A MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO FARROPILHA


 

As Duas Colunas, o Barrete Frígio, os dois Triângulos justapostos, as Três Colinas, os ramos de Acácia e Louro, são Justos e Perfeitos.

O SIMBOLISMO DO ESCUDO RIOGRANDENSE

No meio de um troféu de armas e bandeiras, um escudo oval, tendo duas colunas plantadas sobre rochedos, e, no meio delas, um losango com rosáceas às pontas e um quadrado, em que o barrete frígio republicano repousa sobre uma haste, em dois ramos.

“O barrete frígio se encontra entre rosáceas simbólicas, que, mais tarde, se transformarão em estrelas. Essas rosáceas são as do Sephirot da Cabala, como se pode facilmente verificar na gravura colorida que abre o cap. XXI da grande obra de Manly P. Hall, “Encyclopedia of Masonic, Hermetic and Rosicrusian Symbolical Philosophy”. O losango nada mais é do que a representação dos dois triângulos que formam a chamada Estrela de David. Estão unidos pela base e significa o dualismo maniqueu, a igualdade do Bem e do Mal, em luta constante”.

“O rochedo é o que se chama em linguagem maçônica a Pedra Bruta: o homem tal qual o fez a natureza e a sociedade”, ensina Henri Durville, em “Os mistérios da Maçonaria e das sociedades secretas”. O maçom Dario Veloso, em “O Templo maçônico”, considera a Pedra Bruta o "estado primitivo, ignorância, paixões, egoísmo” e, acrescenta: “trabalha com ardor na Pedra Bruta e verás brilhar a Estrela Flamejante”.

“As duas colunas são as que estão em todas as Lojas”. “As Colunas do Templo simbolizam - declara Dario Veloso - dois princípios de equilíbrio social: Tolerância e Solidariedade. Na família, representam o Homem e a Mulher, cujo antagonismo se resolve pelo Amor. Analogicamente, representam ainda: a Razão e a Fé; a Ciência e a Religião; o Bem e o Mal; a Luz e as Trevas.” Uma delas, J.'. é o Espírito, e a outra B.'. é a Matéria: o Ativo e o Passivo, a Liberdade e a Necessidade.”

(Segundo Gustavo Barroso, in "História Secreta do Brasil", reproduzido por Morivalde Calvet Fagundes, na obra "Rocha Negra a Legendária”).

O SIMBOLISMO DA BANDEIRA SEGUNDO O CONDE TITO LÍVIO ZAMBECCARI

“Na Bandeira, os triângulos retângulos, de cores verde e amarela, figuras geométricas da perfeição; o quadrilongo central em vermelho, representação do mundo na concepção dos antigos. Assim, na linguagem do pavilhão, o mundo das lutas presentes, tinto de sangue, é a base ao mesmo tempo do progresso material, representado pelo triângulo cor de ouro, e da perfeição moral, pelo triângulo cor da esperança. No Escudo, as Colunas de Hércules, o "nec plus ultra” da marcha aparente do Sol, significando que o Poder e a Sabedoria de Deus estão acima dos julgamentos dos homens; as romãs (não balas de canhão antigo como consta da lei que instituiu a Bandeira atual) que as encimam, imagens da harmonia social; nos triângulos do quadrilátero, as estrelas flamígeras de cinco pontas, designação da quinta essência universal, do espírito animador de todas as coisas; o barrete frígio, emblema da República e da liberdade; a espada (e não o sabre) que o sustenta, símbolo da justiça e da inflexibilidade no cumprimento da lei; os ramos de acácia (e não de fumo e erva-mate), evocação do florescimento das idéias que devem encher de beleza a vida dos homens. O número três, o número místico das idades sagradas, está nas suas cores, nos seus desenhos e, ainda, ao sopé do escudo, no dístico da República, inspirado na Revolução Francesa”.

(Da Peça de Arq.'. do Irm.’. Maximiano Pombo Cirne em 19/09/1975 na A. R. L. S. “Província de São Pedro”, citando "Garibaldi e a Guerra dos Farrapos", obra de Lindolfo Collor.)

SOBRE O DÍSTICO "LIBERDADE, IGUALDADE E HUMANIDADE"

Sobre o lema “Liberdade, Igualdade e Humanidade” que completa o brasão, uma interpretação pessoal, porém fundamentada: ao contrário do que muitos pensam, o lema da I República, instaurada pela Revolução Francesa em 1789, era “Liberdade, Igualdade ou Morte”. Somente na II República (1848-1852) é que surgiu a “tríplice divisa”, “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, depois adotada pela Maçonaria Francesa.

Como a Revolução Farroupilha ocorreu entre as I e II Repúblicas Francesas, acredito que os Maçons Farroupilhas resolveram substituir a palavra “morte" por um conceito mais adequado às elevadas aspirações maçônicas e à própria revolução. Para a Maçonaria, “Humanidade" representa os ideais de fraternidade e amor entre todos os seres humanos, objetivo permanente a ser alcançado.

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA E OS MAÇONS

Entre 20 de setembro de 1835 e 01 de março de 1845 os Gaúchos revoltaram-se contra o Império e fundaram a República rio-grandense, por não suportarem o descaso da metrópole e a constante sangria de recursos. Foram mais de cem combates nos quais os Farroupilhas, com bravura e honra, mantiveram durante mais de 9 anos “a guerra de uns poucos contra um Império”.

Alguns dos principais líderes do movimento eram maçons, dentre eles: Gen. Bento Gonçalves (33°); Gen. David Canabarro (18°); Gen. Antônio de Souza Netto - que em 11/09/1836 proclamou a Independência da República rio-grandense; José Mariano de Matos (18°) e Giuseppe Garibaldi, depois Grão-Mestre do Gr. Or. da Itália, imortalizado como “O Herói de Dois Mundos”, por sua luta pela unificação daquele país.

Também era maçom o Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, na época Barão de Caxias e comandante militar do Império. Isto certamente facilitou as negociações e o tratado de paz. Demonstrando seu respeito pelos Farrapos, o Irm.’. Caxias chegou a dizer: “homens como estes não se vence pelas armas”.

 

A MAÇONARIA E A RELIGIÃO – CONFLITOS E CONVERGÊNCIAS


 

A Maçonaria foi e é perseguida pelos governos totalitários e diversas ordens religiosas. É acusada de subversão à ordem pública e o culto ao demônio. O anti maçonismo é antigo, singular e fantasioso e há muito é público.

Na História surgiram poderosos detratores da Ordem Maçônica, imbuídos de preconceitos dissimulados, aproveitando-se do nível de ignorância e crendices, como meio de gerar adeptos às suas inverdades, um método antigo, mas que infelizmente ainda existente.

