O Maçom é sempre obediente? Não! Ele obedece a
uma treinada consciência voltada para o bem e baseada em princípios morais.
Consciência é capacidade humana que pode ser
treinada e desenvolvida.
É o utilitário de segurança mais usado pelo
homem sábio com vistas à pureza moral. É ela quem efetua comparações com
padrões de moral que freiam o mal. A constante convivência com pessoas
detentoras de elevada moral injeta na mente comportamentos, pensamentos,
crenças e diretrizes que a treinam.
Estudar e filosofar temas morais também
contribui na sua boa edificação. Mas não é suficiente! É necessário querer e
estar disposto em aceitar mudanças, orientações e advertências. Quando certa ação
conflita com o padrão desenvolvido no condicionamento moral, soa o aviso de
alerta ao início da contenda, empunha-se a consciência como escudo. Ela acusa e
defende o homem do proceder que prejudica.
Deixa de funcionar se estiver cauterizada,
tornada insensível por inúmeros atentados que a desrespeitam. A consciência
gera culpa e esta imobiliza a ação errada. A companhia de pessoas promíscuas e
praticantes de atos atentatórios à moral prejudica o seu bom condicionamento.
É semelhante ao arrancar de terminações
nervosas da carne que fica destituída de tato. A ação da pessoa passa a ser
controlada pelo temor a castigos e não mais ao sentimento de culpa que
imobiliza a ação do mal.
No Rito Escocês Antigo e Aceito o adepto recebe
de herança cultural a direção que preconiza a obediência de caserna, disciplina
marcial e rígida, influência de vetustas ordens de cavalaria e profissionais. A
companhia de pessoas boas e disciplinadas auxilia no desenvolvimento de boa
consciência.
Razão da boa e criteriosa escolha de novos
obreiros. Profano que não possui estatura mínima em sentido moral é impedido de
entrar na Maçonaria, daí a importância de rigorosas sindicâncias. Uma vez
iniciado, a convivência pacífica e amorosa entre os maçons proporciona a
sintonia fina da consciência sensível e inteligente.
Quem não treina a sua consciência faz de si um
animal incapaz de se ocupar de outra coisa, a não ser daquela do destino
próprio dos animais.
Se a consciência do Maçom está afinada com a
moral, este pode até dispensar o livro da lei no altar dos juramentos. O
detentor de boa consciência tem um livro da lei escrito no coração e na mente.
Para o cristão, a bíblia judaico-cristã é
símbolo da sua consciência. Representa espiritualidade e racionalidade de todo
homem bom dotado de consciência voltada ao bem. Aquele que passa por
transformação em sentido lato, reunindo em si bons princípios morais, éticos,
religiosos, emocionais, físicos e espirituais tem o alicerce da sua consciência
construído sobre a rocha.
O Maçom usa a inteligência para se educar e
afinar a consciência ao que ditam as leis naturais estabelecidas pelo Grande Arquiteto
do Universo. Desenvolve e entende a mensagem contida na filosofia da Maçonaria,
em cuja escalada peregrina ao interior de si. Trabalha a pedra por dentro nos
exercícios de individuação tornando-se consciente do milagre da vida que o
anima. E nesse seu mundo interior desenvolve acurada consciência, instrumento
que o desculpa e acusa, diferencia entre bem e mal, percebe certo e errado.
Na história da Maçonaria observa-se que quando
de parte de maçons ocorreu desobediência civil, aconteceram factos que
promoveram melhorias às sociedades humanas. Treinado a consciência o Maçom desobedece
a tudo o que possa bloquear o exercício da liberdade responsável, o bom uso da
liberdade com possibilidades de escolhas.
O Maçom obedece mais à consciência criada pelo
Grande Arquiteto do Universo que às leis, dogmas religiosos e ideologias
políticas. Parte do princípio que aceitar de forma passiva às leis injustas as
tornam legítimas.
A sua espiritualidade associada à sua boa
consciência leva-o a caminhar conforme os elementos do seu projeto existencial
onde não obedece a ordens que conflitam com a moral guardada pela consciência.
Tem o dever juramentado de se rebelar contra leis e dominações injustas.
Cultiva e condiciona a sua consciência para a ação
orientada ao amor fraterno; aquele sentimento em ação que soluciona a todos os
problemas de relacionamento e humaniza o homem.
O treino da consciência é atividade permanente
do Maçom e é por isso que ele começa cada tarefa invocando a glória do Grande Arquiteto
do Universo.
Charles Evaldo Boller
Bibliografia
ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, ISBN
978-85-311-1134-1, Sociedade Bíblica do Brasil, 1268 páginas, Baruerí, 2009;
BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade na
Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, tradução: Julia
Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição, Madras Editora limitada., 368
páginas, São Paulo, 2004;
CAMINO, Rizzardo da, Reflexões do Aprendiz,
Colecção Biblioteca do Maçom, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
limitada., 157 páginas, Londrina, 1992;
RODRIGUES, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria
Simbólica, Coleção Biblioteca do Maçom, Volume 04, ISBN 978-85-7252-233-5,
primeira edição, Editora Maçônica a Trolha limitada., 172 páginas, Londrina,
2007.
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