Vários mitos cercam a maçonaria e um dos maiores é o que é
preciso ser rico para ser maçom. De fato a riqueza não interessa aos maçons,
pois maçons não vivem a maçonaria para pedir ou emprestar dinheiro uns dos
outros.
Pessoa alguma deixa de ingressar na maçonaria por não ter
dinheiro, o que interessa aos maçons é a influência na sociedade. Os maçons não
procuram pessoas ricas para ingressarem na maçonaria, eles procuram pessoas
influentes na sociedade que possam lhes fazer favores pessoais em nome da
“fraternidade”.
Pessoas não são indicadas para a maçonaria por sua afinidade com
a espiritualidade, mas por suas posições na sociedade. Não interessa aos maçons
terem em seu meio um mestre da Grande Fraternidade Branca encarnado no corpo de
uma pessoa sem influência na sociedade e que em coisa alguma possa lhes
favorecer, eles preferem ter uma pessoa que de fato sequer acredite em Deus,
mas que possa fazer parte de sua rede de influências.
A temática da indicação dos membros tem como princípio indicar
“pessoas melhores” que os próprios membros, quer dizer: pessoas
hierarquicamente mais elevadas e que possam vir a lhes facilitar as coisas. Os
maçons querem pessoas que possam vir a lhes ajudar.
A indicação para o ingresso na maçonaria é muito mais simples do
que se imagina. A maçonaria em sua origem dizia respeito tão e somente aos
Iniciados, às pessoas realmente ligadas à espiritualidade, mas atualmente a
relação com a espiritualidade é irrelevante para o ingresso na maçonaria.
Pessoas ingressam na maçonaria pelos mais diversos motivos.
Alguns entram na maçonaria para fazer companhia ao maçom que mora longe da Loja
e precisa viajar para chegar até ela, outros porque a Loja precisa de membros
para aumentar a arrecadação mensal através da mensalidade para poder pagar suas
contas mensais de subsistência, uns meramente porque a Loja precisa de membros,
outros ainda porque são amigos dos maçons no mundo profano em coisas profanas,
outros porque exercem ofícios que são estrategicamente convenientes aos maçons
da Loja e outros pelos mais diversos motivos que coisa alguma tem a ver com a
espiritualidade.
Por isso aquele que deseja entrar para a maçonaria não precisa
se preocupar em receber o convite para o ingresso basta se aproximar de um
maçom e deixar claro no que aquele maçom poderia ser beneficiado tendo a sua
amizade; a questão moral e ética será observada, mas a influência na sociedade
é o que realmente mais irá contar.
Quando o maçom vê que tanto ele quanto os outros maçons poderão
ser beneficiados com o convívio com alguém o convite é feito. Não há segredo.
A maçonaria surgiu como instrumento para realizar a Grande Obra
no planeta Terra e os laços fraternos existiam meramente porque se tratavam de espíritos
da mesma Egrégora que vieram para fazer o mesmo trabalho no planeta. Todos eram
irmãos na Terra porque faziam parte da mesma Egrégora.
Os laços fraternais existiam na maçonaria não para que um maçom
fosse favorecido pessoal, profissional e financeiramente, mas para que pudesse
ser feito o trabalho de evolução da Terra. Não obstante os maçons desvirtuaram
o ideal de fraternidade da maçonaria e transmutaram-no em uma rede de
favorzinhos.
Há maçons que não possuem pudor algum de ser orgulhar de receber
favorzinhos de outros maçons. Esses favorzinhos não dizem respeito ao trabalho
de evolução do planeta Terra, mas a favorzinhos de favorecimento pessoal,
profissional e financeiro.
Os maçons não se ajudam para trabalhar a espiritualidade na
Terra, se ajudam para se darem bem na vida. Esse é o resultado de uma maçonaria
que não dá a mínima para a espiritualidade, onde se chama de “iniciado” aquele
que meramente tenha participado de uma sessão de iniciação.
Impera entre os maçons a ideia de que a maçonaria é uma rede de
homens conectados que podem um favorecer ao outro pessoal, profissional e
financeiramente. Isso não é nunca foi e nunca será maçonaria. Se os maçons
querem criar redes de favorzinhos, que o façam, mas não digam que isso é
maçonaria.
