SALMO 133 – UMA REFLEXÃO MAIS PROFUNDA


 

No Rito Escocês Antigo e Aceito, praticado pela Grande Loja do Estado de São Paulo – GLESP, não se abre uma loja de Aprendizes sem a invocação do Grande Arquiteto do Universo precedida pela leitura do cântico de Salmo n° 133. Este que, historicamente, faz parte dos salmos de romagem compostos pelo Rei David de Israel e, desde tempos medievais, já era entoado pelas ordens militares de cavalaria, como a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (Templários). Poucos ainda sabem que salmos são canções judaicas para inspirar guerreiros, elevar a mente e o coração ao Eterno Deus, reflexionar sobre erros, e para rejubilar nas vitórias.

A canção nº 133 foi escrita para ser entoada enquanto os cidadãos iam em romaria a Jerusalém ofertar no Tabernáculo. Isso porque no momento da sua composição ainda não havia o templo, que seria anos depois construído pelo Rei Salomão, filho do Rei David. Acredita-se também que era utilizado nas idas ao combate contra os povos vizinhos, pagãos, que desafiavam o exército de Israel. Então o Salmo nº 133 possuí inicialmente uma fundamentação filosófica, quer para a paz ou para a guerra.

Numa segunda análise, podemos dar a característica política deste Salmo. As tribos, ou Estados de Israel eram doze, a saber: Rúben, Simeão, Judá, Zebulão, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim, Levi e José, este último representado por Manassés e Efraim, todos filhos de Israel.

No capítulo 49 de Gênesis lemos a divisão de cada território as cada tribos viriam a ocupar num momento futuro, parcelas ordenadas pelo próprio Israel, anteriormente chamado Jacob, o mesmo que teve o sonho na cidade de Betel, em que uma escada se ascendia para o céu e anjos subiam e desciam, e no topo estava o Eterno Deus.

É evidente que nem todos foram beneficiados com este fracionamento, alguns mais privilegiados pela fartura agrícola, outros por terem acesso ao mar, alguns com regiões totalmente desérticas ou até mesmo sem herança de terra, como no caso da tribo de Levi. Então é natural que houvesse discórdias entre estes irmãos, e o Rei David para manter a nação unida e pronta para combates de guerra, compõe o Salmo 133 orquestrando a união dos irmãos e o quão bela ela é.

Em terceira análise observamos a continuação da canção, rezando que a união é como um óleo de unção. É bem sabido que a unção por meio de óleo era o meio de dignificar a bênção. O óleo de nardo que era preciosamente utilizado em altas cerimónias, nos dias de Jesus Cristo custava 300 moedas de prata, isto é, 300 dias de salário de um trabalhador comum. Então comparar a união dos irmãos a um óleo é dizer que a união e concórdia vale em muito o esforço.

O óleo descer sobre a barba e as franjas das vestes de Aarão é mais precioso ainda, a barba é símbolo de sabedoria e autoridade, e as franjas das vestes é o eterno lembrete da obediência das normas divinas, vale lembrar que o Rei de Israel, neste caso David, era o escolhido pelo Eterno Deus para reinar, o seu representante imediato, portanto, o rei incentivar a união das tribos era sinónimo de ordem suprema. A união é uma bênção que vem do Eterno Deus. Mais uma vez observamos um novo fundamento, o espiritual do Salmo n° 133.

Por fim, em quarta análise a união é colocada como dependência para a vida. O orvalho do Hermon que desce para os montes de Sião. O Monte Hermon está há mais de 200km de distância de Sião, hoje conhecida como Jerusalém. O Hermon fica quase permanentemente coberto de neve e gelo. Os montes de Sião são naturalmente desérticos, áridos. Mas em determinados momentos, principalmente nas madrugadas, o Hermon faz descer um orvalho para os vales que chegam a Jerusalém, umedecendo a terra e tornando-a fértil, além do seu degelo alimentar o Rio Jordão e o Mar da Galileia. Então toda a região dos montes de Sião é beneficiada por essa provisão. É a união com o Hermon que faz Sião produzir bons frutos e preservar a vida. Em última fundamentação, a geográfica do Salmo nº 133.

Se os irmãos estiverem unidos eles receberão o que finaliza a canção: “ali o Senhor ordena a bênção e vida para sempre”. Que nas nossas lojas possamos aplicar não somente durante as sessões os fundamentos deste belíssimo salmo, mas no nosso quotidiano, pois quer em loja ou fora de loja, toda a humanidade é irmanada e precisa ser fraterna.

Que assim seja!

Autor: Renan Williams Soglia Moore

*Renan é MM – ARLS Fronteira Paulista n.º 448 / Or de Bragança Paulista – SP; Cap Visconde de Mauá dos Maçons do Arco Real n.º 9 / Or de São Paulo – SP

 

 

QUE A NOSSA AUSÊNCIA NÃO PREENCHA UMA LACUNA!


 

“As redes sociais são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.” (Zygmunt Bauman)

Com o benefício da visão retrospectiva, temos ainda fresco na memória o cenário em que o trato entre os irmãos se dava, notadamente, em ágapes e eventos de confraternização maçônica. Agora, com as viciantes e infernais redes sociais tornando-se uma unanimidade e invadindo a privacidade, as formas de comunicação e manifestações ampliaram-se exponencialmente. Participamos de vários grupos de bate-papos e as interações são palpitantes e, por vezes, carregadas de contratempos e desencontros.

Em nossa Ordem demorou menos do que pensávamos; sorrateiramente instalou-se a controvérsia ideológica e as trocas de farpas. Nos grupos de WhatsApp é recorrente manifestações de irmãos que afirmam ser melhor calar para que a estupidez não se ofenda. Haja chatice e mimimi, mesmo com as reiteradas divulgações de regras de etiqueta e de convivência em redes sociais, incansavelmente direcionadas pelos administradores aos mais renitentes, até utilizando o recurso de elogiar a verve dos hiperativos juramentados, na tentativa de atingir a tão sonhada harmonia.

Os combativos e viciados em disputas de opinião (os irascíveis de sempre), dia sim, dia também, querem firmar suas posições amparados em sofisticada retórica, discordando de tudo e de todos, fazendo julgamentos destrutivos de argumentos dos quais não concordam, assumindo postura de deterem o monopólio da razão e o malhete da censura, acreditando que a liberdade de expressão é um direito só deles, julgando-se do lado certo da história e, quando confrontados, ameaçam deixar o grupo denotando melindres, falta de empatia e, de plano, ainda depreciam os discordantes. Eventualmente, para alívio geral, cumprem o prometido, e a ausência deles preenche uma lacuna, como diz o famoso trocadilho da citação de Stanislaw Ponte Preta:

“Há sujeitos tão inábeis que sua ausência preenche uma lacuna.”

Porém, como sói acontecer, reiteradamente esses adictos protagonistas não resistem mais do que um ou dois dias e voltam rapidamente utilizando-se do link de acesso do aplicativo, alegando que “um irmão importante e influente” ou o próprio Venerável ligou derramando afagos convencendo-o a retornar, pois o desafortunado faz muita falta no grupo, em face de seu elevado nível cultural e notória sabedoria, estas raramente demonstradas em Loja, mediante apresentação de trabalhos consistentes. Tréguas e conflitos alternam-se, basta nova postagem provocativa e capítulos inéditos da série “não vale a pena ver de novo” voltam à ribalta.

Nos grupos, em geral, parte dos membros adota a locução latina: audi, vide, tace, si vis vivere in pace. Outros tantos permanecem apenas como espiões, para ficarem sempre bem-informados, poucos torcendo para que o circo pegue fogo e o palhaço saia chamuscado. E é o que ocorre naturalmente, para o infortúnio de muitos e o deleite de alguns. Aconselham os especialistas que o ideal é manter as notificações silenciadas em determinados grupos. E se não gostar da postagem, utilize o recurso de “apagar para mim”, que dizem ser melhor do que ficar ruminando o conteúdo. Tal estratégia é utilizada por vários administradores atentos que excluem, em tempo, as postagens inoportunas (“apagar para todos”), até mesmo alertando, suspendendo ou excluindo os recalcitrantes. A alternativa “limpar conversa” é deveras libertadora.

