O FILTRO DA LOJA



“Há quem muito se deu, dele muito se exigirá; e há quem muito se entregar, muito se lhe pedirá”

Um templo maçônico é construído, unindo-se tijolo a tijolo com a argamassa reparada pelo pedreiro, que assim levanta suas paredes e verifica a sua perfeição com o auxílio do Prumo e do Nível, tornando a aparência rude em lisa com a Trolha, utilizada para estender o reboco e cobrir todas as irregularidades, para anunciar que está tudo correto, proclamando: tudo está justo e perfeito, fazendo parecer o edifício como formado por um único bloco e por isso, a Trolha pode ser considerada como um emblema de tolerância e indulgência com que todo Maçom deve dissimular as faltas e defeitos de seus Irmãos.

É esse o segredo da vida dotada de força. Apenas com a inteligência não se pode ser um ser moral, nem fazer política. A razão não basta, as coisas decisivas passam-­se para além dela. Os homens que fizeram grandes coisas amaram sempre a música, a poesia, a forma, a disciplina, a religião e a nobreza. Iria mesmo ao ponto de afirmar que só as pessoas que assim procedem conhecem a felicidade! São esses os chamados imponderáveis que dão o cunho próprio ao senhor, ao homem; aquilo que ainda vibra na admiração do povo pelos atores é um resto incompreendido disso.

Porém é o Mestre quem diz que sua obra está perfeita. Dentro deste templo construímos uma Loja. Uma Loja é construída com a energia dos Irmãos, ela encerra todas as virtudes dos seus membros, mas também todos os seus vícios. Se permitirmos que as virtudes prevaleçam, ela se enche de brilho e reflete em seus criadores a aura de felicidade, de paz, de harmonia, de satisfação, de bem estar físico e espiritual.

Vício é o hábito mau, oposto à virtude, que é o hábito bom. Vício é tudo quanto se opõe à natureza humana e que é contrário à ordem da razão; um hábito profundamente arraigado, que determina no indivíduo um desejo quase doentio de alguma coisa, que é ou pode ser nocivo. É tudo o que é defeituoso, o que se desvia do bom caminho. Sendo coisas extremas, os vícios estão em oposição não só com a virtude, senão também entre si; as virtudes, pelo contrário, concordam sempre entre si.

Quando permitirmos que os vícios, os erros, o egoísmo, o individualismo, dominem, isso nos devolve a sensação de opressão, angústia, desânimo, desilusão.
Mas quem é o filtro que se coloca diante de nossos defeitos de modo a não permitir que eles se amplifiquem dentro do templo e transformem a Loja?

Quem é que amplia nossas qualidades, tornando os trabalhos justos e perfeitos?
Quem é que com suas críticas ajuda Loja a crescer?

Quem é que com seus elogios nos enche de orgulho, mas nos alerta que nas Lojas Maçônicas, os ótimos são apenas bons?

Quem é que diante de nossas divergências nos lembra que os motivos que nos unem são maiores do que aqueles que nos separam?

É o Venerável Mestre. Esse é Irmão que, no decorrer de sua administração, deve saber filtrar as queixas, saber amplificar as qualidades; que se cala como um sábio para evitar desavenças e que fala como profeta aos que sabem ouvi-­lo.

Juiz por Instalação… Salomão por mérito, manifestação de respeito, fidelidade, subordinação e digno de reverência. O peso que exerce o Venerável Mestre na administração da Loja é decisivo. Ele é o que suas ações exemplificam.

Na Maçonaria, como em qualquer outra instituição humana, são comuns as homenagens a Maçons que se distinguem por seus méritos; essas homenagens, todavia, devem ser prestadas com parcimônia e recebidas com humildade; a parcimônia, para que elas não se transformem em moeda vil, em balcão de comendas; a humildade, para que o homenageado tenha em mente que o dever está acima das galas momentâneas.

O que se espera do dirigente

O Venerável Mestre não é apenas um condutor de reuniões (se bem que de cada reunião deva nascer o encaminhamento para a solução dos problemas propostos. Se uma reunião for estéril e o seu resultado ineficaz, estarão comprometidas e desacreditadas as reuniões seguintes). Sem sombra de dúvidas, podemos afirmar que o Veneralato é uma investidura que impõe ao Maçom importantes e sérias responsabilidades, cuja incumbência deve ser efetuada com galhardia, zelo e satisfação, ainda que sejam as tarefas difíceis e a jornada árdua. É, pois, um sacerdócio e uma magistratura à altura do Rei Salomão.

Lembremo-nos que todo o Maçom possui um compromisso com o futuro da Ordem e deve ter facilitado os meios de participar das atividades da Loja. Cada um a seu nível, dentro de suas condições e capacidade, mas é tarefa do Venerável orientar, coordenar e comandar (= mandar com), cabendo-lhe a execução e o esforço em procurar todos os recursos para:

Buscar a satisfação dos irmãos, de suas atividades ritualísticas, filosóficas e sociais; 

Manter e melhorar o desempenho da Oficina, funcionando de modo pleno, inteiramente voltada para cumprimento do programa estabelecido pela Constituição e Regulamento Geral;

Procurar sempre fazer mais e melhor, capacitando a Oficina para: 

– que haja vida, trabalho, ação e comunhão de idéias com seus Irmãos;
– manter os Irmãos unidos e integrados para que se completem e complementem as partes, ouvindo todos e procurando concordância de ideias, de opiniões, num trabalho conjunto, harmonioso e  produtivo de todos os Irmãos.

Estimular a participação, o raciocínio e a reflexão de todos os Obreiros, inclusive dos Companheiros e Aprendizes, nas tarefas que executam. Dando-­lhes objetivos e solicitando-lhes o auxílio, ganhando com isso benefícios de toda ordem. Todos os Irmãos devem pensar, questionar, raciocinar e procurar os meios de otimização das atividades. É privilégio do Venerável elogiá-­los por isso, ou cobrar-lhes atuação e maior empenho.

Diversos são os caminhos para se fazer alguma coisa.

