É conhecido que as
últimas décadas foram palco de consideráveis avanços científicos e
tecnológicos, inclusive com o fenômeno da globalização que literalmente
derrubou fronteiras maçon.
Tal fenômeno acabou por
influenciar a economia e a vida de todo o planeta, principalmente pela
celeridade da circulação de informação de toda a espécie.
No entanto, no que pese à
propagação do conhecimento, tem-se debatido a respeito da degradação que a
sociedade moderna está a sofrer, principalmente no que respeita às instituições
que tradicionalmente a sustentaram.
A família deixou de ser o
ponto de referência dos indivíduos, pois sucumbiu ao egoísmo exacerbado. As
virtudes inerentes ao bom caráter passaram a ter conotação antiquada, quiçá,
jocosa. A aparência prepondera sobre a essência.
É justamente neste
emaranhado de contradições e superficialidades que seletos homens são chamados
para compor as fileiras de uma instituição secular – a Maçonaria –, “para
combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar o
Direito, a Justiça e a Verdade. Para promover o bem da Pátria e da Humanidade,
levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício” [1].
Assim, o profano ao ser
iniciado nasce para vida maçônica cabendo-lhe inúmeras responsabilidades que,
para os fins a que se destina, o presente trabalho limitar-se-á a estudá-las
sob os três aspectos mais importantes: moral, social e institucional.
Moral
Não é o objetivo ater-se
em divagações filosóficas em relação à moral [2] ou à ética, pois não
se entendem necessárias à compreensão do tema, uma vez que o senso comum, que
possui todo homo medius, é suficiente para que o Maçom entenda a dimensão
da responsabilidade que lhe cabe.
Obviamente, o estudo da
moral não se pode limitar a um ponto de vista meramente subjetivo, mas,
sobretudo, ao seu aspecto pragmático. Neste último é que o Maçom se deve
prender, pois de nada adiante estudar as instruções e complementos, que estão
repletos de exortações à boa conduta, se não as colocar em prática. Portanto, a
conduta do Maçom é a razão de ser da moral maçônica.
Desta forma, o objetivo
da Instituição Maçônica é a construção e o aperfeiçoamento ininterrupto da
sociedade que, para tal, necessita dos seus pedreiros para que executem este
árduo trabalho. Neste sentido dispõe a Constituição da Grande Loja de Santa
Catarina, nos seus Postulados:
(…) a Maçonaria é uma
instituição nascida para combater, com a persuasão e a força moral do bom
exemplo, tudo o que atente contra a Razão e o Espírito de Fraternidade
Universal. Nesta força moral, que só se adquire pela Virtude, única proclamada
como legítima consagrada pela consciência dos povos nos códigos das nações,
como agente supremo do poder soberano, concentra a Maçonaria toda a sua glória
e a ela deve os grandes triunfos que, com tanta justiça, a têm colocado como a
primeira à frente das grandes instituições nascidas do amor à Humanidade e do
interesse pelo bem-estar dos povos.
Ciência do progresso
moral, a Maçonaria resume sua ação social nos atributos da inteligência e do
coração – Luz e Verdade, Amor e Filantropia [3].
Por sua vez, o artigo
escrito pelo Irmão Luiz Gonzaga Rocha aborda com sucinta precisão a razão de se
ter verdadeiros Maçons na sociedade:
“Curvo-me à ideia de que
a busca da perfeição e da existência de um mundo melhor, dirigido por homens
iniciados e/ou iluminados, pode muito bem representar uma utopia, mas sendo
este o plano de evolução social, cultural e política da Maçonaria, e sendo esse
entendimento no sentido de que os maçons assumam os destinos das sociedades,
aos maçons impõe-se, antes e depois de toda e qualquer consideração, serem
conhecedores e partícipes desse ideal, e, para tanto, requer-se que sejam
incorruptíveis, instruídos, livres pensadores e excelentes formadores de
opiniões, verdadeiros construtores sociais e instrumento adequado para efetivar
as transformações sociais requeridas; e, ainda, sejam capazes de se
aperfeiçoar, de se instruir e disciplinar constantemente na Arte Real, sem
prejuízo da conveniência de conviverem harmoniosamente com centenas de milhares
de seres díspares, e que possam, a despeito de todas as dificuldades, ser
destacados por palavras, obras e exemplos de vida, e sobremodo, que ostentem,
sem vergonha, o lema mais sagrado da Ordem Maçônica: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade” [4].