Sustentam os anti-maçons religiosos, que a tolerância religiosa é incompatível com a respectiva doutrina. Outros, sob alegação de combate ao “culto às imagens”, acusam a Maçonaria de culto a símbolos demoníacos.

Mas, o pano de fundo do anti-maçonismo religioso surge com o anglicanismo. Henrique VIII, Rei da Inglaterra, desobedece ao papa e divorcia-se da sua primeira mulher, casando-se com Ana Bolena, sendo então excomungado. Em 1534, numa disputa de poder com o Papa, o Parlamento inglês aprova o Ato de Supremacia, que, colocou a Igreja sob a autoridade real: nascia assim a igreja anglicana.

A Maçonaria especulativa sempre foi aceita pelo catolicismo, tanto é que eram os maçons operativos quem construíam as antigas Igrejas e Catedrais, sendo adornadas com inúmeros símbolos maçônicos.

Mais tarde, de iniciativa dos pastores protestantes ingleses James Anderson e J. T. Desaguiliers surge a Grande Loja da Inglaterra. Em 1723, Anderson elabora a primeira Constituição maçônica. Criava-se um sistema de regularidade para a Maçonaria e só quem fosse reconhecido pela Grande Loja da Inglaterra poderia ser considerado Maçom regular. Para tanto era preciso ter como princípio, dentre outros, a tolerância religiosa.

Por isto mesmo, o conflito entre anglicanos e católicos, num movimento de contra-reforma da Igreja Católica, fez com que a intolerância religiosa transpirasse para a Maçonaria.

Vinte e um anos após 1717, ano em que se considera o início da Maçonaria moderna, o Papa Clemente XII promulgou a bula In Eminenti Apostolatus Specula, a primeira de uma série de condenações pontifícias da Maçonaria, pondo os Maçons sob suspeita de heresia, e para o que mandava aos Ordinários locais e aos Inquisidores que castigassem os transgressores com penas proporcionadas “tanquam de haeresi vehementer suspectos” – tanto quanto forem suspeitos de heresia.

A partir desta palavra oficial da Igreja, foi proibido aos católicos pertencer à Maçonaria.

Este documento é obscuro no seu arrazoado, porém, com a bula: Providas Romanorum Pontificium, promulgada pelo Papa Bento XIV em 1751, enumeram-se as suas razões para a condenação:

A primeira é que, nas tais sociedades e assembleias secretas, estão filiados indistintamente homens de todos os credos, daí, ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica;

A segunda é a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo o que se passa nas assembleias secretas;

A terceira é o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa e juramento com o fito de se furtar a prestar declarações ao legítimo poder…;

A quarta é que tais sociedades são reconhecidamente contrárias às sanções civis e canônicas…;

A quinta é que em muitos países as ditas sociedades e agremiações foram proscritas e eliminadas por leis de príncipes seculares;

A sexta é que as tais sociedades e agremiações são reprovadas por homens prudentes e honestos…

A questão agravou-se com o movimento da Reunificação da Itália (período que foi de 1848-1870). O governo italiano estava fragmentado e dividido entre bispos católicos, que eram proprietários de grandes extensões de terras. Este governo vir-se-ia envolvido em escândalos e corrupção, e sustentava-se explorando o misticismo medieval e no fundamentalismo religioso.

Exceptuando-se o segredo, cuja natureza e conteúdo nada dizem as bulas, não parece existir nada de verdadeiramente grave capaz de justificar a pena de excomunhão, a não ser o problema de a Maçonaria albergar no seu seio homens de todos os credos, e o contacto com o movimento iluminista.

Aproveitando-se do segredo e sigilo maçônico, reunindo-se em segredo nas Lojas Maçônicas, coordenou-se uma verdadeira revolução que retomou as propriedades das mãos da Igreja, destacando-se dentre eles Giuseppe Garibaldi, que dedicou a sua vida à luta contra a tirania.

Este episódio despertou o ódio do clero católico contra a Maçonaria, a ponto do papa Leão XIII (1846), redigir a encíclica HUMANUM GENUS, dizendo:

“a Igreja católica e a Maçonaria são como dois reinos em guerra” e que “a finalidade da Maçonaria é destruir toda ordem religiosa e política do mundo inspirada pelos ensinamentos cristãos e substituí-las por uma nova ordem de acordo com as suas ideias”, estimulando “o sincretismo religioso, isto é, a mistura das mais diferentes crenças”.

De Pio IX a Leão XII há nada menos que 350 interferências papais contra a Maçonaria, vendo na instituição conspirações contra a Igreja e os regimes monárquicos. Lembremo-nos que a aliança entre o trono e o altar era uma realidade concreta de manutenção do poder monocrático.

É mister registar que o Iluminismo influenciou e influencia o pensamento maçônico, cujo sentido mais amplo de pensamento em contínuo progresso sempre perseguiu o objetivo de acabar com o medo dos homens e torná-los senhores de si – tem coragem de servir-te de tua própria inteligência.

Sendo uma filosofia otimista, “algum dia, tudo será melhor – eis a nossa esperança”, dizia Voltaire. A sua razão é a razão de Locke e de Newton, sendo uma razão independente das verdades da revelação religiosa e que não conhece as verdades inatas das filosofias racionalistas, e que se limita e é controlada pela experiência.

No Brasil, as ideias iluministas sofreram um atraso na recepção das ideias maçônicas por conta dos portugueses porque somente no final do século XVIII, com a reforma pombalina, a Universidade de Coimbra deixou para trás a filosofia cristã e a escolástica como bases da formação de gerações de intelectuais, dentre eles vários brasileiros, diferentemente do que ocorreram noutros países europeus.  As sociedades secretas, dentre elas a Maçonaria, somente se consolidaram e passaram a exercer movimentos liberais no início do século XIX.

A luta entre a Igreja Católica e a Maçonaria no Brasil tornou-se acesa em virtude de um incidente ocorrido em 1872 no Rio de Janeiro. Naquela época e apesar das diversas condenações da Maçonaria pelos Papas, havia muitos padres que pertenciam a lojas maçônicas. Também muitos homens notáveis da época eram maçons.

Em Março, pouco antes de D. Vital ser eleito bispo de Olinda, houve uma festa da Maçonaria que comemorava a Lei do Ventre Livre, obtida pelo então principal Ministro do Imperador, Presidente do Conselho (chefe de governo), o Visconde de Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco, homem realmente capaz, de notável inteligência e também grau 33 da loja maçônica da Rua do Lavradio. Um dos oradores da festa foi um padre, chamado Almeida Martins.

