SETE MAÇONS OU SETE MESTRES?

A grande dúvida surge na própria grafia dos rituais. Não há um consenso nas regras de aplicação de siglas aos vocábulos maçônicos.
Teoricamente a regra é que devemos escrever a palavra até a consoante que antecede a segunda vogal. SEC.’.; HOSP.’.; VIG.’.; PAL.’. SEM.’.. Mas encontramos MAÇ (Maço ou Maçonaria?); Comp (Compasso ou Companheiro?); BAL (Balandrau ou Balaústre?) E para complicar ainda tem as siglas das siglas. Venerável Mestre é grafado por Ven M ou VM e para economizar tinta: VM.
Por conta desta falta de uniformização é que encontramos nos rituais as mais diversas formas de responder a pergunta: – O que se torna preciso para a abertura dos trabalhos? Já encontrei:

– …….no mínimo sete IIr MM …….
– …….no mínimo sete IIr MM …….
– …….no mínimo sete IIr MM MM …….
– …….no mínimo sete IIr MMMM …….
Nunca entendi a dificuldade em escrever “…….no mínimo sete Irmãos Mestres…….”.

Não pode ser “…….no mínimo sete Irmãos Maçons…….”, porque Aprendiz e Companheiros também são Maçons, mas não podem circular em Loja ou subir ao Oriente.

Mas estando apenas SETE MESTRES em Loja, que cargos devem ser ocupados?
1.    Venerável, preside a reunião e é o responsável pelo Oriente.
2.    Primeiro Vigilante é o responsável pela Coluna do Norte.
3.    Segundo Vigilante é o responsável pela Coluna do Sul.
4.    Orador é o responsável pelas Leis e é ele que faz a conclusão dos trabalhos.
5.    Secretario, toda reunião tem que ter seu registro (balaustre).
6.     Mestre de Cerimônias é ele que fará todo o trabalho de circulação em Loja.
7.    Guarda do Templo, afinal os trabalhos necessitam de proteção.

E os outros cargos? O Orador acumulará a função de Tesoureiro, o Secretário a função do Chanceler, o Mestre de Cerimônias as funções do Hospitaleiro e dos Diáconos.

Observem que destaquei a palavra função para deixar bem claro que não se acumula cargo. Deixando bem claro: só usamos um colar. Já imaginaram que falta de bom senso o Mestre de Cerimônias com seu colar e ainda os dois de diáconos?

Não há o que reclamar se houver apenas sete Mestres na Loja, o problema está na ausência de Aprendizes e Companheiros.
É muito mais salutar à Ordem Maçônica uma Loja com 03 Aprendizes, 05 Companheiros e 07 Mestres do que uma Loja com 15 Mestres sem Aprendizes e Companheiros.
Os labores maçônicos não são apenas os desenvolvidos em Grau 1, 2 e 3.
Os trabalhos transcorrem justos e perfeitos não por conta da ritualística ou pelo número de presentes, mas pelo propósito da reunião.
Para que nos reunimos?
Para combatermos a tirania, os preconceitos e os erros. Glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade, trabalharmos em prol do bem da Pátria e da Humanidade, não precisamos estar em grande número.
Mais vale 7 comprometidos do que 77 dispersos.
Autor: Sérgio Quirino Guimarães


RITUAL MAÇÔNICO É UMA INOVAÇÃO


Quando o Venerável Mestre é perguntado, em sua instalação, se ele concorda que um homem ou qualquer corpo de homens, não podem fazer mudanças no corpo da Maçonaria, é importante compreender que isto se refere à preservação da estrutura organizacional da Ordem maçônica e não a seus rituais cerimoniais.

Mais de um Grão-Mestre tentou aplicar esta advertência para o ritual maçônico em si. No entanto, uma breve análise do desenvolvimento dos rituais e suas muitas formas através do panorama das jurisdições maçônicas vão mostrar rapidamente que esta pergunta veio das “Old Charges” e não tem nada a ver com os aspectos ritualísticos da nossa fraternidade. Nossos fundadores nunca tiveram a intenção de que os rituais cerimoniais permanecessem estáticos.

A proibição de renovação não se aplica ao ritual maçônico, enquanto que esta é a única base sobre a qual toda a Luz da Maçonaria é transmitida e revelada.

