terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O TESOURO OCULTO DA MAÇONARIA


 

“A maior parte só vê a casca, e cedo se desilude; não conhece a amêndoa gostosa que se oculta no interior e torna-se o prêmio reservado aos estudiosos, que os aproxima cada vez mais da Iniciação Real” (Nicola Aslan)

Conta-se que um amigo do jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918), abordou-o certa vez e pediu-lhe que redigisse um anúncio de uma chácara que pretendia vender e da qual ele era conhecedor. Ali mesmo, o poeta apanhou um pedaço de papel e escreveu:

“Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda. “

Tempos depois, reencontrando o amigo, Olavo Bilac perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade. De pronto ouviu a resposta: “Nem pense mais nisso! Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha nas mãos”.

Eckhart Tolle, na sua obra “O Poder do Agora” (2002), narra a história de um velho mendigo (da fábula de Tolstói), que passou mais de trinta anos sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise, pedindo moedas aos transeuntes.

Um belo dia um estranho perguntou-lhe o que tinha dentro da caixa que era utilizada como assento em todo aquele tempo. Respondeu o mendigo que não sabia, mas que imaginava não ter nada. Insistiu o estranho para que o mendigo desse uma olhada. Ao abri-la, com certa dificuldade, descobriu o velho que o caixote estava cheio de ouro.

Em outro contexto, Malba Tahan (1895-1974), pseudônimo do professor, conferencista, matemático e escritor do modernismo brasileiro, Júlio César de Mello e Sousa, nos relata em “O Livro de Aladim“(2001), uma fantástica história chamada “O Tesouro de Bresa”, sobre a experiência de um pobre e modesto alfaiate da Babilônia chamado Enedim, que alimentava o sonho de achar um fabuloso tesouro escondido em algum lugar e tornar-se rico e famoso.

Um dia parou em sua porta um velho mercador da Fenícia com uma infinidade de objetos. Entre elas ele descobriu um livro onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos. O vendedor disse tratar-se de uma preciosidade.

Após adquiri-lo, Enedim passou a examiná-lo com cuidado e conseguiu decifrar de uma legenda em complicados caracteres caldaicos o título: “O Segredo do Tesouro de Bresa”. Lembrou-se que ouvira falar alguma coisa a respeito e despertou a curiosidade para prosseguir na pesquisa, que se referia a uma fortuna enterrada por um gênio em uma caverna localizada em uma montanha chamada Harbatol.

Como as primeiras linhas eram escritas em caracteres de vários idiomas, Enedim foi obrigado a estudar os hieróglifos egípcios, o grego, os dialetos persas e a língua dos judeus. Isso o levou mais tarde a ocupar o rendoso cargo de intérprete do rei.

Continuando a traduzir o livro, debruçou sobre várias páginas cheias de cálculos, números e figuras, o que o incentivou a instruir-se em matemática. Com isso desenvolveu habilidades para calcular, desenhar e construir uma grande ponte sobre o rio Eufrates. O rei nomeou-o então prefeito e ele se tornou um dos homens mais notáveis da cidade.

Continuando suas buscas sobre o segredo do tal livro, examinou as leis e princípios religiosos, o que o capacitou a dirimir uma velha pendência entre os doutores. Tornou-se primeiro-ministro. Passou a viver com luxo e riquezas e recebia os príncipes mais ricos e poderosos do mundo. Em consequência, o reino progrediu e Enedim se tornou o mais notável de seu tempo. Mas, o segredo ainda não tinha sido desvendado.

Certo dia, conversando com um imã, relatou suas buscas e descobertas e o religioso ao ouvir a ingênua confissão do agora grão-vizir, falou: “o tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor, graças aos conhecimentos que o livro lhe proporcionou”. “Bresa” significa “saber”, enfatizou o religioso, e “Harbatol” quer dizer “trabalho”. “Com estudo e trabalho pode o homem conquistar tesouros maiores do que os que se ocultam no seio da terra”, concluiu.

Refletindo sobre as três passagens acima, podemos extrair da primeira a nossa dificuldade em valorizar as coisas boas que dispomos, ou seja, os tesouros que estão ao nosso alcance, nossas famílias, amigos, trabalho, saúde e conforto, bem assim as inúmeras oportunidades em que nos perdemos em divagações e buscas, não se sabe do que, sem nenhuma materialidade.

Se pensarmos em termos de uma nação, entendemos como vários países ricos em potencial e tesouros incalculáveis em seus subsolos veem sua população na miséria e completa ignorância e dirigidos por incompetentes e/ou corruptos gestores do bem público.

No caso específico do mendigo, a mensagem é mais concisa e pode se ajustar a qualquer pessoa incapaz de reagir frente a uma existência miserável, sobretudo a intelectual, estando ao mesmo tempo sentada sobre uma riqueza incalculável, apenas pela incapacidade de conceber, avaliar e laborar os recursos disponíveis ou mesmo os próprios conhecimentos e habilidades.

Mais ou menos a imagem de uma pessoa que vive em uma biblioteca, sabe soletrar, ler e escrever, mas morre ignorante, sem ao menos remover a poeira dos livros que a abraçam. Ou mesmo, cercado por boa comida, morre de inanição com preguiça de levar comida à boca. Mais ainda, como ativista sentado em confortável sofá, espera o conhecimento chegar via mensagem de WhatsApp para democraticamente compartilhá-lo, sem ao menos confirmar a veracidade.

Na mesma linha, a lenda do Tesouro de Bresa demonstra as inúmeras conquistas que podem advir da superação da preguiça mental e dedicação ao estudo e ao trabalho, dependendo apenas de confiança, força de vontade, disciplina e foco. Basta o despertar para a busca do conhecimento que aparenta estar oculto e distante, mas grita bem perto de nossos surdos ouvidos.

A maçonaria, por meio de suas instruções, coloca à disposição dos obreiros todo um imenso tesouro onde se estudam várias ciências, como moral, arte, filosofia, psicologia, sociologia, política, história, lógica e metafísica, que levam ao aprendizado e ao progresso por meio da própria experiência e esforços individuais, que variam de acordo com as próprias competências e em face das vivências e descobertas proporcionadas pelos estudos e trabalhos realizados.

Ao não incrementar ou valorizar os temas para estudos e debates em nossas Lojas, restringimo-nos à perenidade da ritualística e expectativa da ágape que vem após as reuniões, deixando de explorar toda a base de conhecimentos e instruções disponíveis, que representam um grande tesouro colocado à disposição de todos. A leitura burocrática das instruções apenas para cumprir uma formalidade faz-nos lembrar frase do célebre Marques de Maricá: “Ler sem refletir é comer sem digerir”.

Assim agindo, com esse desdém, cometemos o erro de quem se julga na Maçonaria, mas não vê a Maçonaria, garantindo que continuaremos pobres e sentados em cima de um rico patrimônio cultural, fadados a ouvir, aplaudir e repetir bravatas de pseudointelectuais, justificando o ditado popular: “em terra de cego quem tem olho é rei”.

