TRATAMENTO POR IRMÃO



Os Membros da Maçonaria, unidos pelo Amor Fraternal, qualquer que seja o seu grau, tratam-se por “Irmão”.

A origem do cordial tratamento de “Irmão” indica que esse tratamento foi adotado e nunca mais olvidado pelos maçons, desde os tempos de Abraão, o velho patriarca bíblico.

Reza a história que Abraão estava com a sua mulher Sara no Egito, a ensinar os sete ciências liberais (a gramática, a lógica e dialética, a matemática, a geometria a astronomia e a música) e entre os seus discípulos encontrava-se Euclides.

Euclides, personagem inteligente, naturalmente tornou-se mestre e estabeleceu as seguintes regras de conduta para os discípulos: os Membros devem ser fiéis ao rei e ao país de origem; amarem-se uns aos outros; serem leais e dedicados mutuamente; sugeriu ainda que os seus alunos adotassem o nome de Irmãos ou Companheiros.

Aprovando esse costume da escola de Euclides, a Maçonaria resolveu sugeri-lo aos seus iniciados, passando a ser uma norma obrigatória nos diversos Corpos da Ordem.

O Poema Regius, que data do ano de 1390, aconselha os operários a tratarem-se por “Irmãos”. Por isso o tratamento de Irmão dado por um maçom a outro, significa reconhecimento fraternal, como pertencente à mesma família.

Os maçons são Irmãos por terem recebido a mesma Iniciação, os mesmos modos de reconhecimento e foram instruídos no mesmo sistema de moralidade.

Além da amizade fraternal que deve uni-los, os maçons consideram-se Irmãos por serem, simbolicamente, filhos da mesma mãe, a Mãe-Terra, representada pela deusa egípcia Ísis, viúva de Osíris, o Sol, e a mãe de Hórus.

Assim os maçons são, também, simbolicamente, Irmãos de Hórus e autodenominam-se Filhos da Viúva.

Durante a Iniciação quando o recipiendário recebe a Luz, os Irmãos, mais antigos, juram protegê-lo sempre que for necessário. A partir daquele momento, todos o tratam e consideram Irmão.

O verdadeiro Irmão é aquele que interroga a sua consciência sobre seus próprios atos. Pergunta a si mesmo se não violou a lei da justiça, do amor e da caridade na sua maior pureza e quando não tiver uma simples palavra que auxilie, não deve abrir a boca, porque se falar deve esforçar-se para que suas palavras sejam melhores que o seu silêncio.

O verdadeiro Irmão não tem ódio, não tem rancor, nem desejo de vingança. 

Compreendendo, não condena, perdoa e supera as ofensas, pois admite que com a mesma sábia compreensão que deixou de desaprovar, assim poderá ser tratado numa sua hipotética dificuldade.

O verdadeiro Irmão sabe praticar o Bem sem ostentação, mas não sem utilidade.

Um Maçom só quando se encontra revestido da virtude é que pode dizer: “Os Meus Irmãos como tal me reconhecem” – frase mais ouvida e citada dentro e fora das Lojas.

Curioso, no entanto, é que ao sermos reconhecidos como Irmãos, o outro abre o sorriso e os braços, como se fosse um velho conhecido. Esse é um sentimento de irmandade, é muitas vezes, mais forte que entre Irmãos de sangue.

O Grande Arquiteto do Universo, que é DEUS, escuta as nossas preces e mostra-nos o caminho que a Ele conduz. Continua a proporcionar-nos a dádiva da aproximação de estimados Irmãos que constantemente nos socorrem nas nossas dificuldades.

As Lojas Maçônicas devem ser portos seguros, proporcionar um ambiente de luz, de paz e harmonia, pois é extraordinário reunir no seu seio, católicos, evangélicos, espíritas, maometanos, israelitas, budistas e a todos poder afirmar: ”aqui as vossas disputas não encontrarão eco”.

Meus Amados Irmãos, se porventura e in extremis algum Irmão se esquecer de nós, nunca o devemos abandonar, pois o elo de fraternal que nos une, jamais poderá sucumbir.

