Nas especulações, cultos e tradições primitivas,
tudo tende à unidade: poderes e atribuições que hoje se distinguem
cuidadosamente como, por exemplo, o eclesiástico e o civil, o legislativo, e o
judiciário, estavam ontem em mãos de uma mesma autoridade.
Assim, o mundo antigo deu-nos o exemplo dos
Reis-Sacerdotes que tomavam para si diferentes representações e poderes que
hoje são consideradas inteiramente suprimidas.
Igualmente a Religião formava então parte da vida,
e as instituições civis e religiosas entrelaçavam-se mutuamente, constituindo
um conjunto quase inseparável.
Por isso, nas primitivas corporações construtoras,
o elemento religioso-moral deve ter sido considerado como formando uma unidade
com o elemento artistico-operativo, desenvolvendo e transmitindo-se igualmente
nestas corporações, os segredos da arte e certas especiais tradições
religiosas.
Note-se, a este respeito, que a própria palavra
religião identifica-se, em seu significado original, com a tradição, indicando
simplesmente “o que é legado ou se transmite”. Também nesse mesmo sentido, a
Maçonaria é religião ainda que não uma religião: a religião operativa e
especulativa, simbólica e iniciática, nascida espontaneamente nas primeiras
corporações construtoras, à medida que seus adeptos se esforçavam em divinizar
sua Arte, convertendo-se em veículos e meios dos quais pode aproveitar-se a
Hierarquia Oculta para seus ensinamentos, encontrando nesse meio em terreno
particularmente fértil para semear a mística semente da Sabedoria.
Também o caráter particular das corporações que se
especializaram na construção de Templos fez com que estas se identificassem,
nas diferentes épocas da história, com distintas tradições religiosas, e em
alguns casos com os próprios Mistérios (aos quais alguns entre eles devem ter
sido admitidos como participantes), e não há como maravilhar-se se assimilaram
muitos ensinamentos esotéricos, transmitidos como patrimônio secreto entre os
mestres da Arte.
Fora da dúvida está que, em qualquer período da
História, as corporações construtoras aparecem como possuidoras de segredos e
alegorias, alguns dos quais provêm de uma época remotíssima, e outros
representam antiquíssimas tradições revestidas de nomes e formas simbólicas
mais recentes.
Enquanto que, por outro lado, bem sabemos que todas tiveram
regras e modalidades particulares para a dupla transmissão do segredo material
da arte e de sua interpretação especulativa, assim como para a admissão de
candidatos como aprendizes, exigindo-se serem “livre e de bons costumes”, dando
provas definidas de moralidade, diligência e capacidade para a obra.
Esta “religião dos construtores” teve de ser uma
religião eminentemente moral, isto é, uma ética individual aplicada à vida,
como é demonstrado pela Tradição Maçônica, que mais diretamente lhe dá
continuidade.
Por Ximenes
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