Mas, com o despertamento para as enormes potencialidades da cultura maçônica, faz sentido o pensamento de Nicola Aslan, cotado na abertura desta Prancha, bastante ilustrativo da realidade de muitas Lojas, onde o obreiro deixa escoar o tempo e não consegue vislumbrar e apropriar-se do tesouro oculto nas colunas da maçonaria, do sabor da amêndoa gostosa, do desvelamento da essência, da interpretação do simbolismo, enfim, dos ensinamentos, que ficam por conta do estudioso, do pesquisador que não se detém na superfície, que acumulará as riquezas garimpadas segundo a medida de sua capacidade, em conformidade com sua maturidade e preparo espiritual.

Um ladrão rouba um tesouro, mas não furta a inteligência. Uma crise destrói uma herança, mas não uma profissão. Não importa se você não tem dinheiro, você é uma pessoa rica, pois possui o maior de todos os capitais: a sua inteligência. Invista nela. Estude! (Augusto Cury)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

*Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro  da Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda (BH); Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON; Membro Correspondente da Academia Maçônica de Letras de Piracicaba (SP); Colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

Referências

TAHAN, Malba. O Livro de Aladim. Rio de Janeiro: Record, 2001. 

TOLLE, Eckhart. O Poder do Agora: um guia para iluminação espiritual. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

SOB A LUA AZUL, O TEMPLO DESPERTA


 

No céu, a lua azul reluz,

Um guia entre sombras e véus,

Reflete no templo a luz,

Que ilumina antigos troféus.

A noite sussurra segredos,

Em páginas de estrelas escritas,

O Maçom, entre passos e medos,

Busca a verdade nas mãos infinitas.

A pedra bruta à lua se curva,

Em seu brilho, encontra a razão,

Cinzel e compasso, mão que turva,

Na jornada do espírito em ascensão.

Sob a lua azul, o rito se inicia,

As colunas sussurram memórias,

Cada símbolo revela a alquimia,

Das almas, que traçam novas histórias.

O Oriente se veste de prata,

No silêncio, a voz ressoa clara,

E o Templo, com sabedoria exata,

Ergue-se onde a luz se prepara.

A Lua Azul, em sua esfera celeste,

Guia o caminho do saber oculto,

No templo, onde o universo investe,

A verdade se encontra no vulto.

E quando a luz do dia surgir,

E a lua se despedir com o mar,

O templo guardará, no porvir,

O brilho azul que o fez despertar.

E as lágrimas que escorrem do céu,

São como pérolas caídas do manto,

Cada gota que desce do véu,

Traz consigo o eco de um canto.

Na última luz, o Maçom se inclina,

Seu coração pulsa com o universo,

Sob a Lua Azul, ele afina,

Seu espírito ao eterno verso.

 

Irmão Fernando Nunes

sábado, 11 de janeiro de 2025

UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA DE UM ESOTERISMO SUPERFICIAL NA MAÇONARIA

O esoterismo na Maçonaria, como algo velado ou difícil de entender e explicar, refere-se aos entendimentos pessoais que motivam a metodologia maçônica, os símbolos e as alegorias nos maçons.

Por ser subjetivo, torna-se um tema complexo que muitas vezes dá lugar a especulações excessivas ou à intromissão indevida na Ordem de crenças religiosas ou metafísicas tão respeitáveis como as de outras instituições. E, embora o tema se tenha prestado a um vivo debate sobre o que seria o verdadeiro e específico esoterismo da Maçonaria, na realidade existem várias interpretações.

Em todo o caso, o esoterismo maçônico refere-se aos ensinamentos veiculados pela sua simbologia e cerimônias, e baseia-se na percepção de que existem conhecimentos, sentimentos e inspirações que facilitam a metodologia maçônica na construção dos seus objetivos morais e filosóficos.

Por outro lado, refere-se ao fato de a Maçonaria inspirar e exercer uma influência intelectual, moral e ética orientada para que o Maçom adquira uma maior compreensão filosófica dos deveres que tem para consigo próprio e para com a sociedade em geral.

Quando penso na Maçonaria, penso sempre nesta ideia original, quase romântica (e altamente idealizada) de um grupo de pessoas que procuram algo para além do óbvio em questões morais e filosóficas. Sei que, no mundo real, existem outras motivações para aderir a uma Loja Maçônica, mas isso é assunto para outro texto.

A Maçonaria, na sua essência mais pura, não é apenas um local de convívio com uma série de rituais simpáticos; é um sistema filosófico que nos convida a sermos melhores, moral e intelectualmente.

Através do conhecimento, dos símbolos e da reflexão, o seu objetivo é fazer-nos evoluir. No entanto, e digo-o com alguma preocupação, quando o esoterismo é tratado de forma superficial, a Ordem corre o risco de se desvirtuar completamente.

O verdadeiro esoterismo maçônico, se quisermos falar dele nos termos atuais, é uma viagem interior, uma busca pessoal de sentido através dos símbolos, alegorias e ensinamentos éticos que a Maçonaria nos oferece. Mas esta procura, sendo profundamente subjetiva, pode facilmente conduzir a mal-entendidos e a práticas vazias, se não se mantiver um foco claro.

Lembro-me da primeira vez que observei uma cerimônia maçônica, muito antes da minha Iniciação. Era quase uma criança e tratava-se de uma cerimônia de honras fúnebres no cemitério mais antigo da minha cidade.

A partir desse momento, o mistério, os gestos e a solenidade do ritual cativaram-me. Senti que algo de muito sério estava em jogo e, com o tempo, aprendi que o verdadeiro esoterismo maçônico vai muito além da participação em cerimônias ou da memorização de alguns sinais. É um compromisso profundo com o significado por detrás de cada símbolo.

É como se, em vez de vermos apenas a ponta do iceberg, nos fosse pedido que mergulhássemos até ao fundo para compreendermos a magnitude do que está escondido. Se a Maçonaria nos ensina alguma coisa, é que não é o que está escondido que é importante, mas o processo de o descobrir. O esforço constante para compreender o mundo e para encontrar um lugar construtivo nele.

Infelizmente, tenho visto como muitos permanecem à superfície, presos ao decorativo, ou condescendentes com um teatro que ignora a riqueza filosófica e ética que está mesmo debaixo dos seus narizes. E é triste, porque é como ter um mapa do tesouro nas mãos, mas usá-lo para acender uma fogueira.

Trata-se de um risco grave, porque quando a forma substitui a substância, a Maçonaria torna-se um espetáculo estéril, um “show maçônico”, onde os títulos, os graus, os cargos e as insígnias importam mais do que o crescimento pessoal e coletivo.