“A maior dignidade que existe na Maçonaria é o de ser verdadeiro Irmão”.

Tomás de Aquino


SALÁRIO REGIAMENTE PAGO



Esta expressão, para nós da Maçonaria especulativa, se reveste de alto valor, moral, espiritual e do despertar de Virtudes.

Pois carrega em si, um profundo valor simbólico.

Pois ela reproduz a soma das mãos unidas, da força de um Grupo, da solidariedade universal.

Quando assim falamos, reverberamos a mais nobre e agradável, condição do Maçom, na qualidade de Obreiro da Arte Real!

Ter seu salário regiamente pago é sentir-se bem e recompensado, numa situação, num socorro, numa Instrução, num livramento, etc.

Está sensação, supera todas as Comendas, Prêmios e Distinções, porque vem de dentro para fora, renasce em nossos corações e nos fortalece para os embates do porvir.

Reconhecer um bem, sem demonstração pessoal, mas sempre crendo, que fazemos parte de um Coletivo.

Por vezes, certamente muitos já viram e ouviram, se reportar de forma errada, ao significado deste nobre sentimento, pois a vaidade, infelizmente, cega às almas desprovidas do Amor Ágape!

Certamente não desejamos descansar!

Para isto e por isto, os trabalhos têm que ser empreendidos, com grande Força e Vigor.

Sejamos, pois Vigilantes em nossas atitudes, fazendo que das mesmas nasçam a cada dia, frutos de virtude, respeito mútuo e solidariedade.

Que nosso Amor Fraternal, seja maior que nossas convicções, que nosso Amparo, seja maior que nossa pequenez e vaidade e que nossa verdade, seja sempre aquela firmada na Pedra da Sabedoria e do Amor.

Fraternalmente.
Jaylton Reis
A Bigorna de Tubalcaim


A MAÇONARIA INABALÁVEL



A Ordem dos Maçons Livres e Aceitos foi uma sociedade secreta, hoje discreta, aberta a homens de todas as religiões.

A organização surgiu na Idade Média, época de grandes construções em pedra como castelos e catedrais, a partir de uma espécie de embrião dos sindicatos: as chamadas corporações de ofício. Nelas se reuniam os trabalhadores medievais como alfaiates, sapateiros e ferreiros, que guardavam suas técnicas a sete chaves. “Os pedreiros, em especial, viajavam muito a trabalho. Por isso tinham certa liberdade, ao contrário dos servos, que deviam satisfação ao senhor feudal caso quisessem deixar suas terras.

Após o final da Idade Média, a maçonaria passou a admitir outros membros, além de pedreiros.

Transformou-se, assim, em uma fraternidade dedicada à liberdade de pensamento e expressão, religiosa ou política, e contra qualquer tipo de absolutismo.

A organização teve forte influência nos bastidores da Revolução Francesa na independência dos Estados Unidos e na Independência de vários países da America do Sul. Aqui no Brasil participou decisivamente da abolição da escravatura, da Independência e da proclamação da República.

Então podemos dizer que a luta da maçonaria sempre foi grande, sem falar nas perseguições e nos preconceitos.

Quando suas reuniões foram proibidas e os maçons perseguidos, passaram a usar chapéus com abas, andavam pelas sombras e ruelas menos usuais, reduziram as velas, batiam os malhetes de maneira mais suaves e rituais lidos e guardados a sete chaves.

Eh!,  e no período da segunda guerra mundial, quando muitos achavam, até que seria o fim da maçonaria, lá estavam os obreiros da arte real em pleno campo de concentração nazista. E quando, reconheceram-se como irmãos, abriram lojas e se reuniram em meios a mesas, assentos simples e adaptados. Mas, jamais deixaram de realizar suas reuniões para pedir a presença do GADU e formar ali a nossa egrégora sob o esquadro e compasso.

Agora meus irmãos, depois de passados todos esses momentos difíceis, estamos diante de uma pandemia que esvaziou por completo nossos templos. 

