A Maçonaria é uma
instituição ancestral e que preza a Tradição. Mas, como todas as instituições
ancestrais bem sucedidas, sabe preservar a Tradição, adaptando os seus usos e
costumes ao evoluir dos tempos e das sociedades. Só assim evita ser anacrônica
e mantém interesse e importância e valor, ao longo da passagem dos anos,
décadas e séculos.
O século XXI
lançou-nos a todos na voragem da Sociedade da Informação. As chamadas Novas
Tecnologias permitem aceder a mananciais de informação que ainda há poucas décadas
– há poucos anos… – eram impensáveis.
A Maçonaria não
pode, não deve, obviamente, ser indiferente às consequências desta evolução.
Não deixou de fazer sentido a subsistência do segredo maçônico. Mas a
mitificação do mesmo, essa sim, não me parece que seja vantajosa, nem para os
maçons, nem para os profanos.
A Maçonaria
prossegue objetivos honrosos e louváveis. É frequentemente denegrida por quem,
sendo-lhe hostil, a acusa de prosseguir propósitos menos recomendáveis e,
sistematicamente, esgrime com o segredo maçônico como alegada prova dos
tenebrosos propósitos da Maçonaria.
Em época de
acelerada circulação da informação, não basta à Maçonaria seguir o seu caminho,
não ligando aos cães que ladram à passagem da caravana. Porque tanto ladrido de
tanta canzoada acaba por impressionar quem o ouve.
A Maçonaria deve
continuar a prosseguir o seu caminho, apesar dos rafeiros e seus latidos. Mas,
para bem de si própria e elucidação de todos, nestes tempos de abertura de
informação, deve mostrar e informar para onde vai, porque vai e como vai. Assim
todo o verão qual o caminho e não se impressionarão com a barulheira dos
canídeos, que todos poderão ver ser vã e sem motivo que a sustente.
O segredo maçônico
é um dos objetos dos latidos. Pois bem, é tempo de mostrar, a quem estiver de
boa fé, que esse vozear não tem razão de ser.
Não abandonando o
segredo maçônico ou traindo os compromissos assumidos. Mas explicando os
limites, a natureza e as razões do dito segredo. Quem estiver de boa fé
perceberá. Os outros… continuarão a ladrar, mas já impressionarão menos…
Em minha opinião,
não há um segredo maçônico. Há dois. Um exotérico e outro esotérico. Quero com
estes adjetivos significar duas diferentes realidades. No meu entendimento, o
segredo maçônico exotérico é aquele que é constituído por matéria ou
conhecimento que é suscetível de fácil apropriação por qualquer pessoa, que sem
dificuldade de maior pode ser transmitido por quem o sabe a quem não o sabia.
Inversamente, o segredo maçônico esotérico não comunga dessa facilidade de
apreensão e de transmissão.
O segredo maçônico
exotérico só existe enquanto e na medida em que for preservado por todos
aqueles que o detêm, os maçons, nos seus respectivos graus e qualidades. O
segredo maçônico esotérico existe independentemente de qualquer esforço de
preservação, porque o seu teor não é suscetível de ser adequada e completamente
transmitido por quem atinge o seu conhecimento (apenas alguns maçons ou não).
Tem de ser
descoberto, num esforço individual, mediante um percurso de autopreparação para
atingi-lo e reconhecer, em que cada patamar atingido é condição necessária para
poder conseguir-se chegar ao seguinte. Este segredo existe independentemente de
qualquer propósito de preservação por quem o detém. Direi mesmo que existe apesar
dos esforços e das tentativas de partilha por quem o descortinou.
Dito de outro modo:
o segredo maçônico é composto por uma parte que não é sequer particularmente
importante (o segredo exotérico) e subsiste graças e na medida dos cuidados dos
maçons na sua subsistência; e existe também outra componente (o segredo
esotérico) que existe independentemente da vontade dos seus detentores, por
impossibilidade de sua adequada e completa transmissão, seja por via oral, seja
por escrito. O acesso a este implica vivência, experiência, vontade, esforço.
Não basta ouvir ou ler. Portanto, o segredo que se guarda não é especialmente
importante e o que importa não se consegue transmitir…
O segredo maçônico
exotérico é constituído por quatro aspetos:
Reserva da identidade
dos maçons que não se hajam assumido publicamente como tal;
Reserva de
divulgação das formas de reconhecimento entre os maçons;
Reserva de
divulgação de rituais e de cerimônias;
Reserva de
divulgação do teor concreto e específico dos trabalhos de qualquer reunião de
Loja ritualmente realizada.