Ainda que a Grande Loja Unida da Inglaterra insista que “a antiga e pura Maçonaria consiste em apenas três graus, incluindo o Santo Real Arco” o que é historicamente impreciso, as Grandes Lojas sempre tiveram o direito de decidir por si mesmos, como os seus rituais serão.

O único “antigo e puro” ritual maçônico no mundo é o ritual que existia em 1717, quando a primeira Grande Loja foi formada. Nós sabemos como foi aquele ritual porque ele foi amplamente publicado nos três primeiros manuscritos maçônicos, na forma de catecismos ainda existentes, em relação ao período de 1696-1715, os quais vieram da Escócia.

O que é surpreendente sobre estas revelações é que elas encontraram o caminho para serem usados e adotados pelas lojas inglesas. Mais importante é que encontramos neles a maior parte do alicerce sobre o qual todos os rituais maçônicos foram erguidos mais tarde – a posição dos pés, a menção do “aprendiz” e “companheiro”, os cinco pontos do companheirismo, a menção do compasso, esquadro e Bíblia no mesmo contexto, o átrio do Templo do Rei Salomão, o sinal penal, existem muitas coisas para reconhecermos ali. 

É mais do que coincidência encontramos essas características em comum em todos estes catecismos antigos.

Outro ponto é extraordinário em todos estes trabalhos: Graus não são mencionados. Quando a primeira Grande Loja no mundo foi criada, havia apenas a cerimônia de fazer um Maçom “Aceito” e a “Função do Mestre”. Na verdade, não temos nenhuma evidência de um sistema de três graus, ou de um terceiro grau, antes da famosa exposição de Samuel Pritchard intitulada de “A Maçonaria Dissecada”, publicado em 1730.

Isso faz com que o grau de Mestre Maçom na Maçonaria seja uma inovação!
Historiadores importantes concordam que o terceiro grau foi introduzido na Maçonaria em torno de 1725. Tornou-se popular ao longo das próximas duas décadas, principalmente porque os maçons adotaram a exposição de Pritchard como uma ajuda ao trabalho de memória. Sua obra não autorizada, se tornou o primeiro monitor maçônico e seria por décadas, o livro de rituais não oficiais dos maçons. É também a primeira menção que temos da lenda de Hiram.

Ninguém sabe de onde essa história veio, mas supõe-se que Desaguillers pode ter sido o autor, sendo Grão Mestre em 1719 e Vice-Grão Mestre em 1722 e 1726. Este foi o período em que o terceiro grau foi introduzido nas cerimônias da primeira Grande Loja. A lógica sugere que Desaguliers e seus irmãos maçons da Royal Society, poderiam ter sido os responsáveis. Certamente, nada poderia ter sido introduzida sem a sua aprovação. Na verdade, o Craft mudou drasticamente, enquanto Desaguliers estava em cena. A Grande Loja passou de um banquete anual para um órgão administrativo, com atas e orientação política para lojas, incluindo a estrutura de seus graus.

Se Desaguillers e seus amigos de fato foram os autores do terceiro grau, voltaram a Maçonaria para um novo caminho. Em 1730, a cerimônia que conhecemos como Real Arco foi desenvolvida, a que reviveu uma história do grego antigo que data do ano 400. Em 1735, o Rito de Perfeição, consistindo de 14 graus, foi introduzido, estabelecendo uma cronologia bíblica para a estrutura do ritual maçônico.

Tanto o Real Arco quanto o Rito de Perfeição, inovadores como eram, foram declarados pelos membros como “restabelecimento” da maçonaria antiga, porque eles automaticamente transmitiam uma face artificial da idade do grau ou da ordem. Depois de alguns anos, até os historiadores da Grande Loja estavam escrevendo que estes graus adicionados eram restaurações de um sistema mais antigo. Tornou-se moda acreditar que não havia nada mais inovador do que eles!

Claro que todos os novos graus/ordens foram adotados em uma única premissa – a que havia sido perdido no terceiro grau, tinha que ser encontrado. Por esta razão, todos eles apresentam uma semelhança surpreendente na estrutura e todos mostram que os sinais são provenientes da mesma fonte, com a mesma regularidade em sua forma. Mesmo com graus adicionais desenvolvidos, eles mantiveram uma estrutura “tradicional”.

Esta semelhança na estrutura é mais uma prova de que os nossos graus maçônicos, foram na verdade, criados em uma onda de moda. Todos eles insinuam que há grandes segredos para serem encontrados pelo maçom dedicado. E, de fato, existem.