Não temos sessões, iniciações foram adiadas, estamos sem nossos ágapes, sem nossos risos e abraços calorosos de irmão. Porém nada poderá nos separar em amizades e corações, muito menos nos impedir de continuarmos pelo objetivo de nossa ordem.

Temos que continuarmos a vencer nossas paixões, submetermos nossas vontades para continuarmos a fazer novos progressos na maçonaria.

Temos que manter o contato com nossos irmãos sejam por ligações, mensagens, salas de conversas e nas orações ao GADU, pedindo proteção para a humanidade e especial para nós, para nossos familiares, Irmãos, cunhados e sobrinhos.

Só assim nossas forças vão persistir e a nossa união se tornará cada vez mais INABALÁVEL !!!!!!!!!!



Referências Bibliográficas:
Ritual de Aprendiz
A Simbólica Maçônica


TRABALHO REALIZADO POR:
Carlos Alberto de Souza Santos (M.I.)
CIM 209514
ARLS Harmonia e Concórdia n° 4418 (GOB/RJ)


VIVÊNCIA DO AMOR FRATERNO – O CALOR HUMANO QUE UNE OS MAÇONS



A Maçonaria recebe novos membros por intermédio da iniciação, o que a diferencia de outras associações de pessoas.
Naquele psicodrama, é exigido do recipiendário o juramento de que tudo fará para defender o seu irmão na ocorrência de infortúnios. É algo bem diferente do irmão de sangue, adquirido de forma compulsiva. O irmão Maçom é resultado de escolha consciente e racional, donde as amizades desenvolvidas na convivência serem unidas com o cimento do amor fraterno.
Um sábio, quando inquirido sobre a sua interpretação do significado de fraternidade, usou da seguinte parábola:
Encontrava-me nas proximidades de uma colina coberta de neve e observava dois garotos que se divertiam com um pequeno trenó.

Quando os dois meninos chegavam ao fundo da encosta, depois de terem escorregado, o rapaz mais velho colocava o mais novo às costas e subia pelo declive puxando o trenó por uma corda.

O garoto mais velho chegava ao topo ofegante, debaixo da carga elevada para o seu tamanho.

E isto se repetiu várias vezes, até que resolvi inquirir:

— Mas não é uma carga muito pesada, esta que levas morro acima?
O garoto mais velho respondeu sorrindo:

— De forma alguma! Esta carga é leve! Pois ele é meu irmão!


Para o sábio, esta foi à definição exata de Fraternidade.
Para ele, o amor fraterno exige espírito elevado, consta até de sacrifícios, mas não o considera como tal, e sim algo natural, a carga é transportada com alegria e sem reclamação.
Este sábio foi o presidente norte-americano Abraham Lincoln.
Na escolha do candidato a ser iniciado na Maçonaria, procura-se entender o perfil emocional do proposto na sua capacidade para desenvolver Vivência no Amor Fraterno.
Na investigação antes da iniciação os inquiridores devem certificar-se se o candidato:
§        Vive em harmonia no lar.
§      Tem boa reputação na sociedade.
§       Relaciona-se bem com colegas de trabalho.
§       É capaz de se adaptar ao meio social.
§      Tem bom convívio social.

Significa que todo aquele que for considerado apto, aprovado e iniciado, tem o amor fraterno como característica de caráter e personalidade. Já vem com a capacidade de superar eventuais dificuldades de relacionamento interpessoal. E para melhorar, esta qualidade distintiva fundamental é depois sacramentada por solene juramento!
A consequência é o aquecimento do amor fraterno entre os irmãos da loja.
Na iniciação o recipiendário recebe um avental branco, considerado o seu ornamento máximo, representa o trabalho, e é-lhe dito que deve mantê-lo imaculado, limpo.
Não se trata de sujidade literal, já que esta pode até ocorrer para o diligente e ativo obreiro. Mancha que sai com água, basta lavar e está limpa. O paramento do zeloso Maçom deve ficar isento de qualquer nódoa moral ou comportamental – essa é difícil limpar porque exige mudança do Maçom e o uso da “água” do amor fraterno para lavá-la.
Nenhum iniciado deveria usar o seu avental e entrar numa Loja, se lá estivesse irmão que odiasse. Isso suja o avental de forma indelével além de afetar as energias cósmicas que envolvem a todos durante a sessão. Deve-se considerar a dificuldade de resolver um problema de relacionamento interpessoal como se fosse o escalar de uma encosta íngreme e coberta de neve, com aquele irmão às costas.
Não é fácil!
Mesmo ofegante, e debaixo de carga tão grande, deve-se fazê-lo sorrindo. A razão deve suplantar a emoção, considerando que isto já faz parte do iniciado. Se inquirido sobre o peso da carga, este irmão deve exclamar:

– De forma alguma! Esta carga é leve! Pois ele é meu irmão!


Egoísmo e indiferença são sintomas de falta de amor. O contrário de amor não é o ódio, é a indiferença!
Quando existem situações de disputa ou mágoa, é importante que os envolvidos resolvam as querelas fora das paredes do templo, e só então coloquem os seus aventais e entrem.
Ao superarem as suas diferenças, a bênção do Grande Arquiteto do Universo, a divindade dentro do iniciado, proporcionar-lhes-á o aglutinante místico do amor fraterno que cimentará de forma brilhante as duas pedras que ambos representam na grande edificação da humanidade.
Isto é vivência real do amor fraterno, o aglutinante místico que mantém unidos os irmãos numa Loja. Num agrupamento assim constituído é certa a presença do Grande Arquiteto do Universo.
Poderá haver bem maior que um amor fraternal bem vivido?
O Grande Arquiteto do Universo certamente só se manifesta onde existem pessoas que se tratam como irmãos espirituais e onde cada um nutre profundo amor fraterno pelo outro.
Todo o irmão que passar por uma situação onde eventualmente ocorre disputa ou ofensa, deve colocar aquele que considera ser o seu ofensor às costas e carregá-lo ao alto do seu coração.
E, se inquirido acerca do peso, deve exclamar:

– De forma alguma! Esta carga é leve! Pois ele é meu irmão.


Adaptado de Autor Desconhecido



ÉTICA? ÉTICA… ÉTICA!



O tema comum do nosso encontro de hoje é ÉTICA. Mas será que todos temos a mesma noção deste termo? Não arriscarei muito se afirmar que, se fizéssemos um rápido inquérito entre todas e todos os presentes, obteríamos respostas diversas… 

Acho, portanto útil maçar-vos alguns minutos com uma referência ao que os Mestres da filosofia entenderam, ao longo do tempo, sobre o significado de Ética.

Para Sócrates, a Ética consistia no conhecimento, de forma a vislumbrar, através da felicidade, o fim, o objetivo, dos nossos atos. A Ética tinha como propósito preparar o homem para se conhecer a si próprio, uma vez que, precisamente, é o Conhecimento a base do ato ético. Essencial era o Conhecimento da Lei, das normas sociais vigentes, porquanto, para Sócrates, a obediência à Lei era o limite entre a civilização e a barbárie.

Em suma, para Sócrates, o Conhecimento que subjazia à Ética não se limitava à mensagem do Oráculo de Delfos, o conhecido aforismo do “Conhece-te a ti mesmo” – ainda hoje um dos pressupostos ideológicos da Maçonaria especulativa -, mas abrangia necessariamente o conhecimento, a obediência e a atuação respeitadora das leis vigentes na Sociedade, condição essencial para a existência e manutenção do corpo social.

Já para Aristóteles, a Ética podia ser definida como uma busca da felicidade dentro do âmbito do ser humano, se o Homem se esforçar a atingir a sua excelência. A Felicidade como objetivo era central no conceito aristotélico de Ética e consistia na realização humana e no sucesso que o Homem pretendia obter, para tal agindo no seu mais alto grau de excelência, através do desenvolvimento das suas qualidades de caráter. Esta noção de aperfeiçoamento, de aprimoramento das nossas características, em busca da maior aproximação possível da Perfeição também é cara ao ideário maçônico.