Talvez com exceção
da última faceta, o segredo maçônico exotérico é um verdadeiro segredo de
Polichinelo: só não o conhece quem não quiser. Basta um pouco de esforço e
trabalho para apurar o seu conteúdo. Então com as possibilidades atualmente
disponíveis com as Novas Tecnologias de Informação e os potentes motores de
busca universalmente disponíveis, aceder a esse conhecimento é uma pura questão
de perseverança, trabalho e alguma habilidade. Ao contrário do que vulgarmente
se pensa, está tudo publicado. Só é preciso descobrir onde… E – esta será
porventura a maior dificuldade – destrinçar entre o que verdadeiramente é e o
que é falso ou imitado ou errada ou desajustada ou intempestivamente utilizado.
O objetivo
primacial do segredo maçônico exotérico é permitir aos maçons saber, de uma
forma exclusivamente a si acessível, quem é e quem não é maçom – e também que
grau detém quem é maçon.
Nos tempos de
antanho, foi essencial. Hoje, nem por isso. Outras formas de saber, rápida e
eficazmente, quem é e quem não é maçom existem. Hoje, a facilidade e rapidez
das comunicações, particularmente das telecomunicações e da comunicação eletrônica,
permitem, em caso de necessidade, fácil e rapidamente verificar junto de uma
Grande Loja ou de uma Loja se fulano é seu membro. Antigamente, era diferente.
Daí que a importância do conhecimento da forma de obter essa informação, e a
sua preservação, fosse nuclear. As realidades da vida, da evolução e do
desenvolvimento em muito erodiram a necessidade e importância do segredo.
Sendo assim, porque
continuam os maçons a preservar esse já não tão importante segredo? Por duas
razões, uma acessória, outra essencial. A acessória é que, embora a necessidade
de preservação das reservas de informação tenha diminuído, seja menos
importante, não cessou completa e universalmente, não perdeu TODA a importância
(ainda há locais onde é perigoso ser maçom). A essencial é que os maçons
preservam o segredo maçônico PORQUE SE COMPROMETERAM, POR SUA HONRA, A FAZÊ-LO.
Sendo assim, porque
se continua a exigir aos maçons esses compromisso de honra? Não já pela
necessidade de antanho. Ou não já essencialmente. Nem também por um cego
tributo à Tradição, o continuar a fazer agora assim porque dantes assim se fazia.
Antes como um exercício permanente do que é na essência inerente à condição de
maçom.
Um maçom é um homem
livre, apenas escravo da sua palavra; sério, sempre preservando a sua honra;
cumpridor dos seus compromissos, apenas porque se obrigou a eles. A palavra de
um maçom vale tanto ou mais do que um contrato escrito, é mais duradoura do que
se tivesse sido gravada em pedra. Independentemente da importância do assunto.
Um homem só é honrado e de confiança se o for nas pequenas como nas grandes
coisas. A verdadeira palavra sagrada de um maçom é a sua palavra de honra.
É, portanto em
execução desse princípio inderrogável de que o maçom cumpre sempre a sua
palavra, seja-lhe ou não conveniente, seja o assunto importante ou sem destaque
particular, que este preserva o segredo maçônico. Porque se comprometeu a
fazê-lo. Independentemente de ser ou não ser já importante fazê-lo.
Mesmo que, por esse
mundo fora, esse segredo, total ou parcialmente, tenha sido centenas ou
milhares de vezes exposto. Se o não fizesse, sabia-se merecedor do opróbrio e
desprezo unânimes dos maçons. E um maçom só o é na medida em que seja
reconhecido como tal pelos seus pares…
O maçom preserva o
segredo maçônico porque se comprometeu a fazê-lo e esse compromisso continua a
ser exigido aos maçons como forma de exercício diário, constante, permanente,
dos deveres inerentes a um homem honrado, livre e de bons costumes. Outros
existem que, diz-se para aí, pontuam a sua pertença à organização em que buscam
a excelência através do cilício, da mortificação do corpo.
Os maçons buscam a
excelência do caráter, do espírito, e, portanto exercitam continuamente o
caráter e o espírito. Uma das formas de o fazerem é honrando escrupulosamente
os seus compromissos. Independentemente de serem importantes. Sem questionar a
eficácia ou o interesse desse cumprimento. Sendo-lhes indiferente que outros,
mais fracos ou imerecedores, porventura tenham falhado esse cumprimento.