Ao mesmo tempo em que os graus e ordens foram crescendo aos trancos e barrancos, tanto no Rito de York quanto no Rito Escocês, ritualistas maçônicos nas lojas do Craft, continuaram a adicionar a linguagem dos três primeiros graus, acrescentando solidez à sua forma. Durante a segunda metade do século 18, um crescimento intelectual extraordinário foi adicionado ao velho conceito de “pura e antiga”, nos simples catecismos de 1717. Na verdade, o desenvolvimento e expansão do ritual, continuou a estar na moda como um dos meios de educar o Craft até a década de 1820.

Realmente foi criada uma escola de educação que prosperou por quase um século até as Grandes Lojas, principalmente as dos Estados Unidos, que determinaram que devesse haver apenas um ritual, aquele adotado por eles e todo o resto não importava. As Grandes Lojas dos EUA estabeleceram mais uma inovação na Maçonaria, que o ritual fosse imutável. Eles decidiram por si mesmos que a Maçonaria pura e antiga era a sua Maçonaria somente. O ritual maçônico se tornou uma coisa fixa e estagnada.

Esta inovação do século 19 pode ter marcado o início do declínio na Maçonaria. Foi durante essa época que as Grandes Lojas decidiram coletivamente, que não havia nada mais a ser aprendido no ritual maçônico. Nossas palavras foram congeladas no tempo.

Agora eu quero saber se é hora de criarmos mais uma inovação na Maçonaria, o de educar os maçons de que o uso ritual deve ser um processo dinâmico, assim como a aprendizagem é dinâmica. Claro, nós não precisamos adotar mais palavras. Mas leve em consideração como instrutivo seria se a diversidade de rituais fosse introduzida como uma ferramenta adicional para instrução, se rituais alternativos já adotados em outras jurisdições em todo o mundo, poderiam ser utilizados por vontade da loja e sancionada pela Grande Loja. Imagine como emocionante e revigorante seria se tivéssemos dez ou doze diferentes rituais disponíveis para nós em cada grande jurisdição!

Talvez seja hora de fazer a Maçonaria da moda outra vez, tanto através da variedade de sua forma de ritual e no desenvolvimento de sua forma intelectual, onde palestras, ensaios e diálogos são compartilhados regularmente em loja, todos focados em iluminar a mente. Talvez os jornais mais instrutivos e informativos, poderiam se tornar uma parte dos monitores impressos da Maçonaria, não deve ser memorizado, mas para ser sancionado e publicado para o benefício daqueles que querem ter acesso a mais conhecimento nas formas de maçonaria.

Aqueles que sabem que mais luz na Maçonaria não é a propriedade da Grande Loja, mas sim, do indivíduo e seus irmãos em sua busca coletiva de uma vida, a busca por aquilo que foi perdido nas palavras e seus significados.

Em práticas como essas, nós não devemos, mais uma vez exercitar a “pura e antiga” Maçonaria? Poderia ser apenas mais uma inovação digna de nosso antigo Craft.

Um texto do Ir.’. Robert G. Davis
Traduzido por Luciano R. Rodrigues


O SOLSTÍCIO DE VERÃO


Solstícios são os pontos que a órbita elíptica da Terra descreve num ano em torno do Sol quando este está em sua máxima distância ao sul ou ao norte da linha imaginária do Equador. Duas vezes por ano, nos meses de junho e dezembro, acontecem os solstícios, variando o dia e a hora.

No verão, a duração do dia é a mais longa do ano, ocorrendo o contrário no inverno, quando a noite é a mais longa do ano. Tudo isso graças à inclinação de 23,4 graus do eixo de rotação da Terra que, combinado com o movimento de translação, permite que a incidência desigual dos raios solares sobre os dois hemisférios defina as quatro estações do ano, fazendo com que a Natureza cumpra seus ciclos de nascimento e ressurreição.

Os equinócios e solstícios receberam o nome de portas do céu ou das estações do ano. E se a Terra não tivesse a Lua, a inclinação do eixo em relação à vertical teria variação caótica, comprometendo a vida complexa, tornando-a inabitável.