Quem nunca pode constatar nos grupos de WhatsApp e em variados encontros por videoconferência a situação de irmãos sendo elogiados por trabalhos ou palestras e a reação daqueles que se sentem desconfortáveis e saem à francesa, às vezes deixando no Chat ou no Grupo manifestações de desagrado por não concordarem com algumas afirmações apresentadas ou respostas que não os satisfizeram na integralidade? Perdem a oportunidade de defender seus argumentos democraticamente. Em contrapartida, a Loja desses luminares segue o destino traçado por Lewis Carroll no qual, quanto mais Alice caminha, mais longe fica do seu destino. No caso vertente, as Lojas andam para trás ou com o freio de mão puxado.

Essa avaliação pode estar errada? Claro que sim! Os universos individuais compõem-se de diferentes repertórios e as intenções nem sempre são bem captadas, mas as bolhas se autoalimentam de uma forma ou de outra. Como adiantam os profetas do óbvio, as consequências vêm depois.

Na realidade, nos fóruns de debates, os discordantes tentam desacreditar todo o processo e, em muitas oportunidades, os idealistas “pagam o pato”. A percepção geral é de que o bom senso em torno de ideias e ideais comuns, outrora construídos com sacrifícios pelos irmãos que nos antecederam, estão fora de moda e vem sendo bloqueados como fruto de intolerâncias e ressentimentos, levando à insatisfação e à desmotivação em nossas Lojas e grupos.

No ensejo, fica um clamor aos chatos de galocha: avaliem a possibilidade de tirar o cavalo da chuva e pregar em outra freguesia! Só que não, pois, caso permaneçam, saibam que são amados mesmo sugando as energias do grupo, pois os irmãos têm saco de filó reforçado pela Maçonaria que prega há mais de 300 anos a prática da tolerância e do espírito fraternal com inspiração no Salmo 133. Mas, lembrem-se da Regra 34 dos Beneditinos:

“É proibido resmungar! Não é proibido discutir, debater, discordar. É proibido resmungar. Resmunga aquele que em vez de acender uma vela, amaldiçoa a escuridão.”

Autor: Márcio dos Santos Gomes

 

RITUAIS E RITOS


 

Existem diferentes rituais, praticados por diferentes ritos maçônicos. Logo desde início, desde a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa, isso se verificou.

As Lojas que se agruparam na primeira Grande Loja de Londres, que vieram a serem designados por Modernos e influenciadas pelos intelectuais que tinham sido aceitos nas Lojas operativas (os Maçons Aceitos) e os que se lhes seguiram, praticavam um ritual deísta, em que a referência ao Grande Arquiteto do Universo é formulada de tal forma que qualquer crente, independentemente da religião que professe, se pode rever no conceito.

A breve trecho se verificou existir em Inglaterra uma outra corrente, baseada nos maçons operativos e na zona de York, os Antigos, que praticavam um ritual teísta, mais influenciado pela tradição religiosa cristã. Essas duas correntes vieram mais tarde a fundir-se na atual Grande Loja Unida de Inglaterra, na sequência de negociações mediadas e dirigidas pelo Duque de Sussex, dessa fusão resultando um novo ritual, em que prevaleceu a tendência deísta.

Partindo dos primitivos rituais ingleses, ao longo do tempo e do espaço, novos rituais foram criados. A base é sempre a mesma: os princípios fundamentais maçónicos e a inclusão de alegorias e referências simbólicas, como base para o trabalho individual de cada maçom.

A tensão inicial também, curiosamente, persiste: uns rituais são claramente deístas e inclusivos de elementos de todas as religiões e até sem religião definida, desde que crentes num Criador; outros sofrem manifestamente de visíveis influências crísticas, sendo claramente mais confortáveis para os praticantes da tradição religiosa cristã.

Referir os ritos e rituais existentes levará seguramente a pecar por defeito, por esquecimento ou ignorância de rituais extintos, localizados ou raros. Mas, mesmo com caráter exemplificativo e recorrendo apenas à memória, é possível indicar vários: o Rito de York, o Rito de Webb (variante americana do Rito de York), o Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito Escocês Retificado (rito muito praticado na Suíça, na Grande Loja Suíça Alpina, e com características crísticas marcadas), o Rito Francês ou Moderno, o Rito Sueco e as suas variantes nos países nórdicos, etc.

Em cada Grande Loja pode praticar-se um ou mais ritos. Por exemplo, nas Grandes Lojas dos Estados Unidos, pratica-se, nos três graus da Maçonaria Azul – Aprendiz, Companheiro e Mestre, exclusivamente um rito, a variante americana do Rito de York, também conhecida por Rito de Webb. Existe apenas uma exceção: na Grande Loja da Luisiana persistem, desde os tempos das Lojas existentes quando a Louisiana era francesa, algumas poucas Lojas, menos de uma dúzia, que praticam nos três primeiros graus o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Nos Estados Unidos designam essas Lojas por Maçonaria Vermelha, em alusão à cor dos aventais própria do rito. Só nos Altos Graus se verifica existirem dois sistemas principais, os Altos Graus do Rito de York, referidos por York Rite, e os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, referidos por Scottish Rite.

Em Portugal, na GLLP/GLRP, praticam-se os Ritos Escocês Antigo e Aceite, o Rito Escocês Retificado e o Rito de York.

Não obstante a forte presença do Rito de York e suas variantes no mundo anglo-saxônico, pode dizer-se, sem receio de erro, que o rito maçônico mais popular e mais espalhado pelo Globo, particularmente nos países latinos e latino-americanos, é o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Trata-se de um rito elaborado mais tarde que os ritos originais ingleses, já na fase de expansão geográfica da Maçonaria e com algumas influências do Romantismo. É um rito com um ritual particularmente impressivo e desenvolvido, algo extenso, que dá prazer executar bem e que, quando bem executado, impressiona quem a ele assiste e participa, quer pelo seu texto, quer pela sua forma de execução.

A Loja Mestre Affonso Domingues pratica e sempre praticou o Rito Escocês Antigo e Aceito.

In Blog “A Partir Pedra” – texto de Rui Bandeira (24.07.2008)

 

O QUE A MAÇONARIA FEZ POR MIM?


 

Que cada irmão que ouvir a pergunta responda por si mesmo. Mas que ele responda com cuidado e com um pensamento lento; não apressadamente e descuidadamente.

A maioria dos irmãos dará uma resposta mais ou menos como a seguinte:

“A Maçonaria deu-me doçura na minha vida; a doçura da fraternidade, o sentimento de união com os meus companheiros. No seu abrigo fiz muitos amigos; amigos que não teria, ou não poderia ter feito de outra forma. Recebi deles aquele sorriso alegre, aquela palavra de ajuda, que tornou suaves os lugares difíceis no caminho da vida; recebi deles o encorajamento, o ânimo, a coragem, que tornaram a batalha mais fácil de vencer.

“A Maçonaria deu-me o Laço Místico; o laço que nenhum homem pode pôr em palavras, mas que une tanto mais quanto é intangível. Laços de seda são as correntes da Maçonaria; no entanto, nenhum de aço poderia segurar tão firmemente ou usar tão suavemente. No Laço Místico, que tenho o privilégio de renovar em torno do Altar Sagrado da minha Loja tantas vezes quantas quiser, encontro o perfume da vida, as cores encantadoras do amor do homem pelo homem, e o toque suave de uma mão amiga, do que não há nada mais suave em toda a existência.

