“De fato, é um laurel da Maçonaria Brasileira a Pluralidade de Ritos,
porque o exercício de Ritos Regulares faz com que a nossa Obediência abrigue,
generosamente, as várias correntes Filosóficas e Doutrinárias do Mundo Maçônico,
desde o Agnosticismo até o Teísmo. Seria um atentado à História e à Justiça se,
em obediência a imposições ilegítimas e alienígenas, criássemos agora
obstáculos aos Ritos”
A Gênese dos Ritos
Conceituamos rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma
sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia
e, por extensão, designa culto, religião ou seita. Maçônicamente é a prática de
se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio.
Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos
surgiu. Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor um sistema de
cerimônias e práticas, ainda sem o título de Rito, que normalizava as reuniões
maçônicas.
Somente a partir de 1740 é que uma infinidade de ritos varreu o chão maçônico
da Europa. Para evitar heresias, um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas
exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro
da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques,
palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum órgão
internacional para reconhecer ritos. Acima do 3° Grau, cada Rito estabelece a
sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.
Um rito maçônico, usando simbolismo próprio, é um grande edifício. Deve
ter projeto integrado, dos alicerces ao topo. Cada rito possui detalhes
peculiares. A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos
graus simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.
Os Ritos praticados no Brasil
Conforme observamos, existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o
mundo. No Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles
reconhecidos e praticados internacionalmente e outros com valor apenas
regional. São eles, o Rito Schroeder ou Alemão (pouco praticado no Brasil), o
Rito Moderno ou francês, o Rito de Emulação ou York (o mais praticado no
mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e Aceito
(o mais praticado no Brasil).
O RITO SCHROEDER foi criado por Friedrich Ludwig Schroeder que, ao
lado de Fessler, foi um dos reformadores da Maçonaria alemã. De acordo com o
prefácio do ritual editado em 1960 pela Loja “ABSALON ZU DEN DREI NESSELN”
(Absalão das Três Urtigas), Schroeder introduziu o rito na sua Loja a 29 de junho
de 1801 e este rito, desde logo, conquistou numerosas Lojas em toda a Alemanha
e noutros países onde passou a ser praticado, principalmente por maçons de
origem alemã.
É um rito muito simples e trabalha, como o de York, apenas na chamada
“pura Maçonaria”, ou seja, na dos três graus simbólicos, já que não possui
Altos Graus. No Rito Schroeder a expressão “Grande Arquiteto do Universo” é
usada no plural – “Grande Arquiteto dos Universos (GADU).
O RITO MODERNO, criado em 1761, foi reconhecido pelo Grande Oriente
da França em 1773. A partir de 1786, quando um projeto de reforma estabeleceu
os sete graus do rito – em contraposição ao emaranhado dos Altos Graus da época
-, ele teve grande impulso espalhando-se por toda a França, pela Bélgica, pelas
colónias francesas e pelos países latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Já
no início do século XIX, o Grande Oriente do Brasil – primeira Obediência
brasileira – foi fundada em 1822, adoptando o Rito Moderno, antes do Rito
Escocês que só seria introduzido em 1832.
Em 1817 houve a grande reforma doutrinária que suprimiu a obrigatoriedade
da crença em Deus e da imortalidade da alma, não como uma afirmação do ateísmo,
mas por respeito à liberdade religiosa e de consciência, já que as concepções
religiosas de uma pessoa devem ser de foro íntimo, não devendo ser impostas.
O Grande Oriente da França, que acolheu a reforma, queria demonstrar com
isso o máximo de escrúpulos para com os seus filiados, rejeitando toda e
qualquer afirmação dogmática. Esta atitude provocou uma rápida reação da Grande
Loja Unida da Inglaterra que rompeu com o Grande Oriente da França. O caso
envolveu não apenas uma questão doutrinária como ainda político-religiosa.
O RITO YORK é considerado bastante antigo. A Grande Loja de Londres,
durante muito tempo após a sua fundação, teve uma influência muito limitada,
pois a grande maioria das Lojas britânicas continuava a respeitar as antigas
obrigações, permanecendo livres sem aderir ao sistema obediencial.
O centro de resistência à Grande Loja era a antiga Loja de York, de grande
tradição operativa e que dava aos membros da Grande Loja o título de
“Modernos”, enquanto eles próprios se autodenominavam “Antigos”, pelo respeito
às antigas leis.
O que os Antigos censuravam nos Modernos era a descristianização dos
rituais, a omissão das orações e da comemoração dos dias santos, contrariando
assim os mandamentos da Santa Igreja (Anglicana).
O cisma entre os Antigos e Modernos durou até 1813, quando as duas Grandes
Lojas se fundiram formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, que adoptava o
Rito dos Antigos de York.
A Constituição deste Supremo Órgão foi publicada em 1815. O rito não
possui Altos Graus, tendo além dos três simbólicos, uma quarta etapa designada
de “Real Arco”, que é considerada uma extensão do Mestrado. O Rito de York, por
ser teísta, está mais ligado aos países onde os cultos evangélicos predominam,
pois o clero desses cultos tem dado à Maçonaria o apoio e o suporte necessário
para a sua evolução e crescimento.
