O QUE TE FAZ MAÇOM ALÉM DO AVENTAL QUE USAS?



Discussões dantescas a respeito de quando nos tornamos especulativos e deixamos de ser operativos são travadas por celebrados escritores. Nas origens e etimologia da palavra “pedreiro”, em grego “tekton” [1], é aquele profissional que se empenhava na transformação de materiais em construções diversas com variados materiais, veja bem, não se limitando a pedra.

Chamo a atenção pelo motivo de que às vezes nos achamos pensadores especulativos e na verdade deveríamos estar trabalhando em algo. Em quê?
A filosofia já cuida da mente. A ordem criada por Baden-Powell, das medalhas que usa sobre vosso peito que me lembram mais escoteiros que qualquer outra coisa. Os Clubes de serviço, da caridade. A política dos cursos das nações. O que resta a você como maçom?
O quê foi construído desde que iniciaste, além da evolução oriunda de qualquer ser humano que tem consciência cívica de melhorar a cada dia?
Os ritos e rituais em seu cerne almejavam ser o método do obreiro. E hoje se resumem a ser discutidos em termos e posições geográficas ou disposição de artefatos, perdendo-se a essência e finalidade de sua existência. Ou você acredita que foram criados para serem manuais de procedimentos simplistas?
O ritual é uma parte do laço místico. Como ou por que o homem deve fazer rituais e aprendê-los, amá-los, preservá-los, é tão misterioso quanto qualquer coisa na vida – mas sempre foi assim. Há algo profundo dentro de nós que exige uma forma definida de expressão: podemos dizer o pensamento de mil maneiras, mas nós o dizemos em uníssono e de uma maneira especial. E isto é verdade seja a Maçonaria, a Igreja ou a vida cotidiana que é preenchida com um ritual. [2]

A pedra somos nós mesmos. Mas tendemos a cinzelar a pedra alheia. Isso é demagogia se você não trabalha em sua própria pedra. Mudar de grau não é evoluir, não passando de procedimento administrativo se não foi trabalhada a lição que o traz, por mais pomposo e ornado que sejas o avental quer agora usas.
Recentemente, em um grupo de comunicação Maçônica e DeMolay, soltei um texto que tirava da zona de conforto e indagava a todos sobre seus deveres. Resultado? Silêncio por horas. Quando o assunto é o dever, o trabalho, todos tendem a fingir que não é consigo mesmo, quando pensamos assim, de fato é conosco mesmo o problema.
“O filósofo Marcuse, em seu livro “Eros e civilização”, retrata essa gana da atual sociedade em satisfazer seus desejos às vezes maquiados em boas intenções”. “O que você faz quando ninguém te vê fazendo ou o que faria se ninguém pudesse te ver” diz uma música. Maquiavel é ridiculamente estudado e utilizado como manual por jovens que creem aprender política com práticas traiçoeiras e vis.

O que a mão esquerda faz a direita não fique sabendo é ignorado por publicidade desmedida. O que te faz Maçom além do avental são os “nãos” que você tem firmeza pra dizer aos seus próprios impulsos e não o avental ou joia que usa.

Uma vez me foi dito: rasgue a “procuração” de quem faz mal. Indaguei sobre a indisposição criada. E me foi dito: se não tem vergonha de fazer o mal será você a ter por dizer?
Infelizmente constatamos que, atualmente, adaptada aos novos tempos, a Ordem é uma sociedade iniciática, mas social/recreativa/religiosa congregando seres humanos comuns que se ajudam mutuamente. Concluindo esta reflexão, inquirimos se, modernamente, em nossas Lojas: Realmente erguemos templos as virtudes?![3]

Uma máxima em engenharia diz que não controlamos o quê não medimos. Além de suposições, qual o método que usas para te nortear na mudança de si mesmo? Ter consciência dos defeitos e falhas não passa mera reflexão feita por qualquer profano. Renascer para uma nova realidade por si só já é conceito do batismo de varias religiões em variadas culturas.
Um método interessante de trabalharmos em nossa própria pedra, a cada semana escrevemos uma virtude em nossas anotações, que queremos melhorar e intensificar, e ao findar o dia relatamos como nos saímos, e o que dificultou de praticarmos a tal virtude. Isso é um exercício fantástico, e nos estimula a ficarmos vigilantes como pregam nossos rituais. Alguns vão dizer, já faço isso de cabeça. Será?
E você meu irmão qual método utiliza?
A corrupção não esta em Brasília no planalto, mas nos nossos espíritos corrompidos que se calam…, o cantor Renato Russo disse, “vivemos entre monstros de nossa própria criação”, mas não temos medo da escuridão.