“A Maçonaria deu-me educação; ensinou-me que há uma recompensa maior para o altruísmo do que para a busca do egoísmo, que há um alto salário a ser ganho por um bom trabalho, um trabalho verdadeiro, um trabalho honesto feito por amor ao trabalho e não por amor ao salário. Isto me deu a oportunidade de conhecer o objetivo elevado, a aspiração elevada, o patriotismo, a luta para subir através da lama do desânimo com os olhos sempre fixos na estrela; isto deu-me inspiração”.

Muitos irmãos podem falar do que a Maçonaria fez por eles em termos do mundo prático do dia a dia; da nota endossada; do fundo dado; da viagem organizada; dos doentes visitados; das flores recebidas; dos entes queridos confortados na dor. Mas para cada homem que teve a ajuda material, mil tiveram os dons espirituais da Maçonaria, e a maioria de nós, agradeçamos a Deus, não teve de pedir, ou receber, nem mesmo a bela caridade da fraternidade. Sendo tudo isto assim … e que aquele que acha que é falso se levante agora no seu lugar e negue, se puder, que a Maçonaria o tenha beneficiado assim … é justo e honesto que seja dada uma resposta tão verdadeira como esta à pergunta: “Que fiz eu pela Maçonaria?”

Haverá quem responda a si próprio: “Servi como Oficial. Conferi graus. Suportei o calor e o fardo do dia”. Esses são os afortunados, pois receberam mais e deram mais. Mas a grande maioria de nós não pode responder assim, pois há poucos oficiais em proporção ao número de membros.

Então, pergunta de novo, meu irmão, tu que nunca serviste numa função oficial, “O que é que eu fiz pela Maçonaria que tanto fez por mim?”

Não, meu irmão, não precisas de te envergonhar se o catálogo dos teus serviços for curto e pequeno. Pois sempre haverá aqueles que são apenas o pano de fundo; que tomam sem dar; que recebem sem esforço a generosidade de seus irmãos que aprenderam a grande lição de que dar é receber; que dar é ter retorno, sim, cem vezes maior.

No entanto, haverá muitos que ouvem a pergunta e a respondem para si mesmos, e ficam envergonhados; e esses vão querer saber: “O que é que eu posso fazer pela Maçonaria? Eu pagaria a minha dívida; eu também estaria nas fileiras daqueles que dão, assim como recebem.”

A Ordem não é uma coisa; não é uma organização, um sistema de homens e oficiais; de Lojas e Grandes Lojas. A organização, o sistema, os homens, os oficiais, as Grandes Lojas são apenas o veículo através do qual a Maçonaria se exprime.

Um homem pode ser o único habitante de uma terra solitária, onde não há nenhum irmão, nenhuma Loja, nenhuma Grande Loja, nenhuma quota, nenhum trabalho maçónico para fazer e ainda assim levar a Maçonaria no seu coração.

E se houvesse dois nessa terra solitária, a Maçonaria poderia encontrar uma forma de se expressar. Porque a Maçonaria é moeda do coração, e por isso só pode ser paga ao coração. O que podes fazer pela Maçonaria é, então, em grande parte, o que podes fazer pelo teu próprio coração e pelo coração do teu irmão.

É consensual entre nós que aquele que serve a estrutura também serve o espírito da Maçonaria; que o irmão que trabalha no seu Templo material, que serve a sua Loja, que atua nos comitês, que proporciona entretenimento, que ladrilha, varre, faz o fogo e enche as lâmpadas serve verdadeiramente e serve bem. Mas, quando todo o trabalho físico é feito, ainda há muito a fazer; e, quando todos os já fizeram o trabalho, ainda há um projeto no cavalete.

Portanto, meu irmão, responde com o coração, não com os músculos, a carteira, a voz ou o tempo passado a frequentar a Loja: “O que é que eu fiz pela Maçonaria?”

Se toda a Maçonaria estivesse no coração de dez irmãos; e noventa e um por cento dela estivesse num coração, e cada um dos outros nove tivesse apenas um por cento; seriam os dez Maçons felizes, bem-sucedidos e bem pagos? Não seriam. Mas à medida que cada um dos nove crescesse em conhecimento e na prática da Maçonaria, ele beneficiaria não só a si próprio, mas também a todos os outros. E quando todos os dez soubessem tudo e praticassem todas as artes gentis da Maçonaria, certamente esses dez formariam uma Loja feliz!

Esta pequena ilustração caseira tem a intenção de trazer para casa, para aquele que a ouve com os ouvidos da sua mente, o facto de que a Maçonaria é melhor, como cada um de nós que a professa, a prática.

Nenhum homem pode fazer de “si próprio” um melhor Maçom e não beneficiar os seus irmãos. Assim, àquele que pergunta com toda a humildade: “Não tenho feito muito, mostra-me como posso fazer mais”, a resposta é: “Primeiro, fazendo de ti um melhor Maçom”.

Ser “um melhor Maçom” significa, antes de mais, saber algo sobre a Maçonaria. Haverá quem ouça esta mensagem e saiba muito de Maçonaria. Que respondam por si próprios, se acham que sabem o suficiente! Mas a grande maioria de nós contenta-se em saber que há uma história maravilhosa para ser lida “Um dia”. Quem é que realmente seria capaz de fazer algo pela Maçonaria, se fizer isso “Agora”.

De onde veio a Maçonaria? Como é que ela chegou a um mundo cansado? Qual tem sido a sua história? Quais são as suas realizações? O que é que ela fez para se justificar? Quais são as suas leis, os seus Antigos Preceitos, os seus Landmarks? O que é que a Maçonaria fez na criação deste nosso governo? O que é que a Maçonaria tem a ver com as Estrelas e Riscas, e as estrelas brancas no azul celeste? O que é que os símbolos da Maçonaria ensinam? Porque é que temos três graus, e como é que eles surgiram? Como é que a Palavra se perdeu, e será que aquilo que se perdeu alguma vez será encontrado?

Responde, tu que perguntas, “O que devo fazer pela Maçonaria”, e se não podes, então informa-te para que a Maçonaria possa ter mais um recruta que saiba algo da sua gloriosa história, do seu propósito e dos seus mistérios.

Mas não basta saber algo da Maçonaria. Quem quiser ajudar realmente a Maçonaria deve não só conhecê-la, mas “Vivê-la”. Pergunta-te mais uma vez, meu irmão, e responde, embora só tu o possas ouvir: “O que é que eu faço todos os dias que seja maçónico; como é que eu uso a minha Maçonaria na minha vida diária?”

Pois aí está o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim da Maçonaria; a mais maravilhosa das filosofias, a mais Divina das verdades, a mais sublime das concepções, o mais erudito dos ensinamentos que são tão ineficazes como uma chuva de Verão para apagar um fogo furioso, “Se Não Forem Vividos!”

Todos nós somos humanos, e todos nós, portanto, lutamos contra os mesmos inimigos. Todos nós temos dentro de nós algo para subjugar, bem como algo que subjuga. Como Maçons, somos ensinados que viemos aqui para subjugar as nossas paixões e melhorarmo-nos na Maçonaria; só conseguimos a primeira coisa se formos bem-sucedidos na segunda. “Paixões”, meu irmão, não significa apenas raiva ou luxúria.

A paixão do egoísmo, a paixão do interesse próprio, a paixão da avareza, do engano, da falta de vizinhança, da crueldade, do descuido; estes, bem como todos os outros inimigos contra os quais o espírito do homem luta, devem ser subjugados e conquistados; mais facilmente se trouxermos as fileiras de combate dos ensinamentos militantes da Maçonaria para os enfrentar.