Em que pareça o sistema gerencial da Loja Maçônica ser um conjunto de elementos, materiais ou ideais, nitidamente participativos, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação, os Obreiros de uma maneira geral reagem à participação. Daí, os atributos e qualificações que o Venerável Mestre deve ser naturalmente dotado para vencer o primeiro obstáculo de sua administração, que é a incapacidade natural que o homem tem para conseguir e obter compreensão, cooperação e auxílio dos outros.

Sempre existirão diferentes formas de se compreender e solucionar um problema ou melhorar alguma coisa. É preciso buscar a solução que satisfaça aos objetivos fixados, às necessidades do momento e a opinião sensata dos Mestres e da maioria dos envolvidos. Cooperar, trabalhando para que todos sejam beneficiados; com o cuidado para não enveredar pelo caminho do individualismo – valorizando as qualidades peculiares – suas e também dos ouros, lembrando, porém, que não é ele, por “estar” Venerável Mestre, o valor mais elevado, mas sim, que juntos os atributos e conhecimentos que habilitam alguém a desempenhar essa honrosa função, adquirem mais forças.

Ao Venerável Mestre cabe continuar servindo, direcionando a ação e fomentando a cooperação entre todos, porque seu papel é interpretar os fatos e tomar as decisões mais eficazes. Com seu exemplo, outros, em igualdade de condições farão o mesmo. Assim teremos melhores dirigentes, e consequentemente, uma Maçonaria mais em concordância com seus fundamentos originais.

Rogamos, humildemente, a bênção divina para que um dia, em isso acontecendo, daremos como alcançado, o nosso intento.

Permita Senhor do Universo, a realização dos sonhos que acalentamos!

Autor: Valdemar Sansão


O QUE VINDES AQUI FAZER?



Dependendo de onde ou a quem está pergunta está sendo feita, nós teremos as mais diversas respostas.

Um exemplo seria se você fizesse está pergunta a um aluno numa sala de aula. Ele poderia lhe apresentar as mais diversas respostas do tipo: Estou aqui porque meus pais querem ou Eu quero ter um aprendizado para ser alguém na vida ou ainda eu quero ter uma profissão. E por ai vai...

Agora, se você faz está mesma pergunta a um maçom independente do seu grau e ele estando dentro de uma loja, ele lhe dará a seguinte resposta: Vencer minhas paixões, submeter minha vontade e fazer novos progressos na Maçonaria.

Ah! Então todos vão te dar uma única resposta.

Mas será que todos, estão realmente aqui com este propósito?

Será que todos estão preparados ou se preparam para isso?

Se livrar das paixões a ponto de vencê-las não é uma tarefa fácil, se você não pegar numa “enxada” hoje, amanhã e depois de amanhã e sempre, para cortar o mato de sua vida, ele vai crescer e todos os frutos da carne vão florescer em você: libertinagem, impureza, devassidão, idolatria, magia, ódios, discórdia, ciúme, rivalidades, dissensões, facções, inveja e outras coisas semelhantes.

Por isso, a vida maçônica é um contínuo combate. Não apenas um combate exterior, mas principalmente interior. É preciso combater nossa natureza humana, não deixando-a  livre, ao contrário, devemos podá-la.

Submeter as minhas vontades, ou seja, sujeitar minhas vontades a meus deveres. Deveres com minha família, deveres com meu trabalho, deveres com meus amigos e/ou irmãos, deveres com a sociedade num todo. Outra tarefa que nos faz exercitar todos os dias.

É fácil? Claro que não! Enfim, não existe uma “fórmula pronta”; o que existe é um exercício cotidiano a que devemos nos obrigar, para que consigamos vencer a maioria de nossos embates internos.

E fazer novos progressos na Maçonaria? Essa transformação da mente para a prática ou interiorização dos conceitos transmitidos é lenta necessitando sempre de uma reflexão sobre a simbologia apresentada.

Devemos passar de “teóricos” a “construtores” do edifício social, sendo obreiros edificadores da humanidade em marcha para um mundo melhor e mais esclarecido.

E, não se iluda, porque não há vitória sem lutas. E as nossas lutas, ao invés de nos derrotarem, têm que ter o poder de nos estimular a ir em frente e a valorizar nossas vitórias.

Enfim, porque vou a Loja frequentar a sessão? Para que eu continue aprendendo a vencer as minhas paixões, a submeter a minha vontade, e, possa assim, fazer novos progressos e novos conhecimentos na Maçonaria.

  
Bibliografia
Ritual Grau 1 – REAA – GOB – 2009


Trabalho realizado por:
Carlos Alberto de Souza Santos - M I - CIM 209514
A.R.L.S. Harmonia e Concórdia n° 4418 – GOB/RJ



COMO DEVEMOS PRATICAR A CARIDADE.



Falamos muito, na Maçonaria e outras instituições filantrópicas, de caridade e beneficência, como deveres que os mais afortunados têm para com o "miserável e carente de sorte". Mas dificilmente caridade e beneficência chegam a ser uma experiência verdadeiramente caridosa e benéfica, porquanto procedem de um erro, ao invés da verdade, somos chamados a contribuir muitas vezes para reforçar e tornar estático ou crônico o mal que desejamos eliminar, reforçando a sua raiz.

Como ensinaram todos os sábios de todos os tempos (e isso pode ser, em alguns aspectos, o paradigma da verdadeira sabedoria), a raiz e a primeira causa de todos os males devemos procurar no erro ou na ignorância. E até que não se corrija esse erro e esta ignorância, todas as formas de caridade não serão mais do que um paliativo, pois não elimina a raiz do mal, mas muitas vezes é feito, muitas vezes contribuímos com a consciência do mal que estimulamos para torná-lo mais forte e vital.

Por exemplo, há sem dúvida aquele tronco de solidariedade oportunamente circulado a favor de um irmão necessitado, ou de outro caso piedoso, pode constituir uma ajuda útil e providencial, especialmente se os presentes são generosos em suas contribuições, como pode ser a ajuda direta para outro irmão.

