A VIAGEM DOS MAÇONS



Acompanhe-me numa singular viagem.

Para isso é necessário que você aceite alguns postulados e a pouca consistência do que mostrarei, considerando que, em essência, tudo não passa de simples fantasia, mas os conceitos são os mais modernos de que a ciência dispõe.

Façamos à semelhança das nossas lendas na Maçonaria, que mesmo em sendo ficções, pretendem transmitir profundos conhecimentos filosóficos, dependendo apenas do grau de interesse e desenvolvimento de cada indivíduo e da perseverança em alcançar o conhecimento que leva a educação natural.

Tenha certeza que a pretensão é flutuar por caminhos fascinantes que poderão revelar entendimento de verdades complexas e difíceis de explicar de outra forma.

Preparando o ambiente da viagem

Façamos de conta que estamos parados no centro de uma Loja aberta ritualisticamente. Uma Loja aparelhada com todos os instrumentos de trabalho do Maçom, bem como a sua matéria prima: a pedra bruta.

Esotericamente falando, o teto não existe, então, vamos tirar de vez esta cobertura do lugar de onde está e empurrá-la para bem longe, tão longe que desapareça. Descortina-se sobre nós o espaço infindo e ao longe brilha o sol.

Empurremos também as paredes do nosso templo para bem longe. Estamos no centro do espaço infindo que só não é totalmente negro porque a luz do luzeiro o ilumina.

Eliminemos igualmente o piso de nosso templo, afastando-o mais devagar para que a nossa mente se acostume lentamente com o flutuar no espaço. Como não temos mais referenciais, não sabemos ao certo se é o piso da loja e a Terra que se está a afastar, ou se somos nós que estamos levitando, viajando espaço afora.

Se pensar que paramos aí, enganou-se, agora possuímos poderes sobrenaturais que nos permitem parar o tempo, o que fazemos.

Este é o nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo parado e apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construído pela nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos sem ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. 

Não existe ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos

Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta a nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e sem horizonte.

Com a nossa nova capacidade de imaginação deixamos o nosso corpo material e flutuamos para fora da nossa prisão. Olhamos para as pedras brutas que somos pelo seu lado externo de formas como nunca nos foram dadas observar.

Observamos como é o nosso túmulo material. Como já aprendemos, o que este corpo tem por fora é mero invólucro da nossa manifestação material no Universo tridimensional, o importante desta massa é o seu conteúdo interno, algo que aos olhos materiais é impossível identificar.

Foi devido a esta limitação que saímos dos nossos túmulos materiais e estamos aqui fora a olhar para eles.

Aqui somos finitos e infinitos. Nesta existência artificial não rege tempo ou matéria, não existe início ou fim. Todas as coisas materiais que possuímos na nossa efêmera vida material são nada se comparados com a imensidão que ora contemplamos ao lado de fora dos nossos cárceres que nos servem apenas como instrumentos das nossas experiências sensoriais.

Locke defendeu que as ideias são formadas a partir de experiências sensoriais exteriores e que a reflexão interior colocava no seu devido lugar. Combateu o Inatismo, filosofia que parte do pressuposto do homem possuir ideia inata do Grande Arquiteto do Universo; que esta ideia já nasce com a pessoa. Vamos comprovar esta assertiva ao sairmos do nosso corpo apenas por força do nosso pensamento e levarmos junto conosco apenas as nossas capacidades de ver e pensar.

Na Maçonaria é-nos ensinado que nascemos livres porque nascemos racionais e os seres humanos são, por isto, considerados iguais, independente de governos e outros homens. Usamos desta experimentação sensorial não apenas através dos nossos dispositivos de percepção da realidade, criamos uma nova percepção, pela fantasia, e por um exercício do pensamento estamos passeando fora dos nossos corpos físicos pelo espaço infindo.

Parece insanidade, mas é divertido. E como diz Domenico de Masi: não sei se estou trabalhando, aprendendo ou me divertindo.

Os trabalhos do Rito Escocês Antigo e Aceito querem demonstrar ser o homem infinito e que as suas posses são finitas. Locke concebe o infinito como resultante da unidade homogênea de espaço, número e duração, e o que diferencia uma da outra é que o infinito apenas não tem limite. Deduzimos que o homem material é finito enquanto presa da materialidade e torna-se infinito quando desperta para a liberdade da razão apoiada pelo conhecimento.


É isto a que este passeio conduz.

Início do passeio

Percebe quão devagar estão os nossos passos neste passeio? Não há necessidade de correr. As nossas experiências mais eficientes não ocorrem sempre aos saltos, mas em pequenos avanços de uma dimensão para a outra de um conhecimento alicerçando o próximo, ciclos eternos de tese, antítese e síntese.

Assim se faz na Maçonaria. O salto é dado pela mente e não pelo corpo material. É disto que devemos libertar-nos para penetrar nos segredos de nós mesmos. Apenas em condições especiais obtemos a verdadeira luz para investigar a verdade oculta em nós mesmos. A nossa fantasia cria o ambiente, a nossa racionalidade preenche os vazios.

Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente um salto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaço tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm.

Qualquer forma que adaptarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos agora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido.

Vamos diminuir de tamanho, aliás, nós não temos dimensão, podemos ser imensamente grandes ou infinitamente pequenos, basta querer. A nossa mente vai fazer com que diminuamos de tamanho lentamente, porque ainda faz pouco tempo que abandonamos a nossa clausura física e adentramos nesta nova condição de existência.