O RITO ADONHIRAMITA nasceu de uma polêmica entre ritualistas em torno
de Hiram Abiff, chamado de ADON-HIRAM (Senhor Hiram) e ADONHIRAM, o preposto
das corveias, depois da construção do Templo de Jerusalém, de acordo com os
textos bíblicos. O rito, depois de uma época de grande difusão, acabou
desaparecendo. Todavia, no Brasil (onde foi o primeiro rito praticado), ele
permaneceu, fazendo com que o país seja hoje o centro do rito, que teve os seus
graus aumentados de treze para trinta e três. O Rito Adonhiramita é deísta.
O RITO BRASILEIRO teria sido criado em 1878, em Pernambuco, mas tem a
sua existência legal a partir de 23 de dezembro de 1914, quando foi publicado o
Decreto n° 500, do então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, Lauro Sodré,
fazendo saber que, em sessão do Conselho Geral da Ordem tinha sido aprovado o
reconhecimento e incorporação do Rito Brasileiro entre os que compunham o
Grande Oriente do Brasil.
Depois o Rito desapareceria, para ressurgir em 1940 e novamente em 1962,
praticamente desaparecer, até que em 1968, o Decreto n° 2080, de 19 de março de
1968, do Grão-Mestre Álvaro Palmeira, renovava os objetivos do Ato n° 1617 de 3
de agosto de 1940, como o marco inicial da efetiva implantação do Rito
Brasileiro. A partir daí, o rito teve grande crescimento no país.
O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou a nascer na França, quando
Henriqueta de França, viúva de Carlos I, decapitado em 1649, por ordem de
Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em Saint-Germain-en-Laye, para lá se
retirando com os seus regimentos escoceses e irlandeses e os demais membros da
nobreza, principalmente escocesa, que passaram a trabalhar pela restauração do
trono, sob a cobertura das Lojas, das quais eram membros honorários, o que
evitava que os espiões de Cromwell pudessem tomar conhecimento da conspiração.
Consta que Carlos II, ao se preparar para recuperar o trono, criou um
regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661. Este regimento possuía uma
Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de 1688 e que foi a única Loja
do século XVII cujos vestígios ainda existem, embora os stuartistas católicos
devam ter criado outras Lojas.
O termo “escocês”, já a partir daquela época, não designava mais uma
nacionalidade, mas o partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses na sua
maioria. Assim, após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na
França dois ramos maçônicos: a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas
livres, e a inglesa com Lojas ligadas à Grande Loja.
A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em 1735, escolher um
Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à fundação da Grande
Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta designação só apareça em
1765. O escocesismo, na realidade, só se concretizou com a introdução daquilo
que seria a sua característica máxima, os Altos Graus, através de uma entidade
denominada “Conselhos dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”.
Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25 graus, o qual, incorporado
ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus, concretizada do primeiro
Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter sido um rito deísta,
não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam as Igrejas Evangélicas
e vicejou mais nos países latinos onde predomina o Catolicismo. É necessário
explicar que actualmente o caráter deísta do Rito Escocês Antigo e Aceito
misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo predominante. O REAA tem o
mesmo forte carácter teísta do Rito de York.
Conclusão: A Unidade na Diversidade
A Maçonaria caracteriza-se pela diversidade e sempre admitiu a pluralidade
de ritos. O Sistema do Rito Único, caso existisse, não seria um bom sistema. A
Ordem reuniu sistemas diversos formando uma unidade superior, perfeitamente
caracterizada que é a Doutrina Maçônica.
A Maçonaria convive com muitos ritos, uns teístas, outros deístas sem
esquecer os agnósticos.
Afinal, há muitas maneiras de se relacionar com Deus. Mas há um detalhe: o
Maçom não pode ser ateu. Em decorrência deste eclectismo, as manifestações maçônicas
disseminadas no mundo ao longo do tempo, apresentam-se com grande
diversificação, havendo Unidade na Diversidade.
É possível que a máxima “E PLURIBUS UNUM” (A Unidade na Diversidade),
inscrita no listel que envolve a parte superior do Selo dos EUA seja de origem
maçónica. Afinal, todos os chamados “pais da pátria” daquele país foram maçons,
a começar por George Washington.
Lucas Francisco Galdeano – Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do
Distrito Federal.
Referências Bibliográficas
- CASTELLANI,
José. Curso Básico de Liturgia e Ritualística. Londrina, Ed. “A TROLHA”,
1991;
- FARIA,
Fernando de. Rito Brasileiro de Maçons Antigos, Livres e Aceitos. “O
SEMEADOR” n° 8 (2a fase) Jul. – Dez. 1990;
- OLIVEIRA,
Arnaldo Assis de. Escocesismo. Trabalho para aumento de salário no Ilustre
Conselho de Kadosch n° 22, 1992;
- “EGRÉGORA”
n° 1 / Jul. – Ago. 1993; n° 2 / Set. – Nov. 1993; n° 3 / Dez. 93 – Fev.
1994; n° 4 / Mar. – Mai. 1994; n° 5 / Jun. – Ago. 1994.
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