Mas se, com a ajuda monetária (cujo valor e a eficácia devem ser temporários e transitórios) os presente acompanham, como quase sempre acontece, seus sentimentos e pensamentos de compaixão e, pior ainda, de comiseração, ou de alguma forma se considera a pessoa necessitada como impotente e em estado de inferioridade, a influência desses pensamentos são pouco desejáveis e efetivas a ajuda, na medida em que contribui mais para abater, ao invés de realçar seu estado moral e a confiança em si mesmo.

O mesmo deve ser dito, com mais razão, de todas as formas de beneficência, que ao invés de uma simples e espontânea manifestação do espírito de fraternidade entre irmãos livres e iguais, manifesta, claramente, a distância que medeia entre o benfeitor e o beneficiário, ou de alguma forma se transforma essa dádiva em humilhação, com a qual paga muito caro o apoio recebido. Não dizemos nada da caridade que serve como pretexto para ostentação e vaidade, porque neste caso, dificilmente poderia ser digno desse nome.

A verdadeira caridade deve ser secreta e espontânea e não deve envolver-se em qualquer forma de humilhação. Prevenir as necessidades de um irmão que está claramente em dificuldade é muito mais fraterno que esperar que este peça ajuda, porque com o pedido isso já está quase pago e nenhuma coisa que se paga tão caro como as pedindo.

A mão que dá como verdadeiro espírito de fraternidade deve esconder-se, e "esquerda não deve saber o que faz a direita". Devemos, portanto, evitar a prática em uso em algumas lojas de pedir a outras oficinas uma contribuição para ajudar um irmão e especialmente dar o nome do irmão.

Nem mesma na própria oficina devemos dar o nome da pessoa socorrida, porque não há nenhuma necessidade de que seja conhecida, com exceção daqueles diretamente envolvidos na ajuda.

Ir. ALDO LAVAGNINI


OS DIFERENTES NÍVEIS DA REALIDADE MAÇÔNICA



INTRODUÇÃO
Irmãos! Eu não me incomodarei em ser taxado de visionário, assim como nunca me incomodei com o rótulo de maçom-esotérico. Acredito que a Maçonaria precisa dos diferentes tipos de Maçons.

Na franco-maçonaria, reis, nobres, clérigos, plebeus, farsantes, revolucionários, esotéricos, ocultistas, simbolistas, historiadores, astrólogos, escritores, cientistas, espiritualistas, filósofos, hermetista, místicos, visionários e idealizadores conviveram de forma harmônica e pacifica,emprestando valiosa contribuição para que a Ordem pudesse sobre-existir na atualidade.

Passaram-se trinta e cinco anos desde que fui iniciado. A minha escalada na senda maçônicas não foi estéril. Neste meio espaço-tempo ascendi do grau um ao grau trinta e três. Colaborei na fundação e na funcionalidade de sete Lojas. Escrevi cinco livros sobre assuntos/temas estritamente maçônicos (e um sexto livro encontra-se em fase de acabamento).

Escrevi dezenas de artigos. Auxiliei intelectualmente centenas de maçons em sua escalada individualizada, e me relacionei com milhares de maçons brasileiros e de outras nacionalidades.Como diz São Paulo em sua Carta: “Combati o bom combate, cumpri a jornada, mantive a fé”.

Pode parecer estranho os parágrafos antecedentes – eu não tenho por hábito me colocar em meus escritos – mas tenho agora uma razão especial: presto contas da minha trajetória maçônica, identifico e discorro sobre diferentes níveis da realidade maçônica, apresento críticas e sugestões tendo como foco a atuação das Lojas e dos Maçons no desiderato de tornar feliz a Humanidade pelo aperfeiçoamento dos costumes, e para tal preciso demonstrar credibilidade sobre o que penso e escrevo.

A MAÇONARIA
A Maçonaria, desde suas lendárias e difusas origens, sempre se apresentou como sendo uma sociedade iniciática, de caráter esotérico, fechada, e voltada para a promoção do aperfeiçoamento moral e intelectual dos seus membros, e o melhoramento da qualidade de vida da Humanidade, chamando para si a responsabilidade pela propagação dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre os homens; motivando, a todos os que lhe são próximos, para a prática de elevadas virtudes, filantropia desinteressada, mútuo socorro, e cultura ilustrada; reunindo em suas Colunas homens de diferentes raças, religiões, línguas e culturas, com o objetivo de fazê-los alcançar a perfeição ético-moral por meio do simbolismo e alegorias de natureza mística e/ou racional, da filantropia e da educação.

Na visão do Maçom, a Maçonaria é uma Universidade, uma escola de vida, proposta formativa, educação permanente, onde um conjunto de homens bons, livres e inteligentes trabalham voluntariamente para o progresso da Humanidade, se batendo pelo aperfeiçoamento dos costumes e pela ética nas relações sociais, sob a égide da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, rumo à conquista da felicidade geral e da paz universal.

Na visão do homem socialmente engajando, a Maçonaria impõe respeito e coleta admiração, reconhecendo nas ações dos Maçons o esforço para a construção de uma sociedade melhor, mais justa e mais fraterna. Na visão do homem comum – do povo – muitos imaginam ser a Maçonaria uma espécie de máfia, outros um clube, outros a imaginam um Estado dentro do Estado, enquanto muitos outros nem se dão conta da existência dos Maçons e muito menos da existência da Maçonaria.

Por si mesma, a Maçonaria é um modelo de sociabilidade ilustrada do que sempre foi pelo menos a contar de 1717, e a sua vocação é ser uma Entidade sem fronteiras. Funciona como uma âncora moral e espiritual para os Maçons e para a Sociedade seja pelos ensinamentos e conhecimentos de que é guardiã; seja por possuir os instrumentos teóricos, filosóficos, históricos, sociológicos, éticos e morais necessários para motivar seus membros ao burilamento intelectual; seja por fornecer os elementos necessários à ação, podendo desvelar a todos, no momento certo e oportuno, um dos seus maiores segredos: a unidade do amor incondicional ao próximo.

