Escolhi este tema de forma independente às orientações da 2.'.
Vig.'. para os trabalhos oficiais a minha postura como Ap.'. M.'., pois,
acredito que , enquanto Ap.'., cada passo dentro de nossa Ordem , deve ser
pesquisado, compreendido e postulado aos queridos IIr.'. , e, contudo, em
conjunto, tentarmos consenso na interpretação destas duas palavras que conotam
uma das mais discutidas dualidades inversas de nossa vida.
Outro motivo, que me pendi a este estudo/ pesquisa, foi o impacto de duas
perguntas que a mim foram proferidas durante o Ritual de Iniciação, que, dentro
de minha ignorância momentânea, percebi que minhas respostas não foram claras o
suficiente, talvez pela emoção emanada do momento, ou até mesmo, pelo fato do
desconhecimento profundo e misterioso que ambas as palavras nos submetem no dia
a dia, na vida social e maçônica.
Relembro neste momento as seguintes perguntas:
O que entendeis por Virtude?
O que Pensais ser o Vício?
Relembro também as seguintes Palavras do Ir.'. Orad.'. : Se
desejar tornar-vos um verdadeiro Maçom deveis primeiro morrer para o vício,
para os erros, para os preconceitos vulgares e nascer de novo para a Virtude,
para a honra e para a Sabedoria.
Como Homens livres e de bons costumes, entendo que além do
sagrado dever de levantarmos templos a Virtude e cavarmos masmorras aos Vícios,
devemos saber interpretar ambas as questões, para que no dia a dia, não sejamos
submetidos ao despertar de nossa ignorância quando interpelado sobre seus
significados. Daí, minhas conclusões que disserto a seguir.
Comecemos com a Virtude, em suas definições Filosóficas, que nos
levam a discernir como um estado de Comportamento do Homem:
O primeiro desses significados se refere às qualidades materiais
ou físicas de qualquer ser, inclusive do homem. São as virtudes da água, do ar,
ou como as virtudes naturais dos seres vivos de respirar, reproduzir-se, ou do
homem de raciocinar, de ser bípede etc. Esse significado se refere às
qualidades não adquiridas, mas próprias da natureza de cada ser, tanto em razão
de sua composição química como em razão de sua estrutura orgânica ou de sua
evolução natural. São as qualidades e as capacidades naturais que os seres em
geral manifestam, desde os átomos até os seres organizados superiores.
O segundo significado diz respeito às habilidades próprias do ser humano, como
tocar um instrumento musical, saber usar uma ferramenta, saber escrever, pintar,
ler, raciocinar logicamente etc. São, na verdade, destrezas, habilidades ou
capacidades de execução de alguma atividade, adquiridas através de exercícios e
experiências, tanto em nível corporal como em nível mental. São as qualidades
adquiridas pelo aprendizado.
O terceiro sentido de virtude diz respeito ao comportamento moral resultante do
exercício do livre arbítrio e, portanto, diz respeito exclusivamente ao homem.
É exatamente desse terceiro sentido, o comportamento moral, que nos interessa
como Maçons, pois somente ele diz respeito exclusivamente à educação do
espírito, uma tarefa extremamente valorizada dentro da Maçonaria porque conduz
ao comportamento moral, ao amor e a generosidade.
Comportamento moral é a pratica da solidariedade humana em todos os sentidos, e
que pode ser manifestada de infinitas maneiras, pois são infinitas as maneiras
que nos podem conduzir na pratica da solidariedade. Podemos, por exemplo,
trabalhar com dedicação para tirar o homem de sua ignorância, podemos ajudar o
nosso semelhante a superar suas necessidades materiais, podemos nos colocar ao
lado do nosso semelhante em suas dores mais profundas, podemos estar ao lado
dele quando abatido em seus males corporais, enfim há vários meios de praticar
a solidariedade.
Para que um determinado comportamento moral possa ser considerado uma virtude
não é suficiente à prática de atos morais esporádicos ou isolados. É necessário
antes de tudo haver uma continuidade, um hábito, um estado de espírito sempre
ativo e presente na consciência, a cada dia e a cada momento.