Isto não pretende ser uma pregação, meu irmão; isto é apenas uma humilde tentativa de responder à pergunta que deves fazer a ti próprio, sobre como podes ajudar a Ordem. Podes ajudá-la ajudando-te a ti próprio; ajudando a tua família, ajudando o teu vizinho e os teus amigos; e tudo isto podes fazer fazendo da Maçonaria a regra e o guia da tua vida diária, tal como fazes do Livro sobre o Altar a Regra e o Guia da tua Fé e Vida.

Não basta apenas ser honesto. A honestidade de um Maçom nunca é posta em causa. Tal como a luz do sol, é um dado adquirido. Não basta ser justo. A justiça é uma concepção do homem. A misericórdia é Deus, e a Maçonaria ensina-a. Não basta ter amigos. Um bom Maçom deve ser um melhor amigo do que espera que qualquer homem lhe faça. Pois está escrito: “Dai, e ser-vos-á dado”.

Há lugar para a Maçonaria em cada negócio, em cada ato de cada dia. Há lugar para o sorriso da Maçonaria em cada saudação e em cada beijo. Há uma oportunidade para o coração gentil da Maçonaria em cada toque de mão a uma criança, ou palavra dita aos fracos e desamparados. Há uma bênção da Maçonaria a ser dada ao doente e ao infeliz, e uma bênção da Maçonaria a ser oferecida ao pecador e ao errante.

A Maçonaria é a mais gloriosa herança; a mais sublime das concepções do coração … e eles perguntam, estes irmãos, o que podem fazer por ela! Podem levá-la para as suas almas; podem vivê-la nas suas vidas, podem exprimi-la em todos os seus atos, e fazer dela não um grito da voz do homem para a Divindade, mas uma canção do seu coração … para Deus!

Tradução de Antônio Jorge, M M

Fonte

Short Talk Bulletin Index – Vol. III nº 5 – maio 1925

 

A MAÇONARIA E O IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS


 

“Ninguém tachou de má a caixa de Pandora por lhe ter ficado a esperança no fundo. Em algum lugar há de ela ficar”

(Machado de Assis)

Até então estávamos acostumados com o conceito tradicional de inteligência, no sentido da capacidade de conhecer, compreender e aprender, adaptando-nos às novas realidades. Gradativamente, um conjunto de tecnologias capaz de gerar outras tecnologias, novas metodologias e aplicações chegou ao mercado, com reflexos em todas as áreas, com potencial maior que outras inovações, como a assustadora capacidade de uma máquina apreender e reproduzir competências semelhantes às humanas, como o raciocínio, o planeamento e a criatividade, cujo impacto já enseja discussões sobre a criação de um padrão global de regulação dessa chamada “inteligência artificial”.

Sabe-se desde antanho que a única coisa constante na vida é a mudança. Só que estas estão surgindo em ondas cada vez mais rápidas. Modismos da tecnologia, que é o resultado do conhecimento acumulado, passaram a dominar o noticiário recente, em especial a inteligência artificial generativa (ChatGPT), especulando-se como todas as novidades poderiam afetar o mundo, resvalando para uma ruptura em tarefas até então exclusivas do ser humano.

Esta nova fase da computação permitiu a passagem do modo de extração de dados e posterior exame para a etapa generativa, com as conclusões sendo alcançadas de bate-pronto. Por ora, ainda temos preservada a nossa capacidade de escolher, questionar, e de ter um pensamento crítico. Mas, até quando?

Naturalmente, mesmo com tantos festejos envolvendo o potencial para o desenvolvimento social e económico global, a desconfiança foi despertada e perspectivas alarmistas foram criadas. Nova caixa de Pandora teria sido aberta.

Estudo da Universidade da Pensilvânia e da OpenAI indica as profissões mais expostas ao avanço da Inteligência Artificial [1]. Reportagem da CNN mostra impacto da IA no futuro do trabalho [2].

Os desafios para os direitos humanos e a ética são enormes e constam de discussão em vários contextos, em especial sobre a questionável neutralidade das tecnologias que estão sendo implantadas e “servem a um propósito político e/ou económico maior que a simples ideia de eficiência e liberdade promovida por quem as cria”.

Num primeiro momento as pesquisas sobre o impacto da IA apontam prognósticos de quais e quantas profissões seriam afetadas e a maior preocupação no sentido de que tais tecnologias pudessem adquirir uma espécie de consciência e os cenários até então somente vistos em obras de ficção científica ameaçando a nossa existência. Ademais, alertas de que a IA acelere a desinformação em ritmo alucinante desperta a necessidade de estudos sobre os sistemas de governança e impactos na segurança e na educação.

A tensão em torno do assunto está atingindo governos mundo afora. União Europeia, EUA e China disputam entre si para dar o cunho de como a IA será regulamentada. Parlamentares da União Europeia estão finalizando processo de aprovação do Regulamento da IA, que estabelece obrigações com base nos seus potenciais riscos e nível de impacto, de forma a garantir a segurança e o respeito dos direitos fundamentais, impulsionando simultaneamente a inovação [3]. No Brasil, encontra-se em tramitação no Senado o Projeto de Lei Nº 2338, de 2023, que dispõe sobre o uso da Inteligência Artificial [4].

Até bem pouco tempo, o Metaverso [5], uma mescla de mundo virtual imersivo e real habitado por avatares 3D, com reflexos nas maneiras como pessoas interagem, estudam e trabalham, era visto como uma perspectiva ainda de longo prazo e os avanços nesse segmento de realidade virtual e aumentada por ora está restrita às plataformas de jogos.

Empresas arrefeceram o interesse em criar os seus ambientes no Metaverso, mas a tecnologia continua sendo construída. Ensaios no âmbito da Maçonaria já estão sendo modulados numa “Loja Conceito”, conforme apresentado em uma live da GLOMARON, apenas como exercício de futurologia e aprimoramento de técnicas. Nada que possa pautar, por ora, o nosso dia a dia.

No mundo dos negócios, o darwinismo corporativo, ou seja, a capacidade de adaptação a estas mudanças e às novas necessidades dos consumidores passou a constar da ordem do dia como única alternativa de manutenção da competitividade e conceito de valor, com o incremento da aprendizagem, habilidade e expertise das equipes, actualização e utilização dos conhecimentos dentro de uma organização e sintonia fina no processo decisório.

Há um ditado popular que afirma “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe”, então, conjecturar sobre o futuro é sempre tendencioso, certamente podendo descambar para exageros, mas é inevitável não especular a respeito de possíveis cenários. Há um provérbio árabe que afirma: “aquele que fala sobre o futuro mente mesmo quando diz a verdade”.

Entretanto, com os gigantes GAFAM, acrónimo da Web para Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft e assemelhados no comando do mercado digital, as tecnologias disruptivas irão certamente alterar as medidas de segurança e estabelecer maiores controles sociais num cenário orweliano.

É de conhecimento geral que crises demandam mudanças e adiantam o futuro. De uma forma ou de outra, estaremos mais conectados e ao mesmo tempo mais isolados. Hábitos já estão sendo mudados e inúmeros sectores da vida em geral sentem os seus efeitos, notadamente no sistema de ensino que passou a adoptar meios híbridos com incorporação de tecnologia envolvendo instrumentos de conteúdo presencial e digital. Notícia de que a Secretaria de Educação de São Paulo planeia produzir todo o material didático da rede estadual com inteligência artificial já causa acalorados debates [6].

Atualmente, o trabalho remoto é uma realidade e começa a ser incentivado por uma série de razões práticas expostas pela pandemia da Covid-19. Todos os ramos de atividades hoje trabalham com cenários alternativos. Pelo que podemos especular por ora, o porvir será vivido por trás de uma tela. E por isso fica a pergunta: a realidade será mesmo virtual? Quais os desafios para a Maçonaria frente a estas novas tecnologias e demandas da sociedade?