De fato, o objetivo mais característico da Ordem Maçônica a ser perpassado é o amor fraternal que orienta para fazer o bem na execução da sua sublime missão de unificação da humanidade, e as vozes que ecoam da cripta dos grandes filósofos – os mestres da terra – conduzem ao entendimento de que o Mundo é nossa família.

Todos somos filhos e filhas do Grande Arquiteto do Universo. Somos, pois, irmãos e irmãs, vez que criados pelo mesmos Pai. Na unidade divina não há diferenças radical entre os filhos de Deus além da língua, íris e datiloscopia. Cada um de nós somos no Universo de Deus uma particular visão espiritual da Humanidade.

A Maçonaria caracteriza-se, ainda, por ser uma instituição humanística que exalta tudo o que une e repudia tudo aquilo que divide, aspirando tornar a Humanidade mais feliz, mais fraterna, mais humana, enfim, aspirando constituir uma grande família de irmãos, vez que considera Irmão a todos os maçons, quaisquer que sejam suas raças, nacionalidade, convicções e crença, recomendando a divulgação de sua doutrina pelo exemplo e pela palavra, e pelo combate, terminantemente, ao recurso da força e da violência para a consecução de quaisquer objetivos.

Os ensinamentos maçônicos condensados na máxima “Ama Teu Próximo”, induzem à observância das leis; a vivencia segundo os ditames da honra; à pratica da justiça e da equidade e do amor ao próximo; e induzem ao trabalho incessante pela felicidade do gênero humano.

Em suma: ensina os maçons a dedicarem-se à felicidade de seu semelhante, não porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever/obrigação, mas porque esse sentimento de fraternidade é a qualidade inata que nos faz Filhos do Universo, amigos de todos os homens, e fieis observadores da Lei do Amor que Deus estabeleceu no Planeta.

Nas palavras do Irmão Osvaldo Ortega, “o reflexo das ações maçônicas que por certo causariam um bem-estar à Ordem e as nossas vidas, não seriam somente as praticadas ritualisticamente no Templo. Seriam reflexivas sim, principalmente aquelas que aplicássemos no campo social e profissional onde atuássemos lá fora, por aquilo que aprendemos lá dentro.

A essas ações os nossos pensamentos e palavras a elas deveriam estar síncronos” (Ortega, p. 60). Maçons devem ser gentis e afetuosos uns com os outros, irmãos, verdadeiramente. A Maçonaria Universal é a Grande Sociedade da Paz do Mundo.

OS MAÇONS
Independentemente do que se possa supor a seu respeito e individualidade, o Maçom é o que é,e será o que é, confiante e indecifrável. Em particular, é desconhecido do grande público, e quando conhecido, é considerado como participante de um grupo fechado de pessoas que se reúnem em segredo, que participam de rituais secretos e que tem em comum o propósito de ajudarem-se mutuamente.

O Maçom, por seu turno, pouco ou nada faz para se revelar. São por compromisso e por vontade própria, programados à discrição e ao isolamento voluntário da sua condição de Maçom. Me parecem fiéis seguidores de Albert Pike, o pregador da recomendação de que “o sigilo é indispensável em um maçom, não importando o Grau”(Pike, p. 5).

Há Maçons, contudo, que são por demais conhecidos do público por conta da sua área de atuação antes de ingressarem na Maçonaria, alguns destes, depois do ingresso guardam sigilo da condição de membro associado e assim mantém o anonimato e o distanciamento.

Outros ficam distinguidos/conhecidos depois de se tornarem membros de uma Loja Maçônica, mas, em ambos os casos, o conhecimento da condição de Maçom fica adstrita ao círculo de amizade do próprio Maçom. Acreditam que o fato de não se revelar é algo que sempre esteve, está e sempre estará a seu favor e a favor da Ordem. Evitam aparecer e de se dar a conhecer na sua condição de Maçom, embora a vocação do Maçom seja a de ser um Ser sem fronteiras.

Por outro lado, se a sociedade (o povo) pouco conhece da Maçonaria – sua história, tradições e realizações – é porque os Maçons não a divulgam adequadamente. A Maçonaria, contudo, não pede e ao que me parece, nunca pediu para ser divulgada, mas não comete crime quem se identificar como Maçom. Entrementes, devo antecipar que os Maçons vivenciam efervescentes atividades social, política e cultural dentro e fora da Ordem.

Os Maçons e as Lojas desenvolvem intensa programação ritualística e social não-ritualísticas, são festas, jantares, confraternizações, palestras abertas ao público e inúmeras outras atividades promocionais, proporcionando ao Maçom e aos seus familiares um relacionamento efetivo, no Universo particular da Maçonaria, dos Maçons e de seus familiares e amigos.

NADA MUDAR PARA SE MANTER
Aos Maçons, no Brasil e em todos os lugares, em todas as Lojas, em todos os ritos, são ensinados a prática da caridade e o interesse da ajuda à comunidade. Os Maçons são encorajados à prática da caridade e ao trabalho para o bem-comum. Estes dois aspectos são princípios maçônicos da benemerência que envolve os Maçons desde o início da franco-maçonaria na sua inatingível linha do tempo.

Aos Maçons, ainda, são ensinados a serem francos, honestos e verdadeiros, exigindo-se de cada um deles o mais elevado padrão de moralidade e eticidade. Isto não se muda. É causa pétrea.

Focado nas tradições e no conservadorismo dos Landmarks e das Antigas Obrigações, os Maçons se escudam para justificar algumas das suas ações e leniências na condução da própria atividade maçônica.

Nesta postura entre o novo e antigo, mudar ou não mudar, agir ou não-agir, fazer ou deixar-de-fazer, reside o grande desafio do livre-arbítrio, e muitos Maçons, assim,encontram justificativas e/ou saem do nível e do prumo e se afastam da retidão do esquadro e do compasso e da Maçonaria para a vida em comum da sociedade profana, orientando seu comportamento e entendimento à luz da realidade que lhe é permitido enxergar, em razão do seus próprios conhecimentos e avaliações.

E aqui fica o alerta: o fato de alguns Maçons não seguirem 100% às regras estabelecidas e acordada internamente, depõem não somente contra o próprio Maçom, mas contra toda a Irmandade.