Platão construiu o seu conceito de Ética em torno da finalidade da condução do Homem ao Bem, um dos valores arquetipicamente existentes no mundo ideal, no plano dos Deuses, que os homens apenas podiam aspirar a emular.

Em face deste arquétipo do Bem, a vida humana não se poderia resumir apenas à busca do prazer, mas dever-se-ia dedicar a atingir o valor mais alto do Bem. Para tal, era essencial a ideia da Ordem, ou da Justa Proporção, que consistia no equilíbrio de diversos elementos desembocando no mesmo e justo fim.

Designadamente, o Bem se atingia através da atuação na justa medida, do equilíbrio, entre o Prazer e a Inteligência. Tal Bem, evidentemente – falamos do fundador do Idealismo… – não consistia nas coisas materiais, mas em tudo aquilo que permitia o engrandecimento da alma, ou seja, a ética platônica ensinava que acima dos prazeres, riquezas ou honras estava à prática das Virtudes – outro conceito que indubitavelmente integra o cerne do pensamento maçônico.

Voltando agora a atenção para a Idade Média, verificamos que Santo Agostinho – talvez o melhor exemplo do pensamento dominante em dez séculos de História do Pensamento Ocidental – tinha, não surpreendentemente, uma noção completamente diferente do conceito de Ética. No paradigma agostiniano, a Ética Humana dependia de dois pólos: por um lado, Deus, o Supremo Bem; por outro, o Pecado Original, afetando toda a Humanidade.

Por via deste, o Homem não era intrinsecamente Bom e necessariamente que seria levado ao Mal e aos vícios da carne, a não ser que lograsse seguir uma vida virtuosa, em Deus. Para Agostinho, a atuação ética pressupunha o domínio da natureza humana, conspurcada pelo Pecado original, mediante uma vida virtuosa, através da qual seria possível aceder à Salvação.

Para ele, a verdadeira Felicidade está na esperança da Salvação e, portanto, depende da Vida Eterna. Assim, embora Agostinho partilhasse com Aristóteles a noção da essencialidade da prática das virtudes e do aprimoramento individual, porque para ele Deus é o princípio e o fim de todas as coisas, a Felicidade é inatingível no decorrer da vida humana, só sendo alcançada junto de Deus na Vida Eterna, para tal sendo indispensável à conduta ética, isto é, a vida virtuosa.

Oposto à visão agostiniana da Ética é o conceito que dela teve Nicolau Maquiavel. Refletindo na esfera do Poder, sua obtenção, manutenção e exercício, mas facilmente se extrapolando o seu pensamento para a conduta humana em geral, Maquiavel define como valores essenciais a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, tudo se subordinando a eles, custe o que custar.

Assim, uma ação só numa perspectiva histórica pode vir a ser considerada boa ou má consoante o resultado com ela obtido em prol dos ditos valores essenciais. Esta crua visão facilmente pode ser considerada como anética, pois põe o acento tônico nos fins, nos objetivos, cuja obtenção ou não justificaria ou não a ação realizada. 

Mas a simples recusa desta noção é, a meu ver, insuficiente. Importa ainda anotar o primeiro aparecimento da prioridade absoluta do coletivo sobre o individual. O indivíduo pode ser sacrificado, sem qualquer limite, em prol do interesse coletivo, considerando Maquiavel ser tal perfeitamente ético… se resultar! Esta noção veio a ser desenvolvida amplamente, designadamente pela corrente materialista, nos séculos XIX e XX e, neste último século, temos visto várias consequências da sua aplicação. Adiante, que a companhia não é das melhores…

Descartes retoma o conceito de que a Ética constitui a realização da Sabedoria, suficiente para a Felicidade, a qual é por ele considerada “a melhor existência que um ser humano pode ter esperança de alcançar”.