Quantas vezes encontrei Irmãos que pareciam mais preocupados com o seu lugar na hierarquia do que com os ensinamentos que a Maçonaria oferece? Mais do que eu gostaria de admitir. Este tipo de mentalidade transforma a fraternidade num desfile de vaidades que começa a parecer-se mais com um clube de classe média, com presunções elitistas, onde os títulos de cargos e os graus são tudo.

Arriscamo-nos a perder esse legado se permitirmos que o esoterismo moral e filosófico, degenerado em superstição e ritualismo inane, tome conta das nossas Lojas.

A Maçonaria tem sido um refúgio para pensadores, cientistas e artistas que viam os rituais não apenas como um conjunto de ações, mas como representações simbólicas de ideias filosóficas profundas.

Desde os grandes iluminados até aos artistas de renome, todos eles encontraram na Ordem um espaço de debate, de reflexão e, sobretudo, de aprendizagem. Mas quando o esoterismo é reduzido a uma série de práticas mágicas sem significado real, competindo com sistemas de crenças, a verdadeira reflexão é esquecida, e a sua própria essência é enfraquecida.

O resultado é que a Maçonaria deixa de ser um lugar de reflexão e progresso e torna-se irrelevante para o mundo moderno. É como ter um livro cheio de sabedoria nas mãos, mas preferir usá-lo como suporte de lâmpada.

A verdadeira Maçonaria exige mais. Exige que aprofundemos, que não nos contentemos com o que está à vista de todos. Porque, no final do dia, o que realmente importa não é o espetáculo, mas o conhecimento, a verdade e o compromisso com o nosso melhoramento pessoal e coletivo. No final do dia, o que importa não são tanto as cerimônias, os Graus e as funções, mas o verdadeiro compromisso com o nosso melhoramento pessoal e, portanto, com o melhoramento da sociedade.

Se a Maçonaria quiser ser relevante no século XXI, tem de abraçar um esoterismo que se baseia numa reflexão profunda. Porque, em última análise, o que nos torna verdadeiramente maçons não é o que mostramos ao mundo, mas o que cultivamos dentro de nós.

E esta é a tarefa que não podemos abandonar.

Autor: Iván Herrera Michel

Fonte: Blog Pido la palabra

 

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O MAÇOM DESNECESSÁRIO

Há umas semanas, estive em visita numa loja maçônica, visivelmente em reconstrução, abalada por seus irmãos descumprirem e desrespeitarem as obrigações que os cargos de loja os necessitam. Foi quando ouvi a seguinte frase:

Eles eram desnecessários para a Loja.

Aquilo ficou batendo na minha mente e fazendo-me ter reflexões de como um Maçom se tornaria desnecessário, se uma vez o aceito, sempre carregará a importância de ser Maçom, além da importância, carrega consigo o compromisso de estar sempre em prontidão para o que a ordem lhe necessitar.

Não é fácil entender, como um Maçom, aceito, regular, pode ser desnecessário para a Ordem.

Porém, penso, somos corpo e pensamento, matéria e espírito, todos somos iguais perante o Grande Arquiteto do Universo, devemos ser e ter, conosco mesmo, o compromisso e honra de carregar consigo essa notoriedade de ser Maçom.

Tendo isso como primeira conclusão, penso que o Maçom não se torna desnecessário para com a loja, torna-se desnecessário para consigo, pois dentro de cada um de nós existe um templo interior, que necessita ser edificado dia a dia, então me perguntei, como alguém pode ser desnecessário na parte material, sem antes estar sendo depreciador no seu templo interior? Pois antes de se tornar inútil para com próximo, se torna inútil para consigo mesmo.

Serão os vícios?

Serão as paixões?

Aqui respondo, com muito respeito que é de tudo um pouco, mas principalmente, a falta de entender o próximo, a falta de lealdade para com os seus irmãos, a falta do “semancol”, o famoso se manca que estás sendo inconveniente, se manca e olha à tua volta, os teus irmãos estão te dando sinais de que você está se deixando levar para um lado que não nos é digno.

A parábola dos dois lobos traz-nos um exemplo claro:

Todos temos dentro de nós dois lobos completamente diferentes. Um deles é mau, e representa todos os sentimentos ruins que podem existir em um ser humano: as paixões, a raiva, a inveja, o ciúme, o ego, o orgulho, o ressentimento, os medos, a mesquinhez, a culpa, e a arrogância. No entanto, o outro lobo, é exatamente o oposto, representa tudo que é bom numa pessoa: a bondade, o amor, a esperança, a generosidade, a alegria, a paz, a igualdade, a fraternidade, a fé e a verdade.

Eles vivem numa briga constante, a todo o momento, trazendo uma confusão de um misto de liberdade e escravidão.

O Lobo que vence é aquele a que a todo o momento lhe oferecemos alimento, não é uma guerra onde só um vence, pois não somos só um dos Lobos o tempo todo, portanto, seguir a alimentar o lobo bom é uma qualidade dos sábios.

Quando optamos por alimentar o lobo ruim, estamos deixando o nosso templo interior ser tomado com coisas que não edificam a nossa caminhada, todos sabemos que a caminhada do Maçom é na retidão, na busca pela verdade, e quando estamos saindo do caminho, vemos os sinais, e eles vem do templo externo, da loja, dos irmãos.

O Salmo 119:37 diz-nos:

“Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.”

Portanto meus irmãos, sejamos necessários, sejamos edificadores do nosso templo interior, saibamos ouvir, respeitar, e quando estivermos vendo sinais de que estamos sendo, ou inconvenientes, ou tornando-nos desnecessários, que saibamos, que estamos a alimentar o lobo errado, e todos sabem como alimentamos estes dois lobos.

Nós alimentamo-los com as nossas ações, positivas e ou negativas.

Nossa, como é simples alimentar o lobo bom, eu sendo amável, respeitoso, caridoso, tratando a todos com igualdade, tudo isso é puro alimento a nossa alma. Mas sabemos o quanto isso é difícil, num lugar onde temos tantas cabeças pensando diferente, e alimentando lobos diferentes.

Que prevaleça sempre o amor.

Mateus Hautt Nörenberg, C. M. – CIM 26414 – Loja Hiram Abiff 535, GORGS, POA, REAA

Bibliografia

  • Bíblia BKJ

 

 

sábado, 4 de janeiro de 2025

CONFISCADOS POR NAZISTAS, TESOUROS MAÇÔNICOS SÃO PRESERVADOS NA POLÔNIA

Esquadros e compassos, gravuras, livros e álbuns antigos foram confiscados por oficiais alemães.

A imponente coleção de objetos maçônicos de Poznan, na Polônia, preserva seus tesouros, com seus esquadros e compassos, gravuras, livros e álbuns antigos, alguns com o carimbo do sinistro Heinrich Himmler, considerado o número dois do Terceiro Reich.