É sabido que os diferentes níveis da realidade mundana moldam os homens e moldam os maçons (o termo nível aqui aplicado diz do valor intelectual e moral, dos diferentes estágios de padrão e qualidade dos homens e do maçom). A Maçonaria é um espelho da realidade mundana, sem que se possa atuar para inverter esse estado de coisas. As discussões em torno desse tema são inúmeras e improfícuas.

Ao ingressar na Maçonaria, o Maçom não desincorpora sua cultura (100%) mundana, mas ao iniciar uma nova caminhada precisa evoluir, crescer, precisa receber novos conhecimentos, novo desenvolvimento intelectual e cultural. A vida e a atividade maçônica, em sua essência, exigem duas ou três horas semanais do Maçom, e este só se eleva, rebaixa ou estaciona em realidade, na concepção do conhecimento cada um e na conformidade do grau de instrução efetivamente incorporado. Daí decorre os (des)nivelamentos.

Em verdade, a vida e a atividade maçônica no Brasil, nos graus iniciais, consume pouco tempo, imagino seja algo inferior a 2% do tempo semanal, mensal ou anual do Maçom (não disponho de números, mas avalio que são poucos os Maçons que dedicam parte significativa do seu tempo ou do seu trabalho à causa da Maçonaria e dos afazeres recomendados à prática, doutrina e cultura maçônica), o que quer dizer que depois de iniciado o maçom continuar a viver cerca de 98% para a realidade mundana e apenas 2% para a Maçonaria.

Esse quadro só se altera um pouco com a permanência na Ordem, com ascese aos cargos de direção e/ou aos graus superiores da Maçonaria. Daqui também decorre os (des)nivelamentos.

Assim, muitíssimos maçons pouco sabem sobre a História, Filosofia, Doutrina, Lendas, Tradições, Rituais, e dos Usos e Costumes da Ordem, embora sejam bons e frequentes em Loja. Outros comparecem muito pouco às Sessões de Loja e sabem menos do que deveriam saber.

Alguns outros são verdadeiras esfinges, entram e saem silenciosos das sessões de Lojas, são como livros preciosos contendo sábios ensinamentos, mas que permanecem fechados nas estantes apanhando o pó do tempo. Outros, infelizmente, falam, falam e nada produzem.

Alguns outros são só festivos, são dados às festas e confraternizações maçônicas. Em resumo: os maçons são de tantos níveis quanto sejam as suas qualidades maçônicas e os trabalhos de suas Oficinas.

Embora a sociedade não se interrogue sobre onde, como, quando, por que e para que serve a Maçonaria, a formação do homem iniciado-maçom e a missão maçônica são nobilíssimas, e a discrição da Vontade Divina em conceder à Maçonaria a missão histórica de salvaguarda de uma sabedoria milenar, uma filosofia muito elevada e profunda e também milenar, o que faz com que a Maçonaria por via do Maçom, seja a fonte e o artífice da onda de progresso que vai unificar as fronteiras geográficas e os homens na universalidade da fraternidade, do amor e do perdão. Digo: A Maçonaria e o Maçom são fonte e artífice da onda de fraternidade que vai unificar a Humanidade. A vocação da Maçonaria é ser uma Entidade sem fronteiras.

CONCLUSÃO
Mais do que uma Instituição, a Maçonaria é uma universidade de acesso ao conhecimento ilimitado e tem uma proposta peculiar de ensino/aprendizagem no sentido iniciático da conscientização de morrer para nascer de novo e reconstruir-se de dentro para fora, o que significa dizer: praticar a ressurreição em vida. 

Comportaria, ainda, afirmar que a única realidade que atrela o Maçom à Maçonaria é a vontade de permanecer, de crescer, de se desenvolver, de ser diferente. Neste sentido, a Maçonaria tem por objetivo, tem por fim, e tem como meios (e em certa medida, os fins), os seus membros: os Maçons e a sociedade humana.

A Maçonaria ministra muitos saberes, ensina e ensina, mas também aprende e aprende, e em sua longa trajetória histórica, “aprendeu que somente vale a pena ficar com o Maçom convicto, que continua querendo aprender e elabora seu próprio projeto de vida conforme a doutrina maçônica” (DEMO, p. 70). E tanto isto é verdadeiro, que a Maçonaria não obriga ninguém a permanecer associado as suas Lojas ou em Graus e Ritos.

O Maçom é livre e tem a liberdade de escolha entre permanecer ou sair, evoluir ou estacionar na ascese maçônica. “Quem quer, permanece na Instituição, que não quer, se vai” (DEMO, p. 69).

Na etimologia latina, a palavra “educar” significa “puxar de dentro” (DEMO, p. 71) e através do tempo e mundo afora as realizações maçônicas não foram e não serão medidas pela ação dos seus membros e sim pela capacidade que eles tiveram ou venham a ter no futuro, no domínio do conhecimento e do aprendizado maçônico (nem sempre visível ou sensível), de se resolver, de se auto-construir, de lapidar-se a si mesmo antes de tentar lapidar aos outros.

É por conta deste tipo de ideal que a Maçonaria está disposta a orquestrar vozes de todos os timbres, independentemente de religião, raça, classe social, formatando contexto de generosidade infinita no qual todos, sem exceção, pode progredir e se aperfeiçoar, ou seja, nivelar-se.

Irmãos! Eu os considero a todos como meus Irmãos, e mais, eu também considero a todos os seres humanos como nossos Irmãos. Penso que devo convidá-los a enxergarem nas pessoas à nossa volta um Irmão.

Penso que o tempo é de agir e conclamo à que os maçons estendam e liberalizem os laços fraternais que os unem entre si a todos os homens esparsos pela superfície da Terra.

E encerro com duas frases lapidares: “Oh! Quão bom e quão suave é que os Irmãos habitem em união” (Salmo 133) e “Eis aqui quão bom e jucundo é quando os irmãos habitam a união” (Dante Alighieri, De Monarchia – XVIII, citando o salmo 133). Continuar seria algo próximo do “Mais-Que-Perfeito”.

