A
frase “Que gente é essa? É gente de conteúdo interno que transcende a compreensão
medíocre, simplória” tem sido totalmente invertida e, se alguém quiser cair na
real, deve ser lida assim: ‘Que gente é essa? É gente sem conteúdo interno e
que não transcende a compreensão medíocre, simplória”. São poucos, e fazem
muito barulho, causam imenso prejuízo, trazer caos para Ordem.
Enquanto
isso, a maioria de verdadeiros maçons permanece silenciosa, confundindo
fraternidade com omissão e apatia. “É gente muita estranha” essa maioria que
leva uma rasteira, vê a dignidade da Ordem cair no chão e se levanta para dar a
outra face. Essa maioria se comporta como cristãos, mas esquecem a
lição do Cristo aos vendilhões do templo.
Ao chegar ao Templo e se
deparar com a quantidade de vendedores que ali comercializavam mercadorias
Jesus toma um chicote e expulsa os comerciantes daquele local
sagrado. A atitude de Jesus, mais que seu impacto agressivo,
demonstra o zelo pela casa do Senhor e também a dor por ver desvirtuada a
destinação própria do lugar. Essa foi a atitude do Cristo à altura de sua
missão (a César o que é de César, a Deus o que é de Deus) e de sua autoridade
moral. O Cristo não falava só em dar a outra face, mas também os ensinava e
dizia: “Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas
as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores” (Marcos
11:17).
Infelizmente,
a maioria silenciosa prefere se comportar como cordeiros diante da pequena
matilha de lobos que circula entre nós. Essa maioria “cristã” deveria ler Nicolau Maquiavel (1469-1527), historiador,
poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento e autor de O
Príncipe, livro que lhe deu a fama de maquiavélico, criado
a partir do seu nome, significando esperteza, astúcia.
“Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és.”
“Há
três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o
que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem
pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os
terceiros totalmente inúteis.”
“Eu
creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das
ameaças verbais ou insultos.”
“Quando
um homem é bom amigo, também tem amigos bons.”
“Tornamo-nos
odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.”
“O
primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os
homens que tem à sua volta.”
“Os
homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição.
“São
tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem
engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.”
“Mas
a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não
pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”.
“Nunca
se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma guerra, pois ela é
inevitável, mas, sendo protelada, resulta em tua desvantagem.”
Como
dá para notar, Maquiavel era um realista. Ele foi o filósofo do poder, e o
poder nunca foi nem nunca será romântico. Dai a César o que é de César, e tente
manter a cabeça em cima dos ombros, antes que seja cortada – essa é a lógica do
poder.
No
momento, Maçonaria está mais para Maquiavel do que para Cristo. O que vem
sangrando a Maçonaria é a luta profana pelo poder. E o pior: não é o poder para
fazer o melhor: é o poder pelo poder.
Vale citar algumas frases sobre o poder:
“É
um estranho desejo buscar o poder e perder a liberdade" (Francis Bacon).
"Todos amam o poder, mesmo que não saibam o que fazer com ele"
(Benjamin Disraeli). "Onde reina o amor, não há vontade de poder, e onde
domina o poder, falta o amor. Um é a sombra do outro" (Carl Gustav
Jung). "O poder é o afrodisíaco mais forte." (Henry
Kissinger).
Destaco
duas frases sobre o poder: “Se não és senhor de ti mesmo, ainda que sejas
poderoso, dá-me pena e riso o teu poderio" (Josemaría Escrivá). "Se
quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder" (Abraham Lincoln).
Acredito
que nessas duas frases está concentrado o dilema atual da Maçonaria. Poderia
resumir a situação assim: atualmente na Maçonaria quem comanda não manda e quem
comandou não quer largar o osso.
Hoje
li um artigo assinado por Roberto da Mata (“O problema do ex”), que é um
retrato perfeito da nossa DesOrdem.
“Todos,
diga-se logo, somos ‘ex’ de alguma coisa ou pessoa. Por isso, o prefixo tem um
lado ambíguo quando não claramente negativo, sobretudo em sociedades como a
nossa, na qual a regra é sempre acumular poder (sobretudo o poder público) e,
assim, multiplicar nosso patrimônio (real ou simbólico), porque os rios correm
para o mar e quem é rei jamais perde a majestade. Nosso ideal é ficar por cima
da carne-seca; isto é, por cima das leis. De todas as leis!” – escreve DaMatta.
A
questão é essa. Quando quem está no poder não o exerce com mão firme, com moral
clara, apoiado no consenso da maioria silenciosa, gritando por ela, legislando
em nome dela, se impondo em nome dela, quando quem está no poder não se faz
respeitar, surge a DesOrdem.
E é por essa brecha que atuam os que tiveram
poder, os ex-poderosos, os que querem ficar sempre por cima da carne seca, se
eternizar no poder. O ex fica na sombra e manda os seus paus mandados lançarem
a calúnia, o pânico, a injúrias. E os paus mandados (como piratas, com vendilhões
do templo) são capazes, inclusive, de profanar a Maçonaria em nosso do poder
pelo poder de seu ex. Para esses sicários, ter um Grão-Mestre legitimamente
eleito cassado pela Justiça profana é um exercício de poder, e que se dane o
juramento de iniciação, os landmarks, a fraternidade.
Para
esses vendilhões do Tempo, para esses paus mandados da DesOrdem, o importante é
o poder pelo poder. Mas eles só agem porque a maioria silenciosa permite que
façam de cada Loja um boteco e de cada Templo uma feira livre. Enquanto isso, o
comandante não consegue juntar em torno de si uma tropa de homens de bens,
livres do medo, e que diga aos vendilhões: “Ou vocês atuam dentro das leis
maçônicas ou peçem pra sair! Aqui não é lugar para profanos de avental!”.
E
essa tropa de homens livres e sem medo devem contar à maioria silenciosa a
fábula do lobo e do cordeiro, de La Fontaine, e dizer: “Vocês são a Ordem. Se
vocês se calarem diante dos lobos, você não poderão se esconder nem mesmo no
silêncio. O uivo dos lobos diz que, onde a lei não existe, a razão do mais
forte e do mais esperto prevalecem. Vocês têm que escolher de que lado estão, e
rápido. Se possível, agora, já!”.
Não
é exagero: a Maçonaria está em guerra. E vale terminar com o realista
Maquiavel: “Nunca se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma
guerra, pois ela é inevitável, mas, sendo protelada, resulta em tua
desvantagem.”
O
certo é que a Maçonaria não pode ficar no silêncio dos cordeiros e nem debaixo
do uivo dos lobos. Está faltando um movimento: que os homens de bons costumes,
livres e sem medo se levantem e fiquem de pé e à Ordem.
O
resto é uivo de lobos e DesOrdem.
CAM
maciel