Desta forma, o Maçom não
foi escolhido apenas para aumentar o número de uma determinada loja ou da
Instituição no seu sentido universal; não pode limitar-se ao simples recitar
dos manuais, como se a obra que lhe cabe pudesse ser realizada por qualquer
tipo de força transcendental que, através da simples repetição de palavras
durante os rituais, alguma força cósmica cumpra o papel que lhe cabe junto à
sociedade.
Apesar da Maçonaria
Operativa ter dado azo à Maçonaria Especulativa, a obra do pedreiro ainda
continua a ser manual. Obviamente que o aperfeiçoamento intelectual é
necessário e, mais que isso, é exigido, mas não é um fim em si mesmo, pois tem
por objetivo a sua utilização para o bem da humanidade, que de maneira nenhuma
poderá ser limitado ao mundo das ideias, mas externalizado através de atitudes.
Ora, “(…) não é para que fujamos da ciência do Bem, mas para que possamos
pô-la em prática no meio social. Assim devem os maçons lutar para poder vencer” [5].
Não é à toa que o Maçom
utiliza um avental durante as sessões, “porque ele lembra-nos que o homem
nasceu para o trabalho e que todo o Maçom deve trabalhar incessantemente para a
descoberta da Verdade e para o aperfeiçoamento da Humanidade” [6]. Nem,
tampouco, os instrumentos utilizados pelos antigos maçons operativos foram
incorporados sem razão aparente, mas,
Por serem instrumentos
imprescindíveis às construções sólidas e duráveis, eles recordam-nos o papel de
construtor social que compete a todos os Maçons e, ao mesmo tempo, traçam-nos
as normas pelas quais devemos pautar a nossa conduta: o Esquadro, para a retidão;
o Compasso, para a justa medida; o Nível e o Prumo, para a Igualdade e a
Justiça que devemos aos nossos semelhantes [7].
No telhamento para
elevação de Aprendiz a Companheiro pergunta-se de que maneira os maçons são
reconhecidos e, a seguir, responde-se que por sinais, toques e palavras. Ora,
tais respostas limitam-se ao conhecimento mínimo que um Aprendiz deve ter para
visitar uma Loja Maçônica, pois, na realidade, um verdadeiro Maçom deveria ser
reconhecido primeiramente pelo seu caráter, equilíbrio, comportamento,
probidade, caridade, humildade, em suma, pela sua conduta. Obviamente, que se
considera que tais exigências não são inatas ao ser humano, devendo, portanto,
o aprendiz utilizar o Maço e o Cinzel a fim de desbastar a sua Pedra Bruta.
Talvez, o grande segredo
para a realização da missão maçônica não esteja no aumento das suas fileiras,
mas na utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos antigos maçons
operativos, afim de que todo o conhecimento adquirido com o passar dos séculos
não se limite à elaboração de teorias e elucubrações, mas extrapole as lojas e
contagie o mundo.
Social
Assim como no tópico
anterior, a Maçonaria está repleta de ensinamentos que visam aguçar a
sensibilidade dos seus membros às necessidades da sociedade. Da mesma forma,
são várias as alegorias que simbolizam virtudes que implicam na
responsabilidade social que deve ser cultivada e praticada no quotidiano.
No painel do Aprendiz,
vê-se na Escada de Jacob a taça que tem, entre outros significados, o da
caridade. Nota-se, também, na Abóbada Celeste da loja, a Estrela Flamejante
que: (…) representa a principal Luz da Loja. Simboliza o Sol, Glória do
CRIADOR, e dá-nos o exemplo da maior e da melhor virtude que deve encher o
coração do Maçom: a CARIDADE.
Espalhando luz e calor
(ensino e conforto) por toda a parte onde atingem os seus raios vivificantes, o
Sol ensina-nos a praticar o Bem, não num círculo restrito de amigos ou pessoas
próximas, mas a todos aqueles que necessitam e até onde nossa caridade possa
alcançar [8].