Enquanto passamos pelo solstício de verão, aqui no hemisfério sul, marcando o início dessa estação, os habitantes do hemisfério norte enfrentam a entrada do inverno. O solstício de verão é sempre previsto para o dia 21 ou 22 de dezembro, de acordo com cálculos astronômicos, quando a radiação solar incide verticalmente, o Sol está no seu zênite ou está “a pino”, sobre o Trópico de Capricórnio.

No solstício de verão do hemisfério norte, que ocorre no dia 21 ou 22 de junho, os raios solares incidem perpendicularmente à superfície da Terra no Trópico de Câncer.

Em 2016, o solstício de verão ocorreu as 10h44min UTC – 8h44min (horário de verão em Brasília), do dia 21 de dezembro. A diferença de tempo entre à hora local e UTC (do inglês, Tempo Universal Coordenado), também conhecido como horário Zulu é de menos 3 horas (-180 minutos).

No horário de verão, que começou em 16 de outubro e vai até o dia 19 de fevereiro de 2017, diminui-se uma hora nessa diferença, nas regiões onde é adotado. O sistema de horário de verão, aplicado por decreto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,visa aproveitar a maior incidência da claridade desses dias mais longos e economizar energia elétrica.

Por sua vez, os equinócios são pontos da órbita da Terra ao redor do Sol, quando este corta o equador na sua marcha aparente do hemisfério sul para o norte e em seu regresso do norte para o sul, e a sua luz solar incide de maneira igual e exatamente na linha imaginária que corta os dois hemisférios.

Por isso, diz-se que é equinócio de outono para o hemisfério que está indo do verão para o inverno e equinócio de primavera para o hemisfério que está indo do inverno para o verão.

No passado, esses fenômenos astronômicos tinham grande importância para a agricultura e as religiões dedicavam cultos especiais para marcar as transformações que se esperavam.

O ciclo do Sol e da Lua à volta da Terra sempre esteve ligado ao ciclo de cultivo de alimentos. Antigas civilizações elevaram o Sol, como fonte de luz e calor, à condição de soberano do mundo e rei dos céus, detentor dos poderes divinos que criam Vida, imaginando os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.

Tanto os Maias, como os Incas, Egípcios, Romanos e Gregos adoravam o sol e tinham os seus cultos a ele dedicados. Muitas dessas tradições foram conservadas e adaptadas pelos povos no curso da história.

Também a Maçonaria especulativa, absorvendo as tradições da Maçonaria operativa, incorporou aquelas comemorações e celebra as festas equinociais e as solsticiais, reconhecendo-as no seu simbolismo. Assim, tradicionalmente, a nossa Assembleia Geral Plenária reúne-se ordinariamente quatro vezes ao ano, nas semanas em que os equinócios e solstícios ocorrem, conforme previsto nos artigos 47 – II e 49 da Constituição da GLMMG, com um pequeno ajuste em dezembro, com vistas a não comprometer as festas de final de ano.

Nos nossos Templos Maçônicos, as Colunas “B” e “J” representam os solstícios de Inverno, ao Norte, presidido por São João Batista, e o solstício de verão, ao Sul, presidido por São João Evangelista, ambos os Patronos da Maçonaria.

É tradição em várias Lojas a realização de Banquete Ritualístico ou Ágape Maçônico, também conhecido como Loja de Mesa, nos meses de junho e dezembro, em honra aos santos, tratando-se, portanto, de Festas Solsticiais. Essas celebrações têm um caráter de saudação e de confraternização, evocando os laços que unem os irmãos.

No auge da maturidade do Sol, estaremos recepcionando o tão esperado Verão, sempre ligado a festas, férias, viagens e novas vibrações. Época também de avaliação da colheita quase amadurecida do ano que se encerra e elaboração de projetos para um novo ciclo que se reinicia com a chegada de um novo ano e novas preocupações ou velhas restauradas. Mas, apesar de todos os agitos que a vida insiste em impor-nos a cada dia, não podemos perder a sensibilidade para os ciclos que a natureza preserva através do equilíbrio das forças que a movimentam.

Precisamos também buscar esse equilíbrio, aproveitando os ares de um novo ano e praticarmos a introspecção e o autoconhecimento, essenciais para que estejamos preparados para encarar de forma corajosa os desafios diários que sempre se renovam.