Vamos encolher até que possamos entrar pelo ouvido do meu corpo material aí em frente e que conheço bem, haja vista que já fiz alguns passeios dentro dele ultimamente. Vamos diminuir de tamanho até que possamos divisar as moléculas desta carcaça.

Percebeis como o meu corpo está a desaparecer? O corpo está-se a dissolver lentamente.

Por que será? Um Universo Interior.

Boyle foi o primeiro que não aceitou mais as teorias de Aristóteles dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo e formulou as bases e conceitos dos elementos químicos.

A diversidade de moléculas com que um corpo físico é composto é enorme, então escolhamos a primeira molécula que encontrarmos e vamos continuar a diminuir de tamanho para podermos abordar um dos átomos.

Sabia que não foi Boyle quem criou a ideia de átomo? Isto já foi cogitado na antiga Grécia, por Demócrito; é dele a ideia que os materiais são formados por partículas minúsculas. Hoje dispomos deste conhecimento porque estamos apoiados nos ombros de gigantes do passado.

Pode-se dizer que o átomo é formado por duas regiões que ocupam o espaço: o núcleo, que é o seu centro compacto e pesado, e uma coroa ou eletrosfera. No núcleo estão os nêutrons e protões e na eletrosfera movem-se os elétrons em diversas órbitas.

Rutherford sugeriu que o tamanho do átomo seria algo em torno 0,000.000.01 centímetro. Para imaginarmos melhor o significado desta dimensão consideremos o homem do tamanho de um átomo e toda a população da Terra caberia na cabeça de um alfinete e ainda sobraria muito espaço.

E nós estamos do tamanho de um átomo agora. Só que não vemos nada.

Por que? Se moléculas das mais diversas compõem um corpo físico, elas deveriam estar em todo o lugar, trilhões delas deveriam estar presentes aqui, e deveriam obliterar a luz do sol.

Onde estarão?

A eletrosfera de um átomo é cerca de 10.000 a 100.000 vezes maior que o núcleo. Então, porque não estamos vendo nada?

Vamos diminuir mais umas 100.000 vezes o nosso tamanho. Ainda não vemos nada. 

O corpo pelo qual estamos viajando simplesmente sumiu. O que existe ao nosso redor é apenas espaço vazio. Só a luz do sol chega até nós.

Continuemos a procurar até encontrar um núcleo de átomo, formado de protões, nêutrons e outras partículas insignificantes, e assim como nós, desloca-se solitário nesta imensidão do espaço. É do tamanho de uma laranja, e cabe na nossa mão.

Onde estará o eletro que faz par com este núcleo?

Sabemos que a massa do eletro tem em torno de 1840 vezes menos massa que o núcleo. Muito pequenos para serem vistos, mesmo com estes olhos que temos agora. Temos que diminuir ainda mais de tamanho para divisar corpúsculo tão diminuto, será por isto que não vemos o eletro?

Não! Ele não é visto porque nós paramos o tempo, recorda-se? Somos criaturas muito poderosas no nosso mundo de fantasia.

O eletro deste átomo está parado em algum lugar que pode estar em termos proporcionais à nossa atual estatura a alguns quilômetros daqui, ou até bem perto como alguns centímetros. Não o vemos apenas devido às suas dimensões relativamente diminutas.

Estou cansado. Vamos diminuir mais a nossa estatura, até ficarmos tão pequenos que possamos sentar confortavelmente sobre o núcleo deste átomo.

Ainda não vemos o eletro, e teríamos que encolher ainda cerca de quase umas 2.000 vezes a nossa atual estatura, e ainda assim seria muito difícil encontrá-lo.

Vamos restaurar o fluxo do tempo. Não se assuste com a escuridão!

Consegue imaginar o que aconteceu? Por que esta escuridão súbita?

São os elétrons! Eles deixaram-nos cegos! Esconderam o Sol.

O mundo material

Os elétrons em movimento impedem a luz de chegar até nós. Isto porque a velocidade com que o eletro gira em torno do núcleo é tão alta que mesmo com a sua minúscula massa impede a passagem da luz.

A sua velocidade é tal que pode ser comparada à própria velocidade da luz.

A velocidade dos elétrons é de tal magnitude que num determinado instante cada um deles pode estar ocupando qualquer espaço ao redor do núcleo. Ele tem apenas uma probabilidade de estar fisicamente num determinado lugar, num determinado instante. As fórmulas matemáticas da mecânica da física quântica não oferecem valores determinados, apenas probabilidades.

Compare com as hélices de um avião; as pás parecem estar ao redor do seu eixo ao mesmo tempo, podemos olhar através delas porque a sua velocidade é inferior a da luz. Mesmo assim, as pás parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo. Com o eletro é parecido, mas em escala de velocidades imensamente superior.

É assim que se forma a matéria sólida de que são formados os nossos corpos, o mausoléu dos nossos pensamentos. A velocidade com que os elétrons giram ao redor dos seus núcleos cria a matéria e proporciona-lhe solidez. É como tudo no Universo físico é construído.

Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nós mesmos.

Isto até contradiz Locke, mas não esqueçamos que a nossa existência aqui é apenas resultado de ficção, do exercício da nossa mente criativa.

