O MESTRE INSTALADO NO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO – INVENÇÃO?



Após a cisão no grande oriente do Brasil, em 1927, e a criação das grandes lojas estaduais uma das conseqüências mais contundentes foi o “azulamento” do rito escocês antigo e aceito, visto que, por motivos que não cabem discutir neste trabalho, o REAA praticado nas grandes lojas foi, em boa parte, desvirtuado e aproximado do rito inglês – York ou, ainda, Emulation.

Esse “azulamento” não se restringiu à cor dos aventais e uma das práticas introduzidas no rito, foi a instalação dos mestres eleitos para presidir a loja, prática até então exclusiva do rito de York.

Tanto que o Grande Oriente do Brasil resistiu a essa prática até 1968, quando “o grão-mestre do Grande Oriente do Brasil, Álvaro Palmeira, mandou imprimir um Ritual de Instalação, padrão para todos os ritos, e decalcado, indisfarçavelmente, nos rituais utilizados pelas Grandes Lojas Estaduais.” (Castellani – manual do mestre instalado, pg. 12).

Em virtude disso frequentemente nos deparamos com questionamentos quanto à condição de “Mestre Instalado”, visto que, considerando o anteriormente exposto, essa condição é estranha, não só ao REAA, mas a todos os demais ritos, que não o rito de York.

Entretanto, mesmo no rito de York essa prática não era unanimidade entre as Lojas inglesas, conforme nos ilustra o irmão Nevile B. Cryer em seu trabalho “A parte do Mestre: uma Reapresentação”, traduzido pelo irmão Gilson da Silveira Pinto e publicado no livro pérolas maçônicas – volume III, ed. a Trolha, quando afirma:

“Um segundo fator é aquele conquanto entre os modernos, da assim chamada “Instalação”, não se tornou uma característica regular de lojas (craft) operativas particulares, até a última parte do século 18, e é bastante esclarecidos pelos antigos como um passo essencial para o que eles consideravam ser o verdadeiro “coração e medula da franco-maçonaria”.”

Então nos parece claro, pelo até aqui analisado, que a “Instalação” não é uma prática inerente e nata da Maçonaria Operativa, tendo surgido e se consolidado ao longo do primeiro século da maçonaria moderna.

Assim como o grau de Mestre, a lenda hirâmica e outras tantas práticas, foi (a instalação) introduzida gradualmente nos seios das lojas inglesas, tal qual o foi, posteriormente, introduzida nos demais ritos praticados no Brasil.

Entretanto, o que queremos demonstrar, efetivamente, é que a condição de ex-Venerável ou Mestre Instalado, com ou sem cerimônia de Instalação e Posse, sempre existiu, inclusive e principalmente nos primórdios da Maçonaria moderna.

Podemos comprovar através do mesmo trabalho de Nevile, onde diz: "...a contribuição mais importante nas nossas transações para esta parte da minha tese é o trabalho feito pelo irm.'. Norman B. Spencer (premiado com o Prize Essay) sobre "A Cerimônia de Instalação" (aqc 72). no curso do seu argumento e nos comentários que se seguiram, diversos fatores significantes são esclarecidos. o primeiro é que na ocasião da Constituição de 1723, e portanto presumivelmente em um período anterior àquela data, existiu no mínimo na ocasião de formação de uma nova Loja, alguma cerimônia especial, com um sinal ou sinais, palavra e toque, que era somente para ser comunicado para um Maçom, que era para assumir a posição de "mestre encarregado de uma loja de companheiros".

Ainda a Constituição de Anderson em pelos menos dois artigos reconhece a figura do ex-Mestre de Loja: no artigo IV e no artigo 02 dos Regulamentos Gerais, quando trata, no primeiro, dos requisitos para assumir o cargo de Grande Vigilante (“... nem Grande Vigilante antes de ter sido Mestre de Loja...”) e no segundo, quando estabelece a substituição do Mestre de Loja impedido para o cargo (“... não se algum Irmão que tenha sido Mestre desta loja anteriormente estiver presente; pois neste caso a autoridade do Mestre ausente reverte para o último (grifo nosso) Mestre presente...”)

Tendo sido o título de Mestre, posteriormente, transformado em grau – pois até então, em Loja de companheiros, só era Mestre o eleito para o cargo – a condição de Mestre Instalado vem resgatar a necessária diferenciação daqueles Maçons que foram em seu momento eleitos para dirigir uma Loja, tendo, portanto experiência e autoridade suficientes para assim serem distinguidos.


Entende-se que ante a deterioração das relações humanas e o declínio moral da sociedade, a própria Maçonaria sofre o reflexo e tem preparado mal seus integrantes, o que faz com que se duvide, em alguns casos, da autoridade de um determinado elemento, unicamente pela condição que ostenta o que não ocorria nos tempos imemoriais, mas daí a dizer que a condição de Instalado ou Ex-Venerável foi inventada, já é outra história.

Marcelo Abuchaim Fattore
Oriente de São Paulo (SP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários anônimos não serão ACEITOS. Deixe seu nome completo e e-mail para resposta.
Contato: foco.artereal@gmail.com

Postagem em destaque

O TRABALHO NA MAÇONARIA

  Quem nunca ouviu a máxima de que “o trabalho dignifica o homem” a qual foi tão bem defendida por Voltaire, Adam Smith, dentre outros? Volt...