Dentro do Comportamento Moral, podemos acrescentar o próprio comportamento
social que vivemos para fazermos valer na tríade Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, onde cujas são por excelência, os elementos para construir em
nosso templo interior o verdadeiro espírito maçônico. E para tanto, ao entender
das pesquisas, temos que praticar constantemente as virtudes que relacionamos a
seguir:
A Virtude da Justiça: por justiça entende-se como virtude
moral, pela qual se atribui a cada indivíduo aquilo que lhe compete no seio
social: praticar a justiça. A justiça em nossa Ordem é a verdade em ação, é a
arma para as conquistas da Liberdade.
A Virtude da Prudência: é a Virtude que nos auxilia a nossa inteligência
para distinguir a qualidade do ser humano que age com comedimento, com cautela
e moderação, enriquecendo nossa igualdade, e respeito entre os irmãos,
estendendo à sociedade que vivemos em nossa vida profana.
A Virtude da Temperança: podemos relacionar diretamente a virtude da
Temperança com uma espícula extremamente dura a ocupar uma das infinitas
arestas da Pedra Bruta, pois é ela que disciplina os impulsos, desejos e
paixões humanas. Ela é a moderação e barragem dos apetites e das paixões, sendo
o império sobre si mesmo. Com ela, estaremos deixando cada vez mais forte e
profunda as raízes da Fraternidade.
Faço destaque à Fraternidade, ora regida por nossas temperanças,
pois da importância do conjunto de nossa tríade, considero-a a mais direcionada
às nossas causas e conquistas enquanto Maçons, pois ela é a diferença de nossa
Ordem, ela que serviu de arma forte e reluzente, que fez com que nossos irmãos
antepassados, entregando muitas vezes suas próprias vidas a repugnância,
resistindo às perseguições e se deixando abater pela inquisição, pela própria
rusga Cuibana não deflagraram nossos segredos, nossos augustos mistérios, e
salvaram com os princípios fraternos a continuidade de nossa Ordem durante
séculos que se passaram.
A Fraternidade Maçônica sempre foi conseguida através de um laço que se poderia
chamar de cumplicidade maçônica. Essa cumplicidade nasceu entre os irmãos a
partir do compartilhamento de diversos sigilos, como o aspecto secreto das
reuniões, os sinais de reconhecimento, o segredo dos graus, os simbolismos
etc., que começa a se formar a partir do momento da iniciação.
É essa gama de atos e fatos ligados à estrutura básica da Maçonaria que faz
nascer essa ligação de cumplicidade que gera a inconfundível fraternidade
Maçônica. Este laço material se reforça com a prática da Filosofia, das
Virtudes e dos Princípios Maçônicos, principalmente da Justiça, da Prudência,
do Amor, e da Generosidade.
Existem certamente momentos em que afloram os instintos, ou
seja, vícios ainda não convenientemente dominados, tal como o egoísmo,
provocando desentendimentos pessoais. Isso é natural que aconteça mesmo depois
de nos tornarmos maçons, pois é sabido que mesmo após muitos anos o espírito
dentro de sua cavalgada na busca da perfeição não consegue absorver o
verdadeiro sentido do que é uma fraternidade. Não conseguem deixar-se dominar
pela cumplicidade maçônica.
Nesses momentos deve agir o sentimento de temperança dos demais
irmãos para serenar os ânimos e não deixar os ressentimentos se avolumarem. O
Importante é não deixar de lutar pela fraternidade a cada dia e a cada
instante, mas para isso é preciso termos em primeiro lugar domínio sobre nossos
vícios, cujo também alvo desta peça, discuto a seguir, pois do que vale pregar
o bem, sem o entendimento do mal?