Enfim, nessa nossa provisória solidão cósmica, enquanto únicos seres conhecidos se questionando sobre o mundo, que tenhamos todos um feliz solstício de verão e uma próspera nova órbita nos preciosos 365 dias e seis horas que continuaremos nossa viagem a bordo desta nave de massa/peso equivalente a 5,9 sextilhões de toneladas, medindo 510 milhões de km², que se desloca a uma velocidade média de 1.675 km/h em torno de seu eixo e a uma velocidade orbital média de 107.266 km/h, conforme estabelecido pelo Grande Arquiteto do Universo.

Um “Pálido Ponto Azul… um grão de pó suspenso num raio de sol” (Carl Sagan)…
“Isso é tudo o que temos.” (Al Gore)

Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras.


A MAÇONARIA E A CARBONÁRIA

Nenhuma Sociedade Secreta fascinou tanto as multidões sequiosas de sua liberdade, ou da independência política conquistada à custa de lágrimas e sangue, quanto a Maçonaria Florestal, mais conhecida como “Carbonária”, por ter sido fundada pelos carvoeiros da Hannover, como associação de defesa e de ação contra os opressores e assaltantes de sua classe. Constituída no último Quartel do Séc. XV, ela só veio a entrar na História, como organização de caráter político, após a Grande Revolução Francesa.

Na Itália, ela adquiriu fama de violenta e sanguinária, e introduzida na França por ordem de Napoleão, não tardou em converter-se na mais poderosa força oposicionista ao expansionismo do grande corso, lutando contra ele na França, na Áustria, na Espanha e em Portugal. O nome de “Maçonaria Florestal” veio-lhe depois que irrompeu, na Itália e na França.


“Maçonaria”, porque os Maçons a propagavam e a protegiam, “Florestal”, porque as Iniciações dos seus Membros lembravam as dos antigos Carvoeiros de Hannover, realizadas nas florestas mais densas, a cobertos das vistas estranhas.

Os Carbonários, antes de serem investidos nos Segredos da Ordem, passavam por duras provas e prestavam os mais terríveis juramentos, como este, que eram assinados com próprio sangue:

Juro perante esta assembleia de homens livres, que cumprirei as ordens que receber, sem as discutir e sem hesitar, oferecendo o meu sangue em holocausto, à libertação da Pátria, à destruição do inimigo e à felicidade do Povo. Se faltar a este juramento, ou trair os desígnios da Poderosa Maçonaria Florestal, que a língua me seja arrancada e o meu corpo submetido ao fogo lento por não ter sabido honrar a Pátria que foi meu berço.” Só depois deste juramento é que o Candidato recebia as insígnias de “Bom Primo”, (as insígnias de Bom Primo consistiam de um balandrau preto e Capuz, tendo bordado, em branco, no peito, um punhal (o punhal de São Constantino), com o cabo no formato cruciforme entrelaçado a uma cruz cristã.) O punhal de São Constantino não constava somente de um desenho bordado no Peito do Balandrau Preto, era também uma arma branca, que todos os Carbonários usavam, também em suas execuções, como símbolo da Ordem a qual pertenciam.

O Balandrau Preto, dos líderes, ao invés do Punhal e da Cruz entrelaçados possuía bordado no peito, em dourado, um sol radiante.

O brado de guerra dos Carbonários consistia em cada um, levantar o seu punhal bem alto.

Normalmente as reuniões dos tribunais carbonários eram realizadas, a exemplo dos carvoeiros de Hannover, no passado, em plena floresta, bem distante dos olhares curiosos e indevidos.

Seus julgamentos eram implacáveis e seus réus, se condenados, eram executados com a máxima eficiência. O Carbonário era, às vezes, juiz e carrasco ao mesmo tempo. Seus afiliados (jamais podiam trair a Ordem. Os que traíram, sempre foram exemplarmente executados) se tornavam Carbonário ou executor das ordens de “Alta Venda”.

Em cada país a Organização da “Maçonaria Florestal” obedecia ao esquema italiano: “Alta Venda”, corpo deliberativo superior, composto de um Delegado da cada “Barraca”, composta por sua vez por um Delegado de cada “Cabana”; e as “Cabanas” eram formadas por um Delegado de cada “Choça”. Acima da “Alta Venda” estava, porém, a “Jovem Itália”, composta por um triunvirato que nas lutas pela Unificação e pela queda do Poder Temporal dos Papas, era constituído por Cavour, Mazzini e Garibaldi.

