O objetivo deste trabalho é tentar revelar a
importância do Tempo de Estudo em Loja, o qual pode servir como fonte de
reflexão e de exercício das virtudes valorizadas pela sublime ordem.
Ainda, este trabalho, procura causar, neste
restrito tema, alguma inquietação que provoque nos leitores (ou ouvintes) o
gosto pela especulação. Primeiramente, vamos retomar às origens da maçonaria
especulativa e o que vem a ser esse termo.
A Maçonaria Especulativa, também chamada Maçonaria
dos Aceitos, iniciou-se por volta do ano de 1717 da era vulgar e perdura até os
dias atuais. Os maçons que nos antecederam eram predominantemente operativos e
dedicados à arte de construir, embora não negligenciassem os conceitos de
fraternidade e guarda dos segredos da Arte Real (Audi, Vide, Tace) .
Os maçons aceitos levam esse nome, porque foram
aceitos entre os maçons operativos, mesmo sem possuir a mesma profissão dos
maçons ditos antigos, utiliza do simbolismo das ferramentas operativas como
forma de desbastar a pedra bruta, que eternamente seremos, seja do ponto de
vista moral, espiritual ou intelectual.
O outro termo utilizado para designar os maçons
modernos merece uma definição vinda do dicionário, ou seja, o que é
especulativo, que vem de especular:
Especulativa: faculdade de especular.
Faculdade: poder de efetuar uma ação física ou mental; capacidade.
Especular: estudar com atenção e minúcia sob o ponto de vista teórico. Meditar,
raciocinar.
Pois bem, ser maçom especulativo significa ser
observador, perceber os princípios morais subjacentes aos símbolos e aplicá-los
no desbaste da pedra bruta e na construção de relacionamentos humanos
confiáveis, sinceros e leais. Isso é feito através do estudo e da observação,
tentando apreender a melhor forma de construir uma harmoniosa e perfeita
fraternidade.
O que os maçons especulativos fazem ultrapassa os
limites de suas Lojas. O maior trabalho de um maçom moderno é aplicar de
maneira prática e correta a sabedoria moral que se espera venha adquirindo
durante sua vida maçônica.
O maçom vai à Loja para especular, estudar e
aprender e volta ao mundo para trabalhar e aplicar o que aprendeu. O maçom
especulativo não é mais um construtor material como o eram os mestres maçons
operativos. Ele será antes de tudo um homem moralmente sadio em busca da luz da
verdade, dedicado à construção do edifício moral próprio.
Símbolo maior disso é o Painel de Aprendiz, o qual
devemos ter marcado a ferro e fogo em nossa mente. Na mais bela representação,
segundo minha visão, vê o Aprendiz, meio homem e meio pedra bruta, se lapidando
com o uso do maço e do cinzel.
Enquanto o Aprendiz segura o cinzel, instrumento de
precisão que desbasta a pedra bate-lhe com o maço, que é o símbolo da força que
sozinho não desbasta, apenas destrói.
Nessa alegoria vemos a construção de si mesmo,
lapidando-se em busca da utópica perfeição, cabível apenas ao G.’.A.’.D.’.U.’.,
mas a qual deve ser perseguida dos pontos de vista já citados (moral,
espiritual ou intelectual).
Se o maçom moderno deve ir à Loja para especular,
estudar e aprender creio que momento mais que oportuno seja o tempo de estudo,
ou, ¼ de hora (15 minutos).
Entretanto, uma reflexão sobre a nomenclatura é
válida, pois o que temos é tempo de estudo e não tempo de leitura.
Para entender melhor, vejamos as definições
extraídas do dicionário:
Leitura: ação ou efeito de ler.
Leitura: ação ou efeito de ler.
Estudo: trabalho ou aplicação da inteligência no sentido de aprender uma
ciência ou arte. Aplicação, trabalho do espírito para empreender a apreciação
ou análise de certa matéria ou assunto especial. Ciência ou saber adquiridos à
custa desta aplicação. Investigação, pesquisa acerca de determinado assunto.
É notório que as possíveis definições de estudo
coadunam justa e perfeitamente com o dever de um maçom especulativo, que é especular,
estudar e aprender e voltar ao mundo para trabalhar e aplicar o que aprendeu.
A especulação deve ocorrer logo após a apresentação
do trabalho, momento esse muito rico no qual os irmãos podem contribuir para o
enriquecimento do trabalho ou até mesmo propor questões para o irmão que trouxe
o trabalho em Loja.
Quanto um irmão tece comentários a respeito do
trabalho, é fato que enriquece o que foi exposto, mas também serve como forma
de promover o exercício da oratória, que se bem feita, cria instantaneamente
lideres, pelo simples fato de convencer mediante argumentos.
Fazendo um paralelo com o Quadro de Aprendiz,
quando apenas lemos um trabalho e ninguém faz comentários, vamos embora crendo
que a forma como estamos manuseando o maço e o cinzel é perfeita.
Por outro lado, as criticas e comentários nos
impõem uma reflexão a respeito do manuseio e nos ajudam a apurar a arte do uso
dessas ferramentas.
Assim nos retiramos para o mundo profano com uma
visão diferente daquela inicial quando da chagada na Loja.
Outro ponto a respeito da especulação a respeito do
trabalho, que, creio eu, deva ser feita de forma quase que exaustiva, está no
fato que essa prática vai de encontro à vaidade e ao encontro da temperança.
A verdade é que quando alguém apresenta um trabalho
em público, o que se espera são os aplausos e as palavras de agradecimento pelo
belo trabalho exposto. Ninguém espera o contrário.
Aqui vale a pena citar uma frase do escritor
americano Norman Vincent Peale (1898-1993) :
“O mal de quase todos nós é que preferimos sermos arruinados pelos elogios a
sermos salvos pelas críticas.”
O ser humano é vaidoso por natureza e, em geral,
quando faz algo pelos outros, o faz não pela ação em si, mas na esperança de
receber em troca o reconhecimento pela ação feita.
A vaidade, segundo o dicionário, é o “desejo
imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros. Presunção mal fundada
de si, do próprio mérito”. Acrescento: vício vil!
Sendo assim, esse momento de embate no tempo de
estudos também é importante para ajudar a conter a vaidade e exercitar uma das
quatro principais virtudes de um maçom: a temperança, a qual, segundo o
dicionário é o “poder ou virtude pela qual o homem pode refrear os apetites
desordenados".
"Parcimônia. Modéstia. Humildade”. Empregamos a
temperança no tempo de estudos quando da forma como nos dirigirmos aos irmãos a
respeito do assunto sendo especulado, o qual por sua vez, mesmo que a vaidade o
instigue, deva usar a temperança para aplacá-la e tratar o irmão como irmão.
Resumindo, creio eu ser o tempo de estudos momento
único no qual o conhecimento trazido pode ser especulado e salutarmente
debatido entre os irmãos, como forma de lapidar a pedra bruta do ponto de vista
intelectual (conhecimento e reflexão) e moral (combate ao vício e estímulo às
virtudes).
Assim, faremos valer a resposta à indagação: “O que
fazem em vossa Loja?”...”Levantam-se templos às virtudes e cavam-se masmorras
aos vícios”.
Termino este trabalho a respeito da importância do
estudo e da especulação com uma frase do escritor francês Bernard le Bovier de
Fontenelle (1657–1757):
“É verdade que não podemos encontrar a pedra filosofal, mas é bom que ela seja
procurada. Procurando-a, encontramos muitos segredos que não procurávamos”.
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