O maçom, hoje, teme a própria luz, por conta da aceitação social. Discutir maçonaria é falar sobre as dificuldades da prática de alguma virtude e por aí se aprofundar, e não erros de gráficas datas de fundação ou algum fator que qualquer historiador não iniciado poderia fazer e já fazem. Não que não seja importante, mas isso é demasiadamente simplório se comparado ao que realmente é a Arte Real.

Aos outros, a tolerância de serem como quiserem. A nós, a obrigação de sermos cada dia melhores.
Autor: Bruno Oliveira
ARLS Amizade, Trabalho e Justiça, Nº36 GOP-Paraná

Notas


O CANDELABRO MÍSTICO



A maioria dos Graus que compõem a Loja de Perfeição pertence à classe também denominada Graus israelitas, bíblicos, judaicos, salomônicos, principalmente por estarem baseados na Bíblia e constituírem um desdobramento da Lenda do 3º Grau. Por isto, estão recheados de passagens, lendas, símbolos, extraídos do Livro Sagrado, particularmente da Torá ou Pentateuco, ou seja: os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).

Não é de estranhar, portanto, que o Candelabro de Sete Braços – o Menorá dos hebreus – esteja presente na decoração da Loja de Mestre Secreto, bem como na de Perfeito e Sublime Maçom, neste último denominado de CANDELABRO MÍSTICO.

O Menorá, que significa Candelabro, de tão importante para a civilização hebraico-judaica, é considerado um dos principais símbolos da religião mosaica. Tanto é assim que hoje o Menorá é usado como brasão do Estado de Israel, o qual foi estabelecido no século passado, em 1948.

Ele já estava presente entre os hebreus desde a construção do Tabernáculo, determinada por Moisés, por ordem de Javé, quando este conduzia o seu povo pelo deserto, fugindo do Egito em direção à Palestina. 

Era no Tabernáculo que os israelitas oficiavam os seus cultos, até que o Rei Salomão mandasse construir o famoso Templo de Jerusalém, o primeiro, já que dois outros foram construídos posteriormente. Melhores detalhes sobre a construção do Tabernáculo e o seu mobiliário – dentre os quais o Menorá – é encontrado no Livro de Êxodo, capítulo 25, versículos 10 a 22.

O Menorá ou “Candelabro de Sete Braços” também foi construído por ordem de Javé, segundo o que consta nos versículos 31 a 39 do mesmo capítulo do livro de Êxodo, como aqui transcrito:

“Farás um Candelabro de ouro puro; e o farás de ouro batido, com o seu Pedestal e a sua haste; os seus cálices, os seus botões e as suas flores formarão uma só peça com ele. Seis braços sairão dos seus lados, três de um lado e três de outro.

Num braço haverá três cálices em forma de flor de amendoeira, com um botão e uma flor; noutro haverá três cálices em forma de flor de amendoeira, com um botão e uma flor; e assim por diante, para os seis braços do Candelabro.

No Candelabro mesmo haverá quatro cálices em forma de flor de amendoeira, com os seus botões e as suas flores: um botão sob os dois primeiros braços do Candelabro, um botão sob os dois braços seguintes e um botão sob os dois últimos: e assim será com os seis braços que saem do Candelabro. Estes botões e estes braços formarão um todo com o Candelabro, tudo formando uma só peça de ouro puro batido. 

Farás sete lâmpadas que serão colocadas em cima, de modo a alumiar a frente. Os seus espevitadores e os seus cinzeiros serão de ouro puro. Empregar-se-á um talento de ouro puro para confeccionar o Candelabro e os seus acessórios”.

Segundo Nicola Aslan um dos nossos maiores escritores maçônicos, tanto Flávio Josefo como Fílon, e também Clemente, bispo de Alexandria, pretendem que o Candelabro de sete braços representava os sete planetas conhecidos da antiguidade:

“De cada lado partem três braços, suportando cada um uma lâmpada, diz este último; no meio estava à lâmpada do Sol, centralizando os seus braços, porque este astro, colocado no meio do sistema planetário, comunica a sua luz aos planetas que estão abaixo e acima, segundo as leis da sua ação divina e harmônica”.

