O que é isso tudo?
Essa foi uma pergunta que eu me fiz muitas vezes durante minha
iniciação.
É uma pergunta que você, sem dúvida, também fez a si mesmo, e
por ela todos somos moldados até o fim do Terceiro Grau.
A linguagem do ritual, imponente e bonito como ele geralmente é,
é para a maioria de nós um discurso “misterioso”; e as instruções e a
ritualística são igualmente confusas para o neófito. Por isso é que fazemos a
pergunta, “O que é isso tudo?”.
Depois de nos tornarmos familiarizados com o ritual e ter
aprendido alguma coisa de seu significado, descobrimos que a própria
Fraternidade, como um todo, e não apenas uma parte ou detalhe mais misterioso,
é algo quase demasiado complexo para se entender.
Com o passar do tempo o maçom fica tão acostumado com o ambiente
da Loja que ele se esquece de sua primeira sensação de estranheza, mas mesmo
assim ele ouve de tempos em tempos coisas sobre antiguidade, a universalidade e
a profundidade da Maçonaria; ouve conversas sobre o seu lugar na história e no
mundo, e isso o faz sentir que, apesar de toda sua familiaridade com a Loja,
ele pouco sabe sobre a Fraternidade Maçônica na sua totalidade.
O que é a Maçonaria?
O que é que está tentando fazer?
Como veio a ser?
Quais são os seus ensinamentos centrais e permanentes?
É para responder a estas perguntas — e essas perguntas passam
pela mente de quase todos os Maçons, porém ele pode ficar indiferente a elas —
que a filosofia da Maçonaria existe. Para entender “O que é isso tudo”, no seu
conjunto, e não em partes, devemos aprender sobre a filosofia de nossos
mistérios.
O indivíduo que ingressa na Maçonaria torna-se herdeiro de uma
rica tradição; a iniciação que lhe permite o acesso aos mistérios não é algo
que o capacitará em um dia, e ele vai aprender pouco se nenhuma tentativa fizer
de se aprofundar em seus ensinamentos.
Ele deve aprender um pouco da história da Maçonaria; de suas
realizações nas grandes nações; dos seus professores excelentes, e o que eles
têm ensinado; de suas ideias, princípios, espírito.
A Iniciação por si só não confere esse conhecimento (e não
poderia): o próprio iniciado deve se esforçar para compreender as riquezas
inesgotáveis da Ordem. Ele deve descobrir os propósitos maiores da Fraternidade
a que pertence.
Não há uma interpretação pronta para o que é Maçonaria. O irmão
recém-iniciado não encontra à sua espera um ritual leia-e-aprenda. Ele deve
pensar o que é a Maçonaria por si mesmo.
Mas pensar o que é Maçonaria por si mesmo não é tarefa fácil.
Isso requer que o neófito a veja por suas próprias perspectivas; que se
conheçam os principais contornos da sua história; que se saiba como ela
realmente é, e o que está fazendo; e entender como ela foi entendida pelos seus
próprios pelos seus membros em seus primórdios.
Não é fácil de fazer isso sem orientação e ajuda, e é para dar
esta orientação e ajuda que esta série foi escrita. Há ainda outra razão para o
estudo da filosofia, ou, como nós aqui preferimos dizer, os ensinamentos da
Maçonaria. Nossa Fraternidade é uma organização mundial com Grandes Lojas
praticamente em todas as nações.
Para sustentar, gerenciar e promover tal sociedade custa ao
mundo somas incalculáveis de dinheiro e esforço humano.
Como pode a Maçonaria justificar sua existência?
O que fazer para
reembolsar o mundo com seus próprios recursos?
De uma forma ou de outra, essas perguntas são feitas a quase
todos os membros, e cada membro deve estar pronto para dar uma resposta
verdadeira e adequada. Mas para dar tal resposta exige-se que ele tenha
entendido os grandes princípios e estar familiarizado com os contornos das
realizações do Craft, e isso novamente é um dos propósitos do nosso filosofar
sobre a Maçonaria.
Como podemos chegar a uma filosofia da Maçonaria?
Como podemos aprender a interpretação autêntica dos ensinamentos
da Maçonaria?
Qual é o método pelo qual aquele que não é nem um estudioso
geral, nem um especialista maçônico pode ganhar alguma compreensão abrangente
da Maçonaria como foi dito nos parágrafos anteriores?
Em suma, como pode um homem “chegar a ela”?
Uma forma de “chegar a ela” é ler uma ou duas boas histórias
maçônicas. Não há necessidade de entrar em detalhes ou ler sobre as várias
questões colaterais de interesse meramente histórico; isso é para o estudante
profissional.
Essa leitura e apenas para obter a tendência geral da história e
para capturar os eventos pendentes; para saber o que a Maçonaria tem realmente
realizado no mundo e receber um insight sobre seus propósitos e princípios;
para, como qualquer outra organização, ver revelado seu espírito através de
suas ações.
A partir de um conhecimento do que a Ordem tem sido e o que ela
fez no passado pode-se facilmente compreender a sua própria natureza presente e
princípios, e entender porque Maçonaria nunca teve necessidade de romper com o
seu próprio passado!