Índice
RESERVA DA IDENTIDADE DOS MAÇONS QUE NÃO SE HAJAM ASSUMIDO
PUBLICAMENTE COMO TAL
RESERVA DE DIVULGAÇÃO DAS FORMAS DE RECONHECIMENTO ENTRE OS
MAÇONS
RESERVA DE
DIVULGAÇÃO DE RITUAIS E DE CERIMÓNIAS
O SEGREDO MAÇÓNICO ESOTÉRICO: O VERDADEIRO SEGREDO MAÇÓNICO
RESERVA DA
IDENTIDADE DOS MAÇONS QUE NÃO SE HAJAM ASSUMIDO PUBLICAMENTE COMO TAL
Mesmo nas
sociedades mais abertas e com maior inserção social da Maçonaria, mesmo no
Brasil, nos Estados Unidos ou em Inglaterra, existem preconceituosos contra a
Maçonaria que, se tiverem o poder e a posição para tal, podem sub-repticiamente
prejudicar um maçom apenas por o ser – embora porventura ocultando o seu
preconceito e usando qualquer outra desculpa ou justificação… Também nas
sociedades mais abertas e com maior inserção social da Maçonaria se continua a
justificar uma atitude prudente em relação aos preconceituosos e, portanto, o
cumprimento do princípio de não revelar que alguém é maçom, se esse maçom não
assumiu publicamente essa condição.
Outra razão
justifica ainda o cumprimento deste princípio. A Fraternidade implica o
reconhecimento da dignidade do outro em todas as circunstâncias. Implica o
respeito pelo outro, pela sua inteligência, pelas suas escolhas. Se um maçom
divulgasse que outrem tem essa qualidade, sem que o visado tivesse previamente
assumido a mesma publicamente, estaria, sobretudo a desrespeitá-lo, a
desrespeitar essa sua escolha.
Se o visado não se
tinha assumido publicamente como maçom, isso resultava de uma análise do mesmo,
de uma escolha sua. Análise e escolha que era seu direito fazer e que só a ele
competia fazer. Divulgar que esse que se não assumiu como maçom é maçom
corresponde a substituir, a desvalorizar, a desconsiderar, o juízo por ele
feito, em favor do juízo (ou da falta de juízo…) do próprio.
A decisão de cada
um se assumir publicamente como maçom a cada pertence. Não pode, não deve ser
apropriada por nenhum outro maçom. E não o é. Em nome do respeito pelo outro,
pela sua inteligência, pela sua capacidade de análise, pelas suas escolhas, que
é inerente ao elo que une todos os maçons: o elo da Fraternidade. Trair esse
elo, mais do que trair o outro seria traição ao próprio e a todos.
RESERVA DE
DIVULGAÇÃO DAS FORMAS DE RECONHECIMENTO ENTRE OS MAÇONS
Antigamente era, em
muitos locais, perigoso ser maçom. Ainda hoje o é, em várias partes do globo.
Os maçons tinham necessidade de se conseguirem reconhecer uns aos outros, sem
necessidade de perguntar.
Com efeito, se um
maçom perguntasse a outrem se também era maçom e esse outrem não só não o fosse
como denunciasse quem o inquirira, estava o caldo entornado… Havia, pois, que
arranjar maneira de um maçom se poder assegurar que outro homem também tinha
essa qualidade, de forma que, se assim fosse, o interrogado soubesse que tal
interrogação lhe estava a ser feita e soubesse responder da mesma forma, mas
que, se o interrogado não fosse maçom, não se apercebesse sequer da
interrogação.
Havia que criar uma forma de um maçom se dar a
conhecer como tal, de maneira que só os maçons se apercebessem disso e só eles
reconhecessem essa forma. Havia que poder testar se alguém que se arrogava de
ser maçom efetivamente o era. E, sobretudo, havia que tudo isto fazer de forma
discreta, apenas perceptível por quem devesse perceber. E havia, obviamente,
que guardar segredo dessas formas de reconhecimento.
Antigamente, não
havia as facilidades e rapidez de comunicações e de deslocação que há hoje. Os
agregados populacionais eram fechados, muito mais isolados do que agora e,
sobretudo, mais distantes, em termos de tempos de viagem. Ir de Lisboa ao Porto
demorava dias. Ir de Lisboa a Londres demorava semanas. Ir da Europa à Ásia, a
África ou à América demorava meses.
Um viajante que
chegava a qualquer local era um desconhecido e desconhecia todas ou quase todas
as pessoas desse local. Arrogava-se qualquer título ou condição, não havia
meios de comunicação rápidos que permitissem verificar, em terras distantes, se
o afirmado era verdade.
