e com interesse para que tudo corra bem, afirme que sua Loja está dominada por um grupinho;

• Não leia o boletim oficial e muito menos os Informativos; jornais e comunicados da sua Loja;

• Afirme que eles não publicam nada de interessante;

• Se for convidado para qualquer cargo, recuse alegando falta de tempo e depois critique com afirmações do tipo: “Essa turma quer é ficar para sempre nos cargos”;

• Quando tiver divergências com um Ir, procure com toda intensidade vingar-se da Instituição. Faça ameaças de abrir processo ético e envie cartas aos membros do quadro com acusações pesadas à diretoria;

• Sugira, insista e cobre a realização de congressos, cursos e palestra;

• E, quando a Loja os realizar, não se inscreva, nem compareça;

• Se receber um questionário da Loja solicitando sugestões, não preencha e se os IIr da diretoria não adivinharem as suas ideias e pontos de vista, critique e espalhe a todos que é ignorado;

• Após toda essa “colaboração espontânea” quando cessarem as publicações, o lazer e todas as demais atividades, enfim, quando sua Loja morrer, estufe o peito e afirme com orgulho “EU NÃO DISSE?”.

Autor: Edson Fernando da Silva Sobrinho – MI

ARLS Acácia Sertaneja – GOB

Oriente de Feira de Santana – BA

*Adaptação livre do texto publicado na Revista Tecnopan, nº 217

 

 

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