Para ele, a Ética assenta em dois pilares essenciais: a Virtude e a Felicidade, aquela entendida como uma disposição da vontade para efetuar escolhas de acordo com o juízo da Razão sobre o Bem, esta singelamente entendida como a tranquilidade. A noção cartesiana da ética redunda assim na compatibilização das visões socrática, aristotélica e platônica sobre o tema. O Renascimento na sua mais evidente expressão…

A obra-prima de Baruch de Spinoza tem para nós, maçons, o sugestivo título de A Ética demonstrada à maneira dos geômetras. Está dividida em cinco partes, nas quais trata sucessivamente do Ser, do Homem, dos Afetos, da Servidão humana e da Liberdade. Para Spinoza, a razão e os afetos não se opõem. A própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e evitar ou terminar as circunstâncias causadoras de tristeza.

Em suma, a Razão é ela mesma um afeto tendente à Felicidade. A ética de Spinoza é a ética da alegria, só ela nos conduz ao amor e à felicidade.

Para ele, a Ética não resulta do altruísmo, bondade ou solidariedade, mas da própria condição natural. Está mais próximo dos clássicos gregos do que de Santo Agostinho. Tal como aqueles, para Spinoza a Felicidade é o objetivo último da ação humana.

Locke acreditava que a Ética tem que ser demonstrada racionalmente, pois nenhuma regra de conduta moral é válida se a sua necessidade não for fundamentada através da Razão. Para ele, os principais fundamentos (racionais, obviamente) das regras morais são a busca da Felicidade e o propósito de evitar a deterioração da Sociedade.

A propósito de Razão, o teórico da Razão Pura, Immanuel Kant, relativamente ao conceito de Ética não estabelece nenhum bem ou fim que tenha de ser alcançado e não se pronuncia sobre o que temos de fazer, apenas sobre como devemos atuar. 

Para ele, o que importa é a intenção, a coerência entre a Lei e a ação, não o fim. Situa-se claramente nos antípodas do florentino Maquiavel. Se alguma aproximação lhe detectamos é ao pensamento de Sócrates.

Nietsche rejeita uma visão moralista do mundo e atribui os valores éticos ao campo das emoções, não da Razão. Para ele, o Homem Ético é aquele que não reprime os seus instintos, desejos e emoções, concretizando-os em atos libertários. Dificilmente se poderia conceber um conceito mais individualista do que este!

Habermas considera que a Ética depende da valorização da Diferença e da Liberdade Humana, impondo que a Diferença seja equiparada à normalidade. A Ética projeta-se em valores como a Vida, a Solidariedade, a Cooperação, a Amizade.

Finalizo esta excursão por vários Mestres da filosofia com a referência a Peter Singer, filósofo australiano da Ética Prática. Para Singer, em termos de aplicação prática, Ética e Moral são sinônimos e enfaticamente ele chama a atenção para algo de que pudemos aperceber-nos ao longo do enunciado de pensamentos com que os venho maçando: a Ética NÃO É um conjunto de proibições.

Como ele cristalinamente ilustra, mentir em circunstâncias normais é um mal – mas no caso de uma pessoa vivendo na Alemanha nazi a quem a Gestapo batesse à porta à procura de judeus, mentir negando a existência de judeus escondidos nas águas-furtadas da casa era o eticamente adequado…

Para Singer, Ética é uma perspectiva que concede à Razão um papel importante nas decisões e os juízos éticos devem ser formulados de um ponto de vista universal, isto é, os interesses individuais ou de grupo não valem mais do que os outros interesses de outros indivíduos ou de outros grupos. O juízo ético é aquele que procura, em relação a cada problema, determinar a solução ou a conduta que possibilite o maior bem, entendido como a maior e melhor satisfação das necessidades possível – ou seja, a maior Felicidade!

Feita esta resenha do pensamento de vários Mestres, verificamos que, na diversidade dos seus pensamentos, podemos detectar uma linha comum, talvez um pouco surpreendente: a Ética tem essencialmente a ver com a busca e o anseio humanos pela Felicidade! As normas, as imposições ou proibições de condutas que normalmente associamos à Ética não são o cerne do conceito, mas as condições para a viabilização dessa busca humana da Felicidade.