A Carbonária Italiana, a princípio, foi protegida pelo Carbonário Lucien Charles Napoleão Murat, General de Napoleão Bonaparte, e Príncipe de Monte Corvo, filho do Marechal Murat, nascido em Milão, em 1803. Ele abandonou a Itália em 1815, com a derrocada de Napoleão em Waterloo, em 18 de julho de 1815, tendo sido capturado na Espanha. Após sua libertação, seguiu para os Estados Unidos, em 1825. Ali se casou, tendo retornado a Paris em 1848.

Mais tarde, Murat foi eleito Grão Mestre do Grande Oriente, conseguindo um progresso muito grande no erguimento da Obediência, com a fundação de muitas novas Lojas.

Um dos elementos que se deve destacar na Carbonária Italiana, não pelos seus atos patrióticos, mas sim pela sua traição à Carbonária, é o Conde Peregrino Rossi. Rossi teve duas atitudes distintas: na mocidade, foi um dos mais ativistas e propagandistas dos ideais da Carbonária, merecendo o respeito de todos os Bons Primos. Todavia, de um momento para outro, bandeou-se para as hostes inimigas.

Rossi aliou-se ao Papa Gregório XVI com a finalidade de conseguir do Papa, condenações às ações dos Jesuítas. Nesse ínterim, morre Gregório XVI e sobe ao Trono de São Pedro o Papa Pio IX, ao qual Rossi se afiliou de corpo e alma. Rossi, que fora até Roma para combater o jesuitismo, volta um fiel defensor dos Irmãos de Inácio de Loyola.

É proscrito da Carbonária em 1820 e se torna um novo Saulo, convertendo-se aos ideais do Papa. Peregrino Rossi era o novo Judas, gritavam em todas as “Barracas”, de punhal em riste, os Bons Primos, seus antigos companheiros.

Conhecedor que era dos métodos de seus antigos companheiros, Rossi teve muita facilidade de nominar seus líderes e encher as prisões da Cidade Eterna, dando um tremendo golpe no movimento revolucionário.

Rossi cada vez mais se dedicava a uma ação repressiva, sem pensar que, desde a mais humilde “Choça” a mais pujante “Barraca”, e com Giuseppe Mazzini tendo o controle de todas as “Altas Vendas”, os punhais de São Constantino eram levantados e descreviam no ar o ângulo reto das decisões fatais. A sentença estava lavrada, terrível e implacável.

Havia sido marcada uma reunião para o dia 15 de novembro, à 1 hora da tarde, com o Ministro Conde Peregrino Rossi. Dissera Rossi no dia anterior: “Se me deixarem falar, se me derem tempo para pronunciar o meu discurso, não só a Itália estará salva, como ficará definitivamente morta a demagogia da Península”. A demagogia da península era o movimento Carbonário.

La causa del Papa es la causa del Dio”. E o Conde Peregrino Rossi desceu as escadarias e entrou na carruagem que o levaria ao Parlamento.

Chegando à praça, a carruagem atravessou lentamente a multidão e entrou pela porta do Palácio e foi parar em frente ao vestíbulo, onde Peregrino Rossi foi saudado por assobios e gritos enraivecidos:  Abaixo o traidor! Morte ao vendilhão da Pátria! Só então Rossi notou que nem toda a consciência nacional estava encarcerada na Civilitá Véchia.

Esboçou um sorriso contrafeito para a multidão e quando se dispunha a continuar a marcha, recebeu um golpe na carótida, especialidade dos Bons Primos, que o fez tombar agonizante.

No bolso interno da sobrecasaca, ao ser recolhido o cadáver, foi encontrada a sentença de morte: “Juraste lutar pela unificação da Itália e traíste o juramento! Lembrando: ‘Juro que jamais abandonarei as armas ou desertarei do Movimento Patriótico, enquanto a Itália não for livre e entregue a um governo do Povo, para o Povo. Se eu faltar a esse juramento, prestado de minha livre e espontânea vontade, que o pescoço me seja cortado e o meu nome desonrado e apregoado como o mais vil traidor à Pátria e aos Bons Primos da Carbonária Italiana’. Com coisas sérias não se brinca!”

A transcrição acima é de autoria do maçom Adelino de Figueiredo Lima, um dos raros brasileiros a escrever sobre a Carbonária. O trecho acima nos mostra que  a Carbonária estava muito distante da Maçonaria (que nunca usou tais métodos), mesmo assim a Carbonária sempre foi confundida com a Maçonaria, e alguns Maçons ainda acreditam que, no passado, a Maçonaria executava Irmãos e profanos que não cumprissem suas regras.