De plano, o publicitário Nizan Guanaes [7] oferece-nos um aperitivo da resposta sobre o futuro que está acontecendo agora: “Você está preparado para ler o Apocalipse? Aquilo é o futuro. É São João dizendo que da barriga de uma máquina sairá a resposta (Google) e que os homens falarão com as mãos (WhatsApp)”. E dá uma dica:

“O futuro não faz sentido, e não tem jeito de prevê-lo. Só é possível construi-lo”.

Então, para a Maçonaria o desafio do avanço constante das novas tecnologias é o mesmo cenário que se apresenta para a evolução humana, ou seja, o de sempre caminhar para frente. O mundo não vai parar e esperar pelas decisões dos gestores da Ordem ou adaptar-se às suas necessidades.

As redes sociais vieram para ficar e as suas ferramentas de comunicação digital, como o uso de aplicativos e demais mecanismos, oferecem o ritmo de todos os processos, tornando-os mais ágeis e efetivos. Mesmo para os governantes, à medida que a economia se torna mais complexa, as adaptações são inevitáveis e inadiáveis.

Antes de continuar elaborando este artigo, não resistimos e pedimos ao ChatGPT [8], em 14.05.2024, que escrevesse dois parágrafos sobre o futuro da Maçonaria em virtude das novas tecnologias. Eis a resposta:

Com o avanço das novas tecnologias, a Maçonaria está enfrentando um período de adaptação e reinvenção. Embora os princípios fundamentais da fraternidade e da busca pela verdade permaneçam inabaláveis, as ferramentas digitais estão sendo integradas de maneira inovadora. Plataformas online estão facilitando a comunicação entre os membros, permitindo o compartilhamento de conhecimento e experiências de forma mais rápida e abrangente, transcendendo fronteiras geográficas e culturais. Além disso, a utilização de realidade virtual e aumentada está redefinindo as práticas rituais, proporcionando experiências imersivas e enriquecedoras que conectam os membros de maneiras antes inimagináveis.
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No entanto, apesar destes avanços tecnológicos, a Maçonaria continua a valorizar a importância do contato humano e da presença física. A tecnologia está sendo incorporada de forma complementar, visando aprimorar, mas não substituir, as tradições e rituais que são a base da fraternidade maçónica.

O futuro da Maçonaria, portanto, parece ser uma síntese habilidosa entre o antigo e o novo, onde a sabedoria ancestral se une à inovação moderna para fortalecer ainda mais os laços fraternais e promover o desenvolvimento pessoal e espiritual dos seus membros.

De volta à linha do tempo, num primeiro momento, como consequência da Covid-19, a Maçonaria saiu-se muito bem ao adaptar-se de forma apressada, no que foi possível e onde a cultura era mais receptiva, com a adopção das reuniões por videoconferência, de caráter administrativo ou de estudos e palestras, assegurando a gestão do conhecimento maçónico sem descurar da preservação dos Arcanos da Ordem, como a ritualística que somente dever ser praticada em Loja.

Prevenindo-se de um possível colapso da estrutura de sustentação da Ordem na superação inicial das restrições impostas pela pandemia, a Maçonaria passou a experimentar novos tempos e novas formas de reunião à distância, ensejando uma troca de experiências e de compartilhamento da cultura maçônica numa abrangência até então jamais imaginada. Ainda há resistências a estas novidades.

Em cenário mais crítico, a tecnologia passou a ser um forte aliado na preservação das tradições e fortalecimento da união entre os obreiros.

Atualmente, a solução até então “provisória” parece ter caído no gosto geral mesmo com o retorno “normal” das sessões presenciais. Certamente este período será lembrado no futuro como uma nova transição na Maçonaria, pois novos hábitos foram incorporados. Impossível deixar de citar Vítor Hugo (1802-1885): “O futuro têm muitos nomes: para os incapazes o inalcançável, para os medrosos o desconhecido, para os valentes a oportunidade” [9].

Porém, no quesito funcionamento das Lojas no pós pandemia, já temos relatos de que muitos irmãos idosos e do grupo de risco não estão retornando, evidenciando-se necessidade de revisão do plano de gestão de cada uma das Lojas, talvez com a realização de reuniões híbridas, consideradas as particularidades e as adaptações necessárias. De longa data, sabe-se que gestão é a solução e a tecnologia não poderá ser desdenhada na administração das Lojas, sabendo-se que daqui a um ano teremos outras ferramentas do tipo hoje inimagináveis.

Outra realidade que passa a ser analisada é aquela ligada ao envelhecimento do quadro de obreiros e possíveis impactos do protagonismo da geração ‘Z’ [10], compreendendo pessoas nascidas a partir de meados dos anos de 1990, e das novas denominações que se seguem, consideradas totalmente digitais, e que demonstram valores profundamente diferentes, com demandas sociais e ambientais específicas e maior capacidade de reinventar a forma como trabalhar e solucionar problemas, comunicar-se e reunir-se, impondo diferentes hábitos de vida e de consumo, com apoio a modelos económicos alternativos e desenvolvimento sustentável.

Cabem aos dirigentes atuais ter em mente que estes jovens encaram a diversidade de raça e de género de uma forma natural e essencial na sociedade e enxergam além do que parece ditar o momento, ensejando, em certas situações, ausência de orientação ideológica clara, resistência a rótulos, certa alienação e distância de religião, partidos políticos, e quem sabe, por desconhecimento, até da Maçonaria. Têm o perfil flexível, adaptável e criatividade como habilidade principal, aliando tecnologia e aprendizagem. Algumas destas posturas vão de encontro ao pensamento do quadro de maçons mais idosos.

Sabendo-se que é neste celeiro de novas cabeças que a Maçonaria deverá depositar as suas esperanças e garimpar os seus futuros obreiros, a questão é: como atrai-los? E ainda, se estamos preparados para recrutá-los e recebê-los nas nossas Oficinas. Este ainda é um desafio a ser vencido antes de encararmos o cenário das novas tecnologias. Precisamos repensar abordagens e estratégias, agir com sabedoria e dar um upgrade na nossa criatividade.

Argumenta-se que na atualidade haveria na Maçonaria um conflito geracional, com o desgastado discurso de que os mais jovens naturalmente rejeitam as tradições e o que é antigo, desejando o novo e a promoção de mudanças, transformações por vezes geradoras de conflitos. Pesquisas no mundo corporativo revelam que o fator idade não é determinante para indicar competência ou a sua falta. Quando bem administrado, o choque de gerações pode ser positivo, notadamente pelo intercâmbio de conhecimentos. Há que se focar no equilíbrio e conciliação, tendo como escopo os princípios fundamentais da Maçonaria.

Ademais, não existe uma geração melhor que outra, sabendo-se que atitudes, mentalidades abertas e flexíveis compõem os requisitos para superação de adversidades. O importante é não se acomodar e ficar atento às inovações. Com a nova geração de Aprendizes e Companheiros, numa espécie de mentoria reversa, do tipo colaborativa, facilita-se sobremaneira o intercâmbio de conhecimentos e percepções.

Mais uma vez, tudo depende de gestão e que nos recorda um aforismo de François Rabelais: “conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”. A visão de futuro deverá levar em conta que a geração atual de maçons recebeu um legado deixado por revolucionários. E o que vai ser deixado para as próximas gerações? Não podemos ser os COVEIROS da Maçonaria.

É sempre oportuno destacar o ensinamento de HILL (2014): “Quando você fala de líderes que são bem-sucedidos porque ‘sabem escolher homens’, você pode mais corretamente dizer que eles são bem-sucedidos porque sabem como associar mentes que se harmonizam naturalmente.

Saber como escolher pessoas de forma bem-sucedida, para qualquer objetivo definido na vida, é uma habilidade desenvolvida para reconhecer os tipos de pessoas cujas mentes naturalmente se harmonizam”. Este contexto merece uma reflexão mais profunda por parte dos nossos Mestres, pois são eles que recrutam os novos membros e nesses potenciais candidatos já deve ser detectado esse espírito de liderança para que sejam aperfeiçoados na Ordem.