Mesmo assim, esta constatação leva-nos a inferir ser este, de fato, o nosso local mais sagrado. Como é imenso o corpo físico de qualquer ser vivente! O homem na sua globalidade, considerando a carcaça, a mente, as emoções, a sua espiritualidade e outros detalhes é um Universo tremendamente complexo, semelhante ao grande Universo.
A este Universo que existe dentro de cada ser vivente, devido exatamente a esta diversidade e complexidade, denominamos Macrocosmo apenas para simplificar as nossas limitações de entendimento.

É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria, com quase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto do Universo produziu toda a matéria sólida do Universo.

Milagre ou realidade?

Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes?

Se tomarmos a realidade do ponto de vista em que nos encontramos agora, certamente deduziríamos que nada somos. Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado.

Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que constatamos na nossa experiência; o ser é o nada que o constitui.

Platão afirmava que o Universo em que vive o homem é ilusório, feito de sombras e aparências; na nossa experiência, quanto desta assertiva é verdadeiro?

O que acabamos de afirmar e virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o eletro e o próton contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que o garante?

Existem considerações científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia.

Aí então a nossa pasma intelectualidade entra em pane!

Se os átomos não são nada mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio, nada somos!

Simples fótons?

Campos magnéticos em interação e deslocando-se à velocidade da luz?

Ainda sem considerar a teoria das Super cordas que remetem até o instante do inicio da expansão do Universo, o inicio de toda a história que os nossos cientistas sonhadores dão para o Universo e ao qual denominam de big bang, já nos satisfazemos com o fato de constatar que existe um projeto racional e um objetivo válido para tomar parte nesta grande orquestra da vida, esta milagrosa massa de seres viventes.

Porque olhando na nossa própria essência, sequer deveríamos existir! É um milagre! 

Os fatos apontam para uma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de se manifestar.

A improbabilidade da vida

Partindo da constatação que as fórmulas da mecânica quântica nos fornecem apenas probabilidades e nunca certezas qual seja a verdadeira constituição do átomo. 

Acrescente-se que as moléculas de que as nossas carcaças são formadas constituem apenas um por cento de toda a massa do Universo, isto porque, 75% de toda matéria do Universo é formada por Hidrogênio, 24% é Hélio, e o restante 1% (um por cento) é constituído por todos os demais elementos da tabela periódica. Desde o lítio, passando pelo carbono até chegar ao urânio.

A química que dá origem à vida é uma insignificância quantitativa em relação ao gigantismo do Universo!

Daí a nossa intelectualidade vir a se preocupar com a existência e a realidade nos faz singelos na imensidão deste Universo – especula-se que existam outros Universos. É deveras um milagre possuirmos consciência!

Percebe a maravilha desta descoberta dentro de nós mesmos?

Consegue observar o quanto somos infinitos na forma em que nos encontramos e o resto do Universo é finito? Em termos absolutos poderíamos até dizer que nem infinitos somos, mas inexistentes.

Conscientizou-se agora do quanto somos livres e iguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do Universo?

É razão mais que suficiente para buscar o conhecimento para nos entendermos melhor uns com os outros.

Fazer estes tipos de viagens é o único caminho que dispomos para trilhar pelos caminhos que conduzem para a liberdade e perfeição; simplesmente porque nos conscientizamos que existe um criador, não é possível que tudo seja resultado de obras do acaso sem a presença de uma mente pensante por traz de tudo o que se manifesta na natureza.

Esta nossa realidade, esta nossa insignificância perante o milagre da existência material já é suficiente para nos levar a entender do porque o amor fraterno é o único caminho para a verdadeira igualdade.

Na essência somos todos relacionados e iguais. Somos imperfeitos na nossa materialidade, mas alcançamos a perfeição na nossa racionalidade, da mesma forma como disse Platão: o único círculo perfeito é a ideia de círculo que existe na nossa imaginação.

Abrangência do mundo interior

Estenda esta visão às outras dimensões que temos: espiritualidade, emotividade, pensamentos, e outros. Este conhecimento de nós mesmos não fica limitado ao que estamos percebendo neste instante, este crescimento exige a perfeição tanto do espírito como do coração.

Há necessidade que treinar as nossas percepções tanto do visível como do invisível, e tudo é dedutível pela nossa capacidade de abstração, de fantasia, até vir a se comprovar pela experimentação científica.

 Assim como aconteceu com Pitágoras, que na tradição intelectual do mundo ocidental teve transformada a sua capacidade de mística matemática numa espécie de ponte entre a razão humana e a inteligência divina.

Da nossa parte, enquanto sonhamos, não temos provas materiais da imaginação ser realizável, ao menos enquanto estivermos restritos ao nosso cárcere material, ao nosso corpo físico. Tampouco criamos proposições que não possam ser questionadas, até contrariadas, pois algo assim, nas palavras de Isaiah Berlin, não contém informação.

Devemos procurar a justiça e a fraternidade, o amor fraterno, para obter a possibilidade de, mesmo imperfeitos em alguns aspectos, sermos levados à perfeição do intelecto e da espiritualidade pela força do pensamento.

E assim como efetuamos a nossa caminhada até ficarmos sentados aqui nesta escuridão sem ter medo de nada, quando o tempo está em marcha, aonde chegamos devagar, um passo de cada vez.

A Maçonaria ensina-nos que o caminho da perfeição também não se dá aos saltos, senão com muita prudência e lentidão. Velocidade é coisa de eletro na sua órbita, nós devemos lentamente ir formando uma base educacional em busca da verdadeira liberdade que nos liberta do fanatismo, do ódio e outros vícios.