Ao longo de mais de um quilômetro de estantes estão guardados cerca de 80 mil volumes, muitos deles bastante antigos, e outros mais recentes, conservados na biblioteca da Universidade UAM de Poznan, no oeste polonês.

A coleção constitui "um dos maiores catálogos maçônicos da Europa, ou, inclusive, o mais importante, segundo alguns", disse à AFP a responsável pelo acervo, Iuliana Grazynska.

"E ainda conserva alguns mistérios", enfatizou Grazynska, que acaba de iniciar o registro de 89 caixas de papelão com arquivos reunidos pelos serviços de Himmler e que nunca foram classificados.

Confiscados na Europa

"Os nazistas detestavam a maçonaria" explicou à AFP Andrzej Karpowicz, que durante 30 anos foi responsável pela coleção de Poznan.

Karpowicz lembra que o nazismo foi "fruto de uma onda antielite e anti-intelectual", e por isso, inevitavelmente, eles eram "antimaçons".

Durante o Terceiro Reich, os nazistas fecharam lojas maçônicas ou provocaram sua dissolução, e confiscaram ou queimaram os acervos de suas bibliotecas.

Na medida em que o Exército alemão avançava, as coleções procedentes dos países conquistados enriqueciam as do Reichsführer-SS Heinrich Himmler, que incluía também arquivos relativos a judeus, jesuítas e bruxas, segundo Karpowicz.

Transportada para lugares mais protegidos dos bombardeios aliados, a coleção foi dividida em três partes principais, duas delas escondidas na Polônia, e a terceira na República Tcheca.

Em 1945, as autoridades polonesas apreendem uma parte em Slawa Slaska, no oeste do país, que tinha cerca de 150.000 volumes. O restante foi confiscado pelo Exército Vermelho da União Soviética.

Pérolas raras

A biblioteca de Poznan constituiu sua coleção maçônica em 1959, em pleno período comunista, mesmo quando o movimento maçom era proibido no país. A Polônia, no entanto, tinha uma velha tradição maçônica, e sua primeira loja foi fundada em 1721.

Segundo Grazynska, a coleção também inclui uma "edição original e raríssima" da primeira constituição maçônica, escrita por James Anderson e publicada em 1723. "É o orgulho de nossa coleção", acrescentou.

O acervo está aberto para quem quiser estudá-lo ou se aprofundar nele. "É uma mina de informações na qual é possível se aprofundar livremente", assegura Karpowicz.

Fonte: https://www.afp.com/

Fotos: JANEK SKARZYNSKI / AFP 

 





 

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

TORNAMO-NOS NO HOMEM DO UNIFORME QUE USAMOS

A frase é atribuída ao Irmão Napoleone di Buonaparte que, apesar de ter nascido na França, seus pais registraram seu nome em italiano. Anos mais tarde, ele resolveu afrancesar o nome, ficando Napoléon Bonaparte.

O título do artigo é uma afirmativa. No entanto, em nossa provocação dominical, farei algumas modificações e a transformarei em indagação:

TORNAMO-NOS O MAÇOM DO PARAMENTO QUE USAMOS?

Vemos poderosos Irmãos se intitulando “eternos aprendizes”, porém não há alvura em seu avental. Do mesmo modo, Irmãos desempenhando cargos com aventais de Mestres Instalados, isso quando não sobrepõem dois colares.

Uma vez que nosso aprendizado é baseado em alegorias e símbolos, é imperativo que criemos uma relação emocional com o avental, compreendendo o que ele representa e os valores a que nos remete.

A PREMISSA DO AVENTAL NÃO É PARA INDICAR GRAUS OU CARGOS. SUA MISSÃO É NOS COLOCAR À DISPOSIÇÃO DA OBRA.

Usar o avental é, pois, assumir a verdadeira identidade de um Maçom, que é ser OBREIRO, ter ou estar participando de uma OBRA. Isso resulta no senso de unidade, propósito e ação, despertando ou aumentando a sinergia do grupo.

Estabelecendo um contraponto com essa linha de reflexão, invoquemos o ditado popular: “o hábito não faz o monge”.

A moral do ditado popular consiste em que usar um hábito (veste religiosa) não é a consolidação da prática da abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da prática religiosa (monasticismo).

Na lapidação desse conhecimento baseado no senso comum, vamos transformá-lo em uma instrução maçônica, nos dois sentidos da palavra e em suas interações concretas e simbólicas: o hábito faz o Maçom.

Nosso hábito (avental) é o maior sinal que nos identifica a Obra. Fomos instruídos a honrá-lo, pois ele nunca nos desonrará. Ele é o emblema do trabalho e, com ele e por ele, manter-nos-emos sempre laboriosos.

Nosso hábito (maneira usual de ser e fazer) é a maior prova para sermos identificados como Obreiros na consolidação da prática da abdicação dos objetivos profanos dos homens em prol da prática moral e ética de nossos Sãos Princípios.

Vamos para mais uma indagação: somos Maçons apenas quando estamos usando o avental? Certamente não. Todavia, é somente pelos hábitos maçônicos que conquistaremos o mérito e manteremos o direito de usar o hábito maçônico.

Nas palavras de Aristóteles, 350 anos antes de Cristo: “Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito”.

ENTÃO, HABITUE-SE MAÇONICAMENTE.

2024, há 18 anos compartilho instruções maçônicas e provocações para o enlevo moral e ético dos Irmãos, permaneço neste propósito para provocar a reflexão dos Obreiros sobre nossa Ordem. São visões pessoais, não são verdades absolutas, questione sempre o que lê. A verdade é aquilo que conseguimos vivenciar.

Fraternalmente

Sérgio Quirino
Mestre de Cerimônias - ARLS PR25 2024/2026

TAF,

 

 

domingo, 22 de dezembro de 2024

A BÍBLIA DOS MAÇONS

É um problema bastante complexo, porque o podemos examinar a partir de vários aspectos complementares. Primeiro, o essencial, a presença ou não da Bíblia, ou, mais genericamente, do Volume da Lei Sagrada (VLS) na oficina; depois, o papel que ela desempenha ou não no recinto maçônico, tanto como “luz” ou “utensílio”.

Some-se a isto a participação da Bíblia na trama do ritual maçônico que apresenta a particularidade que divide com o companheirismo, de completar um fundo bíblico, essencialmente do Antigo Testamento , através de toda uma série de lendas parabiblicas que se desenvolvem no ritual para delas se retirar uma lição simbólica ou moral; enfim, a extraordinária variedade de “palavras” correspondentes a cada grau, palavras de passe, palavras sagradas, “grandes palavras” que os ritos, e especialmente o rito escocês Antigo e Aceito (REAA), nos seus 33 graus – não economizam nem um pouco.

Algumas observações preliminares. Nós provavelmente seremos incompletos, mas privilegiaremos os ritos que conhecemos bem e, especialmente, aqueles que praticamos regular ou ocasionalmente, porque na nossa opinião, a Maçonaria, para ser verdadeiramente compreendida, deve ser vivida espiritual e emocionalmente, e não ser apenas sinónimo de conhecimento.