Posição do candelabro místico de sete braços no tabernáculo

No Tabernáculo, ou tenda, o Menorá era colocado ao norte, no local denominado Santos dos Santos (em hebraico: Kodesh ha Kodashim), simbolizando não só a luz dos sete “planetas” conhecidos na antiguidade (Sol, Lua, Mercúrio, Vírus, Marte, Júpiter e Saturno), como também os ventos setentrionais, que traziam a chuva, estimulando o desenvolvimento das plantações. É preciso, no entanto, salientar que nem todos eram planetas, pois o Sol é uma estrela e a Lua, um satélite.

No primeiro templo de Jerusalém

Por ocasião da construção do primeiro Templo, em Jerusalém, tanto o Menorá como os demais utensílios utilizados no Tabernáculo seguiram a mesma disposição.

Na loja de Mestre Secreto

Na Loja de Mestre Secreto o Candelabro Místico de Sete Luzes é posicionado a frente da Arca da Aliança, sendo certo que esta fica ao lado direito do Trono.

Na loja de Perfeito e Sublime Maçom

É posicionado igualmente no Oriente, no ângulo direito do Trono, representando o Sol com os Planetas, como era o entendimento dos antigos.

O número sete (sete braços ou sete luzes) constante do Candelabro Místico não foi escolhido aleatoriamente, pois se trata de um número considerado sagrado para os antigos povos, que lhe atribuíam um valor mágico e astrológico. Os hebreus não ficaram imunes às inúmeras influências herdadas de outros povos e daí que é possível ver o número sete em várias passagens bíblicas.

Na Maçonaria, o número sete também tem uma importância vital. Sete são as ciências que o Maçom deve conhecer: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. É o número místico do Mestre e simboliza a perfeição alcançada na evolução espiritual.

O Candelabro Místico de Sete Braços está presente nas Lojas de Mestre Secreto e de Perfeito e Sublime Maçom porque era um dos principais utensílios do Tabernáculo e, posteriormente, também do Templo de Jerusalém. A Maçonaria do século XVIII pegou emprestado este e outros objetos da Religião Hebraica, dado o elevado valor histórico e simbólico, em especial para os chamados Altos Graus.

Robson Rodrigues da Silva

Bibliografia
ASLAN, Nicola, Instruções Para Lojas de Perfeição, Editora Maçônica “A Trolha”, 3ª edição, Londrina – PR – 2004.
_____ , Grande dicionário enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, vol. I, Editora Maçônica “A Trolha”, Londrina – PR – 1996.
CAMINO, Rizzardo da, Os Graus Inefáveis – Loja de Perfeição, Editora Aurora, Rio de Janeiro.
CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, ABC, Editora Maçônica “A Trolha”, Londrina – PR, 1990.
XICO TROLHA e CASTELLANI, José, O Mestre Secreto, Editora Maçônica “A Trolha”, Londrina, PR – 3ª edição, 2002.
RITUAIS dos Graus 4 e 14.


A PEDRA BRUTA



 Vindo das trevas mortais

 Despojando seus metais,

Em que todo profano nasce e precisa ser saciado,

Esta pedra e disforme e aparentemente inerte,

Buscando sempre a Luz Onde ela se converte;

Por três golpes se fez a luz, como deste modo lhe foi dada;

Modificando o áspero mineral

Como prelúdio de uma obra adiantada.

Aprendendo os ensinamentos da Iniciação,

Absorvendo conhecimentos de todos os irmãos,

É depois de purificada,

Ganha e esplendor de uma pedra negra que hora foi calcinada;
Um fulgor de alvura e pureza,

Jamais visto na natureza,

Pronto para conhecer símbolos devagar com tolerância e calma,

Renascendo a partir de agora um irmão com nova alma.

 Missias.’.

SEGREDO EM MAÇONARIA



Há duas razões que justificam o segredo em maçonaria. A primeira, mais fácil de compreender, é histórica; e a segunda, complexa, é profundamente ritual.

Na primeira temos de ler o contexto social e político onde nasce e se implementa a tradição maçônica – num espaço de tensão conflitual entre o iluminismo e um domínio do espaço público pela religião cristã.

A discrição ritual e a intervenção político-social deram margem para um perspetivar subversivo da maçonaria, que poderia pôr em causa o establishment.

Como tal, a atitude persecutória levou, invariavelmente, a uma postura dissimulada por parte dos seus seguidores – mais evidente em regimes políticos autocráticos e em países onde o catolicismo estaria mais vigente (não só pela presença da Inquisição, mas também pela obrigatoriedade teológica da condenação moral).

