Algo muitas vezes difícil de compreender tanto para os
profanos como para os Maçons é a multiplicidade de ritos praticados pela
Augusta Ordem. Os primeiros estão naturalmente desculpados uma vez que não
entendem a não aplicabilidade da noção geral de rito à particularidade deste
termo na Maçonaria.
Os segundo são geralmente vítimas, dado pertencerem a uma
obediência que trabalha num só rito (o que não é uma falta) mas que padecem de
falta de instrução adequada enclausurando-os no sistema iniciático que os viu
nascer sem a subseqüente educação necessária.
Ora a Iniciação Maçônica é um ato libertador, pois que graças ao trabalho em Loja nos leva aos confins do Universo! Então o que é um Rito?
Uma definição muito profanadir-nos-ia tratar-se de um hábito cuja origem tem pouca importância, por vezes mesmo inexplicável, que rege certas fases da vida. Isto vale para a vida familiar, a vida profissional, (gestos dos artífices), a vida espiritual....
Mais significativa é a definição que se reporta ao espiritual, que entre outros nos diz: «conjunto de cerimônias em uso nas comunidades religiosas; organização tradicional das cerimônias».Esta definição é que nos interessará uma vez que situa o Rito no espaço-tempo sagrado onde os iniciados evoluem.
A Maçonaria transmite o seu conhecimento esotérico
progressivamente permitindo que quem a procura tenha tempo de a digerir :
faz-se por graus. Graus de conhecimento, concretamente, graus hierarquizando os
Maçons na escada dos meios de aquisição que lhes é posta à disposição. Cada um
destes graus comporta cerimônias de recepção, provas, discursos e instruções
que só são valiosos e eficazes numa única condição: têm que se encadear entre
eles numa perfeita coerência dialética.
Portanto o encadeamento dos graus de conhecimento de um método particular, na Maçonaria define-se como UM RITO. A idéia de coerência é fundamental, primordial, e condiciona a existência espiritual do Rito maçônico.
Tomemos por exemplo o R.E.R com uma Iniciação em seis
graus, onde o primeiro constitui o Beabá e o sexto o toque final. Portanto não
será bom ou mesmo correto interromper no grau de Companheiro e prosseguir a
progressão num rito de coloração completamente diferente como por ex. no
Memphis-Misraim sem que se tenha recomeçado ab initio toda uma educação, sob o
risco de uma dissolução completa do conhecimento Iniciático adquirido.
Os meus Irmãos responder-me-ão que não é proibido mudar para um rito que parece corresponder melhor às suas necessidades espirituais precisas. Certo, mas prudência, e perseverança...... Já muito jovens maçons na sua ânsia de mudar de rito muito rapidamente se vieram a perder numa implosão radical ao nível do plano mental e espiritual.
Por quê a pluralidade dos Ritos?
Apesar de difícil confirmação julga-se que a nível mundial existiram em tempos cerca de 480 ritos maçônicos diferentes. Tal cenário fez com que eminentes movimentos maçônicos ao longo da sua história tenham tentado uniformizar os Ritos.
Entre 1717 e 1823 a Grande Loja de Londres tornou-se
na Grande Loja Unida de Inglaterra e esforçou-se por uniformizar a Maçonaria,
impondo progressivamente ao conjunto de Lojas que trabalhavam sob a sua
jurisdição um método de trabalho que reduzia os rituais às bases estritas
simbólicas das profissões de construtores.
De fato constata-se que este esforço deu os seus
frutos na Inglaterra que pratica o rito de Emulação em cerca de 95% das suas
Lojas..... Com um espírito completamente diferente e menos organizado, o Grande
Oriente da França também tentou a uniformização das práticas rituais, com a
finalidade de aproximar os seus membros.
O que veio quase praticamente a ser conseguido....-
mas só no seu seio... Com efeito, aquilo que à cerca de 150 anos atrás parecia
uma federação de ritos bem definidos, do Francês Moderno ao Escocês Antigo e
Aceite, do Escocês Ratificado ao Misraim de Bedarride, veio a transformar-se
numa simples federação de lojas que praticam uma versão muito livre do Rito
Francês, de resto muito variável de Loja para Loja.
Portanto atente-se que a reforma inglesa que pretendeu revolucionar e uniformizar suavemente a Babilônia Maçônica, só conheceu sucessos notórios na Escócia e Irlanda, mas não conseguiu influenciar os novos países de cultura britânica que surgiram nos séculos XVII e XIX. A implantação do rito de Emulação nos países latinos e na França só conheceu um sucesso diminuto.
O mesmo se veio a passar com o Grande Oriente da
França relativamente aos países francófonos. Esta dicotomia reformista chegou
mesmo a ter efeitos perniciosos, com os ingleses a retirar o reconhecimento aos
irmãos do Grande Oriente em 1877, data em que o espírito laico que pulsava nas
terras da Gália levou a Obediência a permitir a livre escolha de invocar ou não
o G.A.D.U.
Então como acreditar na cacofonia ritual que mais do que unir parece levar à desunião dos filhos da viúva ? A resposta é simples: um sueco médio e um português médio não reagem da mesma maneira perante a mesma situação. Uma população tradicional possui um florilégio de culturas, de mentalidades e de cuidados espirituais próprios.
Isto parece uma argumentação pouco simplória
para alguns, mas como se explica a nascença de um Rito Sueco na Suécia, e que
por exemplo a França só conheça trabalho assíduo no Rito Francês? O primeiro
responde com a Iniciação à demanda de uma população de forte componente
luterana, a uma história rude, e por tal uma dialética muito cristã e muito
impregnada por uma vertente cavalheiresca. O segundo faz eco a uma cultura mais
latina, menos militarista, de um ecletismo mais marcado por uma ligeira atração
ao misterioso, a um clero católico mais propenso a uma influência moral e
espiritual mais diminuta.
Mais subtil mente dito, o francês poder-se-á sentir mais atraído para os trabalhos operativos e teúrgico dos santuários herméticos de Memphis e Misraim, enquanto que o outro, o sueco,se envolve na busca da moral e estabilidade mais prosaica, preferindo abandonar-se totalmente ao duro e longo caminho da aprendizagem do Rito de York.
Apesar de tudo a Torre de Babel Maçônica é Una!
Ela é Una porque todos os povos que a construíam partilhavam os mesmos ideais em múltiplas línguas. A Maçonaria é constituída por homens diferentes perante o Eterno.
Os Maçons utilizam os seus meios limitados e as suas
contingências locais na busca da Palavra Única. Esta busca sublime em todos os
Ritos, longe de ser desacreditada pela oposição permite o acesso de cada um a
um método de regresso à Palavra Única transcendendo rivalidades e incompreensões.
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