BASTA DE DISCRIMINAÇÃO À MAÇONARIA NO BRASIL


 

A Maçonaria soma mais de trezentos anos de história tendo, durante o século XVIII, servido de palco para os debates iluministas em defesa da democracia; da igualdade de todos perante a lei; e das liberdades civil, religiosa, política e intelectual. Não por acaso, sua iniciação simbolicamente gira em torno da busca pela luz do conhecimento e da verdade.

A proposta do Iluminismo era de emancipar o homem pelo uso da razão. Isso porque, após séculos de escuridão científica, o mundo ocidental experimentava estados teocráticos, em que o que era dito por sacerdotes era lei, inclusive sobre sua vida pessoal, familiar e profissional. Em outras palavras, você não precisava pensar, mas apenas obedecer a seu sacerdote.

Esses debates iluministas tinham caráter sigiloso, de modo a proteger seus membros, muitos deles filósofos, intelectuais e livres-pensadores, de perseguições em governos autoritários. Essa tradição foi mantida pela Maçonaria até os dias de hoje. Contudo, isso infelizmente não impediu que ela e seus membros sofressem ataques e perseguições ao longo dos anos.

A primeira Bula Papal contra a Maçonaria data de 1738 e apontava como única justificativa o fato de a Maçonaria perturbar a tranquilidade daquelas monarquias absolutistas que até então existiam. Mas, por muitos anos, esse ataque não ficou restrito ao papel. Apenas para citar um exemplo, e de personagem conhecido em nosso país: Hipólito da Costa, pai da imprensa brasileira, foi um dos presos pela Inquisição pelo “crime” de ser maçom.

No Brasil, durante a segunda metade do século XIX, a Maçonaria também sofreu ataques, período conhecido na história como “Questão Religiosa”. Seu crime: defender a Abolição da Escravatura e a garantia constitucional da liberdade religiosa, tendo, inclusive, apoiado a vinda e pregações dos missionários de diferentes denominações cristãs para o Brasil, como batistas e presbiterianos. Hoje, somos alvo da desinformação de alguns pastores de ramificações destas.

Já no século XX, todo governo autoritário, ciente da bandeira democrática da Maçonaria, a condenou e perseguiu. Foi assim, por exemplo, na Rússia, com o Bolchevismo; na Espanha, com o Franquismo; na Itália, com o Fascismo; e na Alemanha, com o Nazismo, quando milhares de maçons foram presos e executados em campos de concentração alemães. E no Brasil, quando Vargas deu seu golpe de estado e implementou o Estado Novo, em 1937, com o apoio dos Integralistas (versão brasileira dos fascistas e nazistas), uma de suas primeiras ações foi fechar a Maçonaria brasileira com uso de força policial, tendo seus imóveis vandalizados e documentos apreendidos ou destruídos.

E, mesmo assim, a Maçonaria, tanto no Brasil como fora, manteve seu trabalho interno, de educação moral e ética para seus membros; e externo, por meio de suas ações, programas e projetos sociais. Sempre atuando de modo discreto, agregando membros de diferentes cores, religiões, origens e opiniões políticas, e apenas exigindo dos mesmos a crença em Deus e na Imortalidade da alma, visto o ensinamento de sua moral partir desses dois princípios dogmáticos, herança dos pensamentos de filósofos como Rousseau, com sua ideia de religião civil; e de Kant, com seu teísmo moral.

Já em pleno século XXI, vê-se que no Brasil ainda impera um pré-iluminismo, no qual a Teologia do Medo está presente nos debates políticos e nas mensagens compartilhadas em redes sociais; com a confusão Igreja-Estado, da Idade Média, mais viva do que nunca, tornando natural à população a existência de uma “bancada evangélica” no Congresso e de um “padre” ter se candidatado a presidente; com pautas de duzentos anos atrás, como terraplanismo e antivacina, voltando a ter espaço e fôlego; com uma disputa eleitoral, que deveria centrar em pautas como economia, saúde, educação, segurança pública, meio ambiente e relações exteriores, tornando-se uma guerra-santa do bem contra o mal. E assim, se acredita nas narrativas mais absurdas e as passa adiante como uma verdade absoluta, pela simples incompetência de se usar a racionalidade.

E é nesse cenário, de tamanha ignorância, intolerância e fanatismo, e com finalidade explicitamente eleitoreira, que vejo a retomada absurda da discriminação contra maçons e a Maçonaria, com seus mais de duzentos anos de atuação maçônica em solo brasileiro, e uma incontável lista de serviços prestados à sociedade e ao país.  

Bolsonaro não é maçom. Lula também não. Mas Ruy Barbosa era. Assim como Frei Caneca, Luís Gama, Bento Gonçalves, Dom Pedro I, José Bonifácio, Duque de Caxias, Carlos Gomes, Deodoro da Fonseca, Jânio Quadros, Mário Covas e tantos outros brasileiros que moldaram nossa história. Eles optaram por frequentar lojas maçônicas, dedicando um pouco dos seus tempos para forjar o caráter por meio do estudo e do debate. E apenas homens de boa vontade e voltados a causas nobres têm esse desprendimento.

Pare de acreditar nas mentiras que aqueles que não conhecem a Maçonaria, agindo de má fé ou por pura ignorância, contam por aí. Basta desse preconceito cego e equivocado. Faça seu próprio Iluminismo: raciocine por conta própria. E se você for evangélico, em suas orações noturnas, não deixe de agradecer à Maçonaria por oportunizar a consolidação das igrejas evangélicas no Brasil. Hoje você enche a boca para dizer que o Brasil é um país cristão… pois saiba que no século XIX, este era um país católico e quem não era católico tinha direitos limitados, dificuldades para fazer negócios e até mesmo para ser enterrado. E a Maçonaria mudou isso. Não há de quê! Disponha!


Kennyo Ismail

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