Viajar era demorado
e perigoso. Os maçons em viagem podiam beneficiar do auxílio de seus Irmãos.
Muitas vezes sendo – viajante e residente – desconhecidos um dos outro. Não
bastava ao viajante dizer que era maçom. Tinha de comprovar essa qualidade.
Antigamente era,
pois, essencial que existissem formas de reconhecimento discretas, eficazes e
de conhecimento restrito aos maçons. Que deviam ser e eram avaramente guardadas
em segredo.
Essas formas de
reconhecimento eram e são constituídas por determinados sinais, por certas
palavras, por específicos toques. Os sinais permitiam que os maçons se
reconhecessem como tal no meio de uma multidão, se preciso fosse, sem que mais
ninguém se apercebesse.
As palavras
permitiam confirmar esse reconhecimento, constituindo uma segunda forma de
verificação, que confirmaria a identificação ou permitiria desmascarar impostor
que, por conhecimento ou sorte, tivesse efetuado corretamente um sinal de
identificação. Os toques, discretos, permitiam, além de uma fácil identificação
mútua absolutamente discreta e insuscetível de ser detectada por estranhos,
também desmascarar impostores, pois não bastava, nem basta usar certo toque: é
preciso saber quando o usar, para quê e que deve suceder em seguida…
Sempre os sinais de
reconhecimento foram objeto de curiosidade profana. Por quem perseguia a
Maçonaria e os maçons, por razões evidentes. Por quem, não sendo maçom,
gostaria de se infiltrar entre os maçons ou, viajando, beneficiar da ajuda que
os maçons residentes davam aos maçons viajantes. Ou, simplesmente, por quem era
curioso…
Milhares e milhares
de maçons conhecem os sinais de reconhecimento. Ao longo do tempo, milhões de
maçons acederam a esse conhecimento, nas quatro partidas do Mundo. Houve
zangas. Houve dissensões. Houve abandonos. Houve traições. Houve
inconfidências. Um segredo só é verdadeiramente secreto se for conhecido apenas
por um – e, mesmo assim, se este não falar a dormir… Era inevitável que as
formas de reconhecimento dos maçons fossem expostas. Existem livros. Existem
filmes.
Existem vídeos.
Existem panfletos. Existem, hoje em dia, inúmeros suportes em que estão
expostas aos profanos as formas de reconhecimento dos maçons. Mas também
existem publicados nos mesmos suportes formas de reconhecimento falsas ou
inventadas ou simplesmente ultrapassadas… Quem está de fora tem o magno
problema de descobrir o que é verdadeiro e o que é falso, de distinguir o certo
do inventado, de descortinar o que se mantém vigente e o que foi ultrapassado…
Por isso, ainda
hoje, as formas de reconhecimento vigentes, apesar de conhecidas por milhões,
apesar de repetidamente expostas, continuam a ser úteis e eficazes.
Mas, mesmo que
algum profano consiga conhecer os sinais, palavras e toques certos e consiga
descobrir quando os utilizar e como o fazer corretamente, ainda assim só
logrará, quando muito, enganar alguns maçons durante algum tempo e acabará –
porventura mais cedo do que mais tarde – por ser desmascarado como impostor.
Porque não basta executar o sinal certo na hora precisa, pela forma correta,
nem dizer a palavra adequada, pela forma prescrita, a quem deve ouvi-la, nem
dar o toque acertado, no momento asado e sabendo o que se deve passar a seguir.
Tudo isso já é
suficientemente complicado – mas não basta! Tudo isso, ainda que porventura
executado de forma atinada, constitui ainda uma determinada informação: que
quem o fez tem um determinado nível de conhecimentos, certa postura e compostura,
um exigível comportamento, um específico nível de desenvolvimento pessoal,
social e espiritual. Ser maçom e ser reconhecido como maçom não é só conhecer e
saber executar sinais, palavras e toques. Isso é o que menos importa. É,
sobretudo, saber fazer um percurso, utilizar um método, avançar num caminho.
As formas de
reconhecimento são apenas sinais exteriores básicos e nem sequer
particularmente importantes. Isso também, mas, sobretudo muito mais, é que faz
com que um maçom seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos.
Reservo o segredo
dos sinais, palavras e toques que constituem as formas de reconhecimento dos
maçons, porque a isso me comprometi. Mas digo e afirmo: podíamos divulgar
publicar, mostrar, explicar, exemplificar, ensinar, filmar e exibir o filme,
executar todos os sinais, palavras e toques de reconhecimento; podíamos ensinar
a toda a gente como e quando e por que forma utilizar cada um deles. Ainda
assim, pouco tempo e apenas um razoável cuidado bastariam para reconhecer quem
efetivamente é maçom e quem, ainda que perfeitamente executasse todos os
sinais, palavras e toques, não o é!