O bispo do Rio, D. Pedro Maria de Lacerda, escandalizado, chamou o Padre Martins em particular para lhe ponderar que ele não podia ser padre e Maçom ao mesmo tempo. O Padre recusou atender a qualquer ponderação. O Bispo suspendeu-o de ordens. A Maçonaria considerou-se atingida e fez uma grande assembleia que foi presidida pelo Chefe do governo, o Visconde do Rio Branco. Decidiram então iniciar uma grande campanha contra a Igreja e a essa campanha uniram-se os maçons de uma ala dissidente.

Coletaram fundos e começaram os ataques. Fundaram inúmeros jornais para a campanha: no Rio, o jornal “A Família”; em São Paulo, o “Correio Paulistano”; em Porto Alegre, “O Maçom”; no Pará, o “Pelicano”; no Ceará, “A Fraternidade”; no Rio Grande do Norte, “A Luz”; em Alagoas, “O Labarum” e em Recife, dois, “A Família Universal” e “A Verdade”.

Em Maio de 1872, com apenas 27 anos, D. Vital assumiu a sua Diocese em Olinda, sendo recebido com solenidade e tomando posse do seu cargo na Igreja do Espírito Santo. Logo iniciou campanha contra a Maçonaria, o que originou a chamada “Questão Religiosa”.

Nesta época, a Maçonaria era proibida, pelo Papa, aos católicos. Todavia no Brasil a Maçonaria atuava normalmente e era seguida pela maioria das personalidades do Império. D. Vital encontrou na Diocese muitos padres maçons e confrarias governadas por maçons, em cujas mãos estavam as chaves das igrejas e até as do sacrário.

D. Vital iniciou com apoio de D. Antonio Macedo Costa, também Bispo, de Belém do Pará, campanha contra a Maçonaria, impondo restrições às confrarias, cujos membros foram convidados a abandonar a Maçonaria, ficando suspensos os que não o fizessem.

As Irmandades suspensas por D. Vital apelaram para a Corte. O bispo foi interpelado, mas negou-se a explicar ao Ministro Visconde do Rio Branco a razão dos seus atos, que considerava de exclusivo domínio da hierarquia da Igreja.

Em 12 de Abril do mesmo ano, D. Vital fora intimidado para suspender as proibições feitas, mas o bispo não recuou, continuando no cumprimento do seu dever.  D. Pedro II encolerizou-se com a resistência e convocou o Conselho de Estado. Dos 11 membros do Conselho, só o Visconde de Abaeté protestou contra as violências que estavam sendo praticadas contra os bispos. Pela oposição aos religiosos, além dos maçons militares chefiados pelo Visconde, colocavam-se Rui Barbosa, Franklin Távora, Saldanha Marinho, Joaquim Nabuco e outros. No entanto em todo o país, os católicos despertavam à voz de protesto de Zacarias de Góis, de Antonio Ferreira Viana, do jurista Cândido Mendes, de Silveira Lobo, de Figueira de Melo, de Tarquínio de Souza e de dezenas de outras figuras marcantes.

Entre os padres, havia alguns menos cumpridores dos seus deveres, sobressaindo-se o popular padre Joaquim Francisco de Faria, de Olinda, que depois de advertido, foi suspenso, o que motivou cenas de vandalismo por parte dos seus amigos e de arruaceiros, encabeçadas por figuras notáveis do partido liberal. No dia 14 de Maio de 1873, a Igreja dos Jesuítas foi invadida e depredada, ferindo dezenas de fiéis que assistiam às cerimônias.

Os bispos D. Vital e D. Macedo foram presos e condenados a quatro anos de prisão e trabalhos forçados, a mando do Imperador, que ainda enviou um emissário a Roma, o Barão de Penedo, com a finalidade de conseguir do Papa Pio IX uma condenação para os bispos, não logrando êxito.

Centenas de milhares de assinaturas de protesto chegaram às mãos do governo provocando a queda do Gabinete do Visconde do Rio Branco. O Imperador teve dificuldades de encontrar um chefe de gabinete capaz de superar a crise e teve de ir bater à porta de Duque de Caxias, que só aceitou o cargo com a condição de que os bispos fossem anistiados aliviando assim uma crise mais aguda ainda. Através do Decreto 5.993, de 17 de Setembro de 1875, foi então decretada a anistia, assim colocando um final neste doloroso episódio.

Mais recentemente o Concilio Vaticano II não tocou na questão da Maçonaria, por isso, tornando-se evidente que as relações entre igreja e Maçonaria tinham mudado bastante.

Em Julho de 1970, autoridades maçônicas e sacerdotes católicos representando os países de língua alemã, reuniram-se para um dialogo acerca das relações entre a igreja e a nossa ordem.

No seu término foi redigido um documento que lamenta que as leis da igreja condenem os maçons, enquanto as Grandes Lojas consentem ao católico tornar-se membro de uma loja maçônica, sem que por isso a sua fé religiosa sofra dano.  Diz ainda: os maçons não possuem uma comum representação de Deus.

De fato, a Maçonaria não é uma religião e não ensina uma religião. A Maçonaria adota, sem dogmas, uma atitude ética de vida e educa para isto mediante símbolos e rituais. Os maçons prestam homenagem ao principio da liberdade de consciência, de fé, de espírito e repelem qualquer constrangimento que ameace esta liberdade.  No entanto, a Conferência Episcopal alemã na celebre declaração de 1980 afirma que esse documento não obteve autorização eclesiástica. 

Esta conferência foi constituída por uma comissão que durante seis anos (74 a 80) analisou a hipótese de católicos pertencerem aos quadros maçônicos, e detectou uma aparente convergência de funções e objetos comuns a igreja e a Maçonaria, tais como: a preocupação humanitária de ambas as entidades;  a obra de beneficência;  concepção e uso de símbolos;  analogia entre hierarquia eclesiástica e graus na Maçonaria e uma comum oposição contra o materialismo.

Embora estes itens apontem para uma identidade que poderia permitir um novo relacionamento, foram também apresentados aspectos de incompatibilidade, tais como: o relativismo e o subjetivismo; o conceito maçônico de verdade; de religião e de Deus; a ideia maçônica de tolerância; a prática ritual; o aperfeiçoamento ético do homem e a espiritualidade maçônica.

No Brasil, o pedido de uma revisão de toda a questão do relacionamento Igreja- Maçonaria partiu de alguns cardeais. D. Avelar Brandão Vilela fez um gesto que teve enorme repercussão no mundo e causou problemas com a Cúria Romana. No natal de 1975, celebrou missa na Grande Loja Liberdade e no dia seguinte, escreveu ao Núncio Apostólico justificando a sua atitude. Ele achava que, depois de um dialogo com os maçons, no qual 90% destes se declaravam católicos praticantes, chegara o momento de tentar um entendimento real.