Também o nosso comentário será essencialmente baseado nos três principais ritos praticados na França: o Rito Francês, o Rito Escocês e o Rito Escocês Retificado, pois não conhecemos os ritos ingleses a não ser através de textos que consultamos mais ou menos regularmente (fico feliz em concordar!). Por outro lado, para nosso grande pesar, não foi possível, por razões essencialmente linguísticas, usar os rituais alemães ou suecos. Quanto aos ritos praticados nos países latinos, eles não oferecem grande originalidade em relação aos que já conhecemos.

Outra observação. Trata-se de “ritos” e não de “obediências” ou “potências”. Portanto, não levaremos em conta “exclusivos”, “excomunhões” ou reivindicações de irregularidade. Além disso, o Rito Francês, conforme ele é praticado no Grande Oriente, ou o REAA na Grande Loja são ritos tão diferentes com o mesmo nome usado na Grande Loja Nacional francesa? Não, sem dúvida, porque as suas fontes são comuns. Nós mesmos (tremo só de pensar) fizemos algumas alusões à “Maçonaria de Adoção”, que continuou até meados do século XIX, a Maçonaria feminina atual contentando-se em organizar – muito inteligentemente, diga-se de passagem – os textos masculinos do REAA ou do Rito Francês.

Notamos também que o Shiboleth da regularidade, aos olhos da Grande Loja Unida de Inglaterra, não é a Bíblia no sentido estrito, mas o VLS, isto é qualquer livro básico de natureza religiosa, e a crença no Grande Arquiteto e a sua vontade revelada. Mas, se a Maçonaria tem, segundo as Constituições de Anderson de 1723, tem a pretensão, diga-se de passagem, com alguma justificação, de ser o “centro de União” e de agrupar “os homens bons e leais ou os homens de honra” e de probidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças religiosas que os ajudam a “se distinguir “, ela não deixa de ser o resultado de um legado, de uma tradição e de circunstâncias históricas que lhe deram uma estrutura mental e um equipamento intelectual cristão, essencialmente reformado no início e mais ecumênico a seguir. Existe – e não pretendemos abordá-la -. uma maçonaria “sem Bíblia”.

Com efeito, onde quer que a Bíblia não é a alimentação diária dos Irmãos, ela se desvanece ou desaparece em favor do “livro da Constituição” na Bélgica e na França – evolução que não é de forma alguma incompatível com a crença no Grande Arquiteto conforme mostra a história do Rito Francês de 1787-1878, onde se prestava juramento ao Grande Arquitecto sobre o “Livro da Lei”.

Israel é, obviamente, a Torah, sem o Novo Testamento, e noutros lugares o Alcorão, o Avesta, Confúcio. O REAA especifica, além da Bíblia, os Vedas, o Thipitaka, o Alcorão, o Zend Avesta, o Tao Teh King e os quatro livros de Kung Fu Tsen. Na loja (Inglesa) de Singapura, os irmãos têm uma dúzia de livros sagrados. E o Irmão Rudyard Kipling expressa perfeitamente este ecumenismo: “Cada um de nós falava do Deus que conhecia melhor.” Mas, onde começa e onde termina o sagrado? Por que não os Pensamentos do Presidente Mao? Pode-se ainda se perguntar se a prática de religiões como o confucionismo está em harmonia com o conceito de “Vontade Revelada”, tal como concebido pelas religiões monoteístas da Europa ou no Oriente Médio.

Enfim, fazemos, ou tentamos fazer um trabalho de historiador. Isto significa que teremos de distinguir o que é histórico do que é bíblico e, em relação à Bíblia e a história, o que é pura lenda, deixando claro que para todo Maçom, a lenda não passa da tradição no dogma católico, isto é, algo que assume valor doutrinário.

Por outro lado, não nos cabe neste momento fazer a exegese do que seja biblicamente inspirado e muito menos dos textos utilizado. Menos ainda, praticar os métodos alegóricos, tipológicos ou analógicos caros aos Padres da Igreja e aos dialéticos medievais onde encontramos muitos vestígios das “Old Charges” (os Antigos Deveres) que regulamentavam a Maçonaria operativa. Para nós, o Templo de Salomão é um edifício construído por um rei de Israel para a glória de Yahwe e não temos que querer saber se ele representa a igreja ou o Cristo. Isto pode parecer simplista para alguns, mas não acreditamos na virtude da mistura de gêneros.

Analisemos agora o nosso primeiro ponto: a Bíblia, “instrumento” em loja, sobre a qual se presta juramentado. Você não precisa fazer prova de vasta erudição para constatar que a Maçonaria “operativa”, aquela dos construtores, intimamente ligada ao mundo clerical, pelo menos, pela construção de catedrais, era – como, a propósito, era o corpo dos ofícios – “guildas de artesãos”, “empresas” diferentes – de inspiração cristã, católicos na Inglaterra até a Reforma, anglicanos ou reformados posteriormente.

Na França, Itália, Espanha, eles permaneceram fiéis à Igreja romana até ao seu desaparecimento natural ou supressão revolucionária. Às vezes, com o estofo de uma guilda profissional, mais frequentemente distintas das confrarias de penitentes. Elas estavam colocadas sob a invocação de santos padroeiros da profissão, e para “as pessoas da construção” muito particularmente “os Quatro Mártires Coroados” (Quatuor Coronati) que a encontramos na Inglaterra, mas também na Itália (Roma) e na França (Dijon). Além disso, não parece que, ao contrário das guildas, sempre suspeitas para a Igreja e o poder civil, estes “corpos” tinham, por pouco que seja rompido com a ortodoxia. Mas, voltemos à Inglaterra.

É difícil afirmar que a Bíblia figurava entre o “material” das lojas operativas inglesas antes da Reforma, pelo menos segundo o que pudemos deduzir das “Old Charges”. Por outro lado, sabemos que se prestava juramento ali, e que nada há de original, já que o “negócio jurado” era a regra um pouco por toda parte.

O fato é que os primeiros documentos – o Regius (cerca de 1370) e o Cooke (cerca de 1420) – são perfeitamente silenciosos. Assim nenhuma suposição deve ser excluída: a Bíblia, quando se podia ter uma, o que, antes do desenvolvimento da impressão talvez não fosse tão fácil, o “livro” dos estatutos e regulamentos corporativos, relíquias como é tão frequentemente o caso na França? De qualquer forma, o juramento tinha um carácter religioso que ele conservou – exceto na Maçonaria “secularizada”.