A Maçonaria de hoje não nega a Maçonaria de ontem. Seu caráter
resulta claramente da sua própria história como uma montanha se destaca acima
de uma névoa; e que sempre tem sido, pelo menos em um grande caminho – é agora,
e sem dúvida sempre será.
Esta mesma história constrói-se incessantemente, sempre
renovando e formando-se. Acontece no dia-a-dia, e o processo mantém-se aberto a
todos, pois, afinal de contas, não há muito que se esconder sobre a vida rica e
incansável da Fraternidade; na verdade, esta vida está constantemente
revelando-se em todos os lugares.
Grandes Lojas publicam seus Anais; homens que exercem as funções
ativas de escritórios maçônicos fazem relatórios dos seus funcionamentos;
estudiosos do Craft escreverem artigos e publicam livros; Oradores maçônicos
entregar incontáveis discursos; conferências maçônicas especiais, qualquer que
seja a sua natureza, publicam os temas discutidos; a maioria dos eventos mais
importantes está presente nos jornais diários; há dezenas e dezenas de jornais
maçônicos, boletins e jornais, semanais, mensais e bimestrais, e há muitas
bibliotecas, clubes de estudo e de sociedades científicas em todos os lugares
se esforçando com zelo incansável para tornar claro aos membros e profanos “o
que é tudo isso.”
Assim, verifica-se que para aprender isso por si mesmo não é
necessário que uma definição de Maçonaria ouvida por um irmão seja o fim da
linha; ele pode (e deve) pesquisar sobre o tema, ouvir outros irmãos, e ler um
pouco, e, assim, formar suas próprias conclusões.
Para saber quais são esses ensinamentos não é necessário nenhum
talento raro, nenhum “conhecimento interno”, mas apenas um pouco de esforço, um
pouco de tempo.
Para o neófito do mundo maçônico parece muito confuso, é tudo
tão multifacetado, tão longínquo, tão misterioso; mas isso, afinal de contas,
não precisa assustá-lo e impedi-lo de uma tentativa de entender esse mundo com
uma visão abrangente, e perceber que toda a Maçonaria gira em torno de algumas
grandes ideias.
Compreender essas ideias por sua vez, é o que torna mais
familiar para um Maçom palavras tais como “Fraternidade”, “Igualdade”,
“Tolerância”, etc., etc., de modo que o mais jovem Aprendiz não precisa ter
nenhuma dificuldade no seu entendimento.
Se ele chegar a elas, e se ele aprende a compreendê-las como
maçons devem entendê-las, elas vão ajudá-lo muito para conquistar essa visão
abrangente e inclusive do que chamamos de filosofia da Maçonaria. Nada foi dito
ainda dos grandes mestres da Maçonaria.
No passado havia
Anderson, Oliver, Preston, Hutchinson, etc .; depois vieram os filósofos da
meia-idade, Pyke, Krause, Mackey, Drummond, Parvin, Gould, Speth, Crawley, e
outros; e em nossos dias Waite, Pound, Newton, etc., etc.
Nas obras desses homens a Maçonaria se tornara luminosa e
inteligível, de modo que podemos ler e compreender o que dizem. Além disso, o
maçom deve estudar as leituras e instruções incorporadas ao ritual de todos os
ritos e graus, sendo estes instrumentos interpretativos uma parte do próprio
Craft.
Nenhum deles é infalível, mas mesmo quando se afastam do significado
original de nossos símbolos são sempre valiosos em revelar as ideias e os
ideais das pessoas de que se originaram e que deles fizeram uso.
Isto é para mostrar por que devemos nos esforçar para fazer da
nossa própria mente uma filosofia da Maçonaria, e de quantas maneiras pode-se
chegar a essa filosofia.
Mas cuidado. O estudo da filosofia da Maçonaria não é o estudo
da filosofia maçônica; o estudante maçônico como tal, pode vir a ter pouco
interesse em Platão e Aristóteles, no neoplatonismo, misticismo, Escolástica,
racionalismo, idealismo, pragmatismo, Naturalismo, etc.
Na Maçonaria há sinais de cada um desses e de outros sistemas
filosóficos principais, sem dúvida, mas não existe essa coisa de filosofia
maçônica, da mesma forma que não existe religião maçônica.
Falamos de uma filosofia da Maçonaria no mesmo sentido que
falamos de uma filosofia de governo, ou da indústria, ou arte, ou ciência.
Queremos dizer que se estuda a Maçonaria, da mesma forma ampla,
esclarecida, inclusiva e crítica, da mesma forma em que um economista estuda a
política de um governo ou um astrônomo estuda as estrelas.
Seria uma coisa abençoada se um maior número de nossos membros
deixasse de lado os assuntos administrativos e, muitas vezes mesquinhos de sua
própria Loja, a fim de olhar com mais frequência para esses princípios
profundos e sábios que estão para nossa Fraternidade assim como as leis da
natureza estão para o universo.
Autor: H. L. Haywood - Tradução: Luiz M Viegas
Fonte: http://www.deldebbio.com.br/grandes
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