“Entre o eixo e as pontas do compasso, meu Deus, que distância
penosa, que giro difícil, que pesado manejo”. - Cecília Meireles
Com essa filosofia poética de Cecília Meireles inicio a
composição desse artigo. Na iniciação o candidato recebe a Luz e torna-se um
Maçom na categoria de Aprendiz. Inicia-se a o caminhar entre o eixo e as pontas
do compasso.
Nesse caminho a escuridão é profunda, nada ou quase nada podemos
fazer pela Maçonaria, a não ser cumprir nosso compromisso assumido de ser
regular, ter a regularidade em nossos compromissos assumidos perante a Loja,
que é: ser frequente, cumprir nossos compromissos pecuniários e respeitar as
leis emanadas da Obediência/ Potência que a Loja é jurisdicionada.
O estado inicial de Aprendiz é de profunda busca pelo que é
novo, pelo que é desconhecido e pelo que ao Aprendiz é facultado ser
conhecedor.
Nessa etapa recebe-se, paulatinamente, através das instruções,
das apresentações, de gestos e palavras, o alicerce para a construção moral do
iniciado.
Essa construção é embasada em uma filosofia que se apresenta e
se abstrai o conhecimento com alegorias e símbolos.
O Aprendiz começa a entender se for aplicado em suas leituras,
em suas observações e nos exemplos transmitidos a ele, pelos irmãos
Companheiros e, principalmente, pelos Mestres, o que pretende a Maçonaria com
toda sua filosofia, com sua práxis epistemológica: torná-lo um ser humano melhor,
para que possa, através de suas atitudes, tornar a sociedade e a humanidade
mais feliz, pelo amor e pela prática das virtudes.
Continua-se a busca pelo conhecimento, pelo polimento das
atitudes e ações através da elevação ao grau de Companheiro Maçom. A esse é
dado à oportunidade de conhecer a Geometria e com ela medir as ações que este
encetará dentro da ordem maçônica e, também, no seio da sociedade.
Medidas de cunho filosófico e tangível aos aspectos morais, que
adquiridos com cristalinidade e sem sofismas, dentro dos princípios que
norteiam a sublime ordem maçônica, restituirão a essa Ordem os valores
absorvidos e norteará sua ação em benefício da sociedade profana e da
iniciática.
Continua o Companheiro como caminhante em busca do conhecimento,
utilizando em suas justas medidas os instrumentos universais acima declamados
por Cecília Meireles, e que são representativos de nossa sociedade maçônica: o
esquadro e o compasso.
Essa atitude de busca ao
imergir nos estudos dos sentidos e das ciências e, quando esses estudos são
revertidos em ações e atitudes plenas dentro da ordem maçônica, estamos
estabilizando o sentido de equilíbrio dentro da Loja, dentro da Maçonaria.
O tempo e a distância, entre o eixo e as pontas, são penosos.
São duros, são de profunda provação para o Maçom. Várias situações de rupturas,
de dissensões, de conflitos são colocados a nossa frente, tanto na vivência em
Loja, como no estudo da historiografia da sociedade maçônica; fatos contrários
ao que preconizam os regulamentos e leis oriundos da sublime ordem maçônica
chocam-se, contrapõem-se ao que deveria ser uma visão cristalina e sem
penumbras do desenvolvimento do ser humano, enquanto ser social e universal.
Como Companheiro Maçom tem um entendimento do que estamos
fazendo dentro da Maçonaria e o que podemos fazer pela Maçonaria, porém dentro
da ensinança, dentro do que se propõe o Companheiro, ainda, precisa, utilizando
de seu aprendizado, desenvolver dentro de sua qualidade de membro de uma Loja,
condições que possam firmar as bases dessa célula da sociedade maçônica, que é
a Loja e, articular uma proposta de figurar em uma escala acima, para que possa
ser definitivamente, uma pedra angular da Maçonaria. “... que pesado manejo” e
com o peso da responsabilidade ocorre à exaltação ao grau de Mestre Maçom,
último grau da Loja Simbólica.
Neste grau a proficiência em manejar o Esquadro e o Compasso em
justa medida, em permanecer sendo constituinte do ponto dentro do círculo é de
suprema dedicação a inigualável sociedade maçônica, que tem por finalidade
tornar o ser humano livre e de bons costumes, per si, já estaria consumado a
proposta da filosofia maçônica, inserindo na sociedade um ser humano melhorado,
atendendo ao chamamento dos pares para um crescimento espiritual e compartilhamento
com a sociedade, tanto profana quanto maçônica, de todos os princípios éticos e
morais que esta sociedade, através dos séculos e com seus próceres, deixaram
perpetuados para nós.
Possuidor do grau de Mestre Maçom, portando e manejando os
símbolos e alegorias, somos convocados a desenvolver nosso labor em benefício
da sociedade, da Loja e, concomitantemente, da Maçonaria.
O entendimento da práxis maçônica é próprio dos virtuosos e,
como somos, sempre, uma Pedra Bruta a ser diuturnamente lapidada, aparando
nossas arestas humanas constantemente, desenvolvemos as possibilidades de
comprometimento em auxiliar a Maçonaria, contribuindo na implementação de suas
propostas sociais, sendo uma Pedra a ser colocada na consolidação da
sustentação daquilo que possui qualidade para não só a perpetuação à Ordem
Maçônica, como também, de uma forma de inserção e atendimento ao chamamento,
para a permanência vibrante das ordens para-maçônicas; De Molays, Filhas de Jó e
outras.
O conjunto da obra é de difícil manejo. Não se constrói uma Loja
maçônica, uma Obediência/Potência maçônica com atitudes rasas, com aviltamento
dos princípios da moral e dos bons costumes, com o bramir das intolerâncias,
exercitando a vaidade extrema, sendo ponto de inserção das rupturas e cisões.
A Maçonaria almeja justamente o contrário de tudo isso, a
Maçonaria possui os instrumentos necessários ao crescimento do ser humano em
todos os seus aspectos sociais e morais.
Vivemos hodiernamente os aspectos sociais de uma sociedade
pós-moderna, onde o individualismo e o consumismo sobrepõem a todos os outros
quesitos sociais.
A época atual da pós-modernidade coloca, para nós maçons,
desafios constantes, principalmente o soterramento das metas-narrativas, não
interessa os ideais iluministas que consolidaram como a base da Maçonaria, com
o emprego do mote: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
O mundo pós-moderno desacredita nas sociedades formadas,
independente de que sejam seus ideais, produz uma crise na filosofia como
construtora da verdade, portanto, desafia a todos nós maçons a provar que nossa
filosofia é construtora daquilo que, por princípio de convivência social, é
correto e verdadeiro.
Enquanto Maçom, enquanto obreiro dessa sublime Ordem, enquanto
respeitador das leis emanadas da Obediência/Potência que a Loja a que pertenço
é jurisdicionada, enquanto defensor inconteste da tríade maçônica: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, estou sempre em movimento, estou sempre conduzindo o
Esquadro e o Compasso, mesmo que a distância entre o eixo e as pontas sejam penosas;
que o giro seja difícil; que o manejo seja pesado, não importa quais as
premissas que se dispõem, eu, como Maçom, conduzo minha vida para que os
irmãos, as autoridades dignamente constituídas, e a Maçonaria, tudo que se
refere à Sublime Ordem Maçônica seja respeitada e, tenha sempre um lugar de
destaque na sociedade hodierna.
Antônio Juliano Breyner