Por Luiz Gonzaga Rocha

Obras de Apoio:
DEMO. Pedro, Maçom: Jeito de Ser, Brasília: ed. do autor, 2006.
ORTEGA. Oswaldo, Uma Luz nos Mistérios Maçônicos, São Paulo: Edições GLESP, 2003.
PIKE. Albert, Moral e Dogma do Rito Escocês antigo e Aceito, Tomo II, s/local impressão. s/ed, s/d.
ROCHA. Luiz Gonzaga da, Apontamentos para a História da Maçonaria: Pernambuco 1842/1852, Brasília: Impressus, 2014.
SARAIVA. Alexandre José de Barros Leal, Maçonaria: percepções, dúvidas, fé e razão de um obreiro feliz, Fortaleza: Relevo, 2009.
SOBRINHO. José Wilson Ferreira, Centelhas Maçônicas, Londrina: A Trolha, 2003.



PARADOXOS MAÇÔNICOS



Caríssimo Irmão! O presente ensaio se propõe assinalar a distância que medeia a Maçonaria da Sociedade Brasileira e os Maçons dos propósitos e princípios da Ordem. E cabe proclamar, inicialmente, que não se trata de crítica e não se busca indicar caminhos para a Ordem ou para os Maçons. A pretensão, única e exclusiva pretensão, é chamar a atenção dos Maçons à reflexão sobre alguns dos muitos paradoxos da Ordem e por extensão, despertar os maçons, no momento em que a leitura se efetivar.

A Maçonaria é uma Instituição sem fins lucrativos, constituída por homens inteligentes, virtuosos, generosos e conscientes de seus deveres e obrigações. As suas Constituições, Regulamentos, Estatutos e legislação ordinária ressaltam princípios fundamentais e postulados universais, tendo por escopo deveres de fraternidade, filantropia, prática de virtudes cardeais, esclarecimento e preparação para emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

O propósito da Maçonaria é (ou há que ser) com o ensino interno e com a vida que jaz fora das Lojas e dos Rituais, sem os quais, os ensinamentos que induzem os maçons a dedicarem-se à felicidade dos seus semelhantes, os sentimentos de solidariedade e filantropia que os faz serem considerados Filhos do Grande Arquiteto do Universo, Irmãos e Amigos de todos os homens, e  fieis observadores da Lei do Amor que Deus estabeleceu no planeta, perde completamente seu valor, sentido e dignidade.

Caríssimos Irmãos! O Verdadeiro Espírito da Maçonaria é a fraternidade ampla, geral e irrestrita; a preservação da vida e a promoção da felicidade da espécie humana; a continuidade do processo evolutivo da humanidade; e a transcendência do ser humano das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento e da morte para a imortalidade. E se bem compreendermos este preâmbulo, estão explicadas as palavras ecumênicas de Anderson, de Désaguliers, de Thomas Paine e dos seus colaboradores – um maçom é obrigado, pelo seu compromisso, a obedecer à lei moral, e se ele compreender corretamente a Arte, ele não será nunca um ateu estúpido nem um libertino irreligioso – ainda que se admitam inúmeras outras interpretações.

À primeira vista ser maçom é missão fácil de ser executada, bastar-se-á deixar passar pelo processo de Iniciação, frequentar as Sessões da Loja, receber as instruções e seguir as regras basilares dos postulados maçônicos. Em tese: permitir que a sociabilidade ilustrada, a filosofia e a fundamentação maçônica se incorporem pelo poder do hábito e o passeio pela senda maçônica se conclua ao lado dos Guiais Espirituais da Maçonaria. Resumindo: é fácil ser Maçom sem buscar entender, em profundidade, os princípios fundamentais da Ordem e os desígnios do Grande Arquiteto do Universo que canalizou cada um para o ingresso na Maçonaria.

Caríssimos Irmãos! No dia em que estas palavras são/foram escritas, a Seleção do Brasil entra/entrou em campo para decidir com a Seleção do México uma vaga para continuar na Copa da Rússia, e a nacionalidade aflorada, se une, cultivando o Amor Fraternal, a fundação e telhado, o cimento e a glória da Nação, e os Maçons, meio a todos, com todos se confundem, não dizendo ou não fazendo nada que possa entravar o Amor Fraternal, como bem recomenda a Constituição de Anderson (1723). Mas, logo mais ou amanhã tudo vai retornar ao habitual, e esse ensaio seguira seu desiderato, perpetuando os argumentos dos paradoxos maçônicos.

Os paradoxos maçônicos são incontáveis e há, ademais, considerável divergência entre os Maçons no entendimento da importância da prática da caridade, da filantropia e da ação fraternal nos moldes propostos pela orientação principio lógica da Maçonaria. Quer ver? Vou, então, propor cinco questões e pedir que respondam, mentalmente, a todas, embora a avaliação se processe com a leitura da problemática exposta.

Pois bem, examinemos e faça esforço para compreender estes paradoxos, e agora, tente responder ou mentalizar respostas satisfatórias, conscientemente: o que fazem ou do que se ocupam os maçons em suas Oficinas durante as Sessões Ritualísticas? Qual o destino das contribuições semanais confiadas ao Irmão Hospitaleiro?

Como, quando e de que forma se processa a integração dos Irmãos da Loja com a Família Maçônica e com a Grande Família Universal? Como avalia o relacionamento dos maçons com a sociedade dita profana e como atuam para promover o seu aperfeiçoamento? E, quais os projetos de cooperação e/ou integração comunitária, cultural, educacional, de cidadania, de meio-ambiente e de viver bem, sob a égide da sua Loja e dos Obreiros da Arte Real?

Caríssimos Irmãos! Gradativamente, espero tê-lo colocado diante de paradoxos carecedores de rumos conciliatórios. Os paradoxos maçônicos ensaiados foram expostos, propositalmente, para que cada um possa descobrir por si mesmo, o quanto está afastado do Verdadeiro Espírito da Maçonaria, e mais afastado, ainda, dos dolorosos problemas de injustiça e de desigualdade sociais, problemas que uma ação consciente dos Maçons, em nome da Maçonaria, poderia mitigar. Para onde vamos afinal? Melhor expressando, para onde queremos ir afinal?