Infelizmente, no momento em que a narrativa atinge o seu clímax e o desfecho torna-se inadiável, tais cogitações caem por terra e tornam-se desimportantes frente a outras situações que faceamos no dia a dia da vida profana, como abalo e o sentimento de solidariedade que tomou conta de todos nós em face da recente catástrofe climática sem precedentes que assolou o estado do Rio Grande do Sul, culminando em milhares de desabrigados e mais de uma centena e meia de mortes, casas, lojas, escritórios, indústrias, hospitais, escolas, vias de acesso, rebanhos, plantações e municípios inteiros completamente destruídos, além de caos nas comunicações, sector eléctrico, fornecimento de água e transporte público.

É notório que a sociedade em geral, inclusive outros países e entidades multilaterais de crédito, e os órgãos governamentais estão mobilizados para encaminhar as urgentes soluções para esse mega desastre e a Maçonaria, por intermédio das suas Lojas em todo o país, está direcionando ações de ajuda humanitária, com o indispensável apoio das entidades para-maçônicas [11].

De facto, um desafio premente e uma realidade inquietante! Entretanto, a maçonaria, como instituição, não pode ficar à margem das inovações tecnológicas, sob pena de acordar do lado de fora de um novo mundo em construção pela digitalização e pela Inteligência Artificial, a nova eletricidade ou fogo que está reestruturando tudo em torno dela. Estabilidade e previsibilidade estão fora de cogitação; o panorama é dinâmico e complexo em todos os sentidos.

“O mais belo futuro que poderia ser oferecido à Franco-Maçonaria seria que ela desaparecesse por não ter mais razão de ser, pois isto significaria, então, dizer que todos os seres humanos responderam sem restrição alguma ao ideal de Fraternidade e de Tolerância, vivendo em ‘Fé, Esperança e Caridade’, e que o Templo simbólico da Humanidade estaria terminado.”

(Michel Cugnet, apud Ferrer-Benimeli, 2007, p.666).

Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçónica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

Notas

[1] https://www.telesintese.com.br/ia-deve-impactar-as-funcoes-de-80-dos-trabalhadores-nos-eua/. Acesso em 13.05.24.

[2] https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/pesquisa-mostra-impacto-da-inteligencia-artificial-no-futuro-do-trabalho/. idem

[3] https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-room/20240308IPR19015/regulamento-inteligencia-artificial-parlamento-aprova-legislacao-historica. Acesso em 13.05.2024.

[4] https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=9347622&ts=1702407086098&disposition=inline#:~:text=1%C2%BA%20Esta%20Lei%20estabelece%20normas,benef%C3%ADcio%20da%20pessoa%20humana%2C%20do. Acesso em 14.05.2024.

[5] Termo que apareceu pela primeira vez no livro de ficção científica “Snow Crash’, do escritor Neal Stephenson, de 1992. No enredo, um entregador de pizza no mundo virtual se transforma num hacker samurai, associando-se à ideia de que no Metaverso todos podem ser o que não são no mundo real. https://geekconectado.com.br/metaverso-o-que-e-como-funciona-e-exemplos/. Acesso em 14.05.2024

[6] https://www.terra.com.br/noticias/educacao/governo-de-sp-quer-produzir-material-didatico-da-rede-estadual-com-inteligencia-artificial,82aeb63158ee7f82f6e32c03f9488950r6p19pzg.html. Acesso em 13.05.2024.

[7] Artigo “Você precisa ter um ‘chief desnecessary officer’ – Jornal Valor, caderno B2, de 28.02.2023.

[8] https://chatgpt.com/?oai-dm=1

[9] Ver artigo “Os fracos não têm vez na maçonaria”, disponível em https://opontodentrocirculo.com/2020/05/22/os-fracos-nao-tem-vez-na-maconaria/.

[10] Geração X: nascidos após o baby boom, pós Segunda Guerra Mundial, a partir dos anos 1960 até o final dos anos 1970; Geração Y: nascidos após o início da década de 1980 e até 1995, igualmente conhecida como geração do milénio. (Fonte Wikipédia)

[11] Vide Artigo “O discreto protagonismo da maçonaria”, disponível em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2024/04/17/o-discreto-protagonismo-da-maconaria/.

Referências

FERRER-BENIMELI, José António. Arquivos secretos do vaticano e a franco-maçonaria. São Paulo: Madras, 2007.

Márcio dos Santos. Artigo “Maçonaria e Geração “Z” Pós Pandemia”, disponível em:

https://opontodentrocirculo.com/2020/08/26/maconaria-e-geracao-z-pos-pandemia/.

_______________________ Artigo “Perspectivas para a Maçonaria pós-pandemia”, disponível em: https://opontodentrocirculo.com/2021/06/03/perspectivas-para-a-maconaria-pos-pandemia/.

GUANAES, Nizan. Artigo “Você precisa ter um ‘chief desnecessary officer’” – Jornal Valor, Caderno B2, de 28.02.2023.

HILL, Napoleon. Mais esperto que o Diabo. Porto Alegre: Citadel Grupo Editorial, 2014.

 

 

TAMBÉM ÉS MAÇOM PRATICANTE?


 

(breve alinhamento de abordagens para uma reflexão no cruzamento entre o formal e o existencial)

Com esta pergunta, simples e direta, fui recentemente confrontado com a necessidade de encetar uma reflexão da máxima importância. Por detrás desta questão, que claramente traz para o mundo da Maçonaria o vocabulário popularmente usado para categorizar os católicos, entre praticantes e não praticantes, revela-se a questão da manutenção, ou não, da categoria de Maçom por parte de quem “não é praticante”, isto é, por quem não vai às sessões apesar de ter sido iniciado.

A jovem que me colocou esta simples pergunta, comparando a minha prática à da mãe, também ela “praticante”, perguntava simplesmente se eu participava regularmente nos rituais, ou não. E a pergunta, apenas assim, já é digna de alguns cuidados. Realmente, há muitos membros de Lojas, a quem chamamos maçons, e que continuam inscritos nos quadros, que pouco ou nada aparecem. São eles maçons? Ou que maçons eles são e a que natureza correspondem?

Numa brevíssima sistematização do que me aflora a mente, temos, pelo menos, três naturezas a ter em conta quando perguntamos, usando benevolamente o qualificativo popular católico, “também és maçom praticante?”.

A burocracia retira a condição de Maçom?

Comecemos pela dimensão puramente burocrática muito bem definida em todos os regulamentos: as faltas não são para ser a norma e isso tem implicações que podem levar ao afastamento compulsivo da comunidade, do quadro da Loja.

Os problemas, naturais numa comunidade em que o todo conta com a participação das partes, começam pelas implicações na capacidade para uma Loja funcionar: as Lojas podem não ter quórum, podem funcionar com debilidades e, se às faltas corresponder também a falta na capitação, isso conduz a problemas do foro da responsabilidade da Loja para com a instância onde ela se agremia, o Grande Oriente ou a Grande Loja.

Mas a questão fundamental coloca-se no grau de desligamento que a dimensão burocrática pode implicar. Um “quite” compulsivo ou uma erradicação, conduz à perda da condição de maçom, ou apenas ao fim de uma jornada de partilha, de vida, de alguma forma comunitária, portanto, no étimo da palavra, a uma excomunhão? Isto é, ser colocado fora da comunidade, no caso maçónico, fora da Loja ou, até, da Obediência.

Ser maçom é estar em comunidade, alimentar e ser alimentado pela egrégora.

Por outro lado, e falando de comunidade, não estar com a comunidade é mais que uma falha burocrática de ter faltado às reuniões, ou não ter pagado a quotização devida. Por que vamos às reuniões de Loja? Para não ter falta? Não, vamos para “beber” a Luz que nos iluminará no Mundo Profano. Vamos às sessões de Loja para participar e fortalecer a egrégora. Não vamos por obrigação, mas para nos alimentarmos dessa sede que foi o motor para buscar a iniciação, para iniciaticamente buscar a Luz.