D. Luciano Cabral Duarte também entabulou, em 1969, um dialogo com a loja Maçônica de Aracaju, para a qual fez a proposta de colaboração numa obra comum em favor dos pobres do NE brasileiro. O Cardeal D. Vicente Scherer endereçou a CNBB o pedido de se estudar a possibilidade de uma mudança de atitude em relação a Maçonaria brasileira, o assunto foi debatido na assembleia geral da CNBB de 1974, que por unanimidade aprovou a seguinte resolução: A igreja está disposta a rever a sua posição em relação a Maçonaria. Não pode fazê-lo no momento, porque não conseguiu obter suficientes dados e informações que lhe dêem segurança para rever as normas disciplinares vigentes para os católicos.

No novo Código Canônico de 1983, desapareceria a excomunhão latae sententiae (automática) contra os Maçons, assim como as proibições de lhes dar sepultura eclesiástica, admiti-los como padrinhos de batismo e crisma, faltando inclusive qualquer referência explícita à Maçonaria. Assim a imposição da “justa pena” não era mais automática, mas fica a cargo da autoridade competente.

No entanto a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a antiga Inquisição, a mais alta autoridade em questões doutrinárias da Igreja, na época sob a direção do alemão Cardeal Prefeito Ratzinger, eleito Papa Bento XVI no ano de 2005, fez publicar a 26 de Novembro de 1983 a seguinte “Declaração sobre as Associações Maçônicas”:

Esta Congregação quer responder que tal circunstância, a de não ser citada a Maçonaria, é devido a um critério redacional seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
.
Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.

Em esclarecimentos oficiosos posteriores a Igreja prolatou:

Não é por acaso que na Maçonaria se encontram, em todas as latitudes, duas características do iluminismo: a confiança absoluta na luta nos poderes infalíveis da razão e da experiência, e o senso da imensidão da natureza, governada pelas leis férreas do mecanismo universal, nem sempre favorável ao homem.

Jamais é proposta pelos Rituais Maçônicos a substituição de Deus pela razão, mas sim que absolutamente o maçom busque auto-aperfeiçoar pela razão até mesmo a sua fé, que fuja da ignorância opressora, da superstição, do fanatismo e da submissão intelectual, pois estas não são virtudes de um homem livre que pretenda a sua própria evolução e a evolução da humanidade.

Os trabalhos de desbastar e polir a pedra bruta representa o esforço humano em busca de si mesmo e do aperfeiçoamento da sua vida moral, quando procura dar ao homem uma nova estatura, uma amplidão maior da sua visão até mesmo para melhor compreender e assimilar as verdades propostas pela sua religião.

Em assim sendo, fica claro, dois fatos determinaram a ruptura entre a Igreja e a Maçonaria, dando origem ao anti-maçonismo. O primeiro foi a disputa política entre o papa e o rei da Inglaterra (século XVIII); o segundo a disputa de terras entre bispos católicos e italianos (Século XIX). Maçons envolvidos nesses dois episódios determinaram a ruptura entre a Maçonaria e a Igreja Católica. O Iluminismo serve de pano de fundo para a divergência secular, mas sem dúvida o diálogo franco entre homens de bem um dia alcançará a respeitabilidade recíproca do entendimento tão almejado.

Maurilo Humberto

Bibliografia

Chaves da Espiritualidade Maçônica, Fernando Cesar Gregório – Ed. Maçônica A Trolha – págs.. 85 a 94 – Julho de 2007

As Raízes do Anti-Maçonismo – Ir.: Marcos Mendes, Juiz de Direito – http://mictmr.blogspot.com/2005/12/as-razes-do-anti-maonismo.html

Plantando Ramas de Acácia – Eliane Lucia Colussi – Venda das Raparigas – Portugal – http://www.triplov.com/Venda_das_Raparigas/Ramas-de-Acacia/Parte1/colonia.htm

Fundação Joaquim Nabuco – Dom Vital – http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=301&textCode=4787&date=currentDate

Dom Vital e a Maçonaria – Júlio Fleichman – http://www.permanencia.org.br:80/revista/indicehistoria.htm

A Igreja e a Maçonaria – Irmãos Hamilton Mor Francisco, João Carlos Doneda e Ricardo de Albuquerque – 2004 – Seminário de Companheiros;

Padre Torquato – Biblioteca Virtual do Amazonas – http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoria/00137_macom.php

História da Educação do Brasil – Período Pombalino – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb03.htm#topo

História das Universidades Portuguesas – A Universidade da Reforma e o período pombalino – http://www.universia.pt/conteudos/universidades/universidades_portuguesas/liberalismo.jsp

Maçonaria e a Igreja Católica versus Igreja Católica e a Maçonaria – Ontem, Hoje e Sempre – Ir.: João Lucas de Oliveira – http://www.samauma.com.br/portal/default.asp

 

MAÇONS NÃO FRACASSAM

O título do artigo não trata da apologia ou lembrança apaixonada dos momentos vividos pelo neófito na iniciação. Refere-se, sim, aos Maçons realmente iniciados.

Existe um enorme abismo entre viver a vida e vivenciar a própria vida; ir ao trabalho ou ir trabalhar; estar Maçom ou ser Maçom.

Para o espírito, nada é fácil nas experiências terrenas. O aprendizado não se dá facilmente na primeira ou em uma única viagem.

Assim é também na Maçonaria. Compreendemos esta realidade quando nos encontramos em ambientes revoltos, na condição de “aeronautas de primeira viagem”. O AR circula ruidoso e desconexo, nos lembrando momentos de embaraços de nossos intentos na vida.

Somente a CORAGEM instruída pela Maçonaria nos ensina a suportar os revezes da sorte.

E a vida continua. A segunda viagem possui maior peso. Reconhecemos o estado de trevas, desejamos a Luz e torna-se explícito o desejo de nascer de novo. Sempre haverá um entrechocar de armas entre as Trevas e a Luz. Armados com o aperfeiçoamento dos costumes, o Maçom sairá vitorioso no combate.

Assim como o movimento incessante da ÁGUA, reconhecemos estar na vitória o resultado da CONSTÂNCIA e da PERSEVERANÇA, cujo prêmio é a paz de consciência.

Mas, a vida não para. Sempre surgirão novos desafios. Com o FOGO aprendemos a enxergar a verdadeira glória no trabalho ininterrupto em prol dos Irmãos, sempre com FERVOR e ZELO, com vistas à felicidade humana.

Mas, esta batalha nunca acabará? Enquanto houver vida, ela não tem fim!