Pois se viéssemos até aqui na superfície deste núcleo de átomo num salto, certamente desfaleceríamos. A escuridão enlouquecer-nos-ia! Não entenderíamos que na escuridão do nosso mais recôndito ser, na falta da liberdade a que o eletro nos levou, sentir-nos-íamos presos, imobilizados, com medo de nos mexermos, inclusive de pensar.

E o medo desta prisão certamente induzir-nos-ia a adotar alguma postura fanática e alienante, quem sabe até, num ato desesperado, o suicídio.

Percebe o quanto a nossa capacidade de sonhar é infinita e como isto nos diferencia do homem-fera primitivo? A filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito está conectada ao conhecimento humano, desde a sua pequenez diante do Universo, até o gigantismo da sua capacidade de sonhar e pensar. É pela capacidade racional inteligente que todo Maçom deriva conhecimentos detalhados e genéricos para a sua própria sobrevivência física e intelectual. Uma coisa puxa a outra.

O sonhar leva a predispor o iniciado na busca contínua de instruções e conhecimentos. Isto o leva a efetuar saltos mentais e impõem-lhe denodo quando se interna na caminhada dos mundos desconhecidos, reservados apenas aos que têm coragem de enfrentar as veredas do desconhecido. Mesmo que lá reine escuridão, a mente continuará a irradiar a luz do entendimento de verdades cada vez mais complexas e intrincadas.

O peregrino cego carrega junto de si a luz do entendimento ao buscar intensamente dentro de si mesmo o conhece-te a ti mesmo, de Sócrates. O homem pensador passa a se aperfeiçoar.

Depois que se aperfeiçoou e descansou parte em nova jornada, em ciclos eternos de sonhos, racionalizações e sedimentações de novos conceitos.

Fica evidente que ao adentrarmos no mausoléu que somos, despertam ideias ocultas que até então não percebíamos. Encontramos alguns porquês da existência: De onde venho? Para onde vou? Algo que é possível descobrir com viagens ao interior de nós mesmos. Faz da passagem para o oriente eterno apenas mais uma etapa da vida; algo que alivia o constrangimento e medo da morte.

Este é o conhecimento, a luz que o profano busca nos nossos templos; é a travessia que o iniciado faz quando se desloca do ocidente para a luz do oriente. Ao nos libertarmos do medo da morte, rompem-se os grilhões da escravidão do mundo material e passa a brilhar a luz da sabedoria do Grande Arquiteto do Universo.
Templos vivos

Todo o Maçom é considerado de fato um templo vivo.

Só a partir desta constatação o Maçom passa a se considerar criatura pura e sagrada. Certamente tudo faz para não conspurcar o ambiente sagrado de que é constituído o seu templo interior, derivando que isto induza o desenvolvimento de conceitos morais e éticos cujo objetivo preservará a pureza do lugar sagrado do seu interior. Isto faz do mundo interior um lugar perenemente limpo e puro.

Desperta adicionalmente que apenas limpar o templo interior não é suficiente. A pureza moral e ética é insuficiente. Exige-se que o interior do templo, local da razão e dos sentimentos equilibrados, nutram o cérebro com estímulos que levem a buscar a perfeição.

Daí se ressalta a importância em velar na maioria das vezes do centro das emoções, o coração, de modo a mantê-lo subjugado à mente, pois é considerado esotericamente um mausoléu e tudo aponta para o coração como túmulo do Maçom; ao menos enquanto não morrer o Maçom que o contém.

O caminho para a liberdade e perfeição do Maçom é dominar as suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos.

Quando o tempo se desloca, no nosso interior reina escuridão enquanto não efetuarmos um salto para dentro de nós mesmos iluminados pela sabedoria do entendimento desta viagem. Este deslocamento é realizado em pequenas estações, para que o choque da descoberta desta escuridão não nos deixe cegos e com medo, assim como fazemos na nossa evolução pelos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.

O medo pode imobilizar-nos e escravizar-nos aos extremismos. É necessária coragem para desbravar o caminho.

Agora que mostrei a minha senda, faça as tuas viagens a sós para dentro de você mesmo e descubra teus próprios caminhos. Só não se assuste com a escuridão do lugar, leve sempre junto à luz de tua capacidade intelectual para de lá sair em segurança.

Ao homem Maçom é dado caminhar só na busca da sua espiritualidade e liberdade, exatamente porque ninguém a pode fazer por outrem. É tarefa individual e intransferível.

E saiamos daqui, pois os trabalhos encerraram a meia-noite.

