Paris, 28 de maio de 2013 (AFP) -
José Gulino, Grão-Mestre do Grande Oriente da França (GODF), primeira
obediência maçônica do país, denunciou, terça-feira, “um crescimento da
violência da extrema direita” em “um clima perigoso”, ao qual “é preciso
colocar um fim o mais cedo possível”.
Gulino deu como prova disso a multiplicação dos atos antimaçônicos
interpostos na semana passada, como a manifestação de “alguns 200 doidivanas de
extrema direita, que vieram gritar slogans hostis ao Grande Oriente,
sexta-feira, sob pretexto de que ele defende o casamento homossexual”.
Em uma ligação telefônica à AFP, o Grão-Mestre do GODF
denuncia da mesma forma os “slogans antimaçônicos lançados (domingo) por
grupelhos de extrema direita no cortejo conduzido pelo Instituto Civitas, que
reuniu cerca de 2.800 integristas católicos e jovens nacionalistas”.
Ao
longo de todo o percurso, os manifestantes cantaram “Nem laica, nem maçônica, a
França é católica”, ou “o Grande Oriente tem que sair do governo”, após ter
acusado as “forças ocultas” de sustentá-lo.
Para José Gulino, “eles reproduzem esquemas repugnantes,
como o complô judaico-maçônico. Recordo que o primeiro decreto tomado pelo
governo de Vichy implicou na dissolução do Grande Oriente da França”.
“Uma
vez mais”, acrescentou ele, “não se sabe sair de uma situação difícil sem
encontrar bodes expiatórios. Hoje, é o Islã que substituiu os judeus. Estamos
em um clima de crescimento do integrismo, do fascismo, do racismo”.
Este é um “clima perigoso”, alarma-se o Grão-Mestre. “Este
crescimento do obscurantismo, estas violências verbais e físicas, temos de
interrompê-las o mais rápido possível. Devemos dar segurança aos nossos locais,
tomar precauções, fazer um trabalho de memória, repetir a História. 60% das
pessoas com menos de 24 anos não conhecem a palavra Vel d’Hiv (Razia Velódromo
de inverno, de 16 e 17 de junho de 1942, em Paris, onde houve o maior
aprisionamento de massa de judeus realizado na França durante a Segunda Guerra
Mundial).
Ele está igualmente indignado com a demissão do padre
Pascal Vesin, pároco da paróquia de Megève en Haute-Savoie, proibido pelo
Vaticano de exercer sua missão em razão de sua dupla pertença à Igreja e ao
Grande Oriente.
“Tenho a impressão”, confiou ele, “de me achar no tempo da
Inquisição. Releio esta decisão como uma forma de obscurantismo medieval, a um
recuo do viver fraternalmente, dos valores humanos. Para nós, a liberdade de
consciência é absoluta”.
Para o Grão-Mestre do GODF, “há entre os políticos uma
ausência de reação forte. Mas quando a República está em perigo, temos de
preservá-la e defendê-la”.