Jamais a Maçonaria, mesmo no passado remoto, matou ou mandou matar os maus elementos da sociedade. Quem fez isso, foi a Santa Vehme e a Carbonária (chamada de Maçonaria Florestal, talvez aí resida o ponto de confusão entre as duas instituições). A Maçonaria verdadeira sempre foi pacífica, respeitadora da lei e da ordem. Só usando sua estrutura fechada para conspirar contra os maus regimes políticos e algumas instituições nocivas, mas sempre ordeira e pacificamente. 

É verdade que conseguiu derrubar tiranos do poder e colaborar com a independência de muitos povos, para isso usando sua organização exemplar e suas influências sociais. Em muitas ocasiões seus integrantes, independentemente de suas Lojas, se filiavam a movimentos ou grupos ativistas e vingadores, embora a Maçonaria, como instituição nunca tenha apoiado tais comportamentos.

 É inegável que, em certar ocasiões, a Carbonária recebeu apoio da maçonaria, entretanto nunca foram uma mesma instituição, seus propósitos e seus objetivos raramente foram os mesmos.



Por Irmão Honório Sampaio Menezes, 33º do REEA, Loja Baden-Powell, 185, GLMERGS, Brasil.

A PEDRA E SEU NOVO DESPERTAR


Esta era uma pedreira enorme, com grandes vetas de todos os distintos tipos de pedras, havia nela, desde o rude granito até o apreciado mármore.

Todas as pedras comuns invejavam as pedras finas, pois elas seriam escolhidas pelos grandes artistas e escultores e, iriam morar em grandes palácios e mansões convertidas em magníficas obras de arte ou pisos lisos e colunas de mármore.

As pedras sabiam que elas nunca seriam as escolhidas para isto e aceitavam seu destino. Mas, isto não significava que não se cobrissem de pó para intentar clarear sua cor e ser mais parecidas ao invejado mármore ou que deixassem que o barro preenchesse as imperfeições de seus rugosos contornos para ocultá-los.

Todas elas diziam vir de vetas muito próximas às do mármore e por isto pertencer àquela linhagem em sua estrutura. Era uma sociedade pétrea como qualquer outra sociedade comum, com as classes baixas querendo se parecer às altas.

Aquela era uma pedra a mais do montão, não tinha uma estrutura comum, mas certamente tampouco era de mármore, ela também se cobria às vezes com pó e barro para se retocar, mas o fazia mais pelo que diriam as pedras da vizinhança do que pelo que ela realmente sentia. Embora em silencio invejasse as pedras lisas, posto que elas fossem as que iriam morar em suntuosos palácios, enquanto ela continuaria sempre em aquela comum e empoeirada pedreira. 

Todos os dias vinham renomados artistas em suas finas charretes de cedro lavrado, puxadas por elegantes e briosos corcéis, escolhiam os melhores mármores e os colocavam com o maior cuidado no piso aveludado de suas charretes, logo partiam imaginando em suas mentes as maravilhosas obras de arte que fariam, enquanto que aquelas pedras escolhidas se despediam de suas congêneres fazendo notar o êxito que agora alcançaram. 

Mas certo dia passou pela pedreira um ancião a quem ninguém nunca tinha visto antes, mas, aquele homem já conhecia as pedras, pois esteve observando a pedreira desde longe durante muito tempo, antes de decidir se aproximar de uma.

O ancião protegia suas roupas com um avental de couro branco, amarrado às costas, muito desgastado pelo uso continuo, ele não era nenhum artista renomado, pelo contrario, um simples obreiro que se aproximou com passo decidido, escolheu aquela pedra, a subiu na sua envelhecida charrete, cobrindo-a com uma manta, e ajudado pelo seu burro a levou até sua oficina.

A pedra estava muito assustada, pois ainda não compreendia o que acontecia, pensava que talvez o ancião por ser muito velho, a teria confundido com uma pedra de fina classe ou pior, por um mármore, e temia pelo seu futuro social quando fosse devolvida à pedreira logo que o obreiro se desse conta de sua pouca valia. 