Charles Evaldo Boller

Bibliografia
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;
BOSQUILHA, Gláucia Eliane, Mini manual compacto de Química, Editora Rideel, 1999;
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001;
GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição, Madras Editora Ltda., 308 páginas, São Paulo, 2003;
LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira edição, Editora Nova Cultural Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2005;
MARTINS, Maria Helena Pires; ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Filosofando, Introdução à Filosofia, ISBN 85-16-00826-6, primeira edição, Editora Moderna Ltda., 396 páginas, São Paulo, 1993.
Biografias
Aristóteles ou Aristóteles de Estagira, filósofo de nacionalidade grega. Nasceu em Estagira em 384 a. C. Faleceu em 7 de Março de 322 a. C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos;
Demócrito de Abdera, filósofo grego. Nasceu em 16/01/460 a. C. Faleceu em 371 a. C.. Criador da teoria atómica. Da era pré-socrática que fundou a atomística. Estudioso da matemática e física teve cultura semelhante à de Aristóteles;
Ernest Rutherford, físico de nacionalidade inglesa e neozelandesa. Também conhecido por Lord Ernest Rutherford of Nelson. Nasceu em Nelson, Nova Zelândia em 30 de Agosto de 1871. Faleceu em 1937 com 65 anos de idade. As suas pesquisas obtiveram incrível importância, tendo elucidado uma série de problemas relacionados à radioatividade, à estrutura dos átomos e à natureza elétrica da matéria;
John Dalton, escritor, físico, professor, químico e tradutor de nacionalidade inglesa e irlandesa. Nasceu em Eaglesfield em 6 de Setembro de 1766. Faleceu em 27 de Julho de 1844 com 77 anos de idade. É considerado o fundador da Teoria Atômica moderna;
John Locke, escritor e filósofo de nacionalidade inglesa. Nasceu em Wrigton, Somerset em 29 de Agosto de 1632. Faleceu em Oates em 28 de Outubro de 1704 com 72 anos de idade. Rejeitou as ideias inatas: a fonte dos nossos conhecimentos seria a experiência;
Martin Heidegger, filósofo de nacionalidade alemã. Nasceu em Messkirch, Floresta Negra, Alemanha em 26 de Setembro de 1889. Faleceu em Messkirch em 26 de Maio de 1976 com 86 anos de idade. Um dos mais importantes representantes do existencialismo e da filosofia alemã do século XX;
Platão ou Platão de Atenas, filósofo de nacionalidade grega. Também conhecido por Aristóteles Platão de Atenas. Nasceu em Atenas em 428 a. C. Faleceu em Atenas em 347 a. C. Considerado um dos mais importantes filósofos de todos os tempos;
René Descartes, cientista, filósofo e matemático de nacionalidade francesa. Também conhecido por René du Perron Descartes. Nasceu em La Haye, Touraine. Descartes em 31 de Março de 1596. Faleceu em Estocolmo, Suécia em 11 de Fevereiro de 1650 com 53 anos de idade. Muitos filósofos consideram-no o pai da filosofia moderna;
Robert Boyle, cientista, físico, matemático e químico de nacionalidade irlandesa. Nasceu em Lismore, Irlanda em 28 de Março de 1950. Faleceu em Londres em 30 de Dezembro de 1691. Estabeleceu de forma clara e precisa os conceitos de elemento químico, combatendo assim os elementos alquimistas e aristotélicos;
Sócrates ou Sócrates de Atenas, filósofo de nacionalidade grega. Nasceu em Atenas em 468 a. C. Faleceu em 399 a. C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.

O FUTURO DA MAÇONARIA: DESAFIOS E RESPOSTAS(2)



Nos círculos maçônicos através do mundo, particularmente nos países de língua inglesa, a questão do futuro da Ordem tornou-se um assunto urgente.

Os últimos quinze anos foram marcados por uma gradual erosão do número de maçons no mundo. Nos Estados Unidos, para dar um exemplo, dos anos 50 até o fim do século passado, os membros das 50 Grandes Lojas diminuíram mais do que quinze por cento.

Estes números são motivos para uma séria reflexão. Algumas Lojas tiveram que fechar, outras desapareceram e, em todos os lugares, a manutenção dos bonitos templos maçônicos, que eram a nossa janela de orgulho para o mundo, tornou-se um peso, uma carga quase insuportável.

Têm sido feito tentativas para se encontrar a causa desta situação. Obviamente, há uma combinação de fatores.

Alguns observadores, nos Estados Unidos, alegam que isso é o voltar à dimensão normal da Fraternidade depois da incomum expansão que teve lugar após a Segunda Guerra Mundial; outros pontos são as mudanças experimentadas pela sociedade no último século, e particularmente nas últimas décadas.

Percebemos a crescente auto preocupação das gerações mais jovens, a síndrome de “tampa de metal de motor de avião”, a influência da televisão e agora da internet, fazendo com que as pessoas fiquem mais sedentárias e menos gregárias.

Esta situação, que também é sentida no nosso país, não parece ter o mesmo efeito noutras regiões do mundo, tais como a América Latina, França e Turquia, para dar alguns exemplos onde a Maçonaria segue as regras tradicionais de rigorosa seleção dos candidatos, lenta progressão nos graus – um ou dois anos entre um grau e o próximo – pequenas Lojas, exigência da presença de cada irmão em Loja.

Se quisermos mudar o curso da presente tendência, acredito que o nosso problema tem que ser analisado porque ele é composto de dois fatores igualmente importantes: aquisição e retenção.

A primeira questão é como fazer as nossas Lojas atrativas para as gerações jovens. 

Aquisição, este é o primeiro passo fundamental. Vamos pensar um pouco. 

O que podemos oferecer para um jovem com os seus trinta ou quarenta anos? 

O que faria querer participar de uma Loja? 

Naturalmente, um amigo ou um parente. Talvez esta seja a mais comum fonte de recrutamento. Entretanto, está longe de ser a coisa certa. Quanto dos familiares na sua própria Loja tem sido bem sucedido com a prole? Eu pergunto-me se você precisa dos dedos das duas mãos para contar o resultado.