Os documentos mais recentes, mas também posteriores à Reforma, são mais explícitos e o juramento sobre a Bíblia é, mais frequentemente afirmado pelo “Grand Lodge Manuscript ” nº 1 (1573), e No. 2 (1650), o “Manuscrito de Edimburgo” (cerca de 1696): “Fazemos com que eles tomem a Bíblia e prestem juramento”, o “Crawley” (cerca de 1700) onde o candidato jura sobre o livro sagrado por “Deus e São João”; o “Sloane” do mesmo período, sobre o qual a questão permanece em dúvida, o “Dumfries” nº 4 (cerca de 1710). Pode-se, portanto, supor que, desde a Reforma, o juramento sobre a Bíblia se tenha tornado a regra, o que levou o historiador francês A. Lantoine a dizer que este era um “Landmarks de contrabando huguenote”, uma expressão engraçada, mas definitivamente exagerada. Esta constatação não nos deve fazer perder de vista a perfeita ortodoxia católica primeiro, depois anglicana, das “Old Charges”. A este respeito, o texto mais característico é, sem dúvida, o “Dumfries nº 4” (cerca de 1710), descoberto nos arquivos da Loja desta pequena cidade, localizada na Escócia, mais nos confins da Inglaterra.

O autor dá ao Templo de Jerusalém a interpretação cristã e simbólica tradicional e se inspira tanto no Venerável Bede quanto em John Bunyan. As orações são estritamente “niceanas”. As “obrigações” exigem a fidelidade a Deus, à Santa Igreja Católica (isto é, anglicana no sentido do Livro de Orações), ao mesmo tempo que ao Rei.

Os degraus da Escada de Jacob evocam a Trindade e os doze Apóstolos; o mar de Airain é o sangue de Cristo; os doze bois, os discípulos; o Templo, os filhos de Deus e a Igreja; a coluna Jaquim significa Israel; a coluna Boaz a Igreja com um toque de antijudaísmo cristão. Lemos com surpresa: “Que ela foi a maior maravilha vista ou ouvida no Templo – Deus foi homem e um homem foi Deus. Maria foi mãe e, entretanto, era virgem”.

Todo este simbolismo tradicional e a “tipologia” cristã admitida até o desenvolvimento da exegese moderna, encontra-se neste ritual. O catolicismo Romano, afirma Paul Naudon. Certamente não – ou melhor, certamente mais – porque podemos pensar que este é o redesenho de um texto mais antigo. As citações bíblicas são retiradas da “Versão Autorizada” do rei James, o que testemunha a ortodoxia anglicana do tempo da piedosa rainha Anne.

Se a Maçonaria se tinha mantido fiel a esta ortodoxia, ela não pode ter pretensões de Universalismo. E é isso, aliás, é que é regularmente produzido sempre que se quer vincular mais estritamente o ritual maçónico a uma confissão religiosa. O Rito Sueco, de essência luterana, não saiu do seu país de origem. O Rito Escocês Retificado, de tom nitidamente cristão, viu a sua expansão limitada.

Ao contrário, o REAA, os ritos agnósticos, os ritos anglo-saxões “deconfissionalizados” são susceptíveis de desenvolvimento infinito. Este é, portanto, o grande mérito de Anderson e dos criadores da Grande Loja de Londres de ter entendido perfeitamente o problema. As Constituições de 1723 permitiram a expansão, embora na linha de uma Inglaterra já orientada em direção ao fluxo.

Assim, em países cristãos, a Bíblia era e permaneceu com o VLS, os testemunhos do século XVIII são quase unânimes, e as coisas quase não mudaram. Nos países anglo-saxões, ela é a primeira “luz simbólica”, o Esquadro e o Compasso são as outras duas. No rito de Emulação atual, a Bíblia deve estar aberta sobre o triângulo do Venerável, orientada no sentido de o dignitário a poder ler, e recoberta pelo esquadro e o compasso A página na qual o livro está aberto não é indicada, mas é tradicional – e moda – abrir no Antigo Testamento, quando se inicia um israelita. Nos EUA, a Bíblia é geralmente depositada sobre um altar especial no meio do Templo.

No REAA, a Bíblia está presente, aberta durante os trabalhos e colocada sobre o “altar dos juramentos” instalado ao pé dos degraus que conduzem ao Oriente e é recoberto com um pano azul com bordas vermelhas (as cores da Ordem). Ela pode ser aberta em qualquer lugar; é aberta preferencialmente em Crónicas 2.5 e em I Reis 6.7 onde se trata da construção do “Templo de Salomão.”

Na França, a Bíblia conheceu destinos diferentes. Os documentos mais antigos que possuímos mostram grande religiosidade, de orientação um tanto jansenista, e sabemos pelos textos de origem policial, que a Bíblia era aberta no primeiro capítulo do Evangelho de João. Tradição que se conservou perfeitamente no Rito Retificado, de inspiração claramente mais cristã.

Mas, nos países católicos, a Bíblia não é, como na Inglaterra, o alimento espiritual da maioria dos cidadãos, especialmente depois que o Concílio de Trento limitou as possibilidades de leitura pelos simples fiéis. Além disso, conservando uma expressão religiosa sob a forma do Grande Arquiteto, que será colocado em questão somente em 1877, a Maçonaria francesa, na sua expressão majoritária, a Grande Loja e depois o Grande Oriente, viu desaparecer lentamente o livro dos “utensílios das Lojas” desde meados do século. Quando, nos textos de unificação do Rito Francês de 1785 – 1786, o “Livro das Constituições” assumiu o seu lugar, ao lado do esquadro e do compasso, sobre o triângulo do Venerável, não houve qualquer protesto, e nem mesmo o Inglês o formalizaram.

Exceto nos ritos totalmente seculares – como o atual Rito francês – os juramentos que acompanham a iniciação e os “aumentos de salário” são prestados sobre o VLS. O que, em 1738, irritou muito o Papa Clemente XII que, na famosa bula de excomunhão In Eminenti, fala de “juramento estrito prestado sobre a Bíblia Sagrada.” É óbvio que, para o mundo anglo-saxão, um juramento não tem valor a não ser que ele tenha um significado religioso, atitude encontrada nos tribunais ou na “inauguração” de uma Presidente americano.

Não houve grandes mudanças em três séculos: o “Manuscrito Colne nº 1” especifica a forma do juramento: “Um dos mais antigos, tomando a Bíblia, e apresentando-a, de modo que aquele ou aqueles que deve(m) ser iniciado(s) maçom(s) possa(m) pousar e deixar estendida a mão direita sobre ela.

A fórmula do juramento será então lida.” No Rito de Emulação atual, o candidato ajoelha-se e coloca a mão direita sobre o Volume da Lei Sagrada, enquanto a sua mão esquerda segura um compasso com uma das pontas dirigida contra o seio esquerdo exposto. Ao pronunciar a obrigação, o Venerável, na sua mão esquerda, trará o Volume, afirmando que a promessa foi feita “sobre este”.

No Rito Escocês Retificado – que conservou algo da tradição cavalheiresca da maçonaria francesa do Iluminismo, completamente ausente em países anglo-saxões – o candidato coloca a sua mão na espada nua do Venerável pousada sobre a Bíblia aberta no primeiro capítulo de São João.