Já na oficina do ancião, este a descobriu e a limpou do pó e barro que a cobriam, sentiu-se nua, sem aquele disfarce, e ao se acostumar à penumbra do lugar viu com horror que ao seu redor haviam muitas pedras muito trabalhadas e polidas, alem de finíssimos mármores, “serei o faz-me-rir” pensou, deveria sentir-se tosca e sem valor, mas por alguma estranha razão não se sentia assim, algo em aquele ancião a fazia se sentir segura e ademais estavam àquelas pedras, que em vez de orgulhar-se de suas linhagens e menos prezá-la como se acostumava fazer na pedreira, a olhavam com afeto. Apesar de haver tantas pedras, o ambiente era cálido e agradável. 

O ancião se aproximou dela e lhe disse que ela estava destinada a uma obra muito importante, mas a pedra não acreditava nas palavras do ancião, ela era uma simples pedra tosca como tantas outras e ademais nessa oficina tinham pedras melhores, mas o homem continuou falando e lhe disse que agora não havia como voltar atrás, ele a tinha escolhido dentre as demais, não por sua aparência externa, senão porque estava seguro que a estrutura interior dela era forte e apropriada para o trabalho que necessitava lhe disse também, que poria seu melhor empenho em prepará-la, tal como o fez com as outras pedras que passaram pela sua oficina, mas sempre existiria o perigo de se a pedra não fosse à adequada, se quebraria durante o processo. 

'Embora vá te golpear não deveis temer' - lhe disse o homem - 'eu vou dirigir meus golpes aonde os necessites para ir desbastando tua superfície, mas você deverá estar disposta a recebê-los e aceitar o cambio, de outra maneira poderás rachar interiormente e já não serás útil'.

E assim a pedra começou a receber os golpes do cinzel que, habilmente a ia desbastando empurrado pelo maço do ancião, a pedra ia aceitando cada golpe que lhe arrancava parte de se mesma, esforçando-se em adaptar-se ao seu novo ser. 

Passaram-se muitos dias e o ancião continuava trabalhando, e embora a pedra agora luzia seus lados retos, isso já não parecia importar-lhe, em outros tempos tivesse menosprezado a suas toscas congêneres da pedreira, mas agora somente lhe importava ficar pronta para realizar esse trabalho tão importante, e tal como ela fosse tratada ao chegar à oficina, recebia com afeto as novas pedras que chegavam, embora fossem tão ou mais toscas como ela foi ao principio. 

Quando a pedra ficou pronta, o ancião a conduziu a um terreno baldio grande e a colocou no sentido nordeste e lhe disse que estava ali não só para ser a primeira pedra, senão que ademais seria o suporte da principal coluna estrutural da imensa catedral que ali se construiria, ela suportaria o peso das outras pedras, as quais por sua vez sustentariam os decorativos mármores. 

Se a pedra assimilou de coração o trabalho do ancião, sua estrutura estaria preparada para a grande missão, de outro modo, ao falhar a pedra, toda a catedral viria abaixo. 

Centos de obreiros de distintas nacionalidades começaram a chegar de todos os confins do mundo, trazendo consigo cada um, uma pedra para a catedral, já lavrada e polida em suas próprias oficinas.

Todas elas foram se encaixando uma a uma com assombrosa perfeição, como se o mesmo pensamento tivesse guiado a mão de todos os obreiros por igual.

Era uma obra magnífica, talvez a catedral mais bela, grande e imponente do mundo, milhares de pessoas vinham diariamente de cada canto da terra, somente para contemplar tamanha beleza. 

As pessoas se regozijavam em seu esplendor e saiam gratificadas com a paz espiritual que aquela vista produzia. Mas ninguém nunca via a pedra, nem sabiam de sua importante missão, nem que ela era o pilar principal da catedral.


E como ninguém percebia a pedra, ninguém reconhecia seu importantíssimo trabalho, mas isto à pedra não lhe importava, ela sabia o que fazia e não o fazia certamente por reconhecimento, a pedra era simplesmente feliz, sabendo que seu trabalho brindava paz e alegria as pessoas e isto era para ela recompensa suficiente, seus pensamentos já não eram materiais, ela tinha despertado para uma nova vida mais frutífera espiritualmente, ela tinha sido abençoada com um novo despertar. 

Dedicado a quem escolheu minha pedra. 

Autor: Ir.’. Juan A. Geldres AMARLS Fraternidade e Justiça 142 Lima – Peru

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