Penso que cheguei ao limiar do tema. Sei, bem sei que o Irmão somente sentirá o significado do paradoxo quando se colocar dentro dele – qualquer que seja – e aceitar o fato de que fazer ou deixar de fazer algo pode não ser de sua alçada ou responsabilidade, mas, penso que não pode se omitir, não pode deixar de colocar seus valores e sua atenção à mostra, e nos limites da sua capacidade, interferir. Sentir e dissentir que está fazendo ou deixando de fazer algo. Afinal, precisamos saber para onde queremos ir e o que buscamos na Maçonaria. Trata-se aqui de uma ação interior, de uma busca dentro de uma busca na superação de paradigmas.

Luiz Gonzaga da Rocha – Escritor e Articulista Maçônico. Especialista em História da Maçonaria. Membro Efetivo da ARLS Antônio Francisco Lisboa – Grande Oriente do Distrito Federal. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em História da Maçonaria.


A INJUSTIÇA



O coração de um maçom não aceita as injustiças e não compactua com o erro e a maldade. E mais do que isso, ele se inquieta se revolta e luta contra todo tipo de injustiça e opressão.

Ao longo de toda história da humanidade a Maçonaria tem-se empenhado em duras batalhas contra a tirania o despotismo e o obscurantismo, sofrendo com isso consequências dolorosas, perseguições implacáveis que resultaram no flagelo e na morte de vários irmãos.

Ela, porém jamais se curvou, jamais abriu mão de seus nobres ideais, nunca se omitiu em sua missão altruística, em sua luta inglória em favor da Liberdade, da Igualdade, e da Fraternidade.

Igualmente hoje quando o futuro da raça humana aponta para rumos incertos, a influencia benéfica e restauradora da Maçonaria se faz necessária.

Num momento em que nossa pátria no olho de uma crise mundial passa por momentos difíceis devido ao estado fragilizado de sua economia, o que leva a muitos passar apertos financeiros, está em voga à prática do salve-se quem puder e do cada um por si.

Muitos são os adeptos da famigerada Lei de Gerson, onde o importante é levar vantagem em tudo.

Quando testemunhamos a importância e a natureza sagrada da família sendo relegada a segundo plano por motivos fúteis, quando vemos as drogas, a violência e todo tipo de criminalidade assolando a sociedade, nós, os pedreiros livres, não podemos nos omitir.

Batalhas, embora não sangrentas como as da Antigüidade, mas igualmente árduas, esperam por nossa ação. Não mais a espada, mas nossa determinação, nosso exemplo, nossos propósitos de aperfeiçoamento são nossas armas.

Ir. Bruno Bezerra de Macedo MM


DESCORTINAR DA FRATERNIDADE MAÇÔNICA



O tempo da fraternidade é nossa grande e redentora Utopia
(João Alves da Silva)

PREAMBULO
Caríssimos Irmãos. O saudoso Irmão Octacílio Schüler Sobrinho, no livro “O Desafio das Mudanças” (Sobrinho, p. 162), escreveu: “a vocação dos Maçons é descobrir e investigar quem é o próximo, o necessitado que merece ser assistido. Ele não espera encontrar um ferido à beira da estrada, mas antecipa-se para que não se fira”. Temos aqui duas frases, dois sentidos opostos da palavra fraternidade.

O objetivo deste “descortinar da fraternidade maçônica” é focar e iluminar o sentido do termo “fraternidade”, e, complementarmente, alertar para o aprofundamento do abismo que separa o conceito de fraternidade no meio maçônico do conceito de fraternidade universal, e para dizer, com todas as letras, que na sua infraestrutura, a Maçonaria e os Maçons precisam repensar e entender o significado do termo fraternidade maçônica.

Estou convencido de que se os Dirigentes Maçônicos, em todos os níveis, não entenderem a fraternidade maçônica como fator de crescimento e de consolidação social, enfrentarão muitas dificuldades para entenderem o esforço que alguns maçons fazem para reformular velhos conceitos e caminhar para substituição da concepção de fraternidade incorporada nos moldes “estrito senso” para a concepção de fraternidade em moldes “lato senso”.

E se nada for feito, a razão deste Encontro de Membros e Membros Correspondentes da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas, aqui em Juiz de Fora, as discussões havidas e ideias expostas, não farão qualquer sentido. Tudo se perderá se na prática, não se reproduzir no seio da Maçonaria Nacional o ideal da fraternidade em seu mais amplo sentido filosófico, político e social.


O CONCEITO DE FRATERNIDADE
Originário do latim “frater”, com o sentido de “Irmão”, o termo fraternidade, não ultrapassa as fronteiras de conceito filosófico e político associado às ideias de liberdade e igualdade. De modo que, em termos efetivos, a fraternidade é algo que precisa ser entendido um pouco mais além de solidariedade, caridade, afeto, união fraternal, carinho de irmão para irmão, e de boas relações de inteligência entre os maçons.

Busquem nos melhores dicionários e aceitem o desafio de encontrar um conceito que destoe da concepção de que não seja a fraternidade o laço de união entre os homens, de algo fundado no respeito pela dignidade da pessoa humana e de algo assentado na igualdade de direito entre todos os seres humanos. Ou seja, duvido que encontrem um conceito que não associe a concepção ou ideário de fraternidade conforme estampado nas linhas antecedentes.

O conceito ideal de fraternidade, a meu entender, se coaduna com o que se encontra transcrito no artigo inicial da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, proclamada pela ONU em 1948, para o qual peço vênia para transcrição:
“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”

Na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, impressa a 24 de abril de 1793, por ordem da Convenção Nacional, em seu artigo XXXV, a ideia de fraternidade política estava vazada nos seguintes termos:
“Os homens de todos os países são irmãos, e os diferentes povos devem se auxiliar mutuamente segundo seu poder, como os cidadãos de um mesmo estado”.