A promessa é feita sobre “o Santo Evangelho”. No Rito Escocês Antigo e Aceito, o candidato coloca a sua mão direita sobre as “três grandes luzes” que estão sobre o “Altar dos Juramentos, o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso”, enquanto o Grande Experto coloca uma ponta do compasso sobre o seu coração e, “sob a invocação do Grande Arquiteto do Universo,” o candidato “jura solenemente sobre as Três Grandes Luzes da Maçonaria.”

Na França, nos anos 1745, de acordo com o Segredo dos Maçons do Abade Perau, o candidato se ajoelhava, o joelho direito descoberto, a garganta exposta, um compasso sobre o peito esquerdo e a mão direita sobre o Evangelho, “na presença de Deus Todo-Poderoso e desta sociedade.” Observe-se que o Rito Francês de 1785 prescrevia o juramento “sobre os estatutos gerais da Ordem, sobre esta espada, símbolo da honra e diante do Grande Arquiteto do Universo (que é Deus).”

Daniel Ligou

Tradução de José Filardo

Fonte

  • Bibliot3ca Fernando Pessoa

 

 

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O MESTRE E A CÂMARA DO MEIO

 

 

Denomina-se Câmara do Meio à reunião ou o local de reunião dos mestres maçons.  o ritual do grau de mestre do GOB, em sua página dezesseis, último parágrafo insta que a decoração deve ser a mesma para sessões magnas e ordinárias. ou seja, a loja deve estar decorada em preto, em seu cortinado deve haver lágrimas prateadas em grupos de três, cinco e sete, indicando que choram os aprendizes, companheiros e mestres pela morte do mestre entre os mestres.  Este rigor na decoração serve para nos recordar ou incutir que é um local consagrado a dor e a consternação.

O luto pela morte de Hiram, a tristeza pelo trabalho interrompido e a impotência perante a situação dão a este drama psicológico um peso de consciência capaz de fazer com que o mestre maçom reflita sobre o que, realmente, veio fazer na maçonaria.

A palavra mestre provém do latim magister e significa “aquele que dirige e ensina”, derivando também de magis que significa “o mais justo, o mais elevado, o mais evoluído, o mais sábio, o que se aproxima da perfeição”.

Acompanhando os raciocino supracitados e considerando que as oportunidades de realização de sessões mestre são raras, se perde por muitas vezes o verdadeiro escopo da câmara do meio que é (ou deveria ser) o de instruir os mestres. em vez disso dão lugar, por muitas vezes, a assuntos que deveriam ser tratados em reuniões administrativas.

Não raro um ou mais irmãos mestres solicitam na palavra a bem da ordem que se faça uma câmara do meio para “se lavar uma roupa suja”. ora se a loja é consagrada a dor e a consternação e se nos reunimos para fazer novos progressos na maçonaria e tal progresso só pode ser alcançado através da educação continuada, por qual motivo ou razão nos reunimos como mestres só para elevarmos nossas vozes e brigarmos?

Na tentativa de justificar este terrível equívoco, diz-se que é melhor por estarmos a coberto dos aprendizes e companheiros. O mestre tem por obrigação para consigo mesmo de instruir-se para cada vez mais instruir com qualidade e a Câmara do Meio é a oportunidade de dar instrução aos mestres. Desrespeitar o ato solene da sessão de mestres é análogo a brigar em um enterro de um ente querido.

A discussão acalorada, as diferenças, os acertos de contas e outras coisas de ordem administrativa que podem gerar rusgas e desavenças devem ser tratadas em particular, por mediação ou por um conselho.

Reunimo-nos em Câmara do Meio para celebrar a inteligência, a sobriedade, a sabedoria e a capacidade de soerguimento do trabalho destruído pela ignorância, pela violência e pela ganância e o mestre tem a obrigação moral de não cometer os mesmos erros incorrendo em discussões inúteis e embates desnecessários, deve ocupar seu tempo em buscar ser melhor para servir melhor, lembrando sempre a máxima de Pitágoras: “Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, cala-te”.

           Luiz Fernando Corrêa - M.’.I.’. CIM 301.513

ARGBL Philantropia e Ordem II – GOB-RJ

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

A ABÓBADA DO TEMPLO - UMA VISÃO SINÓTICA


 

O tema é por demais interessante, para não dizer necessário, pelo menos para os estudantes da matéria, assim como eu. Desse modo, é oportuno afirmar que não se pode precisar, exatamente, desde quando os Templos destinados às iniciações vieram a ser construídos, sob a inspiração da imagem do Universo. Todavia, sabe-se que, desde intrínsecas eras, a decoração de seus interiores, sempre demonstrou essa tendência, sobejamente.

No Industão, na Índia, na Pérsia, no Tibete, na Grécia e em muitos outros locais, enfim, em todos os outros países, cuja história noticiou a existência desses Templos, vem prevalecendo, na mente de seus idealizadores, a ideia de se imprimir nos Templos, uma reprodução mais ou menos semelhante ao sistema cósmico. Assim sendo, com o fito de se perpetuar a imagem dos Céus, é que os tetos desses Templos eram e, ainda hoje são, o esboço da construção, na forma mais original de uma abóbada celeste.

A suntuosa decoração, aposta àquelas coberturas dos Templos Maçônicos, respeitava, invariavelmente, a reprodução cuidadosa do firmamento, intercalado de nuvens de todos os feitios, coalhados de estrelas e inúmeros astros planetários, formando um conjunto harmonioso e representativo do cosmos.

A abóboda dos Templos antigos, "ad argumentandum", fixava um ponto para contemplação e, interessante, deixava no espírito do iniciado, uma impressão maravilhosa e indescritível, acerca do misticismo presente no seu traçado por demais peculiar, fundamentado nos corpos celestes que rodeiam a terra, majestosos e colossais, nas suas trajetórias e representações simbólicas, naquele ambiente de estudos e aprendizado singulares, um suntuoso painel representativo do espaço ocupado pelo gênero humano.

Inobstante o progresso experimentado, haurindo essa tradição secular, os seus propósitos de fidelidade às origens, a Maçonaria manteve o pensamento e passou a construir seus Templos, em todas as partes do mundo, com iguais características. Então, nesse desiderato de convergir as preocupações de seus filiados para a aspiração mais objetiva de um verdadeiro engrandecimento espiritual, determinou que nos tetos de suas Lojas fossem aplicadas a cor azul e se destacassem nuvens, estrelas e alguns planetas.

A abóbada azúlea de uma Loja Maçônica representa, destarte, em primeiro plano, o sentido de universalidade da Instituição. A cor azul predominante ali, passou a simbolizar a magnanimidade e lealdade provadas como virtudes que elevam a alma humana. O emprego dessa cor, na abóbada do Templo, sequencialmente, justifica a representação simbólica de todas as emulações dirigidas pelo bem e pelo amor fraternal divinizados.