Quando retornarmos ao pó de onde viemos, nos reintegraremos à TERRA, sustentáculo da matéria. Este retorno não se arremata pelo sacrifício da vida, mas pelo compromisso dos deveres maçônicos, sem medo de perseguidores e dos Jubelos da Ordem.

 

Maçonaria exige DEDICAÇÃO e RESIGNAÇÃO. Guerras são o suceder de conquistas em batalhas. O destino final se alcança no vivenciar pleno do passo a passo. O Maçom sabe que a vitória só chega no melhor momento de sua vida.

O Maçom Herry Ford, que alcançou muitas glórias na vida advindas de incessantes e persistentes lutas, nos deixou esta máxima:

PESSOAS NÃO FRACASSAM. ELAS SIMPLESMENTE DESISTEM.”

O MAÇOM NUNCA FRACASSA, SIMPLESMENTE PORQUE O MAÇOM
REALMENTE INICIADO NÃO PODE DESISTIR.

 

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, legítimo Construtor Social.

 Ano 15 – Artigo 18 – Número Sequencial 823 – 23 Maio 2021


Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!
Fraternalmente Sérgio Quirino

 

 

SER MAÇOM: UMA QUESTÃO DE LIBERDADE


 

Alguns leitores têm manifestado alguma curiosidade sobre o que é a Maçonaria. O que é? Quem a ela pertence? O que visa?

Achei interessante o desafio. Assim, não pretendendo maçar-vos com textos extensos e pouco perceptíveis, vou “iniciar-vos” com algumas ideias gerais. Dependendo do vosso interesse, “juro” que se seguirão outras crônicas.

Dado que é a primeira vez que me “revelo” Maçom para a minha família de sangue, dedico-lhes estas palavras. Aqui vai, Vale de Cavalos. Ao meu avô que vive no lado de lá, ao “Oriente Eterno”.

Começo por dizer que falo de Maçonaria, na visão que tenho dela. Nenhum Maçom, a não ser que devidamente mandatado para tal, se assume como porta-voz dos seus irmãos. É uma postura pessoal, como o são todas as posturas dos maçons: livres, pessoais e intransmissíveis. Daí o “segredo” de que tanto se fala.

Que mais não é do que a forma interiorizada, espiritualizada como cada Maçom vive, a cada dia, a sua “iniciação” e o seu “aprendizado”. Da “pedra bruta” que é quando, neófito, se entrega ao trabalhá-la, para o resto da sua vida, numa linha contínua de aperfeiçoamento e melhoramento, até a “pedra polida”.

Posso, como apaixonada por História, mencionar-vos o papel que desempenhou na História do Mundo na implantação de uma comunidade que se rege pelas máximas da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade (o lema adotado pelos insurgentes durante a Revolução Francesa).

Posso como cidadã, esclarecer-vos que não se trata de uma sociedade secreta, mas sigilosa ou discreta, dependendo da forma mais ou menos livre com que cada Maçom assume (ou não) que o é. Tudo depende dos tempos. Em liberdade ou em ditadura, assumir que se é Maço é já, de per si, um ato de liberdade.

Digo-vos que nenhuma ditadura (muito menos o Estado Novo, já que se comemora também Abril) foi complacente com os maçons, porque estes antagonizam como livres-pensadores que são os poderes instituídos. O secretismo, esse está e esteve sempre diretamente relacionado com a maior ou menor Liberdade em que o país vive em cada momento da sua História.

A Maçonaria foi secreta quando perseguida pela Inquisição, por Pina Manique ou durante o período que se opôs liberais a miguelistas. Voltou a ser secreta quase cem anos depois com a ditadura do Estado Novo.

Foi “secreta” sempre que a Liberdade perigou. Posso como jurista, dizer-vos que é uma ordem com regras próprias, a que apenas adere quem é convidado por maçons que detém a qualidade de mestres e que apenas quem possui tal “grau” se pode assumir como tal.

Posso como Maçom, confirmar-vos que não é uma religião, mas uma ordem iniciática pautada por valores e princípios que transcendem a mera crença num Deus, que, consoante a religião de cada Maçom ou até para os agnósticos e ateus, acredita na existência de uma entidade superior, a que chamam o “Grande Arquiteto do Universo”.

Posso, por fim, como co-fundadora da Academia de Estudos Laicos e Republicanos (fundada por “sete” “Irmãos”), trocar impressões sobre o modo como influenciou os destinos do nosso País, sobretudo num ano em que se comemora a República: um sonho (também) de maçons. Nas vésperas de 1910, ser-se republicano significava ser civicamente ativo e ser-se pela democracia de opinião por oposição ao Estado centralizado na figura do rei.

Por isso, muitos republicanos eram maçons e outros tantos carbonários (o “braço armado” do movimento republicano). A estrutura funcional da Maçonaria de antanho era idêntica à de hoje, na forma de trabalhar. Em 1910, a Maçonaria estruturava-se em “Lojas” e “Triângulos”, dispondo o Grande Oriente Lusitano Unido de órgãos específicos com caráter legislativo, executivo, judicial e ritual. Eram locais privilegiados de debate, contribuindo para que a República fosse encarada como uma alternativa ao regime monárquico.

Discutiam temas de interesse nacional, focando-se no sistema de ensino, na organização política e econômica do país, com enfoque nas matérias de caráter social: a pobreza, o divórcio, os horários de trabalho, a assistência médica pública, o movimento operário ou o analfabetismo.

Os maçons, tratando-se por “Irmãos”, possuíam uma estrutura piramidal, tendo na base as “Lojas” azuis, incluindo os “graus” de “aprendizes”, “companheiros” e “mestres”. Era na faixa litoral que se concentrava o maior número de Lojas, onde o Porto, Coimbra e Leiria, possuíam uma atividade maçônica significativa, mas era, sobretudo, Lisboa que projetava a politização nacional, com reflexos diretos naquele que viria a ser um marco (outro) de LIBERDADE: o 5 de Outubro.

Anabela Melão

Fonte

https://noticiasdoribatejo.blogs.sapo.pt/

 

 

OS BONS COSTUMES NA MAÇONARIA


 

Ao pensarmos em Maçonaria, o que vem a nossa mente, quase de imediato, é a figura do maçom. Essa imagem é projetada em nossa sociedade atual, pela postura dos nossos antecessores, que consolidaram seu caráter, hábitos e costumes irrepreensíveis junto as mais diversas questões políticas e sociais das quais fizeram parte.

Nesse sentido, nosso objetivo é o de reforçar o quanto os bons costumes que são indissociáveis da Maçonaria, pois, através deles, o maçom consolida-se como paradigma da sociedade a que pertence.