Porque ser maçom é
muito mais do que saber sinais, palavras e toques. Ser reconhecido como tal
implica muito mais do que essas minudências, pois não basta saber sinais,
palavras e toques para ser reconhecido maçom. É preciso efetivamente sê-lo e
vivê-lo e praticá-lo.
Que nunca ninguém
se esqueça disto. Seja profano ou tenha sido iniciado. Especialmente estes!
RESERVA DE
DIVULGAÇÃO DE RITUAIS E DE CERIMÓNIAS
Os maçons
estruturam o seu trabalho em Loja mediante rituais. A abertura e o encerramento
dos trabalhos são sempre executados da mesma forma, a maneira como, durante os
trabalhos, cada um fala ou se movimenta em Loja está tipificada, etc.. Os
maçons assinalam também diversas situações, individuais ou coletivas,
consideradas significativas com Cerimônias meticulosa e ritualmente executadas.
Assim sucede com a Iniciação, a Passagem, a Elevação, a Instalação, a
Consagração de Loja, etc..
A preservação do
segredo sobre os rituais e cerimônias é uma das obrigações dos maçons. Quanto
aos rituais, porque são parte integrante da identidade da instituição, que só
fazem sentido no âmbito da mesma. A pior coisa que se pode fazer a um conceito,
uma informação, uma declaração, é descontextualizá-la.
A
descontextualização atraiçoa o espírito, o propósito, o aspeto, do conceito, da
informação, da declaração. Torna-o, ou pode torná-lo, inentendível.
Desvaloriza-o. Quiçá, submete-o a ridículo. No entanto, no seu devido contexto,
os rituais maçônicos, não só são entendíveis, como são fonte de estudo e
iluminação. Não só têm valor, como são fonte de união. Não só são seriamente
tomados e executados, como são fonte de fortalecimento do espírito de grupo e
da fraternidade entre os maçons.
Os rituais só fazem
plenamente sentido se e quando executados no local e pela forma próprios, por e
perante o qual está apto a compreendê-los. Expô-los aos olhares profanos seria
permitir que juízos turvados pela ignorância, obnubilados pelo preconceito,
prejudicados pela distância, extraíssem conclusões erradas, perfunctórias, vãs.
Quanto às cerimônias,
acresce ainda outro motivo para o seu teor e o seu desenrolar ser reservado não
apenas aos maçons, mas aos maçons do grau em que são executadas, ou superior. É
que é importante preservar o fator surpresa, em relação àquele ou àqueles em
benefício de quem cada cerimônia é executada.
A Maçonaria
destina-se a propiciar um terreno apto para o aperfeiçoamento moral e
espiritual dos seus membros. Coloca ensinamentos, princípios, máximas, à
disposição destes.
Um pouco de cada
vez, para que os ensinamentos, os princípios, possam ser detectados,
descobertos e interiorizados pelos interessados. A Maçonaria nada ensina.
Apenas possibilita que se aprenda. Mas essa aprendizagem não é efetuada apenas
com o recurso à memória e ao elemento racional.
Essa aprendizagem,
essa melhoria, esse avanço, resulta também da marca deixada em cada um, através
da respectiva inteligência emocional e seu desenvolvimento. Daí que as noções
obtidas não sejam apenas adquiridas, mas realmente entranhadas. Daí que se dê
valor ao tempo, ferramenta indispensável à construção da melhoria de cada um.
Todo este processo se desencadeia através da disponibilidade de apreensão de algo
que se desconhece.
Daí a importância
do fator surpresa. Muitas vezes o que se transmite não é novo. Já foi centenas
de vezes lido, milhares de vezes visto. Mas nunca foi visto ASSIM, nunca foi
contextualizado DESTA forma, nunca tinha sido introduzido COMO tal.
O maçom a quem uma cerimônia
é dedicada é sempre o centro da mesma. Para que a viva e não apenas a ela
assista. O objetivo é VIVER a cerimônia. Não revivê-la. Por isso a deve
desconhecer antes de dela beneficiar. Por isso devem as cerimônias maçônicas
permanecer secretas, de conhecimento reservado a quem o deve ter – e só a
esses.