Esta justificação parece demasiadamente datada, já que hoje não se verifica nenhum destes constrangimentos. Contudo o segredo permanece – por uma memória coletiva; e deverá permanecer – pela dimensão ritual, que é essência da própria maçonaria.

A maçonaria é uma ordem iniciática e de fundamento gnóstico. Com uma dimensão mais esotérica que exotérica. Como tal, vive pela ideia da procura de uma verdade oculta, não doutrinada porque individual.

Na tradição maçônica é suposto haver uma predisposição para esse conhecimento, que só é verdadeiramente revelado para quem o procura (numa espécie de círculo esotérico). Ou seja, a verdade é oculta porque não é revelada, nem pronunciada – só pode ser sentida.

Concebamos este processo como uma descoberta perpétua, onde a tal “verdade” surge não como presente, mas como troféu. É o velho clichê, importa a viagem não o destino. E agora temos o ritual, que é veículo para esta viagem.

O ritual maçônico é uma recriação hermética onde se manifesta uma determinada realidade. O ritual é o símbolo em movimento, que assume um significado para lá literalidade. Partindo de arquétipos, o objeto passa a ter um sentido para lá da sua função imediata – tornando-se, por isso, um símbolo.

A este processo (do “para lá do objeto”) chamamos conhecimento hermético, onde se transmite a chave hermenêutica do símbolo (na mitologia grega Hermes era o mensageiro dos Deuses). A relação com este processo é silenciosa. Como tal, secreta. Assim sendo, quando temos o símbolo em movimento, e predisposição para interpretá-lo, é que se re-cria uma realidade que se apenas manifesta àqueles que nela querem estar. Por isso se diz que somente crianças e iniciados acreditam em contos – essa predisposição não é revelada, logo é secreta.

Autor não identificado
Esta Prancha é fruto de uma reflexão realizada no seio da R
L Gomes Freire de Andrade nº4 (GLLP / GLRP)

FIAT LUX – A ILUMINAÇÃO DO MAÇOM



“Deus disse: Faça-se Luz”

O verdadeiro maçom será sempre um buscador ardente de conhecimento que lhe iluminará o “caminho da consciência tranquila”.

Esta Luz permite a percepção das situações e induzirá na nossa vida a verdadeira sabedoria.

Luz que não ser física é diferente daquela que é captada pela visão, será antes uma Luz espiritual independente da luz externa que carrega em si todo o conhecimento e levará ao aperfeiçoamento do homem.

O homem tornar-se-á quase divino e dentro dele habitará a Luz, passará a ser um verdadeiro Templo de Luz.

Corporizemos toda a Luz do conhecimento possível, certos de adquirir o mais genuíno e real tesouro a que o homem poderá aceder, ao invés o ignorante habita as trevas e caminha triste na escuridão.

O primeiro ato da criação foi a Luz e segundo o Livro Genesis:

«Deus disse: “Faça-se Luz” e chamou dia à Luz e às trevas noite».

Aprender será uma necessidade da alma nobre, com repercussões na sociedade ao permitir servir o nosso semelhante e amar a verdade.

Sabemos que a fantasia, o erro e a ilusão não se podem confundir com consciência.

A vida não é uma qualidade permanente e a qualquer momento poderemos ser chamados ao Oriente Eterno. 

Deveremos por isso estar preparados e levar uma vida digna, praticar a Virtude por amor à Virtude, lembremo-nos que Hiram preferiu a morte à perda dessa mesma Virtude, deveremos ser, pois diligentes e honestos em todas as nossas ações.

Nos tempos que correm, torna-se importante parar para refletir, analisando se seguimos no caminho certo em direção à Luz, o saber corrigir a trajetória e inverter a marcha, será uma mais-valia no nosso comportamento.

Um exercício da meditação crítica, quando bem conseguido, permitir-nos-á atingir um elevado estado de consciência que a princípio, de temporário tende para um aperfeiçoamento individual constante e permanente no nosso dia-a-dia.

Esta análise, nunca será um exercício de atribuição de responsabilidade ou busca de culpados, porque somos nós, os responsáveis pela escolha do nosso percurso.

Por vezes chegam momentos em que falhamos, mas com perseverança, podemos sempre corrigir os desvios e progredir positivando os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas ações.

