De Aprendiz a Mestre
Maçom.
O Caminho de
Compostela, na Espanha, ficou famoso como sinônimo de caminho de peregrinação.
Dessa tradição,
podemos tirar algumas lições.
Só extraímos valor
daquilo que nos custa algo. A ideia não é de sacrifício, mas de experienciar
aquilo que se faz.
Ir a Compostela de
avião ou num carro de luxo, nos mostra o resultado final, o ponto de chegada,
mas não nos permite incorporar, e incorporar significa tornar-se parte de nosso
corpo, cada passo, cada gota de suor, cada esquina do caminho, cada árvore
florida, cada córrego fresco, cada canto de pássaro, cada entardecer ou cada
amanhecer.
Chegamos a
Compostela, mas ela não fará parte de nós.
Se o caminho é tão
importante quanto o ponto de chegada, o tempo deixa de ser importante.
Quando temos pressa
de chegar, o caminho não tem a menor importância. O tempo, sim.
Os veículos, também.
Nesse caso, os fins justificam os meios. Quando o experienciar é que é
importante, os meios passam a ter valor em si mesmo.
O tempo passa a ser
secundário, pois cada passo é um chegar.
Cada pequena experiência
se soma à grande experiência que é o caminhar.
Estar lá é
fundamental. Se vamos a Compostela por avião, as esquinas do caminho, as
árvores floridas, os córregos frescos, o canto dos pássaros, o entardecer e o
amanhecer continuarão lá.
Mas não farão parte
de nós.
Não farão parte de
nossa bagagem. Quando, ao entardecer dos anos, sentarmo-nos à frente da
lareira, examinando, em silêncio, a bagagem de nossa vida, essas coisas não
estarão lá.
Estaremos,
incontestavelmente, mais pobres. Há alguns anos, eu e os Irmãos Mestres, que me
leem, éramos Aprendizes.
Curiosos e apressados
como todos os Aprendizes.
algum tempo,
começamos a achar que não havia nada no grau de Aprendiz, que correspondesse
àquela expectativa que tínhamos quando fomos iniciados.
Púnhamos, então,
nossas esperanças no grau de Companheiro. Quando fôssemos elevados, os segredos
nos seriam revelados e o que tínhamos vindo buscar nos seria entregue.
Após mais algum
tempo, novamente, a rotina se instala e passamos a desejar sermos Mestres. Aí,
sim, a Maçonaria seria desvendada e encontraríamos o pote de ouro no fim do
arco-íris. Creio que essa pressa, tão típica do espírito moderno, é normal.
Afinal, vivemos uma
época onde o importante é chegar. Muitas vezes até de forma escusa, arrancando
de forma ilegítima as “palavras de passe”, os “sinais”, os “toques” e as
“palavras” de cada posição social.
Mas que valor, então,
teve o nosso caminhar?
Nós, meus Irmãos,
estivemos lá. Estivemos presentes em cada passo, vertemos cada gota de suor,
paramos em cada esquina do caminho, admiramos cada árvore florida, bebemos em
cada córrego fresco, ouvimos cada canto de pássaro, admiramos cada entardecer e
cada amanhecer.
Estivemos presentes a
cada sessão. Ouvimos cada palavra, as boas e as más, as inspiradas e as
cansativas. Hoje, o caminho faz parte de cada um de nós.
Cada experiência está
em nossa bagagem. Somos mais ricos. E descobrimos que o grande segredo da
Maçonaria não está onde se chega, mas no caminhar juntos, compartilhando nossa
humanidade no que ela tem de melhor e de pior.
Dizem os místicos que
“quando o discípulo está pronto o Mestre aparece”. Para que isso aconteça, é
necessário que o discípulo esteja pronto, quer dizer, esteja lá e esteja
atento.
Não façamos meus
Irmãos, como as dez virgens da parábola evangélica, que, quando o noivo chegou,
estavam dormindo e não tinha mais azeite em suas lâmpadas.
É estando presentes
que veremos que o verdadeiro tesouro da Maçonaria nos é dado, sim, mas não na
chegada.
A cada sessão nos é
dada uma moeda. Jogamo-la na bolsa sem muita consideração.
Um dia, meus Irmãos,
e isso tantos Irmãos mais vividos nos têm testemunhado, acordamos e
descobrimos, entre espantados e extasiados, que temos um tesouro acumulado.
Nesse dia, cada vez
que declamarmos: “Ó, quão bom e quão suave é viverem os Homens em união. É como
o perfume que desce sobre a cabeça e sobre a barba de Aarão...”, as palavras
nos farão sentido e nossas almas exultarão.
A/D