Mas há dezenas de
versões de rituais publicados. Através dos quais se podem ler o texto de
diversas cerimônias. Qual então o interesse de continuar a preservar o sigilo
sobre rituais e cerimônias? Duas razões avanço: em primeiro lugar, muito do que
está publicado não é já atual.
Pode ter
semelhanças com o que atualmente se pratica, mas também tem diferenças, algumas
significativas. Em segundo lugar, um ritual, uma cerimônia, não é – longe
disso! – apenas um texto que se lê ou recita. É muito mais que isso. É
movimento, é entoação, é gesto, é interpretação.
Muito do que
ritualmente é executado não está escrito. É aprendido pela observação,
aperfeiçoado com o auxílio dos que antes aprenderam a executar. Por isso é
importante o trabalho de aperfeiçoamento ritual de uma Loja. Como um meio.
Nunca um fim em si mesmo.
Preservar o segredo
quanto a rituais e cerimônias é preservar a essencialidade da cultura maçônica,
da sua diferença em relação ao mundo profano. É preservar o método de
transmissão e apreensão de conhecimentos. É, enfim, proteger o cerne da
Maçonaria.
RESERVA DE
DIVULGAÇÃO DO TEOR CONCRETO E ESPECÍFICO DOS TRABALHOS DE QUALQUER REUNIÃO DE
LOJA RITUALMENTE REALIZADA
Os maçons
comprometem-se finalmente a não divulgar o teor concreto dos trabalhos de uma
reunião de Loja, ritualmente realizada. À primeira vista, isto parece
excessivo. Sobretudo, se tivermos em conta que, de cada reunião, é elaborada
uma ata que, depois de aprovada, é conservada na documentação e no arquivo da
Loja. Por essa ata se alcança que assuntos foram tratados na reunião, que
deliberações foram tomadas. E uma ata existe para ser consultada – senão, para
quê fazê-la? Independentemente da delicadeza dos assuntos tratados, a ata é
elaborada e preservada.
Eu publiquei no
blogue A Partir Pedra um documento histórico, uma ata que registrou os
trabalhos da sessão de 18 de setembro de 1835 da Loja brasileira Philantropia e
Liberdade. Essa ata registrou nada mais, nada menos, do que a preparação e
planificação de um movimento revolucionário, a Revolução Farroupilha!
Por que então
guardar sigilo sobre os sucessos de uma reunião, ao mesmo tempo em que se registra,
e se guarda escrupulosamente esse registro, o que se passou, elaborando-se uma
ata formal? Se for certo que o acervo documental constituído pelas atas das
reuniões das Lojas maçônicas pode constituir – e constitui! – precioso material
de investigação histórica, nem sequer é esse o principal objetivo do registro
em ata. Como referi, uma ata serve para ser consultada. Cem anos depois ou dois
dias depois…
Esta aparente
incongruência esclarece-se se tivermos a noção de que uma Loja maçônica é uma
organização – que deve registrar os seus eventos e deliberações mediante atas,
até em obediência às leis civis e em cumprimento dos bons costumes sociais -,
mas uma organização com uma característica bem distintiva: é uma fraternidade.
Enquanto
fraternidade cultiva e desenvolve especialmente as relações de confiança mútua
entre os seus elementos, em estrito espírito de igualdade, sem prejuízo dos
graus e qualidades de cada um e dos particulares deveres e meios que cada grau
ou qualidade confira a quem os detém.
Enquanto
organização, uma Loja maçônica cumpre as regras civis e, portanto registra quem
esteve em cada reunião, o que se tratou nela, o que ficou decidido. E guarda e
preserva esse registro, que, a qualquer momento, pode ser necessário nos mesmos
termos em que qualquer ata de qualquer reunião de qualquer associação ou
sociedade pode ser necessária.
Enquanto grupo
fraternal procura-se que cada elemento se sinta, no interior do grupo, completa
e absolutamente livre de expressar as suas ideias, opiniões, projetos,
preocupações, sem constrangimentos de qualquer espécie.
O espaço de uma
Loja em reunião ritual é um espaço em que todos e cada um podem baixar
completamente as suas defesas e guardas, em que não necessitam de manter a sua
“máscara social”, em que todos e cada um podem ser e comportar-se e aparecer
como realmente todos e cada um são, com suas forças e fraquezas, virtudes e
defeitos. Porque, neste espaço, todos e cada um sabem que devem aos demais a
mesma tolerância que dos demais recebem.
Porque todos e cada
um sabem que todas as opiniões, ideias, contribuições, são analisadas e
consideradas pelo seu valor intrínseco, sem argumentos ad hominem, sem
acrescentar ou retirar valia à opinião expressa em função de quem a expressa.