Durante a intercorrência de suas reuniões templárias, acrescente-se, todos os membros dessa sublime Ordem - os maçons ativos - deverão ter sempre presente em suas cogitações, o significativo valor simbólico, decorrente da abóbada celeste, em sua imponente representação.
Nesse mesmo sentir, a distribuição das estrelas, nesse revestimento que encima o recinto, obedece à seguinte ordem:

Localizada mais ou menos no centro da abóbada, a constelação de Orion que, no viveiro celeste, fora do zodíaco, dá ideia de um gigante desenhado com oito estrelas da constelação dos Plêiades, que fazem forcejar os ombros imagináveis do touro, como inspira a sua disposição, motivo pelo qual precisa ser estudada e entendida, sobretudo.

As cinco Hiades, que lembram as Ninfas, filhas de Atlas, que tomaram por encargo a criação de Apolo, desde crianças, tem rico significado místico, merecendo a atenção de quantos estudam os assuntos ligados a Ordem, ou que convivem com os seus mistérios iniciáticos e seculares.
A conhecida Aldebarã, da constelação de touro, é a única de cor meio avermelhada, assinalando o olho direito da figura, em cujos ombros cintilam as Plêiades.

Do outro lado, a meio caminho da constelação de Orion, mais par o nordeste, vê-se Régulo, da constelação de Leão; ao norte, o grupo da Ursa Maior, com sete estrelas, que é a constelação mais antiga, nos registros da Astronomia. Já foi chamada de "sete bois da lavoura", perdidos nas vastas pastagens dos Céus, dando origem à palavra Setentrião; a nordeste, vê-se Arcturo, uma magnífica estrela de cor amarelo dourado, que assinala o joelho esquerdo do "Boieiro", guarda dos "sete bois da lavoura" que forma a Ursa Maior; ao leste, a Spica, da constelação de virgem, que quer dizer "espiga", sempre à sombra da constelação de Leão; a oeste, Antares, uma soberba estrela vermelha, de brilho médio, da constelação de Escorpião, assinalando o lugar do coração; e, ao sul, a chamada Formalhaut, que é assinalada na mão direita da inofensiva figura de virgem.

Na parte situada sobre o Oriente da Oficina, o planeta Júpiter, o maior dos mundos de nosso sistema planetário, sete satélites escoltam sua grandeza, pois é sete vezes mais largo que a terra. Os nossos antepassados o qualificaram como o soberano dos deuses mitológicos, devido à nobre lentidão com que ele procura o zodíaco; ao ocidente, Vênus, cuja localização no espaço é entre a terra e Mercúrio, o mais próximo do Sol. É conhecida, também, como a estrela Pastor, a mais radiosa e mais brilhante do Céu.

Os poetas gregos lhe deram, por essa razão, o nome de Deusa da Beleza, também chamada de Vesper ou estrela da tarde e Dalva ou estrela da manhã; próximo de Orion, está Saturno, com seus satélites, parte do mesmo sistema planetário a que pertencemos, irmão da terra, porque gira em torno dela, em função de seu equador à pouca distância de seu solo, há um vasto anel achatado e delgado, formando um imenso círculo em forma de cinto, seguido de um anel, protegido por um terceiro, como um arco gigantesco lançado por cima do planeta, com a posse de dez luas.
Assim, as estrelas falam do passado e contam velhas lendas, ilustradas por caprichosas imagens de quadros mitológicos, sem valor para a ciência, mas sobremaneira atraentes para os espíritos sonhadores.

Muitos desses quadros, revivem as lembranças dos heróis, cantados por Homero, Hesíodo, Ovídio e, posteriormente, pelos egípcios e hindus, contempladores do espaço sidério.

Sem que se prejudique a visibilidade das estrelas, são intercalados os diversos fingimentos de nuvens, na abóbada. Na parte que corresponde ao Oriente, não é admitido esse gênero de decoração.

Nesse sentir, o aspecto que devem assumir as nuvens do Ocidente, é o assemelhado dos "ninhos" ou "cúmulos", bem pardacentas, com nuances mais carregadas para o lado sul. Na proporção que se vai aproximando do Meio-Dia (centro da Oficina, onde está a constelação de Orion), as nuvens deverão ir desaparecendo em nuances amenizadas, em forma de "stratos" e "cirros". Na altura das balaustradas, cessa a presença de nuvens, na abóbada do Templo.

Nesse mesmo sentir, ainda, a variação de tonalidade das nuvens, verifica-se à medida que se aproxima da parte correspondente ao Oriente. Este particular, simboliza a progressão dos conhecimentos adquiridos pelos iniciados. Desse modo, todas as tempestades e nebulosidades que pudessem afligi-los, ou abafar suas finalidades, as melhores da vida, vão desaparecendo, do mesmo modo, à medida que caminham para a frente.

Na área alternada com o Oriente, não existe nuvem alguma e deve apresentar um panorama de perfeita tranquilidade. O maçom para chegar a merecer a localização no Oriente, faz-se naquele que completou o ciclo de toda aprendizagem, portanto apto para exercer a plenitude maçônica.

No verdadeiro Templo de Salomão, a parte que hoje corresponde ao Oriente das Lojas, lugar onde a Luz Eterna permanecia para irradiar, em todas as direções, era denominado de "Sanctun Sanctorun". Por esse motivo, todos a aceitavam como a área mais santa do Templo, cujo acesso era proibido aos profanos, só admitido o ingresso de Sacerdotes, assim mesmo àqueles que se sentissem embalados pela serenidade que os fizessem esquecer todas as inseguranças e imperfeições da vida comum.

O Venerável Mestre, como Chefe da Oficina e mestre intelecto de cada obreiro, fica colocado abaixo desse trecho da abóbada, oferecendo aos maçons membros, o ensinamento litúrgico de que a luz penetra, serena e inexoravelmente, onde se cultivam os dotes da inteligência e do saber, para sublimação do espírito sobre a matéria.

Acrescente-se, por oportuno, que fixando o olhar na abóbada do Templo, despersonalizado de sua vida tumultuada, afastado das preocupações profanas do dia a dia, todo maçom estudioso sentir-se-á colocado acima de todas as castas de sofrimentos morais e físicos.

Contemplando-se na sua magnitude, à margem das ilusões terrenas, o maçom convencer-se-á, finalmente, da verdade inquestionável de que o Mestre dos Metres - o Grande Arquiteto do Universo - somente galardoará àqueles que saibam cumprir bem os seus deveres, como cidadão e como Obreiro da Arte Real.

As constelações estrelares, disseminadas pelo teto azulino do Templo dedicado à virtude, simbolizam os laços importantes que prendem todas as obras da criação, umas às outras, assim como a criatura ao seu Criador.

Norioval Alves Santos

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