Somos uma associação voluntária. Não fazemos publicidade e geralmente não pedimos as pessoas para se tornarem maçons, o que seria contra uma das nossas regras. “De você possuir livre arbítrio e vontade própria”, e assim por diante.

Então, ao contrário do vendedor de rosquinhas ou roupas, que pode fazer propaganda e ofertas especiais, liquidações e queima de estoque, devemos oferecer alguma coisa para que o nosso “cliente” – aquele inocente provável candidato – se sinta enfeitiçado para comprar por sua própria vontade. Pela sua própria vontade e escolha.

Permitam-me divagar. Alguns de vós podeis estar tentando segurar os seus cavalos com todas as forças para não pular para cima e gritar: “Mas isso está a ser feito nos Estados Unidos!”. Sim, é verdade, mestre Maçom num dia – chamam isso de Grande Classe de Mestres: Iniciação, Passagem e Elevação de umas poucas centenas de candidatos num dia. Certamente, esta linha de montagem maçônica tem divergido das barganhas de vendas de porão. Mas, no comércio, liquidações geralmente terminam com o encerramento do negócio. Vamos torcer para que isto não ocorra conosco.

Alguns críticos, ironicamente, chamam estes “maçons formados por atacado” de McMasons, duvidando que eles possam perceber o real significado das cerimônias das quais participam como mero espectador. Ainda não mensuraram a eficiência desse procedimento. Alguns observadores alegam que não há diferenças entre os mestres tradicionais e aqueles promovidos em dois meses. Estas diferenças não emergem com muita ênfase nas Lojas hemorrágicas, as quais continuam perdendo dois ou três por centro dos seus membros a cada ano.

Então, pergunto novamente, o que podemos oferecer? Alguma coisa que é única na nossa organização, a qual não se pode encontrar no Rotary ou no Lyons ou num London Club.

Fraternidade? Sim, certamente. Mas similar conexão de irmandade existe entre graduados de uma mesma universidade, membros de uma mesma sinagoga, entre veteranos de uma organização militar.

O que nós temos de diferente dos outros é uma tradição esotérica. Uma filosofia, não uma religião, mais tolerante que todas as religiões. Uma tradição de ensinamentos por símbolos. Somos uma academia como nenhuma outra, com um currículo que traz junto à essência das melhores ideias filosóficas que orientaram a educação da civilização ocidental.

E temos um segredo. Sim, o segredo da Maçonaria. Acordem confrades, porque agora eu vou revelar o nosso segredo para que todos possam ouvir! O nosso segredo é … (rufar de tambores) … podemos melhorar o mundo.

Grande segredo! Grandes palavras! E agora, como propomos alcançar esta monumental tarefa? Dominando o mundo a ferro e fogo? Encontrando um meio de converter água em gasolina? Fazendo o mundo inteiro falar hebreu? Nenhuma dessas alternativas é o caminho. Precisamos simplesmente melhorar a nós próprios.

Todo ser humano é capaz de polir as suas imperfeições, vencer as suas paixões, submeter as suas vontades, elevar as suas virtudes, o que nós chamamos polir a pedra bruta. Se nós realmente quisermos, poderemos ser melhores. Podemos fazer isso e ninguém pode fazê-lo por nós. Nem mesmo a Maçonaria.

Recebemos ferramentas simbólicas: o malho e o cinzel, e talvez uma régua de 24 polegadas. Ferramentas que devemos manusear sozinhos. E a nossa esperança é que se nós próprios nos tornarmos homens melhores, a nossa família se torna melhor, o ambiente à nossa volta melhora e, eventualmente, a sociedade em geral se torna mais tolerante, um lugar mais iluminado para viver.

Outra coisa, única na nossa organização, é que somos uma grande família, razão pela qual nos chamamos uns aos outros de irmãos, não é mesmo? Como em toda a família, algumas vezes temos as nossas discordâncias. Vamos encarar isto, não é incomum os irmãos não se amarem uns aos outros, mas o sentimento básico é que os laços de irmandade permanecem fortes.

São incontáveis as histórias de como um Maçom socorreu outro. Homens que se encontraram pela primeira vez nas mais adversas circunstâncias, e que nunca mais se vão encontrar, tais quais velhos amigos, ligaram-se através dos laços fraternos da Maçonaria.

Então, vamos supor que tivemos sucesso na aquisição de um novo irmão para a Ordem. Ele é jovem, inteligente e bem educado. Como posso mantê-lo na Loja? Este é nosso segundo problema. Retenção.

Irmãos, tenho visitado algumas Lojas americanas e também algumas na Inglaterra, não muitas, admito. Em todos esses lugares, sempre fui muito bem recebido, mas, para ser honesto, repito-lhes o que senti – frequentemente fiquei aborrecido.

Abertura ritualística, minutas, boas-vindas ao visitante, relatório do tesoureiro, informações sobre doença de irmãos, aprovação de despesas (que é uma contra-senha americana) e, então, do lado de fora, vamos comer. Alguns lugares que visitei, pararam a cerimônia no meio para jantar e depois continuavam.

Em algumas Lojas, a “comida” foi uma xícara de café e um pedaço de bolo. E então, queixam-se dos membros que não vêm para a reunião. Penso que aqueles que vêm deveriam receber uma medalha pela persistência no cumprimento do dever. Mas não vamos discutir o que eles fazem no exterior. Vamos pensar no que podemos fazer aqui, na nossa casa.