Pensando harmoniosamente, em sintonia com o Todo Universal, criamos assim condições para respeitar as leis universais e as leis humanas.

Cada um deverá procurar sintonizar-se com os valores universais, procurando cumprir a sua parte e sem dar por isso, vai criando condições para uma forte sintonia com a sua energia interior, e fazer as coisas acontecerem, coisas bonitas até, por vezes muito bonitas.

Como dedicação ao trabalho, que nos habilita a praticar o bem, beneficiando o próximo e vamos concorrendo para o progresso da sociedade onde nos inserimos.

Saibamos dar um bom exemplo de vida vivida, pela transparência neste mundo.

Sejamos fiéis à família, bons pais, bons filhos, bons maridos e bons irmãos, só assim se honraremos o nome do Mestre Secreto em Particular e da Maçonaria em Geral.

O interesse geral deverá sobrepor-se ao interesse particular, obedecendo sempre às leis do nosso país.

O corpo pode ser levado pela morte e de nós apenas ficará a memória como herança, sejamos daqueles que não necessitam de máscaras para sobreviver.

Ouçamos Sophia de Mello Breyner Andresen, em poema de 1958.

Porque os outros se mascaram, mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo, mas tu não.

Porque os outros são túmulos caiados
Onde germina a podridão.
Porque os outros se calam e tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros se vendem e tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros se calam e tu não.

Brotero 


A POSTURA DO MAÇOM EM TEMPOS DE POLARIZAÇÃO



Livres e de bons costumes. É praticamente impossível formar um conceito ou definição completa acerca dos membros da Maçonaria Universal sem em algum momento mencionar estes dois adjetivos. Assim, ao mesmo tempo em que o maçom traz consigo a honra de ter tais qualidades atribuídas a sua pessoa, também carrega a obrigação de sustentá-las através de suas condutas dentro e fora de loja.

Acontece que diante dos tempos de turbulência em que a sociedade atravessa, onde a cada dia se eleva ainda mais a polarização ideológica e político-partidária, aumentando também a intolerância, muitos irmãos estão se agarrando fervorosamente às suas inclinações profanas e esbravejando-as contra seus opositores, indo na contramão da postura e da prudência que são delineadas pela ordem maçônica.

Além dos inúmeros conflitos gerados por tal fenômeno, ainda há de se observar uma lamentável inversão de valores. Neste contexto, torna-se difícil explicar ou conceituar o momento atual, razão pela qual peço vênia para resumir através de um trecho de uma das mais belas cerimônias da para-maçônica Ordem DeMolay, a Cerimônia da Luzes, conforme o texto colacionado “in verbis”:

“Mas nós vivemos uma época turbulenta, quando o tumulto está em nossa pátria; quando os baluartes do livro sagrado, dos livros escolares estão em perigo de afundar no turbilhão da dúvida e incerteza; quando estes sete gloriosos preceitos [amor filial; reverência pelas coisas sagradas; cortesia; companheirismo; fidelidade; pureza; e patriotismo] não são os mais cobiçados modelos sobre os quais se baseia a vida; quando a confiança, a justiça e a fraternidade não são consideradas as qualidades mais virtuosas”

Frente a este cenário, o que se vê é o risco de muitos valorosos maçons saírem da retidão obtida pelo desbastamento de seu caráter, e, em contrapartida, serem vencidos por suas paixões.

Não são raras às vezes em que chegam ao conhecimento das lojas as ocorrências de discussões de baixo nível envolvendo obreiros de seu quadro, inclusive através de redes sociais. Neste ponto, vale destacar que o enorme alcance da internet faz com que esses lamentáveis eventos tomem proporções inimagináveis, maculando não somente o nome dos envolvidos, mas, muitas vezes, da instituição.  

Importante dizer que o maçom, enquanto cidadão possui o direito constitucional de se manifestar e se posicionar quanto aos assuntos profanos que lhe interessam, não havendo nenhuma proibição da Maçonaria neste sentido. O que há, na verdade, é a exigência de se ter cautela para com em seus comportamentos, a fim de fazer jus à luz que recebeu, preservando a sua imagem e a da Ordem, evitando ao máximo que seja envolvida, sobretudo ao tratar de assuntos políticos.