Neste sentido, a caridade
é somente uma das facetas de intervenção social que o Maçom deve cultivar no
seu meio, mas poder-se-iam enumerar várias outras possibilidades que não se
adequariam ao fito deste texto. No entanto, é oportuno ressaltar-se o ideal de
fraternidade, que juntamente com a liberdade e a igualdade, formam uma das mais
importantes tríades maçônicas; e, ainda, quanto aos elementos decorativos da
Loja, o pavimento mosaico e a própria orla dentada, que lembram a necessidade
de harmonia entre as diferenças e que o amor e a união devem começar no meio maçônico
e se propagarem para toda a humanidade.
A bandeira da
fraternidade foi abraçada pela Maçonaria e, através de seus membros,
espalhou-se por toda cultura ocidental, influenciando não só revoluções, mas
até mesmo boa parte dos estados modernos ocidentais, que a receberam no seu
ordenamento jurídico constitucional como o princípio da solidariedade.
Assim, é imputado ao Maçom
não só o dever da boa conduta, mas também que trabalhe, transforme, intervenha
na sociedade na medida das suas possibilidades, a fim de cumprir o seu papel de
construtor social.
Institucional
Realmente, o fardo que
Maçonaria atribui aos seus membros é deveras pesado, uma vez que, para além de
exigir uma conduta baseada na retidão de caráter e um papel ativo junto dos
seus semelhantes, lhes incube a instrução dos neófitos e a responsabilidade
pela manutenção de si mesma.
Felizmente, apesar das
críticas de certas religiões, que se limitam ao plano espiritual, a Maçonaria
goza de elevadíssima reputação. Tal fato deve-se aos inúmeros trabalhos de
caridade que faz aos grandes irmãos que no passado fizeram história e,
principalmente, pela relevante contribuição para os ideais democráticos. Desta
forma, a responsabilidade do Maçom é imensa, pois lhe cabe manter imaculada a
imagem da Maçonaria, justamente numa época contraditória e desvirtuada,
sucumbida pela indiferença e pela amoralidade.
Por outro lado, ao irmão
recém-iniciado deve ser dispensado todo o cuidado e apreço, afim de que desde
cedo possa compreender a importância do seu juramento, e as responsabilidades
que tal ato acarreta. Por isto, entende-se de fundamental importância a
realização esmerada dos trabalhos em loja, para que aquele possa lhe atribuir a
seriedade que é devida ao ritual praticado e, também, compreender mais
profundamente o seu significado. Além disto, considera-se de vital importância
à infância maçônica o apoio, o exemplo e a sensibilidade dos irmãos mais
antigos.
O primeiro pode-se
representar pelo incentivo ao estudo e à aprendizagem, o segundo, pela
referência de homem Maçom em quem o neófito se pode sempre espelhar e, a
última, pela percepção em detectar as dificuldades que certamente surgirão e,
evitar, na medida do possível, expor as leviandades e rixas existentes na
Instituição, por força da falta de controle das paixões humanas.
Conclusão
Conclui-se, portanto, que
o exercício da vida maçônica não pode se limitar à loja e ao crescimento
intelectual, pois, além de tantas outras responsabilidades, o Maçom deve primar
pela boa conduta afim de que seja um referencial para uma sociedade
desmoralizada; ter atitudes efetivas que reflitam o papel de construtor que lhe
cabe; e zelar pela integridade da Instituição e pela sua prosperidade.
No entanto, não cabe à
Maçonaria medir a responsabilidade dos seus membros, pois, apesar da referida
construção requerer necessariamente uma intervenção direta, recai na seara subjetiva
da capacidade de que cada um é provido. Assim, a lição extraída da Bíblia indica
exatamente a extensão da responsabilidade de cada Maçom:
“(…) Mas àquele há quem
muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele há quem muito se confia, muito
mais lhe pedirão” [9]
Samuel Borges
Notas
[1] GLSC. Ritual do
Aprendiz Maçon. REAA, Florianópolis, 1998, p. 48.
[2] Filos. Conjunto
de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para
qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. (Aurélio)
[3] GLSC.
Constituição. Florianópolis: 2000, p. 8
[4] Rocha, Luiz
Gonzaga. Maçom e Maçonaria. Revista O Prumo n. 161. Florianópolis: 2005, p. 7.
[5] GLSC. Instrução
Preliminar Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 21.
[6] GLSC. 2ª
Instrução Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 11.
[7] Apud, p. 14.
[8] GLSC. 1ª
Instrução Aprendiz. Florianópolis: 2003, p. 12.
[9] BÍBLIA Anotada –
Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. ed. rev. e atual. São
Paulo: Mundo Cristão, 1994.
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