Entendemos assim facilmente porque há em diferentes épocas e latitudes tão diferentes conceitos de Ética: porque as condições de vida e de enquadramento social de cada época e latitude tornaram diferentes as formas de busca e de tentativa de concretização do humano anseio pela Felicidade.

Sendo assim, compreende-se que é normal a primeira afirmação que hoje fiz: cada um dos presentes terá uma diferente noção de Ética porque, embora de forma porventura subtil, a Felicidade que cada um busca é diferente da dos demais, é própria, pessoal e intransmissível.

Mas, sendo assim, que denominador comum poderei eu sugerir hoje, aqui e agora, sobre Ética, de forma que seja aceitável para os apressados espíritos de hoje, inundados de informação tão abundante que nem sequer logramos, por vezes, sobre ela incidir um juízo verdadeiramente crítico?

Sem grande preocupação de rigor científico – por evidente e confessada falta de capacidade para tal -, mas procurando ilustrar o conceito de uma forma sugestiva, gostaria de vos propor um entendimento de Ética que julgo ser uma noção completa, isto é, com princípios, meios e fins:

ÉTICA É O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM A DETERMINAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS MEIOS À NOSSA DISPOSIÇÃO PARA ATINGIRMOS OS FINS A QUE NOS PROPOMOS.

Atenção que Ética não é uma declaração de princípios. Ética é a utilização dos princípios por cada um adotados. Um solene conjunto de princípios, por muito bonitos ou consensuais que sejam que serve apenas para eles serem invocados, declarados, apregoados, mas que na realidade não são utilizados, é como a coleção de porcelanas da minha tia-avó: só serve para estar exposta na sala e ser exibida às visitas!

Não passa de bacoca manifestação de vaidade e fútil exibição de pretensas preciosidades, alegadamente valiosas, mas realmente inúteis! Em nada e para nada releva ou interessa apregoar ou invocar ou proclamar solenes princípios se estes não passarem de palavras soltas em ocasiões julgadas oportunas e não forem efetivamente praticados.

A Ética não está nos princípios declarados, está nos princípios praticados. Não está nas palavras, está nos atos. Não está nos consensos formados, está nas cooperações levadas a cabo. Não está nas intenções, está nas concretizações. Não está nas justificações, está nas consequências. Não está dentro de cada um de nós, está no que cada um de nós projeta para o exterior de si.

A Ética não é um conceito estático, é uma aplicação dinâmica. O Homem não É ético.

O Homem sempre, em cada momento, renova-se e FAZ-SE Ético, em cada decisão, em cada escolha, em cada ato.

Só temos verdadeiramente Valores, ou seja, Princípios, se os utilizamos SEMPRE para conformarmos os nossos atos na concretização dos nossos objetivos (e sempre é sempre: quando nos convém e principalmente quando não nos convém).
PRINCÍPIOS que determinam os nossos MEIOS para atingirmos os nossos FINS – esta a noção de Ética que considero adequada para todos.

E esta noção de Ética, bem vistas às coisas, não é limitadora, é construtora. Construtora da nossa personalidade e da nossa conduta. Construtora da nossa imagem de nós perante nós próprios. Construtora do conceito que granjeamos dos outros em relação a nós. Construtora do que somos, do que fazemos, do que conseguimos. Construtora do sentido das nossas vidas. Construtora das nossas vitórias, mas também construtora da superação dos nossos desaires. Construtora da nossa Vida, do nosso lugar na Vida e da nossa legítima fruição da Vida. Construtora, em suma, da nossa FELICIDADE.

Afinal os Mestres tinham razão! Por isso os reconhecemos como tal!