Percebi em minhas pesquisas, que pouco se fala sobre os Vícios, até mesmo a
própria Bíblia Sagrada, O Livro dos Espíritos, Livros afins e várias peças de
arquitetura que o entendimento da palavra e do substantivo declarado Vício é de
forma singela e simploriamente declarada como o "O oposto da
Virtude", havendo logicamente mais espaços destinados ao assunto
"Virtude", o qual não sou contra, pois dentro dos conceitos atuais de
estruturalismo, é mais fácil corrigir o mal com o reforço do ensino e prática
do bem, tal como nosso Ritual de Iniciação que o Ven.'. M.'. dita o seguinte
discurso:
".'. É o oposto da Virtude. É o hábito desgraçado que nos
arrasta para o mal; e é para impormos um freio salutar a esta impetuosa
propensão, para nos elevarmos acima dos vis interesses que atormentam o vulgo
profano e acalmar o ardor das paixões, que nos reunimos neste templo.'.".
O Vício pode ser interpretado como tudo quanto se opõe a
Natureza Humana e que é contrário a Ordem da Razão, um hábito profundamente
arraigado, que determina no individuo um desejo quase que doentio de alguma
coisa, que é ou pode ser nocivo. Em síntese, tudo que é defeituoso e que se
desvia do caminho do Bem.
Do ponto de vista abstrato, podemos dizer também que tudo que
não for perfeito é Vício, mas do ponto de vista prático, é um termo relativo
que depende do grau de evolução do Individuo em questão, pois o que seria um
Vício para um Homem cultivado, poderia ser uma virtude para um selvagem.
Na verdade, nenhum vicio poderá ser jamais uma desvantagem
absoluta, pois toda forma de expressão indica um desenvolvimento de força. O
que devemos realmente é estabelecer e proclamar nossa guerra interna,
conflitarmos espiritualmente o combate às nossas imperfeições seja nessa vida
ou nas próximas que estamos por vir.
De todos os vícios que sofremos e estamos expostos no dia a dia para com a
sociedade, nosso templo, nosso ego, enfim, aquele que podemos declarar como o
Orientador a todos os outros vícios é o egoísmo, e este vem assolando todas as
comunidades, todas as religiões, todas as irmandades, enfim, todo o Mundo está
submisso ao Egoísmo, e , na prática e exercício deste de forma desequilibrada,
teremos os demais vícios aflorando facilmente e deflagrando em cada canto do
mundo, a discórdia,a intemperança, as guerras, o fanatismo, a injustiça, a
fome, as doenças, a infelicidade, enfim, as mortes prematuras que assolam os
ditos países não desenvolvidos.
Quando citei o exercício desequilibrado do egoísmo, quis demonstrar que jamais
um vício pode ser uma desvantagem absoluta (dito a dois parágrafos anteriores)
, pois como exemplo, podemos citar que o Egoísmo de um PAI na proteção de seu
filho não pode ser tratado como um desequilíbrio egoísta e sim uma reação que
não podemos condenar desde que para isso não tenha praticado o mal ao seu
semelhante.
Assim como tudo na vida e em nossas ações estaremos submetendo
ao equilíbrio, os vícios também o são submetidos, pois com certeza, nós homens
nunca seremos perfeitos, a imperfeição faz parte do Homem, e isto é lógico e
notório, partindo do principio que somos Espíritos tendo experiências humanas
na terra e não humanos tendo experiências espirituais.
Nosso mundo nada mais é que uma grande escola espiritual e que para
conseguirmos nossa evolução, temos que ser submetidos às vivências carnais
tempo a tempo, até que sejamos perfeitos, e isto ocorrendo não mais estaremos
de volta e sim estaremos ajudando em outro plano os demais que assim se fizerem
de coração aberto para os ensinamentos.
Outra citação que coloco, é a questão das Paixões, também fruto
do egoísmo, que dentro de uma estrutura hierárquica, posso considerá-la como
uma segunda posição depois do Egoísmo. A Paixão está no excesso acrescentado à
vontade, já que este princípio foi dado ao homem para o bem, e suas paixões
podem levá-lo a realizar grandes coisas. É no seu abuso que está a sua
definição como um vício.