Assim, é importante destacar que entendemos costume como o hábito ou a prática reiterada associada à moralidade, geralmente observada pela sociedade, ou seja, procedimentos ou comportamentos que são prescritos do ponto de vista moral. São atitudes ou valores sociais consagrados pela tradição.

“Costume é a regra aceita como obrigatória pela tradição ou consequência do povo, sem que o poder público a tenha estabelecido”.

Vale à pena lembrar que, a retidão, a honestidade, a lealdade, o respeito, a tolerância e a justiça são imprescindíveis ao Maçom, uma vez que é visto como paradigma da sociedade, significando que ele é possuidor de bons costumes e reputação ilibada.

Na Maçonaria, os bons costumes são entendidos como valores morais indispensáveis ao maçom, os quais representam o somatório de suas ações e comportamentos do passado e do presente. Nessa esteira, a Maçonaria pode ser entendida como um centro de união fraternal, onde a retidão, a responsabilidade e aperfeiçoamento devem ser permanentes. Além disso, defende e propaga o respeito e a prática da ética e da moral.

Os bons costumes referem-se, portanto, como foi dito acima, tanto ao passado quanto ao presente, isto é, correspondem ao somatório dos dois. Quando a conduta, o comportamento, a postura e as atitudes positivas são reconhecidas pelos que estão mais próximos ou pela sociedade em geral, podemos dizer que se trata de alguém de bons costumes e, consequentemente, de reputação ilibada.

Dessa forma, podemos dizer que o objeto principal deste trabalho é despertar no Maçom o interesse pelo verdadeiro significado daquilo que nós chamamos de “Bons Costumes”.

Entretanto, há aqueles que acreditam que “os bons costumes” se referem tão somente ao estado atual de uma pessoa, o que não corresponde à verdade, esse entendimento é equivocado, uma vez que, os “bons costumes” podem ser compreendidos como a prática reiterada de boas ações, abrangendo passado e presente.

A Maçonaria é uma sociedade que, acertadamente, só admite em seu quadro, homens retos, de bons costumes e possuidores de comportamento ético, moral e humanístico compatíveis com sua finalidade, isto é, que vise alcançar o ápice do aperfeiçoamento humano, razão pela qual, para ingressar nos seus quadros exige-se o preenchimento de requisitos que contemplem a retidão do seu pretendente.

Há que ser ressaltado que, a Constituição do Grande Oriente do Brasil, logo no seu artigo 1º corrobora o objetivo deste trabalho, dando balizamento para várias situações. Diz o dispositivo legal que, a Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, proclamando a prevalência do espírito sobre a matéria.

Além disso, estabelece que seus fins supremos sejam a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, pugnando pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade. Assim, acreditamos que, a possibilidade de alcançarmos o aperfeiçoamento humano deve ser precedido pelos bons costumes.

Desta forma, a Maçonaria, através da observância dos seus princípios e valores, acima enumerados, aliado à prática da beneficência e do cumprimento inflexível dos deveres e responsabilidades, quer nos parecer que, por si só, poderia justificar a repulsa que os maçons devem sentir em face da corrupção, ao mesmo tempo em que defende e propaga o respeito e a prática da ética, da moral e dos bons costumes.

Por outro lado, quer nos parecer ainda que, a Maçonaria deseja, em primeiro lugar, proporcionar o encontro do Homem Maçom consigo mesmo, transformando-o no seu próprio paradigma. Assim sendo, faz-se necessário que, o Maçom esteja sempre atento ao aprendizado e à prática correta dos princípios maçônicos, ao mesmo tempo em Material.

A justificativa talvez seja que a saúde material se faz necessária, sobretudo quando da prática da filantropia ou beneficência, uma das ações básicas da Ordem. Como já foi dito anteriormente, a filantropia é, também, dentre tantas, uma das finalidades da Maçonaria.

Sua terminologia pode ser traduzida como a “Mão da Maçonaria” estendida aos necessitados, Irmãos ou não, mas “dando com a mão direita sem que a esquerda saiba”.

Todavia, modernamente, a solidariedade deve, a nosso ver e com razão, sobrepor-se à filantropia, uma vez que esta, simplesmente, “dá o peixe”, ao passo que aquela, “ensina a pescá-lo”, ou seja, em uma delas a fome é saciada por um dia, já na outra, a fome pode ser afastada não por um dia apenas, mas para sempre.

Vale à pena lembrar que, o progresso que a Maçonaria admite como essencial, pode ser definido como melhoramento da humanidade, calcado no aperfeiçoamento ético, moral, intelectual e social dos seus membros.

Além do mais, ela tem como alguns de seus símbolos o Cinzel e o Malho que, juntos, servem de instrumentos para desbastar a Pedra Bruta que somos e, ao mesmo tempo, construir nosso Edifício Moral ou Espiritual.

Esta é a verdadeira evolução humana, mesmo porque o Maçom deve, necessariamente, buscar a perfeição humana, até tornar-se um Mestre de fato, não se deixando confundir com um profano de avental. É bem possível que, para muitas pessoas, ser livre significa não ter limites.

Contudo, para o Maçom, a liberdade deve consistir numa via de mão dupla, ou seja, a liberdade exigirá sempre uma correlata responsabilidade. Isto porque a liberdade não exclui a disciplina, nem pode sobrepor-se à liberdade de outrem.

Assim sendo, “ser livre e de bons costumes”, tem um significado extremamente importante para a Maçonaria, uma vez que se presume que todo homem que preencha tais requisitos estaria, a princípio, em condições de ser iniciado na Arte Real e poderia, até mesmo, transformar-se em um bom Maçom, observador atento das tradições da Ordem.

Entretanto, para melhor compreender a frase acima, se faz necessário entender que ela seja interpretada à luz da ética e da moral. A terminologia “Livre” expressa o momento presente e diz respeito ao cidadão em pleno gozo de seus direitos civis, os quais guarda limites ao direito alheio.

Já a expressão “Bons Costumes”, refere-se não só ao presente, mas também ao passado, por tratar-se de um somatório de condutas, alcançando até os dias de hoje, ou seja, comportamentos e atitudes positivas reconhecidas pelos que estão próximos e pela sociedade em geral.

Nesse sentido, anda bem a nossa Ordem ao exigir que, para se iniciar em seus mistérios, há que ser levado em conta o presente e o passado do candidato, de tal maneira que, seja visto e analisado como um todo indivisível.

Só assim, será ele considerado apto ou não, isto é, livre e de bons costumes para receber permissão de ingresso na Ordem. Na verdade, homens de bons costumes são aqueles que têm valor social reconhecido ou consagrado, que se orientam pelas coisas justas, pela ética, pela moral, pela honestidade, pelas ideias mais elevadas, pela disciplina e pelo respeito.