Neste momento, somos remetidos para a questão fundamental: a iniciação. O “não praticante”, seja porque foi retirado de uma Loja, seja porque, apesar de estar inscrito numa, não participa, continua a ser Maçom? Isto é, a natureza da iniciação é algo que se cola à essência de cada um, de tal forma que nunca se perde? Qual a natureza, sagrada e existencial, da iniciação?

Em relação a este último ponto, a “doutrina” é diversa e, regra geral, difusa, procurando fugir a uma questão que é, fundamentalmente, do campo da mística. Sim, nas tradições iniciáticas, a vivência e a transmissão de conhecimento que a iniciação implica, nunca se perde. É um ato da mais intensa e interna sacralidade, um renascimento, pelo que, nada o retira. Ninguém pode ser “desiniciado” – pode ser afastado, renegado, até, mas não há um ritual algum para retirar esse ato genesíaco.

No limite, a sacralidade pode ser entendida de tal forma que, mesmo que seja renegada, ela não desaparece do ser que a viveu e em certo momento a acolheu. Qual mácula, no sentido latino da palavra, ela fica para sempre; é-se marcado.

“Maçons não praticantes” e “profanos de avental”

Obviamente, na complexificação da questão com o segundo tópico, somos obrigados a perguntar se, mesmo sendo a iniciação “eterna”, se o facto de não ser alimentada com a egrégora, isso não a enfraquece, na prática, e a leva ao desaparecimento, a uma auto excomunhão, a uma fuga à comunidade de maçons, à egrégora.

Um iniciado pode ser “maçom não praticante”, ou não se é maçom se não se “praticar”? A prática, que corresponde a estar em comunidade, com a egrégora, é como que uma constante revivificação da iniciação?

Mas mais, ser “maçom não praticante” pode ser complementado por uma vida interior de busca, com leituras, com conhecimento livresco? Uma mística pessoal, feita no supermercado de oferta da internet, pode corresponder a uma vida e a uma formação maçónica?

Ser maçonólogo, sem vida fraternal em comunidade, é ser maçom?

No lado oposto, ir a todas as sessões, mas nada saber nem nada sentir, dá automaticamente o estatuto de maçom?

E, mais importante, ir a todas as sessões, fazer pranchas, viver a comunidade, mas não praticar os valores da Fraternidade. Isso é ser maçom?

Epílogo

Esta é a primeira pergunta central num tempo em que se procura cativar novos membros, fidelizar os que foram iniciados, e trazer os que se afastaram.

Estamos com as Lojas muito povoadas, quer de iniciados desiludidos pela falta de qualidade dos trabalhos, que se afastam, quer de “profanos de avental” que estão na Loja como se estivessem em qualquer clube privado.

Paulo Mendes Pinto

 

UMA BREVE HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO JAPÃO


 

A ERA PRÉ-MODERNA

Sendo o Japão separado do continente asiático por água, a sua civilização desenvolveu-se em relativo isolamento em dias pré-modernos.

A influência cultural do exterior gradualmente atingiu o país, principalmente através dos países vizinhos, China e Coreia. Os primeiros ocidentais a chegar ao Japão eram comerciantes portugueses que desembarcaram em Tanegashima, uma pequena ilha ao sul do Japão em 1543.

Posteriormente, pessoas de outras nacionalidades chegaram. Como o xogunato então governante ficou preocupado com a crescente influência estrangeira sobre o seu povo. Em 1639 ele praticamente isolou o país do resto do mundo, condição esta que durou mais de dois séculos, até 1854. Nestas circunstâncias só protestantes holandeses e chineses não cristãos estavam autorizados a fazer negócios com o Japão.

O PRIMEIRO MAÇOM A VISITAR O JAPÃO

Entre esses comerciantes holandeses que vieram ao Japão durante este período estava Isaac Titsingh. Acredita-se ser ele o primeiro Maçom a visitar o Japão. Ele fora iniciado na Batávia em 1772, quando estava a serviço da Companhia das Índias Orientais Holandesa.

Ele foi ao Japão três vezes – 1779 a 1780, 1781 a 1783 e 1784 – e chefiou o posto de comércio holandês em Nagasaki. O Ir Titsingh fez amizade com muitos japoneses em altos postos e com japoneses estudiosos do conhecimento ocidental.

Os seus livros, cerimônias usadas no Japão para casamentos e funerais (1819), Memórias e anedotas sobre a dinastia reinante dos xoguns, soberanos do Japão (1820) e Ilustrações do Japão (1822) são fontes valiosas de informações sobre o Japão e o seu povo e costumes na segunda metade do Século XVIII.

O FIM DO ISOLAMENTO

Embora o Japão estivesse num estado de isolamento, embarcações estrangeiras frequentavam as suas costas periodicamente. Na primeira metade do Século XIX, a sua invasão tornou-se particularmente perceptível. Eles insistiam em que Japão abrisse os seus portos. Com o tempo, o governo abriu o país e celebrou tratados com potências estrangeiras.

Os tratados incluíam extraterritorialidade pelas quais estrangeiros residentes no Japão ficavam sob a jurisdição legal dos cônsules dos seus próprios países. A abolição da política de separação precipitou o país em tumulto.

Tratados desiguais com aqueles países, inflação galopante, em grande parte, devido ao início do comércio exterior e outros fatores desfavoráveis ​​resultantes da abertura do país fizeram com que alguns japoneses, especialmente os samurais (guerreiros profissionais), cultivassem a ideia de “Sonno Joi” (unificar o país sob o governo imperial e repelir as incursões causados ​​por estrangeiros).

Insatisfeito com a política do governo em relação aos países estrangeiros, alguns samurais aproveitaram-se da situação e agrediram estrangeiros para assediar o governo agora enfraquecido. Tais ataques tornaram-se frequentes no final dos anos 1850 e início dos anos 1860. Como resultado, as potências estrangeiras apresentaram fortes protestos. Em 1863, o governo japonês concordou em ter tropas britânicas e francesas estacionadas em Yokohama.

A PRIMEIRA LOJA NO JAPÃO

Foi durante este período que a primeira loja maçônica foi introduzida no Japão. A loja militar chamada Loja Esfinge nº 263, de Constituição irlandesa, veio ao Japão com um destacamento do 20º regimento britânico que chegou a Yokohama em 1864.

Enquanto em Yokohama, a loja realizou reuniões e admitiu membros civis. Sendo uma loja militar, no entanto, ela não podia operar no Japão por muito tempo. Ela realizou a sua última reunião em março de 1866.

A FORMAÇÃO DE LOJAS LOCAIS

Enquanto isto, aqueles irmãos que viviam em Yokohama sentiram que era desejável formar a sua própria loja e pediram autorização para a formação de tal alojamento à Grande Loja Unida da Inglaterra.

Assim, a primeira loja local, Loja Yokohama nº 1092, surgiu, realizando a primeira sessão ordinária em 26 de junho de 1866. Um total de seis lojas inglesas e três lojas escocesas foram formadas no Japão antes da última guerra.

Com a abolição da extraterritorialidade em 1899, os irmãos realizavam as suas reuniões de acordo com um acordo de cavalheiros com o governo japonês de que o governo não interferiria com as atividades da fraternidade, enquanto a adesão fosse limitada a estrangeiros e que as reuniões fossem realizadas sem ostentação.