Enquanto grupo
fraternal cultiva-se a absoluta confiança mútua, a cooperação, o auxílio a
todos na medida das possibilidades de cada um. Procura-se criar um laço forte e
duradouro entre todos. Que por isso se consideram Irmãos. Ao criar-se um laço
desta natureza, está-se a criar um espaço onde a crítica é aceite, porque a
aceitação existe ainda que haja lugar a crítica. Preserva-se um espaço de
cumplicidade imensa, em que cada um está à vontade junto dos demais, porque
confia nos demais como nele mesmo.
Num espaço assim,
de Fraternidade, pode desabrochar sem peias a Liberdade. A Liberdade de opinar,
de arriscar testar uma ideia, sem medo de que ela seja apoucada por
disparatada. Se o for, assim será considerada. Mas isso não diminui quem a
teve. Porque se sabe que ela só foi expressa porque se estava à vontade e
porque é em espaços assim que livremente se pode testar a real valia de ideias,
opiniões, propósitos.
E aperfeiçoar. E
limar arestas. E – quantas vezes! – transformar uma balbuciante e hesitante
ideia num projeto sólido e com mérito, através do contributo de todos. Um
espaço assim é potencialmente um espaço de criatividade e cooperação sem
paralelo – porque ninguém teme o juízo, ou a troça, ou o apoucamento, dos
demais. Porque todos sabem que ninguém tem só excelentes ideias, que só expondo
todas – as péssimas, as sofríveis, as regulares, as boazinhas, enfim, todas – é
possível peneirar delas as que têm efetiva valia.
Porque todos sabem
que um bom projeto só raramente é produto do valor de apenas qualquer
iluminado, antes resulta da concatenação de ideias, que se acumulam e organizam
e dão forma, muitas vezes diferente no final do que fora o lampejo inicial.
Num espaço assim
não se tem medo de ser ridicularizado, apoucado, magoado. Mesmo que se use o
direito ao disparate. Num espaço assim, sabe-se que o juízo sobre o valor de
cada um não depende de uma excelente ou uma péssima ideia, antes resulta do
Todo que cada um é e que os demais vão conhecendo, cuja evolução vão
constatando.
Um espaço assim é
um espaço de intimidade intelectual sem paralelo. E só subsiste porque blindado
numa confiança mútua absoluta. O que se diz ali fica ali. Seja a ideia do
século, seja o mais profundo disparate. Quer uma, quer outro, são ali vistos na
correta perspectiva, de procura de contribuição para a melhor decisão do grupo,
de experimentação, de sugestão, sem reservas, sem cuidados, sem temores de
ridículo ou de crítica.
Um espaço assim
propicia a mais livre da Livre Expressão do Pensamento. Porque livre da
necessidade da pior das censuras, a autocensura. Um espaço assim, baseado na
confiança, na Fraternidade, só pode subsistir se todos e cada um souberem que o
à vontade em que se expressam não é traído por juízos exteriores feitos por
quem, descontextualizando o paradigma em que as ideias são expostas, possa vir
a apoucar a ideia, o pensamento, a opinião.
É para preservar
esse espaço intimista de Liberdade que se preserva o que de concreto se passa
numa reunião maçônica. Porque fora se julga segundo os critérios de fora, não
se atendendo às condições que se criam para que todas as contribuições sejam
bem-vindas.
É preciso garantir
que todos e cada um possam no decorrer de uma reunião ritual de Loja, expressar
sem quaisquer constrangimentos, de qualquer natureza, as suas ideias e
convicções e opiniões. Para que essa Liberdade absoluta exista, mister é que
todos e cada um saibam que o que se passa em Loja fica em Loja. E, portanto,
cada um guarda cuidadosamente para si o que em Loja se passou. Quem quiser
saber e tenha o direito, a saber… consulte a ata!
O SEGREDO MAÇÓNICO
ESOTÉRICO: O VERDADEIRO SEGREDO MAÇÓNICO
Em minha opinião,
já hoje aqui o disse, o verdadeiro segredo maçônico vai muito além da discrição
sobre identidades, modos de reconhecimento, rituais, cerimônias e trabalhos
efetuados. Em minha opinião, o verdadeiro segredo maçônico, o que importa, o
que releva, existe, não porque os maçons o queiram preservar, mas porque não o
conseguem revelar. Porque é insuscetível de plena transmissão.
