Nossa ordem anda, nas
últimas décadas, tão carente de realizações dignas de nota na história do
Brasil que, quando queremos citar nomes de grandes maçons, temos de recorrer a
personagens da época do império ou do início da república velha, fatos
ocorridos há mais de 100 anos.
Não podemos esquecer
nosso passado glorioso, mas não podemos viver eternamente dele. Independência,
Abolição e República tiveram a participação direta e fundamental de maçons, mas
fazem parte dos livros de história.
Dia desses, minha
esposa perguntou o motivo de tudo na maçonaria ter tratamento superlativo:
Potência, Soberano, Sapientíssimo, Supremo, Eminente, Poderoso, Grande,
Venerável, Ilustre, Respeitável, Excelso, Colendo, Egrégio, e por ai vai.
Confesso que fiquei sem resposta.
Dai comecei a matutar.
E isso nem sempre é bom... Diagnostiquei como sendo complexo de superioridade,
se vangloriar, se gabar de ser o que não é para tentar impressionar e manter
viva uma importância que faz parte do passado.
O gosto por comendas é
outro sintoma. De vez em quando cruzamos com Irmãos portando tal número de
medalhas que nos perguntamos se não seria o próprio Grande Arquiteto do
Universo que resolveu dar o ar da sua graça no plano terreno.
Nada contra a
outorga de honrarias, mas não apenas pelo tempo de serviço.
Temos que reconhecer o
mérito também. Mais um indício: A profusão de cargos e respectivos paramentos,
órgãos com sobreposição de funções ou com atribuições apenas decorativas. Nossa
Ordem tem uma estrutura administrativa similar, para não dizer idêntica, a do
Estado Brasileiro.
Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário. Governos, Assembleias Legislativas, Tribunais de
Justiça, Tribunais Eleitorais e Conselhos Federais e Estaduais. Isso gera certa
confusão na cabeça dos maçons e atiça nossa “mania de grandeza”.
Acabamos achando ser a
Ordem uma entidade imune à competência jurisdicional da Republica Federativa do
Brasil. Mas não meus caros Irmãos, somos uma simples Associação Civil sujeita,
como qualquer outra, aos ditames da legislação profana.
Reitero minha convicção
de que a tripartição dos poderes é a melhor forma de administração, só acho que
a estrutura está inchada demais.
A legislação maçônica
fala em “defesa de mérito” no âmbito maçônico de infrações penais cometidas no
mundo profano e em “homologação por tribunais maçônicos” de sentenças judiciais
proferidas por tribunais profanos.
Tratam-se de
procedimentos privativos de nações soberanas e não de uma simples associação
civil, a qual deve inteira obediência às determinações legais do Poder público
dito profano.
Em recente conversa
com um Irmão pelo qual tenho muito apreço, ele dizia de sua dúvida se algum
magistrado decretaria uma busca e apreensão numa Loja Maçônica, onde poderiam
acessar toda e qualquer dependência do imóvel, arquivos, etc.. Sinto informar
que sim.
Qualquer magistrado
pode determinar o que achar conveniente e eficaz para a aplicação da prestação
jurisdicional, desde que previsto na legislação brasileira.
Muitos Irmãos
ficaram chocados quando, recentemente, candidatos a cargos eletivos na
maçonaria recorreram à justiça profana questionando decisões de tribunais
maçônicos. Teriam os irmãos que recorreram à justiça profana cometido perjúrio?
Conformar-se com nossas leis internas e com as decisões delas decorrentes são
condições com as quais concordamos ao entrar na maçonaria.
Ao perjurar estaríamos
cometendo ato de indisciplina maçônica, antigamente denominado crime maçônico,
punível com expulsão da Ordem. Por outro lado, somos cidadãos da República
Federativa do Brasil e temos a prerrogativa de recorrer ao Poder Judiciário
profano quando entendermos ter algum direito violado. E aí?
Como resolver este
imbróglio? Entendo que, enquanto maçons, assumimos a obrigação moral de nos
conformar em tudo com nossas leis e decisões delas advindas.
Ao violar essa
obrigação que assumimos de forma voluntária, nos sujeitamos a receber as
punições decorrentes. Melhor seria pedir para sair antes de colocar a Ordem
numa situação, digamos constrangedora perante a sociedade brasileira.
Relatório
de Pesquisa “CMI – Maçonaria no Século XXI” analisou dados coletados no período
de 21/02 a 18/03/2018 com a participação de 7.817 Irmãos das três potências
(GOB, Grandes Lojas e COMAB).
O relatório é rico em
dados e traz uma série de conclusões. Mas a que mais chama a atenção é a de que
“menos de 5% dos maçons brasileiros sabem o que é maçonaria, conforme os
conceitos e definições mais utilizados no mundo.” Sendo o conceito mais comum o
de que maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e
ilustrado por símbolos” (Zeldis, Leon).
Conclui o relatório
que “o legítimo objetivo maçônico, de ensino de moralidade, de transformar bons
homens em melhores, vai sendo preterido, ignorado, esquecido...” e “se não se
sabe o que é não se sabe o que realmente se deve fazer... distanciando-a (a
maçonaria) de seus legítimos objetivos e de sua própria razão de existir
enquanto instituição”.
Parece que chegamos ao
cerne do problema da atual situação de nossa Ordem. Ao invés de querer que a
nossa sublime instituição tome as rédeas da política, beneficência, ação
social, etc., devemos preparar o homem maçom, através do ensinamento da
moralidade, para que este o faça.
Não é a maçonaria
enquanto instituição, mas sim os maçons devidamente preparados que agirão, conforme
os preceitos de moralidade e ética, nas empresas, órgãos públicos, escolas,
lares, associações, etc., difundindo e aplicando os ideais de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
O foco principal da
maçonaria deve ser a formação do maçom. A continuarmos do jeito que está iremos
nos tornar, se é que já não nos tornamos um clube de serviços onde nos reunimos
para troca de favores e obtenção de vantagens pessoais. Sem esquecer, é claro,
das medalhas, paramentos…
Vamos a todo custo e
nunca a qualquer custo!!!
Carlos Magno Monteiro
Freitas Deputado Estadual ARLS Vale do Itapemirim – Marataízes (ES) Presidente
da PAEL GOB (ES) no Período Legislativo 2007/2011 Venerável Mestre da ARLS Vale
do Itapemirim de 1999/2003
BOA NOITE MEU IRMÃO: PARABÉM PELA BELÍSSIMA PEÇA DE ARQUITETURA, CONCORDO QUE O PASSADO NOS TROUCE ATE AQUI MAS É NOSSO DEVER DAR CONTINUIDADE A ESTA FORÇA DE GRANDE LUTA PARA QUE A MAÇONARIA NÃO PERCA SUA FINALIDADE, SE NÃO NOSSAS COLUNAS DE APRENDIZES MAÇOM FICARAM VAZIAS.
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