Não obstante a isso, em estratégia preventiva e pedagógica, é oportuno mencionar algumas passagens presentes no Ritual de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito no tocante à Conduta:

“Os Maçons devem conduzir-se como convém a um homem prudente e de boa moral”

“Evitem-se igualmente a embriaguez e os maus costumes”

No que concerne à Moral Maçônica, o mesmo diploma dispõe:

“Evita as querelas, previne insultos, deixa que a razão seja teu guia”

“Não te irrites com facilidade, porque a ira repousa no seio do ignorante”

“Fala moderadamente com os grandes, prudentemente com os iguais, sinceramente com os amigos, carinhosamente com as crianças e ternamente com os pobres”

Em observâncias às disposições supra, é imediata a sua relação com os bons costumes, pois, sendo estes realmente autênticos, legítimos e dotados de boa-fé, transformam-se em virtudes sem limitações, uma vez que é um dos poucos casos em que o excesso não gera prejuízos, pelo contrário, enobrece o homem e engrandece a sociedade. Por outro lado, a liberdade que cada um goza deve ser exercida sem extrapolar determinados limites éticos, sob pena de ferir a integridade moral que se espera de um iniciado e de atingir a própria instituição.

Por fim, é de se concluir que a Maçonaria determina ao maçom para que, mesmo nesta época de um mundo tão polarizado e com pouco espaço para o diálogo saudável, permaneça firme e atento a fim manter sua postura dentro do esquadro e do compasso.

Porto Franco/MA, 03 de junho de 2020.

Heryck da Silva Costa

Sobre o autor:
Mestre Maçom da Aug:. e Resp:. Loj: Simb:. Tiradentes nº 18 – GLEMA
Sênior DeMolay do Capítulo Waldemar Gomes Pereira nº 534
Membro do Colégio Alumni Waldemar Gomes Pereira nº 200
Cavaleiro do Priorado Escudeiros do Maranhão nº 32

A ABÓBODA CELESTE




Deus disse: "Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas".(Gên. 1:14 e 16)

Como é do conhecimento de todos os irmãos, nosso  local de reunião denomina-se Templo, que tem  a forma de um retângulo e simbolicamente tem comprimento do Oriente ao Ocidente, largura do Norte ao Sul, profundidade da superfície ao centro da Terra e altura da Terra ao Céu, sendo que está tão vasta  extensão do Templo simboliza o Universo e a universalidade da Maçonaria e nossa oficina interior. 

Entre os vários símbolos de nossa Ordem, temos a Abóboda Celeste, que decora o teto de nossa Loja, na cor azul com nuvens brancas e diversos astros, entre os quais os Planetas, cada um representando um cargo em Loja: 

É a representação do firmamento celeste, ou seja, do Grande Arquiteto do Universo. Tem também como função mística a produzir energia e contemplação e meditação.

A essa Abóboda Celeste foram destinados os mais ricos ensinamentos, que com sua forma e desenhos, simbolizam as grandezas do Universo, sendo que, a colocação dos Astros, variam de rito para rito, sendo que o que vamos tratar neste trabalho, irá ser o colocado no  Templos da Grande Loja de Minas Gerais.

Do Oriente para o Ocidente e de Norte para o Sul (existem pequenas variações conforme o Rito e a Potência Maçônica), temos 17 astros, dos quais 16 deles estão com seus nomes especificados nos Rituais e um inominado. São eles: Sol, Mercúrio, Júpiter, Spica, Aldebaran, Híadas, Plêiades, Orion, Formalhaut, ao lado, a Estrela sem nome,Saturno. Ursa Maior, Arcturus, Regullus, Antares, Vênus e Lua.

Pois bem, agora faremos uma analogia entre a Abóboda Celeste, existente no teto de nossa Loja, os respectivos cargos em Loja.

SOL: Na mitologia grega era Hélios, ou Apolo dos romanos. Estrela de 4ª grandeza, fonte de luz e vida em nosso planeta, na posição mais oriental, representa o Venerável Mestre. É o símbolo do Deus único. Ele encontra-se também no painel do Aprendiz, no avental do Mestre Instalado, como símbolo da Luz celestial.

MERCÚRIO: O deus Hermes dos gregos, o mensageiro dos deuses, o menor e mais rápido dos planetas, carregava um bastão, com duas serpentes enroladas. Por sua posição no Oriente, próximo e a direita do Sol (Venerável Mestre), e suas atribuições, representa o Primeiro Diácono.

JÚPITER: O deus Zeus dos gregos é o maior dos planetas do sistema solar, posicionado no Oriente. Ele é o guardião da estabilidade que se deve ter em Loja. Representa o Ex-Venerável.