Podem chamar tais redes de qualquer coisa, menos de maçonaria. Isso
não é maçonaria, isso são pessoas que estão se aproveitando da maçonaria para
obter favorecimento pessoal, profissional e financeiro e a Egrégora maçônica há
de ajustar as coisas.
O ateísmo de fato e o desinteresse pela espiritualidade pode
imperar entre os maçons, mas que pessoa alguma pense que a Egrégora espiritual
da maçonaria está de braços cruzados apenas assistindo pessoas usarem a
maçonaria para obterem favorzinhos e enriquecer. Os favorzinhos dentro da
maçonaria têm limites e existe diferença entre haver favorzinhos entre irmãos
que atuam na esfera privada e irmãos que atuam na esfera pública.
Se um maçom tem uma empresa privada e quiser colocar sua
empresa, na observância da lei, à disposição de outro maçom, que o faça, mas os
maçons não podem usar a coisa pública para favorecerem uns aos outros. Eis o
limite que os maçons não podem ultrapassar.
O Estado não foi criado e não existe para favorecer pessoalmente
quem quer que seja e não existe ideal deturpado algum de fraternidade que
permita que os maçons usem o Estado para interesses pessoais. O caput do
art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 (CF/88) diz
que todos são iguais perante a lei e os maçons não podem ter tratamento
diferenciado perante a lei, ainda mais quando se trata da coisa pública. No
mesmo sentido, o caput do art. 37 da CF/88 diz que a administração
pública obedecerá aos princípios da impessoalidade e da moralidade.
Nisto, fica evidente que favorzinhos entre maçons que possam vir
a envolver a administração pública e firam a impessoalidade e a moralidade é
ilegal. O favor pessoal a alguém por ser maçom fere a impessoalidade e obter
vantagem por ser maçom em detrimento dos que seguem outra norma por não
serem maçons é imoral.
O maçom não tem o direito de obter qualquer vantagem indevida
que tenha a ver com a coisa pública, mesmo que seja maçom. O ideal deturpado de
fraternidade, onde um maçom deve favorecer ao outro, não tem o condão de
justificar a ilegalidade e a conduta criminosa.
A maçonaria não foi criada para favorzinhos, ainda mais para
favorzinhos corrompidos pela corrupção.
O brasileiro tem um fetiche patológico pela corrupção. O
brasileiro odeia demais a corrupção que não lhe favorece. Se os maçons acham
criminoso, demoníaco e monstruoso alguém obter vantagem indevida de um
funcionário público apenas por fazer parte de um partido político ou por ter
grau de parentesco com este também devem achar criminoso, demoníaco e
monstruoso se um maçom vier a obter vantagem indevida de um funcionário público
maçom apenas por ambos serem maçons.
Corrupção é corrupção e se o Brasil quiser começar a se livrar
deste karma terá que deixar de achar que a corrupção só existe quando esta
favorece aos outros. Os maçons não podem mentir para si escorando-se na
justificativa de que se caso usassem a influência da maçonaria para solicitar
ou receber vantagem indevida de um funcionário público apenas por ambos serem
maçons isso seria a efetivação da “fraternidade”, pois se isso vier a
configurar crime contra a administração pública será crime contra a
administração pública e o estado de ser maçom não poderá excluir a
culpabilidade na conduta.
Não existe isso de “para os outros é corrupção, para nós é
fraternidade”. Se a maçonaria quer falar contra a corrupção no Brasil não
poderá ter corrupção em seu meio, mesmo que com a desculpa da “fraternidade”.
O caput do art. 317 do Código Penal Brasileiro (CPB)
dispõe sobre a corrupção passiva: “Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:”.
O parágrafo 1º do art. 317 do CPB dispõe sobre a corrupção
passiva qualificada: “§ 1º – A pena é aumentada de um terço, se, em
conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.”.
Pois bem, esta “vantagem indevida” não precisa ser
necessariamente uma vantagem financeira ou patrimonial. A vantagem indevida é
toda aquela a que o funcionário público não faz jus em decorrência de sua
função pública.
