A RELIGIÃO DOS CONSTRUTORES XXVII


Nas especulações, cultos e tradições primitivas, tudo tende à unidade: poderes e atribuições que hoje se distinguem cuidadosamente como, por exemplo, o eclesiástico e o civil, o legislativo, e o judiciário, estavam ontem em mãos de uma mesma autoridade.
Assim, o mundo antigo deu-nos o exemplo dos Reis-Sacerdotes que tomavam para si diferentes representações e poderes que hoje são consideradas inteiramente suprimidas.
Igualmente a Religião formava então parte da vida, e as instituições civis e religiosas entrelaçavam-se mutuamente, constituindo um conjunto quase inseparável.
Por isso, nas primitivas corporações construtoras, o elemento religioso-moral deve ter sido considerado como formando uma unidade com o elemento artistico-operativo, desenvolvendo e transmitindo-se igualmente nestas corporações, os segredos da arte e certas especiais tradições religiosas.
Note-se, a este respeito, que a própria palavra religião identifica-se, em seu significado original, com a tradição, indicando simplesmente “o que é legado ou se transmite”. Também nesse mesmo sentido, a Maçonaria é religião ainda que não uma religião: a religião operativa e especulativa, simbólica e iniciática, nascida espontaneamente nas primeiras corporações construtoras, à medida que seus adeptos se esforçavam em divinizar sua Arte, convertendo-se em veículos e meios dos quais pode aproveitar-se a Hierarquia Oculta para seus ensinamentos, encontrando nesse meio em terreno particularmente fértil para semear a mística semente da Sabedoria.
Também o caráter particular das corporações que se especializaram na construção de Templos fez com que estas se identificassem, nas diferentes épocas da história, com distintas tradições religiosas, e em alguns casos com os próprios Mistérios (aos quais alguns entre eles devem ter sido admitidos como participantes), e não há como maravilhar-se se assimilaram muitos ensinamentos esotéricos, transmitidos como patrimônio secreto entre os mestres da Arte.
Fora da dúvida está que, em qualquer período da História, as corporações construtoras aparecem como possuidoras de segredos e alegorias, alguns dos quais provêm de uma época remotíssima, e outros representam antiquíssimas tradições revestidas de nomes e formas simbólicas mais recentes. 
Enquanto que, por outro lado, bem sabemos que todas tiveram regras e modalidades particulares para a dupla transmissão do segredo material da arte e de sua interpretação especulativa, assim como para a admissão de candidatos como aprendizes, exigindo-se serem “livre e de bons costumes”, dando provas definidas de moralidade, diligência e capacidade para a obra.
Esta “religião dos construtores” teve de ser uma religião eminentemente moral, isto é, uma ética individual aplicada à vida, como é demonstrado pela Tradição Maçônica, que mais diretamente lhe dá continuidade.
Por Ximenes


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