A Paixão é semelhante a um cavalo, que é útil quando dominado e extremamente
perigoso quando domina. Uma paixão será por demais perigosas no momento em que
deixar de governá-la e resultar qualquer prejuízo para você ou aos outros.
Sem dúvida grandes esforços são feitos para que a Humanidade, e nós Maçons que
fazemos parte dela, avance, encoraje-se, honre-se os bons sentimentos mais do
que em qualquer outra época deste nosso mundo, entretanto a desgraça roedora do
egoísmo continua sendo sempre a nossa chaga social. É um mau real que cai sobre
todo o mundo, do qual cada um é mais ou menos vítima.
É preciso combater os vícios, equilibrá-los, assim como se
combate uma doença epidêmica. Para isso, devemos proceder como médicos: ir à
origem. Que se procurem, então em todas as partes de nossa organização social,
desde as famílias até nossa comunidade, desde os barracos de tábuas, até as
grandes Mansões, todas as causas, todas as influências evidentes ou escondidas
que excitam, mantêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo.
Uma vez conhecidas as causas, o remédio se mostrará por si
mesmo. Restará somente combatê-las, senão todas de uma vez, pelo menos
parcialmente e, pouco a pouco, o veneno será eliminado. A cura poderá ser
demorada, porque as causas podem e são numerosas, mas não impossível. Isso só
acontecerá se o mal for atacado pela Raiz, ou seja, pela educação, não a
educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de
bem. A Educação, bem entendida é a chave para o progresso moral.
Quando conhecermos a arte de manejar o conjunto de qualidades do homem, como se
conhece a de manejar as inteligências, será possível endireitá-los, como se
endireitam plantas novas, mas esta arte exige muito tato, muita experiência e
uma profunda habilidade de observação e vigilância. É um grave erro acreditar
que basta ter o conhecimento da ciência, dos augustos mistérios de nossa ordem
para que exercemo-las com proveito.
Todo aquele que acompanha o filho do rico ou do pobre, desde o nascimento e
observa todas as influências más que atuam sobre eles por conseqüência da
fraqueza, do desleixo e da ignorância daqueles que os dirigem, quando,
frequentemente, os meios que se utilizam para moralizá-lo falham não se pode
espantar em encontrar no mundo tantos defeitos. Que se faça pela moral tanto
quanto se faz pela inteligência e se verá que, se existem naturezas
refratárias, que se recusam a aceitá-las, há, mais do que se pensam, as que
exigem apenas uma boa cultura para produzir bons frutos.
O Homem, meus IIr.'., deseja ser feliz e esse sentimento é natural, por isso
trabalha sem parar para melhorar sua posição neste mundo que vivemos. Ele
procurará a causa real de seus males a fim de remediá-los. Quando compreender
que o egoísmo é uma dessas causas, responsável pelo orgulho, ambição, cobiça,
inveja, ódio, ciúme, que o magoam a cada instante, que provoca a perturbação e
as desavenças em todas as relações sociais e destrói a confiança que o obriga a
manter constantemente a defensiva, e que, enfim, do amigo faz um inimigo, então
compreenderá também que esse vício é incompatível com sua própria felicidade e
até mesmo com sua própria segurança.
E quanto mais se sofre com isso, mais sentirá a necessidade de
combatê-lo, assim combate a peste, os animais nocivos e os outros flagelos; ele
será levado a agir assim por seu próprio interesse.
O egoísmo é a fonte de todos os vícios, assim como a fraternidade é a fonte de
todas as virtudes; destruir um e desenvolver outro ( Levantar templos a Virtude
e Cavar masmorras aos Vícios ), esse deve ser o objetivo de todos os esforços
do homem, se quiser assegurar sua felicidade em nosso mundo e no seu mundo
espiritual.
"Quem é bom, é livre, ainda que seja escravo, Quem é mau é
escravo, ainda que seja livre."
Santo Agostinho
Ir.’.Moacir José Outeiro
Pinto, ARLS Razão 4 / Brasil