Eles não participam de grupos que sejam desprovidos de moral ou honestidade, além do mais, devem desfrutar de boa reputação e ter conduta irrepreensível em todos os seus aspectos. Portanto, podemos dizer que, o homem livre é aquele isento de preconceitos, de maledicências, ou seja, deve, necessariamente, ter a consciência livre e que não tome o mal pelo bem.

Além disso, deve ser desprovido de quaisquer vícios. Isso nos permite inferir que, a corrupção e a ausência de bons costumes afastam toda e qualquer evolução ou progresso moral do Maçom, enquanto que a observância à ética, à moral e aos bons costumes o aproxima da sua evolução e progresso, especialmente, no campo espiritual.

Finalmente, concluímos convidando a todos os maçons, principalmente os do Grande Oriente do Brasil no Estado do Rio de Janeiro, a buscarem atitudes compatíveis com os bons costumes, sobretudo, que sejam comprometidos com a moral, a ética e a evolução maçônica, pois, só assim conseguiremos ascender ao patamar de Mestre Maçom de fato.

AILDO VIRGINIO CAROLINO Grão-Mestre do GOB-RJ

O SILÊNCIO NO GRAU DE APRENDIZ


 

Quando me preparo para elaborar uma prancha sobre o silêncio, o grau de Aprendiz e Maçonaria, não consigo calar esta sigla na minha cabeça.

Já a tinha ouvido ou lido, antes de ser iniciado e a sua sonoridade impressionou-me. A sua vibração e potência, mesmo sem ser pronunciada, falada, é magnética.

Quando confrontado com ela na Câmara de Reflexão fiquei ainda mais obcecado em compreender o seu significado. Visitae Interiora Terrae Rectificando que Invenies Ocultum Lapidem é o que diz por extenso o latim VITRIOL.

Então, visita o interior da terra, retificando-te irás encontrar a pedra oculta, ou olha para dentro de ti e encontrarás a tua verdadeira essência, o santo gral, a verdade divina ou a sabedoria. Agora, depois de alguns meses de Maçonaria e várias leituras, já consegui atribuir palavras à sigla, ou símbolo.

Na verdade, este signo, é mais um no seio de tanta simbólica Maçônica que agora se revela aos poucos. Mas este é profundo e silencioso, profundo como a alma, pois a viagem sendo para dentro, para o nosso interior, leva antevejo eu, para uma imensidão infinita onde tudo é tudo e tudo é nada simultaneamente. Mas essa é uma voz muda, uma das mais difíceis de alcançar: o nosso próprio silêncio, que ecoa in Interiora Terrae.

É, por isso, um silêncio visceral, alcançável só no mais puro domínio do barulho. Não do barulho audível, mas do ruído civilizacional, do ego, da competição, do desejo, do dia e da noite separados e de nós mesmos, separados do nosso eu.

Por isso, o Aprendiz deve manter o silêncio. Mas um silêncio ativo, peregrino pela sua consciência e interioridade, ao mesmo tempo em que vai assistindo e criando sentido no rito. Por isso também, os Irmãos Mestres desempenham um ritual, no interior de um templo a coberto de profanos, como deve ser o nosso próprio templo, para ajudar no processo que o irá retificar de encontro à luz da Pedra Oculta.

Este interior, o templo, tem hierarquia, ciclos e movimentos, força e beleza e move-se para o bem e harmonia. Aí, o dia e noite são um só; do meio dia à meia noite, como o xadrez do chão forma um ciclo unificador onde o preto e branco são faces diferentes de uma unidade trinitária.

Como Aprendiz que é, deve usufruir do seu dever de silêncio como meio de viajar pelo caminho, numa segurança observadora, como viajou na sua iniciação, amparado pelos Irmãos Experto e Guarda interno. O caminho para a luz é um processo, um caminho árduo que exige força e vigor e exercitar a contenção, soltar o silêncio quando não há nada para nomear é um exercício de disciplina.

Mais uma vez; não é um silêncio de renúncia. É um silêncio de aprendizagem, até porque um Maçom desafia-se a si mesmo evitando juízos de valor antes de consultar a sabedoria dos Irmãos. E ainda jurou guardar segredo do que lhe é revelado.

Assim, este domínio da linguagem é também um polir do pensamento, do ego e da ambição: para além do acesso a um caminho interior, esta disciplina permite ouvir mais do que se fala, consequentemente, a aprender. 

O desafio pessoal para encontrar explicações e alternativas antes de pedir ajuda, é um impulso ao crescimento intelectual e não só; devemos ouvir o nosso coração e só nos pronunciar quando necessário, e aí sim, com firmeza e convicção.

Estar calado em templo, quando ocupa a coluna do Norte e enverga um avental branco, situa o aprendiz num plano hierárquico dentro da Augusta Ordem. Fundamento para qualquer ordem, como o próprio conceito sugere.

É um dos primeiros passos para uma forma de estar humilde e harmoniosa com o todo: a humanidade representada pelos Irmãos, a Terra, representada pelo Templo e o universo, oculto na simbologia.

Recordo novamente a sigla VITRIOL e a sua força melódica a impulsionar numa descida silenciosa ao interior. Com o risco de passar pelo inferno, mas com a possibilidade de utilizar a escada de Jacó, também presente na prancha de Aprendiz, para subindo nela até ao céu, completar a viagem iniciática, retificando a pedra bruta até que ela, polida, possa emanar verdadeiramente a Luz.

Rui Carrilho – R  L D. Fernando II, nº 118 (GLLP / GLRP)

 

POSTULANTES À INICIAÇÃO


 

Vimos oferecendo através desses artigos, uma ideia mais ou menos aproximada, desta grande Instituição aos que nela pretendem ingressar.

Objetivamos proporcionar-lhes uma antevisão do terreno em que poderão vir a pisar e da trilha que, obviamente, terão de seguir nesta Fraternidade, centro de União e meio de conciliar, por uma amizade sincera, pessoas que, sem ela, não se conheceriam.

Graças ao prestígio de que tem desfrutado em todos os períodos de sua história, a Ordem Maçônica tem sido sempre um imã que atrai inúmeros candidatos à Iniciação.

Geralmente mal informados acerca dos objetivos da Instituição, alguns a tem procurado com intenções interesseiras, ofuscados que foram por um dos seus aspectos: o de sociedade de mútuos socorros.

Se tivéssemos que realizar uma viagem por regiões desconhecidas, é certo que antes de partir analisaríamos tudo quanto se relacionasse com ela.

Para ingressar na Maçonaria, entretanto, o Candidato, de modo geral, não é preparado.

É necessário que ele saiba para onde vai e distinguir também, e claramente, a meta a atingir.

