O esoterismo na Maçonaria, como algo velado ou difícil de
entender e explicar, refere-se aos entendimentos pessoais que motivam a
metodologia maçônica, os símbolos e as alegorias nos maçons.
Por ser subjetivo, torna-se um tema complexo que muitas
vezes dá lugar a especulações excessivas ou à intromissão indevida na Ordem de
crenças religiosas ou metafísicas tão respeitáveis como as de outras
instituições. E, embora o tema se tenha prestado a um vivo debate sobre o que
seria o verdadeiro e específico esoterismo da Maçonaria, na realidade existem
várias interpretações.
Em todo o caso, o esoterismo maçônico refere-se aos
ensinamentos veiculados pela sua simbologia e cerimônias, e baseia-se na
percepção de que existem conhecimentos, sentimentos e inspirações que facilitam
a metodologia maçônica na construção dos seus objetivos morais e filosóficos.
Por outro lado, refere-se ao fato de a Maçonaria inspirar e
exercer uma influência intelectual, moral e ética orientada para que o Maçom
adquira uma maior compreensão filosófica dos deveres que tem para consigo
próprio e para com a sociedade em geral.
Quando penso na Maçonaria, penso sempre nesta ideia
original, quase romântica (e altamente idealizada) de um grupo de pessoas que
procuram algo para além do óbvio em questões morais e filosóficas. Sei que, no
mundo real, existem outras motivações para aderir a uma Loja Maçônica, mas isso
é assunto para outro texto.
A Maçonaria, na sua essência mais pura, não é apenas um
local de convívio com uma série de rituais simpáticos; é um sistema filosófico
que nos convida a sermos melhores, moral e intelectualmente.
Através do conhecimento, dos símbolos e da reflexão, o seu
objetivo é fazer-nos evoluir. No entanto, e digo-o com alguma preocupação,
quando o esoterismo é tratado de forma superficial, a Ordem corre o risco de se
desvirtuar completamente.
O verdadeiro esoterismo maçônico, se quisermos falar dele
nos termos atuais, é uma viagem interior, uma busca pessoal de sentido através
dos símbolos, alegorias e ensinamentos éticos que a Maçonaria nos oferece. Mas
esta procura, sendo profundamente subjetiva, pode facilmente conduzir a
mal-entendidos e a práticas vazias, se não se mantiver um foco claro.
Lembro-me da primeira vez que observei uma cerimônia
maçônica, muito antes da minha Iniciação. Era quase uma criança e tratava-se de
uma cerimônia de honras fúnebres no cemitério mais antigo da minha cidade.
A partir desse momento, o mistério, os gestos e a solenidade
do ritual cativaram-me. Senti que algo de muito sério estava em jogo e, com o
tempo, aprendi que o verdadeiro esoterismo maçônico vai muito além da
participação em cerimônias ou da memorização de alguns sinais. É um compromisso
profundo com o significado por detrás de cada símbolo.
É como se, em vez de vermos apenas a ponta do iceberg, nos
fosse pedido que mergulhássemos até ao fundo para compreendermos a magnitude do
que está escondido. Se a Maçonaria nos ensina alguma coisa, é que não é o que
está escondido que é importante, mas o processo de o descobrir. O esforço
constante para compreender o mundo e para encontrar um lugar construtivo nele.
Infelizmente, tenho visto como muitos permanecem à
superfície, presos ao decorativo, ou condescendentes com um teatro que ignora a
riqueza filosófica e ética que está mesmo debaixo dos seus narizes. E é triste,
porque é como ter um mapa do tesouro nas mãos, mas usá-lo para acender uma
fogueira.
Trata-se de um risco grave, porque quando a forma substitui
a substância, a Maçonaria torna-se um espetáculo estéril, um “show maçônico”,
onde os títulos, os graus, os cargos e as insígnias importam mais do que o
crescimento pessoal e coletivo.
Quantas vezes encontrei Irmãos que pareciam mais preocupados
com o seu lugar na hierarquia do que com os ensinamentos que a Maçonaria
oferece? Mais do que eu gostaria de admitir. Este tipo de mentalidade
transforma a fraternidade num desfile de vaidades que começa a parecer-se mais
com um clube de classe média, com presunções elitistas, onde os títulos de
cargos e os graus são tudo.
Arriscamo-nos a perder esse legado se permitirmos que o
esoterismo moral e filosófico, degenerado em superstição e ritualismo inane,
tome conta das nossas Lojas.
A Maçonaria tem sido um refúgio para pensadores, cientistas
e artistas que viam os rituais não apenas como um conjunto de ações, mas como
representações simbólicas de ideias filosóficas profundas.
Desde os grandes iluminados até aos artistas de renome,
todos eles encontraram na Ordem um espaço de debate, de reflexão e, sobretudo,
de aprendizagem. Mas quando o esoterismo é reduzido a uma série de práticas
mágicas sem significado real, competindo com sistemas de crenças, a verdadeira
reflexão é esquecida, e a sua própria essência é enfraquecida.
O resultado é que a Maçonaria deixa de ser um lugar de
reflexão e progresso e torna-se irrelevante para o mundo moderno. É como ter um
livro cheio de sabedoria nas mãos, mas preferir usá-lo como suporte de lâmpada.
A verdadeira Maçonaria exige mais. Exige que aprofundemos,
que não nos contentemos com o que está à vista de todos. Porque, no final do
dia, o que realmente importa não é o espetáculo, mas o conhecimento, a verdade
e o compromisso com o nosso melhoramento pessoal e coletivo. No final do dia, o
que importa não são tanto as cerimônias, os Graus e as funções, mas o
verdadeiro compromisso com o nosso melhoramento pessoal e, portanto, com o
melhoramento da sociedade.
Se a Maçonaria quiser ser relevante no século XXI, tem de
abraçar um esoterismo que se baseia numa reflexão profunda. Porque, em última
análise, o que nos torna verdadeiramente maçons não é o que mostramos ao mundo,
mas o que cultivamos dentro de nós.
E esta é a tarefa que não podemos abandonar.
Autor: Iván Herrera Michel
Fonte: Blog Pido la palabra
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