SPICA: Espiga é a mais brilhante das estrelas da constelação de Virgem. Na verdade são duas estrelas que rotacionam entre si, mas a velocidade e o espaço entre elas são tão reduzidos que a olho nu parecem ser uma única estrela. Representa o cargo de Secretário;

ALDEBARAN: Nome que provém do árabe “al-dabarãn”, que significa “aquele que segue” ou “olho do touro”. Na Grécia antiga era conhecida como “tocha” ou “facho”. É uma estrela de primeira magnitude e a mais brilhante da constelação de Touro. Representa o cargo de Tesoureiro;

HÍADES: Na mitologia grega, as Híades eram ninfas filhas de Atlas e Etra. As Híades são um aglomerado estelar da constelação de Touro. As cinco estrelas do aglomerado representam os Companheiros;

PLÊIADES: Na mitologia grega as Plêiades eram as sete filhas de Atlas e Peione (Electra, Maia, Taigete, Alcione, Celeno, Asterope e Mérope). Peione, quando atravessava a Beócia com suas sete filhas, foi perseguida pelo caçador Órions por sete anos e Júpiter, com pena delas, apontou um caminho até as estrelas e elas formaram a cauda da constelação de Touro. 

Tal como as Híadas, é um aglomerado estelar da constelação de Touro, um grupo de estrelas visível nos dois hemisférios, também conhecidas como Sete Irmãs ou Sete Cabrinhas. Pela numerologia do número sete, encontrada inclusive na mitologia grega, representam os Mestres;

ÓRION: Na mitologia grega, Órion é o herói amado por Ártemis(Diana dos Romanos), ambos grandes caçadores. Apolo, irmão de Ártemis, por não aprovar o romance entre os dois envia um escorpião para matá-lo e Ártemis, tentando acertar o escorpião, acaba atingindo Órion.Em meio às lágrimas, Ártemis pede a Zeus para colocar Órion e o escorpião entre as estrelas. 

Órion é uma constelação do equador celeste, com estrelas brilhantes e visíveis em ambos os hemisférios. Das estrelas que compõem a constelação, três são as mais visíveis, formando o cinturão de Órion, no centro da constelação e popularmente conhecidas como “As Três Marias”. Pela numerologia do grau, Órion com suas “Três Marias” representa o Aprendiz;

URSA MAIOR: A Ursa Maior é uma grande e famosa constelação do hemisfério norte, situada próximo ao Polo Norte.No Egito antigo a constelação era colocada dentro de um grupo maior de estrelas e a desenhavam como uma procissão com um touro puxando um homem deitado, havendo a interpretação de que seria Osíris morto, com sua viúva Ísis e o filho da viúva Hórus, em procissão. A interpretação maçônica seria que representa a Lenda de Hiram;

FORMALHAUT: Palavra de origem árabe que significa “boca do peixe”. É conhecida também como Alpha Piscius Austrinis, a estrela mais brilhante da constelação de Peixes. Corresponde ao cargo de Chanceler;

SATURNO: Na mitologia grega – Cronos - É o sexto planeta do sistema solar e possui 15 satélites, dos quais somente 9 eram conhecidos quando os Rituais foram elaborados. Saturno representa a Cadeia de União, seus 3 anéis representam os 3 Graus Simbólicos e seus nove satélites representam os cargos de Venerável Mestre, Primeiro Vigilante, Segundo Vigilante, Orador, Secretário, Tesoureiro, Chanceler, Mestre de Cerimônias e Cobridor Interno. Na Loja representa o Cobridor Externo.

RÉGULUS: Significa “pequeno rei”, “regente” em latim e já foi conhecido como “Cor Leonis” (em latim) e “Qaib al-Asad” (em árabe), que significam “Coração de Leão” em virtude da brilhante posição que ocupa na constelação de Leão, sempre mantendo a posição de comando e direção. Como Régulus é o “regente”, corresponde ao cargo de Mestre de Cerimônias.

ARCTURUS: Na mitologia grega, Arcturus é o ateniense Icário, que recebeu o segredo da elaboração do vinho e ofereceu a pastores que, acreditando terem sido envenenados, mataram Icário. Seu cão Maera ficou latindo sobre o corpo morto de seu dono, chamando a atenção de sua filha virgem Erigone, que se enforcou. 