Rui Bandeira
9/5/2015
Colóquio da GLFP – A Maçonaria no século XXI
Painel Desafios éticos no Mundo atual

Bibliografia
https://jfariaadvogados.wordpress.com/2010/01/27/a-etica-de-socrates/, consultado em 8/4/2015.
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-em-aristoteles/23318/ , consultado em 8/4/2015.
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-platonica-e-aristotelica/87414/ , consultado em 8/4/2015.
https://sentadonalua.wordpress.com/2012/07/12/a-etica-de-santo-agostinho-frente-a-etica-aristotelica/, consultado em 11/4/2015.
http://descartesfilosofia.blogspot.pt/p/etica.html, consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel , consultado em 11/420/15.
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=79 , consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_%28livro%29 , consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_Espinoza , consultado em 11/4/2015.
http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20%C3%89TICA%20DEESPINOSA.pdf , consultado em 11/4/2015.
http://www.efdeportes.com/efd129/a-etica-revisitada-olhares-atraves-da-historia.htm , consultado em 11/4/15
http://afilosofiadaintegracao.blogspot.pt/2009/03/etica-de-kant.html , consultado em 11/4/2015.
Peter Singer, Ética Prática, consultada em 11/4/2015, em http://docente.ifrn.edu.br/edneysilva/etica-pratica

TENHA ORGULHO DE SER MAÇOM!



O candidato quando é Iniciado, Elevado e Exaltado, fica enlevado com as “histórias” mostradas nos Rituais, baseadas na Bíblia. Fica encantado com os fatos enevoados ligando a Maçonaria com os acontecimentos Bíblicos. Fica convencido e soberbo de saber que, como Maçom, é um descendente direto dos construtores do Templo do Rei Salomão!

De Aprendiz passa para Companheiro e depois para Mestre e, raramente, pergunta quem planejou o Templo ou quem acompanhou todos os trabalhos feitos em ouro, prata e pedras preciosas. Quem esculpiu, quem decorou as obras de arte. Fica plenamente satisfeito em saber que tudo foi feito por Hiram , que era o filho de uma viúva da tribo de Naftali.

Com o passar do tempo, ele lê alguns livros maçônicos idôneos, e fica assombrado e chocado ao aprender que, sem dúvida alguma, os atuais Maçons são descendentes dos construtores das catedrais, na Idade Média, da Inglaterra, Alemanha, França, etc, etc.

Seu panorama mental sobre a Maçonaria fica nublado, seu orgulho fica abalado e sua admiração, contentamento no seu curto sonho maçônico fica minimizado.
Isto é um retrato real e frequentemente ocorre!

O que deve ficar claro para todos nós é que os Maçons não são descendentes de simples trabalhadores. Nossos ancestrais não eram simples talhadores de pedras, pedreiros, escultores, etc. Eles eram os maiores artistas, especialistas em trabalhar e construir em pedras na Idade Média.

Poucos homens podem construir um galpão usando serrote, martelo e pregos. Mas, a maioria deles não consegue construir a sua própria moradia. Eles não sabem como ler uma planta. Eles nada sabem sobre resistência dos materiais. Eles nada sabem sobre códigos de construções. Para obter sua casa eles precisam empregar um arquiteto e um construtor, os quais tenham o conhecimento especializado requerido.

Hoje em dia nós temos a eletrônica e os computadores, mas na Idade Média, todo esculpido era obra da experiência e da habilidade manual. Não havia livros e desenhos especializados.

Mesmo hoje, as modernas construções dificilmente se igualam na beleza das proporções, no vigor, na suntuosidade e na magnificência das Catedrais, dos Castelos, dos Mosteiros, das Abadias feitas pelos Mestres Construtores dos quais a Maçonaria é descendente.

Pessoas simples não fariam esse tipo de construção, cuja estrutura, grandeza, resistência e beleza, desafiam os séculos, nas intempéries e nas guerras.

Nossa Ordem escolhe hoje em dia, os futuros Aprendizes, com bastante critério. Os construtores de Catedrais da Idade Média também procuravam e escolhiam aqueles que tinham conhecimento, caráter e habilidade para aprender. Quando se tornavam Companheiros, tinham orgulho de seu trabalho. Sabiam que não podia falhar e davam o melhor de si, por toda sua vida.

Não é este, para todos nós, o maior motivo de orgulho, em sermos descendentes desses homens especiais?

(livre tradução e adaptação da MAS - Bulletin 1951 - USA)
Ir.'. Alfério Di Giaimo Neto.


Postagem em destaque

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