Antes de qualquer coisa, vir para a Loja deveria ser divertido. Deveria ser uma experiência prazerosa que você gostasse de repetir para que se divertir novamente. Além da simples sociabilidade entre os irmãos, deveria ser uma estimulação mental.

Façam disto uma ocasião para pensar, para trocar ideias, para ensinar e aprender. Há um velho ditado que diz que “se duas pessoas têm um dólar cada uma, se elas os trocarem, cada um deles ainda terá um dólar. Mas, se cada uma delas tem uma ideia e se as trocarem, agora cada uma delas terá duas ideias”.

Alguns dirão, não somos escritores ou estudantes, não temos tempo para fazer pesquisa ou para escrever artigos. Verdade, em parte. Tenho visto jovens muito ocupados nas suas vidas profissionais que encontram tempo para fazem alguma coisa que gostam, como visitar livrarias e pesquisar material na internet.

Eles produziram maravilhosos artigos, alguns dos quais fiquei feliz por ter publicado enquanto era editor do Haboneh Hahofshi. E se a Loja não for capaz de produzir o seu próprio material para discussão, há um mundo de literatura maçônica disponível para formulação de perguntas.

Pegue um jornal ou um livro e peça a alguém para ler algumas páginas. Depois discuta. Converse com cada um. A conversa é a argamassa da amizade. Outra ideia é envolver a Loja com uma sociedade de pesquisa, como o Quatuor Coronati Correspondence Circle, o Philalethes ou a Southern Califórnia Research Lodge.

São centenas de fontes de onde você pode receber interessantes materiais, próprios para leitura e discussão. Por favor, não me interprete mal; não estou alegando que a Loja deveria ser uma sociedade de debates. Mas ela deveria ser um lugar para nos afastarmos das preocupações diárias, onde pudéssemos afastar-nos dos negócios, preocupações, ansiedades e devotar duas horas ao prazer, ao entretenimento e ao diálogo estimulante.

Alguns de vós podeis estar perguntando por que eu não falei uma palavra sequer sobre ritual? Você pode pensar: o ritual é o coração da Maçonaria. Bem, não exatamente. Eu diria que o ritual é o esqueleto, a espinha dorsal da Loja, sem a qual esta poderia desmoronar. Mas não é suficiente.

Precisa de corpo e de sangue de participação ativa. Deixe-me perguntar, porque temos rituais em Loja? Por que o mestre não pode apenas bater o martelo e anunciar que a Loja está aberta para os trabalhos?

Porque o tempo perdido na ritualística da Loja tem dois propósitos: o primeiro é lembrar-nos de que a nossa Loja não é simplesmente outro clube ou uma reunião de conselho. Reunimo-nos num local consagrado, o templo maçônico, que simboliza o centro do universo. Abrindo a Loja, também abrimos uma extensão de intervalo de tempo. Noutras cerimônias destacamos que a Loja abre ao meio dia e fecha à meia noite. Símbolos, símbolos.

O segundo propósito para o ritual é termos um tempo para nos acalmar, para pararmos de pensar na desordem e nas batalhas sem fim do mundo lá fora. A Loja é uma ilha de paz, de reflexão e de relaxamento. A repetição exaustiva das palavras do ritual permite libertar a nossa mente dos problemas diários, deixando-a pronta para o trabalho maçônico.

Agora, o ritual é importante, sendo recomendável que a iniciação maçônica seja levada a efeito de cor e sem erros. Também nos lembramos que a iniciação não é para nós, é para o candidato. E se um dos oficiantes esqueceu uma palavra ou, ao invés, proferiu outra, não irá causar nenhum prejuízo.

O candidato não a conhece. Então, só haverá prejuízo se um intrometido se apresentar “corrigindo” o erro. A iniciação bem apresentada é como um jogo. Depois que tiver terminado, se todos forem bem sentiremos a satisfação pela perfeição dos trabalhos. Mas, então, depois da cerimônia, começa a segunda tarefa, não menos importante, que é explicar aos candidatos o que foi feito, porque foi feito e o seu significado simbólico.

As instruções maçônicas não são, ou não são apenas, uma “decoreba” de uma série de perguntas e respostas, ou repetição do ritual até a perfeita expressão das palavras. Elas têm como finalidade conscientizar o Aprendiz ou o Companheiro da profundidade dos nossos símbolos, da nossa história, das nossas tradições, dos nossos inimigos e vitórias. Assim, eles sentirão orgulho de serem maçons.

É como ir à ópera pela primeira vez cantando em húngaro. Gostamos da música mas não entendemos nada do que está escrito no libreto. Somente se viermos por uma segunda vez e tivermos lido a tradução conseguiremos entender completamente o drama musical. E os nossos dramas são mais velhos do que todas as óperas do mundo.

Agora venho com um assunto que até não muito tempo atrás foi um tabu nas nossas Lojas: a participação das mulheres na Maçonaria. Neste momento, o assunto está fora de questão. Não podemos ignorar que as nossas mulheres não são aquelas senhoras da literatura do século XIX, prontas para desmaiar na primeira onda do ventilador.

Elas são bem educadas, bem informadas, muitas seguem carreiras de sucesso e grande parte delas ganham mais dinheiro do que nós! Se elas estão interessadas em Maçonaria, encoraje-as por todos os meios, conte a elas o que nós fazemos, consintamos que leiam a nossa literatura. O que quer que tenha sido impresso não é mais segredo. 