Houve então uma praga que afligiu as mulheres atenienses que só foi aplacada quando os assassinos foram punidos e se instituiu um festival em homenagem a Icário e Erigone. Os deuses então transformaram ambos em estrelas: Erigone virou a constelação de Virgem e Icário a estrela Arcturus, a mais brilhante da constelação do Boiero e a quarta estrela mais brilhante do céu noturno. Corresponde ao cargo do Orador;

VÊNUS: Ou Afrodite, a Deusa da Beleza e do Amor dos gregos antigos. Segundo planeta do sistema solar e o mais próximo da Terra. É conhecido também como Estrela Vésper, Estrela da Manhã, ou Estrela Dalva. Como está próximo da Lua (Primeiro Vigilante), representa o Segundo Diácono.

LUA: O satélite da Terra, por sua localização na Abóboda Celeste, corresponde ao Primeiro Vigilante. Ela sempre esteve representada nas escolas dos antigosmistérios, era a Deusa grega Selene, ou Luna dos romanos. Deusa Isis, mãe de Hórus e esposa de Osíris. Na loja aparece acima do Altar do Segundo Vigilante, e no painel do Aprendiz.

ANTARES: Nome proveniente de Anti-Ares (Anti-Marte) por se assemelhar, rivalizando com seu tamanho, cor avermelhada e brilho, ao planeta Marte. Para os antigos persas (3000 a.C.) era uma das estrelas guardiãs do céu. Corresponde ao Cobridor Interno.

ESTRELA SEM NOME: É o único astro sem estar nominado nos Rituais. É a Estrela Pitagórica ou Pentagrama ou Pentalfa e, por sua posição no Sul, é interpretada como sendo a Estrela Flamígera, que é um símbolo privativo do Grau de Companheiro. Representa, por sua posição, o Segundo Vigilante;

Temos então a seguinte correspondência: Venerável Mestre (Sol), 1º Vigilante (Lua), 2º Vigilante (Estrela Flamígera); Orador (Arcturus), Secretário (Spica), Tesoureiro (Aldebaran), Chanceler (Formalhaut), Mestre de Cerimônias (Régulus), Cobridor Interno (Antares), 1º Diácono (Mercúrio), 2º Diácono (Vênus), Ex Venerável (Júpiter), Mestres (Plêiades), Companheiros (Híades), Aprendizes (Órion), Cadeia de União (Saturno), Ursa Maior (Lenda do Grau de Mestre)

Podemos notar, que falta em nosso céu, além de Urano (Céu), Netuno(Poseidon)  e Plutão(Hades), já que estes planetas, não são vistos a olho nu,  da Terra (o próprio Templo) e Marte. Os três primeiros por não serem vistos a olho nu, portanto, fora da simbologia de nossa Ordem. A Terra por representar o nosso Templo. 

Mas e Marte, que está tão próximo da Terra, não esta representado em nosso Templo?É que na mitologia grega, Marte ou Ares é o deus da guerra e evidentemente não poderia estar na Abóboda Celeste Maçônica, visto que, visamos a paz, a harmonia e a concórdia universal, portanto, ele não pode ser representado. 

Então, pode-se dizer que, simbolicamente, Marte está do lado de fora do Templo, ambiente profano de incompreensões, lutas e tumultos, sendo que ele representa o Cobridor Externo.

Apesar desse nosso céu, representado em nossos Templos, ser o do Hemisfério Norte, pois o no Hemisfério Sul ele é diferente, isso não tira o simbolismo e a magia que devemos ter quando contemplado e visualiza-lo.

Dermivaldo Collinett – Mestre Maçom

Mestre Maçom da ARLS Rui Barbosa – GLMG – Oriente de São Lourenço/MG
BIBLIOGRAFIA

Do livro Dicionário de Símbolos Maçônicos: Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

A Maçonaria e sua Herança Hebraica O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica José Castellani – Editora A Trolha Alex Horne – Editora Pensamento

Maçonaria e Astrologia A Herança Espiritual do Egito Antigo José Castellani – Editora Madras Christian Larré – Ed. Biblioteca Rosacruz

Origens do Misticismo na Maçonaria Ministério do Homem-Espírito José Castellani – Traço Editora Louis Claude Saint Martin - Ed. Biblioteca Rosacruz

O Esoterismo na Ritualística Maçônica Eduardo Carvalho Monteiro – Editora Madras

A Corrente da Fraternidade Rizzardo Da Camino – Ícone Editora



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