Assim completamente desinformado o candidato concebe sobre a Maçonaria idéias em geral errôneas.

Incapazes de explicar aos postulantes o que seja a Maçonaria, certos proponentes (padrinhos) e sindicantes procuram cercá-la com um desnecessário e despropositado mistério.

Por esta razão, não concordamos que postulantes sem o menor conhecimento sobre a Ordem, suas finalidades, sua história, organização, disciplina, objetivos e doutrina, transponham a entrada de nossos Templos.

A Maçonaria compõe-se de homens de boa vontade, bem intencionados, dotados de sentimentos de solidariedade humana. Os que quiserem ingressar em seu meio devem possuir este espírito de bem servir.

Seus ensinamentos não impõem limites à livre investigação da Verdade, e, para garantir essa liberdade, espera que a criatura humana se corrija se modifique, se transforme para melhor. Tais deliberações do espírito representam a busca de sua auto- iluminação, pedida a seu favor na cerimônia de Iniciação, ou seja, de sua ligação à Maçonaria:

Auto-iluminação – A auto-iluminação está estreitamente vinculada ao desenvolvimento da sabedoria e do amor. Trabalhando as nossas imperfeições de caráter, de vibração, de pensamento e do comportamento, entre outras coisas.

Não se conquista a sabedoria sem o combate sistemático ao egoísmo – a mais grave doença da humanidade – que atinge tanto indivíduos como nações e que amesquinha as relações e envilece os corações.

Sabedoria – Não se pode adquirir sabedoria se cultivarmos a inveja, sentimento inferior que nasce do irrefreável desejo de possuirmos algo que não nos pertence. Nós não avançamos no campo da sabedoria se formos exageradamente auto condescendentes desculpando-nos a toda hora pelas nossas falhas, desatenções, grosserias, erros e coisas do gênero.

Amor – No que concerne ao Amor, ainda temos o dever e a coragem de nos reconciliarmos com os nossos inimigos e desafetos. “Quem não é capaz de perdoar, não vive em paz nunca”. É verdade. Se carregarmos o peso da mágoa dentro de nós, como podemos nos harmonizar?

O Comportamento – O comportamento é um reflexo da personalidade e pode ser, por meio da instrução, alterado. Com a Iniciação, a Maçonaria não pretende transformar o homem profano em um ser perfeito, diferente dos demais, criando uma figura especial, como acontece nas religiões, o indivíduo que se dedica a amar o próximo exteriorizará um comportamento social cada vez melhor.

No entanto, o comportamento maçônico difere do comportamento profano. A diferença reside no fato de o maçom viver em Loja e conviver com outros maçons, em uma permuta constante de suas virtudes que afloram do seu interior espiritual.

Conhecimento – Outro elemento crucial à aquisição de sabedoria refere-se ao conhecimento. A Maçonaria também nos alerta sobre a necessidade de nos instruirmos permanentemente. Se há algo que envolve educação continuada é o estudo da Maçonaria. Sempre há novos ângulos a ser divisados, assim como veios a ser explorados.

Tolerância – É uma atitude de indulgência no julgar a outrem e de compreensão para com as suas fraquezas. O maçom deve sentir perfeita tolerância para com toda e qualquer forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objetivos sejam os de conquistar a Verdade, a Moral, a Paz e o Bem Estar Social. E, para auxiliar a todos, é preciso tudo compreender. Mas a fim de alcançar esta perfeita tolerância, deve em primeiro lugar, libertar-se da superstição, combatendo o fanatismo e as paixões que acarretam o obscurantismo.

A Loja Maçônica é um lugar onde se devem reunir homens tolerantes de boa vontade, que amem a justiça e a nobreza, homens desejosos de serem úteis aos outros e que tenham uma verdadeira compreensão desta maravilhosa palavra que se chama Fraternidade.

A Maçonaria nos ensina a propósito, que devemos ser tolerantes com as falhas alheias, mas severos com as nossas próprias. A tolerância é um dos esteios da Maçonaria, uma das suas colunas mestras. É muito difícil a prática da tolerância, que por isso resulta ser uma virtude. Mesmo que resulte sacrifício, o maçom tem o dever de tolerar os defeitos, as agressões e as falhas de seus Irmãos. Para que possamos aspirar ser tolerados, é necessário que aprendamos a nos exercitar na prática da tolerância.

Discernimento – Devemos adotar: discernimento, desapego, amor e silêncio. Devemos ser verdadeiros no falar e agir, uma vez que o fingimento e a mentira são os maiores obstáculos à nossa elevação. Devemos ser abertos para ouvir, humilde para propor, sábios para decidir e responsáveis para realizar.

Humildade – Virtude que conduz o indivíduo à consciência de suas limitações, de suas fraquezas e do seu pouco mérito, pelo que não se deixa lisonjear.

Não significa se rebaixar, se menosprezar, se anular completamente, mas ter a consciência plena do que falamos, do que somos e do que nos compete fazer com vistas ao progresso do espírito. O maçom tem o dever de fortalecer a virtude da humildade, porque só assim será tolerante e poderá desarmado de todas as ciladas, amar a si mesmo e consequentemente ao seu próximo. A humildade é uma das virtudes mais recomendada pela Maçonaria.

Caridade – não se circunscreve apenas a distribuição de roupas, calçados, utensílios que não nos interessam mais, nem tampouco à doação dos haveres monetários que nos sobram. Referimo-nos aqui à atenção aos semelhantes, à demonstração de interesses pela sorte e bem- estar destes, ao telefonema solidário, à visita ao doente necessitado e, até mesmo, a um mísero “e-mail “solicitando informações do Irmão (ou familiar) distante.

Além do exercício individual da caridade, a Loja em conjunto, por intermédio hospitaleiro, (um Irmão da Loja, cuja obrigação é visitar, cuidar e socorrer os enfermos, membros da Loja, e ainda os profanos que lhe forem designados. Para levar a efeito as caridosas resoluções da Loja e visitar doentes e Irmãos necessitados, é geralmente escolhido um médico para ocupar este importante cargo).

O Dever – O dever é uma obrigação que é observada como princípio; existem múltiplos deveres a serem observados pelos homens, sendo os principais: deveres para com Deus; deveres para com a família; deveres para com o próximo; deveres com a pátria e deveres para consigo mesmo.

Os deveres maçônicos não vêm catalogados, mas brotam ao passo que surgem, por meio do conhecimento.

Nada é imposto na Maçonaria, mas o Maçom tem consciência do que deve cumprir e observar.

Os deveres marcham paralelamente com os direitos; ninguém poderá exigir um direito enquanto não observar os deveres. O maçom deve seguir as normas que lhe são estabelecidas.

Valdemar Sansão M.’. M.’.

 

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