A função pública de um maçom não pode ser usada para ele
adquirir prestígio dentro da maçonaria, “ser lembrado depois” ou ser visto
como “o homem a quem eles, maçons, devem”. O parágrafo 2º do art. 317 do CPB
fala ainda mais sobre a corrupção passiva: “§ 2º – Se o funcionário pratica,
deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem:”, ficando aí clara a questão de ceder
a pedido ou a influência de outrem neste sentido de corrupção.
O caput do art. 333 do CPB dispõe sobre a corrupção
ativa: “Art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:”. O
parágrafo único do art. 333 do CPB dispõe sobre a corrupção ativa qualificada:
“Parágrafo único – A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica
infringindo dever funcional.”.
A questão da vantagem indevida fica novamente em evidência. Se
um maçom coloca à disposição ou apresenta a um funcionário público que ambos
fazem parte da maçonaria e que tal funcionário ao praticar, omitir ou retardar
ato de ofício será lembrado na maçonaria, ele está cometendo o crime de
corrupção ativa, pois está oferecendo prestígio dentro da maçonaria a um
funcionário público, sendo que tal vantagem é indevida, pois a função pública
não existe para dar a um maçom prestígio dentro da maçonaria.
A retidão nas condutas dos funcionários públicos não faz
acepção de pessoas e a conduta ilegal não se tornaria legal apenas por envolver
maçons. De semelhante modo não existem situações onde uma pessoa pode deixar de
ser reta. A retidão não é um estado de conveniência.
Pessoa alguma pode se dizer incorruptível se não lhe é dada a
oportunidade de ser posta à prova em sua incorruptibilidade. É justamente
quando a um homem é colocado o dilema entre corromper-se ou não que se verá o
quão incorruptível ele é.
Os fins não justificam os meios e necessidade alguma justifica a
corrupção. A corrupção não deixa de existir por tratar-se de um maçom ou por
tratar-se de um caso de extrema necessidade. Os maçons podem orientar as
indicações de membros para a maçonaria em razão de sua influência na sociedade
e pelo quanto poderão ser favorecidos pelo poder de tais membros, mas não podem
tocar na coisa pública.
A coisa pública é sagrada, o Estado é sagrado, o Estado é
divino, o Estado é uma instituição da espiritualidade na Terra e não há de ser
maculado por pessoas cujo único ou maior objetivo de vida seja enriquecer. A
maçonaria não foi criada para as pessoas enriquecerem, pelo contrário: a maçonaria
foi criada justamente por seres que não precisam viver na riqueza.
A maçonaria não se evidencia quando os maçons ganham uns
favorzinhos dos outros. A maçonaria se evidencia quando os maçons trabalham
objetivamente juntos pelo e para o Supremo Arquiteto do Universo para a
evolução da humanidade nos planos físico, emocional, intelectual e espiritual.
Eu sou maçom e não quero favorecimento algum por ser maçom. Se
por qualquer motivo eu tiver que encarar a fila de um hospital e tiver que
morrer na fila de espera pela falta de atendimento eu assim morrerei. Eu
prefiro morrer na fila de espera junto aos meus outros irmãos, os meus irmãos
do Universo, do que ser salvo apenas porque sou maçom e porque a maçonaria
tinha poder terreno decorrente de influências para me colocar indevidamente em
local privilegiado ou me dar tratamento médico privilegiado em comparação
àqueles que por não serem maçons tiveram que encarar a fila e o tratamento
médico comum.
Quero ter as mesmas dificuldades, transtornos, dores e sofrimentos
que os meus irmãos do Universo têm e não quero ser favorecido em coisa alguma
na vida por ser maçom.
A maçonaria não está no plano material da Terra para criar uma
rede de favorecimentos, mas para ajudar na evolução do planeta. O maçom não é
aquele que se aproveita da fraternidade maçônica para não ter que encarar a
fila de um hospital ou para receber um tratamento médico privilegiado, o maçom
é aquele que veio a Terra para estar junto com aqueles que não possuem tais
privilégios e não se está junto com alguém se não se passar junto com este o
que este passa.
Rudy Rafael