O mais importante, as Lojas, como um conjunto, devem incorporar as mulheres, as nossas esposas, na vida da Loja. As esposas dos maçons não se devem sentir do lado de fora.

Deixem-me contar-lhes um exemplo de sucesso: com frequência, na minha própria Loja realizamos jantares (os chamamos de “mesas brancas”) juntamente com as nossas esposas. Especialmente, depois de cada iniciação, asseguramo-nos de que a esposa do candidato seja calorosamente recebida e isso faz sentir-se bem-vinda. Há, naturalmente, o banquete anual de instalação.

E, comumente, a Loja tem muitos encontros festivos antes da Páscoa, e no Dia da Independência. Uma vez por ano, apresentamos a cerimônia do Dia das Rosas, seguindo o ritual oficial da Grande Loja. Uma vez por ano promovemos um fraternal fim de semana num hotel para a família inteira, incluindo um Seminário Maçônico na manhã de sábado, o qual tem melhorado ano após ano. Irmãos temos conseguido fazer da Loja um assunto de família e o resultado é que temos perdido poucos obreiros.

É esta a fórmula válida para todas as Lojas? Provavelmente não. Talvez numa Loja os membros estejam mais interessados em arte, em música ou teatro. O princípio é o mesmo, manterem-se juntos, não somente dentro do templo, mas fora dele, onde toda a família possa participar.

A nossa experiência não é a única. Há duas semanas, recebi uma carta da Grand Lodge of South Austrália. Eles fizeram um detalhado artigo intitulado “O Novo Milênio, Maçonaria e Mulher”. E quais foram às conclusões: exatamente o que descrevi, acrescentando outras recomendações interessantes, como a dispensa dos infindáveis discursos maçônicos e brindes de sempre nas entregas de Diplomas ou outras condecorações maçônicas, e minimizar as horas em Loja a fim de que os homens não cheguem muito tarde em casa.

Entretanto, o mais interessante aspecto do artigo é a atitude positiva, refletindo na direção da Maçonaria Feminina, incluindo a recomendação de desenvolver políticas de relações com as mulheres, e formar o “Programa de Relações da Mulher com a Maçonaria”.

Uma sugestão posterior é permitir à Fraternidade Feminina utilizar o nosso templo e desenvolver conjuntamente atividades sociais, cerimoniais e intelectuais. A nossa organização é singular. Forma uma assembleia de homens que se encontram regularmente, não para ganhar dinheiro, não para promover os seus negócios, mas para aprender a se tornar melhores e melhores irmãos, um para o outro.

Comecei com um comentário que pode ter soado pessimista. Esta não é a minha crença. Acredito que a Maçonaria, uma sociedade que existe há centenas de anos, sobreviverá por muito mais séculos porque preenche uma necessidade.

Talvez as nossas Lojas sejam poucas, talvez sejam pequenas, mas haverá Maçonaria em todos os países onde os homens são livres para pensar sobre eles mesmos, livres para se reunirem pacificamente para as suas próprias alegrias e a melhoria da sociedade na qual vivem. Isto me traz para o último assunto que eu quero abordar nessa oportunidade, a ação do Maçom e da Maçonaria como um corpo, nos assuntos mundanos.

Nos últimos séculos, os maçons foram os lideres dos movimentos de libertação contra o colonialismo no século XIX. Foram os líderes contra a intolerância religiosa e o controle clerical em muitos países ao longo do século XX. Lutaram contra os males da escravidão e do colonialismo. Com a separação da igreja do estado, levantamos bandeiras a favor de muitas coisas que hoje acreditamos sejam parte integrante de uma nação iluminada.

O trabalho então está finalizado? Vamos nós, os maçons do mundo de hoje, descansar sobre os nossos lauréis, regozijarmo-nos repetidas vezes com as glórias do passado? Quantos homens como Washington, Bolívar, Martin e Garibaldi lutaram pela liberdade dos seus países? Somos uma geração de folgazões, de homens com os olhos no passado, ou estamos olhando para frente na direção do nosso futuro, rivalizando-nos com os nossos predecessores, mas de outra forma, apropriada para o mundo no qual vivemos agora?

Há muito que nós podemos fazer. O mundo está assediado pela moral perigosa do fanatismo, intolerância religiosa, superstição, assolado pela superpopulação, esgotamento de recursos naturais, poluição, doenças e fome. Se nós procurarmos encontrar um denominador comum para todos esses males, acredito que o que chama a atenção, entre todas as possibilidades, é esta: ignorância!

E é contra ela que a nossa futura contribuição deve ser focalizada: educação. E isto já está a ser feito. Foi feito no passado, deve ser feito agora e no futuro. Os maçons foram e são envolvidos com educação em todos os níveis. Criaram universidades: Girard Colege nos Estados Unidos, a Free University of Brussels, Universid de La República de Chile, são alguns exemplos. Filantropia é louvável, mas a mais alta forma de filantropia é a educação.

Se nós como maçons pudermos inculcar nas nossas instituições educacionais o nosso espírito de tolerância, democracia e respeito à pessoa, estaremos fazendo agora o equivalente ao que os nossos libertadores fizeram dois séculos atrás.

Acredito que os maçons têm coragem e encontrarão vontade para se levantar e mostrar o caminho da luta contra a ignorância, a base de todos os males que ameaçam o futuro da raça humana.

Podemos começar agora, podemos começar aqui!

León Zeldis Mandel
Tradução feita por Ranvier Feitosa Aragão


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