Os membros incluindo aqueles que contribuíram para a modernização do Japão, por exemplo, Ir E. Fischer, um comerciante alemão envolvido no desenvolvimento de Kobe; Ir William G. Aston, um diplomata inglês estudioso da literatura japonesa, cujas obras introduziram o Japão e a sua civilização ao mundo de língua inglesa; Ir A. Kirby que construiu o primeiro navio de guerra blindado no Japão; Ir Thomas W. Kinder, um britânico que estava no comando do Escritório do Mint em Osaka; Ir John R. Black, um jornalista britânico que publicava um jornal em língua Inglês – o Japan Gazette – e os jornais japoneses Nisshin Shinjishi e Bankoku Shimbun, e quem escreveu um livro importante – Young Japan; Ir William H. Stone, engenheiro de telecomunicações britânico; Ir Paul Sarda, um arquiteto francês, Ir Edward H. Hunter, um engenheiro naval britânico; Ir John Marshall, um capitão de porto britânico; Ir Felix Beato, um fotógrafo britânico nascido em Veneza e Ir Stuart Eldridge, um médico americano. De toda forma, todos os membros das lojas no Japão naquela época eram estrangeiros.

MAÇONS JAPONESES ANTES DA GUERRA

No entanto, alguns japoneses ingressaram na Ordem no exterior antes da última guerra. Entre eles estavam dois estudiosos japoneses – Amane Nishi (1829-1897) e Mamichi Tsuda (1829-1903) – que estudavam na Universidade de Leyden, na Holanda de 1862 a 1865 com o Prof Simon Vissering que era Maçom. Nishi foi iniciado na loja La Vertu nº 7 em Leyden em outubro de 1864, e Tsuda em novembro de 1864.

O conde Tadasu Hayashi (1850-1913), um diplomata de carreira e, posteriormente, um estadista, estava estacionado na Inglaterra de 1900 a 1906, e tornou-se membro da Ordem enquanto esteve na Inglaterra.

 A Aliança Anglo-Japonesa foi celebrada em 1902 e ele assinou esse tratado em nome do Japão. Ele foi iniciado na Loja Empire No. 2108 em fevereiro de 1903, elevado ao Segundo Grau em março e exaltado ao terceiro grau em maio.

O Ir Hayashi tornou-se Venerável da Loja em janeiro de 1904. O seu rápido progresso até esse cargo foi devido à vontade dos membros da Loja de reconhecer a sua alta posição oficial e a sua possível partida da Inglaterra em futuro próximo para nomeação para algum outro posto. Como a missão japonesa em Londres foi promovida de legação a embaixada, ele tornou-se o primeiro embaixador japonês na Grã-Bretanha. Cidadãos japoneses também foram iniciados em alguns outros países, por exemplo, nos Estados Unidos e nas Filipinas.

A ECLOSÃO DA GUERRA

A situação começou a deteriorar-se para os maçons no Japão ao final de 1930, quando as autoridades do governo começaram a reprimir a fraternidade, especialmente após a eclosão da guerra com a China em 1937. No início dos anos 1940 os movimentos antimaçônicos intensificaram-se e todas as lojas tiveram que cessar as suas atividades.

DEPOIS DA GUERRA

Após a guerra, as atividades maçônicas foram retomadas. Uma loja inglesa e duas escocesas sobreviveram. A Grande Loja das Filipinas começou a fundar lojas no Japão. Durante um período de 10 anos, de 1947 a 1956, foram fundadas 16 lojas.

O general Douglas McArthur, que era o comandante supremo dos aliados que ocuparam o Japão depois da guerra e ele próprio um Maçom era muito favorável às atividades maçônicas no Japão. Gradualmente o ingresso na Maçonaria tornou-se disponível para cidadãos japoneses.

Sete homens japoneses, incluindo cinco membros da Dieta foram iniciados em 1950, pela primeira vez no Japão. Em março de 1956, 15 lojas Filipinas operando no Japão formaram a Grande Loja do Japão.

O número dos seus membros aumentou continuamente, atingindo 4786 em 1972. Desde então, no entanto, o número de membros tem diminuído e agora é de pouco mais de 2000. A lista atual de lojas e as suas localizações pode ser encontrada na página da Grande Loja do Japão.

Hoje, a Grande Loja do Japão mantém tratados de amizade com mais de 150 Grandes Lojas em todo o mundo.

Além daquelas lojas que operam sob a Grande Loja do Japão, existem várias outras lojas no Japão que existiam no momento da sua formação em 1957 – uma loja inglesa, duas lojas escocesas, duas lojas Filipinas e uma loja americana (Massachusetts ) que, tendo sido originalmente fundada em Xangai, na China, foi reativada em Tóquio em 1952. Há várias outras lojas que se reúnem no Japão sob Carta constitutiva da Grande Loja Prince Hall de Washington, com a qual a Grande Loja do Japão estabeleceu relações fraternais em 1998.

GRANDE LOJA DO JAPÃO

Em 16 de janeiro de 1957, a Loja Moriahyama nº 134 aprovou uma resolução convocando uma convenção para considerar a formação de uma Grande Loja do Japão. Uma reunião da Grande Loja Distrital foi realizada em 26 de janeiro de 1957. Devido à resolução aprovada pela Loja Moriahyama, e a convocação da convenção emitida pelo Venerável daquela Loja, esse foi o principal tema de discussão.

A convenção foi convocada para 16 de fevereiro, 1957, a ser realizada no Tokyo Masonic Building. Cada Loja foi convidada a enviar quatro delegados, com autoridade para agir em nome das suas Lojas. Além disso, cada Loja devia discutir a resolução na sua próxima reunião e votar favorável ou desfavoravelmente, conforme fosse o caso.

A Grande Loja das Filipinas foi notificada imediatamente sobre cada evento à medida que eram realizados e foi informada de que uma convenção deveria ser realizada em 16 de fevereiro de 1957 em Tóquio.

Na Convenção, dezesseis lojas estavam representadas, das quais onze lojas informaram que os seus membros tinham aprovado por unanimidade a resolução. Na convenção realizada em 16 de março, mais quatro lojas aprovaram a resolução por unanimidade; portanto, quinze das dezesseis lojas foram a favor da formação imediata da Grande Loja do Japão. A Grande Loja das Filipinas foi efetivamente informada sobre todas as transações por escrito, para impedir que recebesse quaisquer dados imprecisos através de canais não oficiais.

Na Comunicação Anual da Grande Loja das Filipinas em abril de 1957, foi apresentada uma moção ao Grande Secretário, de que a Grande Loja das Filipinas estendia o reconhecimento à Grande Loja do Japão, a Grande Loja de Filipinas ajudaria a Grande Loja do Japão a obter o reconhecimento das Grandes Lojas com as quais ela estava em Comunicação Fraternal, e o Grão-Mestre das Filipinas com tais Grandes Oficiais que ela considerasse necessários, iria ao Japão para instalar os Oficiais da Grande Loja do Japão.

A delegação do Japão foi recebida e reconhecida como delegados das lojas subordinadas na Convenção; no entanto, quando chegou o momento da votação dos Oficiais da Grande Loja para o ano seguinte, foi determinado pela Grande Loja, que, como eles eram membros da Grande Loja do Japão, não poderiam qualificar-se para votar. Isto, na opinião deles era o mesmo que o reconhecimento informal da Grande Loja do Japão.

A Grande Loja do Japão foi instituída em 1º de maio de 1957. Até o final daquele ano, sete Grandes Lojas reconheceram a Grande Loja do Japão e pelo menos outras dez Grandes Lojas estavam em comunicação fraternal com a Grande Loja do Japão.

O Rito Escocês e Corpos do Rito de York estavam aceitando Mestres Maçons das lojas subordinados sob a jurisdição da Grande Loja do Japão. Como a Grande Loja do Japão estava prestes a ser instituída, em 16 de março de 1957, a Loja Far East nº 124 devolveu a sua carta constitutiva à Grande Loja das Filipinas e recebeu a sua nova carta constitutiva naquela data.

Tradução feita por José Filardo

Fonte

Bibiot3ca Fernando Pessoa

Fonte Original

Página da Grande Loja do Japão

 

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