O verdadeiro
segredo maçônico, aquilo a que muitos chamam de Palavra Sagrada ou, muito
simplesmente, de Luz, é aquilo que o maçom aprende através do contacto com seus
Irmãos, do convívio e busca de entendimento dos elementos simbólicos que a
maçonaria profusamente coloca à disposição dos seus elementos, do método de
análise, de trabalho, de esforço, de meditação, de extenuada conquista, passo a
passo, degrau a degrau, patamar a patamar, sobre si próprio, a pulso
desbastando suas imperfeições, despojando-se do interesse sobre toda a ganga
material que obnubila os nossos espíritos, indo-se cada vez mais longe em épica
viagem, com começo e fim no fundo de si mesmo e aí descobrindo a resposta que
procura.
Esta busca, esta
viagem, esta procura, tem um começo e um fim, mas nem um nem outro serão
porventura os esperados. O começo será sempre depois do meio dia, a hora a que
os maçons iniciam os seus trabalhos, quando cada um está efetivamente apto a
começar a trilhar o caminho sem marcos, bordas ou fronteiras, que conduzirá não
sabe onde.
O fim, esse, tem
hora marcada, aquela em que os maçons pousam as suas ferramentas, a meia noite.
Como em muito do que tem valor, tão importante é o resultado como o trabalho
para obtê-lo, tão atraente é o destino, como o caminho que a ele conduz. E
muito raramente o caminho mais curto entre o ponto de partida e o de chegada
será uma reta…
Em bom rigor,
duvido mesmo que haja apenas um verdadeiro segredo maçônico, um único segredo
esotérico. Nesta altura do meu entendimento, propendo a considerar que cada
maçom atinge a sua própria Luz – a deste com mais brilho, a daquele mais baça,
a daquele outro, qual bruxuleante chama de longínqua vela, mal se vendo -, cada
maçom encontra e resgata a sua própria e individual Palavra Perdida – a de um
bela e cristalina, a de outro sonora e estentória, a de um terceiro suave e
quase inaudível murmúrio.
Cada um encontra o
que procura e o que trabalha e se esforça por encontrar. Cada um encontra
Segredos, Luzes, Palavras, diferentes ao longo da sua busca. Porque esta nunca
termina. Cada resposta encontrada dá origem a novas perguntas, nascidas de mais
lúcida compreensão, em perpétua evolução e aprofundamento de compreensão.
É por isso que
tenho para mim que eu não posso, não consigo, não sei partilhar a minha
Palavra, com mais ninguém, nem sequer com o meu mais chegado Irmão. Não só
porque não consigo descrevê-la em toda a sua extensão e complexidade, como
porque o mero enunciar do ponto do caminho em que me encontro me abre novos
horizontes de busca, para lá dos quais nem sequer sei se não terei de pôr em
causa e de reformular tudo ou parte do que me levou a percorrer esse preciso caminho,
quer ainda porque cada viagem, mesmo a do meu mais chegado Irmão, seguiu rumos
diversos dos meus, levando a linguagens distintas, a conceitos diferentes, a
complexas variantes.
Cada um, em cada
momento, encontra diferente Palavra, vê diversa Luz, preserva variado Segredo,
porque cada um viaja para destinos diferentes: cada um viaja até ao fundo de si
mesmo e cada um é todo um Universo diferente do parceiro do lado.
Nessa viagem, nesse
trabalho, nessa busca, cada um procura coisa diversa. Eu só posso definir o que
neste momento busco. Já me reconciliei – há muito! – com a finitude da vida
neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso
por que, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o
cósmico como.
Por agora, desde há
muito e não sei até quando, concentro-me na busca do sentido da Vida e da
Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa desse sentido. Busco o melhor ângulo
para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através
do sentido da Criação, entrever o Criador… E tudo isto eu – neste momento –
busco, em fantástica viagem, sem outro veículo que não eu próprio, não
consumindo outro combustível senão tudo aquilo de que me interiormente despojo,
sem outro destino e caminho senão o fundo de mim mesmo.
Porque é o
conhecimento de mim mesmo, em todas as complexas vertentes que condicionam o
meu Eu, que me habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e quem o criou e por que
e para quê e como.
Eu sou a pergunta,
a pergunta sem resposta, a pergunta buscando a resposta e, simultaneamente, a
resposta contida na própria pergunta, que me levará a nova pergunta, que gerará
nova resposta, em contínuo alargar de horizontes, que espero me permita
entrever o que está para além do horizonte e contém todos os horizontes…
Confuso, não é?
Pois é! Eu bem avisei que o segredo maçônico esotérico é aquele que existe
porque não se consegue transmitir…
Rui Bandeira –
Mestre Maçom