As ideias de fraternidade, conforme transcrita está ligada, irremediavelmente, a uma concepção de valores que nos remetem à formação de comunidades, agrupamentos sociais e instituições diversas, em que a empatia, inclusão, cooperação, compromisso, responsabilidade, confiança, imparcialidade, equidade e liberdade.

O SIGNIFICADO DE FRATERNIDADE
Depois de apresentado a definição, pode-se entender fraternidade como sendo a convivência equilibrada e agradável entre as pessoas, como sendo o amor demonstrado pelo nosso próximo, e como sendo o afeto e o carinho dedicado aqueles aos quais não conhecemos. Esses elementos da fraternidade se inter relacionam e costuram o verdadeiro sentido filosófico e político da ideia ou do conceito de per si.

Então, fica fácil perceber que o significado de fraternidade perpassa o pensamento maçônico individualizado e focado no maçom, para se fixar no sentimento de irmandade entre todas as pessoas, e nos remete às ações que comprovam respeito à dignidade de todos os seres humanos, considerados iguais e com plenos direitos.

Resta demonstrado, portanto, que a expressão fraternidade não pode e não deve ser confundida com as expressões/termos: “caridade” e “solidariedade”, e muito menos com o sentido maçônico de “socorro aos necessitados”. Caridade e Solidariedade é o que induz os Maçons à ajuda desinteressada, é o que a Maçonaria mais faz ou pratica. Ambrósio Peters, que por muito tempo nos honrou com sua sabedoria nos Encontros da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas, foi mais franco ao substituir os termos “Fraternidade Maçônica” por “Generosidade Maçônica” (Peters, p. 214).

Fraternidade significa: devotamento, indulgência, abnegação, tolerância, benevolência, doação, e tudo o mais que for contrário ou oposto ao egoísmo. Ninguém pode ser o relógio que existe sem se conhecer e sem se relacionar. 

O fenômeno da relação foi descrito por Martin Buber com o emprego de vários termos: diálogo, relação essencial, encontro. O conhecer-te a ti mesmo para a pessoa significa, conhecer-se como ser. A pessoa contempla-se o seu si - mesmo, enquanto que o egótico ocupa-se com o seu “meu”, minha espécie, minha raça, meu agir, meu gênio (Buber, p. 33).

A FRATERNIDADE MAÇÔNICA
Em sentido estrito, a aplicabilidade do conceito de fraternidade entre os maçons é matéria apenas de proselitismo (Guimarães, p. 330), é um desacerto, por pressupor que a fraternidade maçônica abranja, tão somente, os membros das Lojas ou da Ordem Maçônica. A fraternidade – a verdadeira fraternidade – não conhece limites ou fronteiras físicas, nem se restringe a um grupo ou associação de pessoas, por mais relevantes que estas possam ser.

Distribuir sopa, doar alimentos, doar cobertores e agasalhos em tempos frios, distribuir brinquedos em certas épocas do ano, e algumas outras ações esporádicas ou eventuais praticadas por Lojas e irmãos em nome da Maçonaria, não condiz em nada, absolutamente nada, com o real conceito de fraternidade. Neste sentido, a fraternidade maçônica precisa se reinventar se reconstituir for mais além do doar por doar. Não nos equivoquemos com isso.

Ouso adiantar que a “fraternidade maçônica” é uma balela quase que por completa, seja por não entender e/ou não considerar que a verdadeira fraternidade assenta-se na ideia de que todos os seres humanos são iguais, e possuem igual dignidade, iguais direitos e deveres; ou seja, por não considerar e/ou não entender que a fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres e direitos dos homens, uns para com os outros.

Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade é a pedra angular, é a base. Sem ela, não pode existir a igualdade, nem a fraternidade. A Maçonaria, por seus membros e Lojas, precisa investir em entender, compreender, fazer valer a fraternidade como fator de crescimento e consolidação social da Ordem.

CONCLUSÃO
Estamos quase a concluir, e antes de concluir quero louvar a iniciativa da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas em chamar à discussão um tema de tamanha relevância para Maçonaria e para a sociedade brasileira como um todo. Também aproveito o ensejo para agradecer a todos os que me ouvem nesta oportunidade, e aos que ausentes deste espaço, terão oportunidade de leitura deste texto.

A todos ouso dizer que o tema não se esgota com esta conclusão, mas que continua aberto, aguardando a crítica e as sugestões.

Julgo caber aqui, ainda, duas ou três breves considerações a propósito da “fraternidade” no seio da Maçonaria. Senão vejamos:
A infraestrutura maçônica construída em final do século XVII e início do século XVIII demonstra, na atualidade, ser uma infraestrutura arcaica, superada em termos de valores fraternos, e por assim dizer, carente do pensar e da ação basilar que realize a felicidade social, sem a qual os maçons e a sociedade profana deixam de compreender os deveres e os benefícios advindos da fraternidade.

A Maçonaria e os Maçons – e estes principalmente – precisam repensar e entender o significado dos termos fraternidade e fraternidade maçônica. As doações maçônicas, por maiores e melhores que sejam as intenções, não atendem ao desiderato de tornar feliz a humanidade, melhor seria que os Maçons se concentram-se em construir e gerenciar Escolas, Hospitais, Cemitérios, Asilos e Creches. Agir coletivamente em prol da coletividade.

Podemos admitir, grosso modo, que a importância da fraternidade se encontra no mesmo patamar da liberdade e da igualdade na busca pela felicidade em sociedade. 

Precisamos agir e agir rápido. Precisamos divulgar no meio maçônico, tudo o que aqui se produziu. Precisamos ter em mente o sentimento de que o resultado que aspiramos, é para a construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna. E, por fim, quero afirmar que é a vontade de orientar os homens para a “vida feliz” é o que anima o meu pensamento como Maçom neste momento e oportunidade.

Por Luiz Gonzaga da Rocha

Juiz de Fora/MG, 18 de outubro de 2014
Fontes de Apoio:
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LIPOVETSKY, Gilles. A Sociedade Pós-Moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos, Manole, Barueri/SP, 2006.
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SOBRINHO, Octacílio Schüler. O Desafio das Mudanças, A Trolha, Londrina, 2004.


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