Nunca houve essa pergunta nos graus de qualquer ritual maçônico
da antiguidade ou da atualidade.
A questão da Regularidade Maçônica tem sido a principal luta
priorizada pelas organizações maçônicas, as quais se voltaram unicamente para a
burocracia e apegos superficiais, esquecendo-se da necessidade do
aperfeiçoamento interior.
É lamentável ver maçons imorais, arrogantes, cheios de vícios e
defeitos, galgarem os graus maçônicos, sem saberem qualquer significado das
lendas ou dos personagens, sem retificarem sua moral, sua conduta social,
arrogando-se “maçom regular” e imputando aos outros o anátema de “maçom
irregular” ou “espúria”.
Para estes maçons, importa primeiramente saber, antes de
qualquer coisa, qual a Loja Simbólica ou Potência/Obediência Maçônica a qual se
está filiado, do que avançar no diálogo calcado em conhecimento histórico,
simbólico e místico da Maçonaria. São os considerados “MAÇONS DE PAPEL”, que
priorizam a carteira de identificação, o certificado de graus, atestados e
declarações, os quais se encontram todos em suas paredes para exibição.
Mas afinal, o que significa “ser maçom regular?”.
Num tempo não longínquo, na época em que os pedreiros se reuniam em tavernas ou
nos átrios de igrejas, ou ainda em campo aberto, seria impróprio perguntar a um
irmão – “és maçom regular?”.
Não havia qualquer templo para reunião periódica, porque nem
periodicidade era obrigatória entre os maçons.
Os templos, atendendo a um conceito contemporâneo, somente foram
institucionalizados em 1726, mas inicialmente com muitas reservas.
Não havia “grau superior ou filosófico” ou mesmo o grau de
mestre. Inexistiam os paramentos mais complexos, o painel do grau (que eram
apenas um desenho riscado no chão, a giz ou com carvão), as colunas, os nós, os
degraus, a balaustrada, os altares, enfim… a instituição maçônica era formada
mais de irmãos do que forjada de aparências. O que antes era impensável e
motivos de repulsa hoje se digladiam para saber quem é e quem não é “regular”.
Ultrapassado o preconceito de achar que Maçonaria sempre existiu tal como é
hoje, ainda há a questão da regularidade. É evidente que ambos os termos
“regular” ou “irregular” significam CONCEITOS DE EXCLUSÃO. Ou seja, quem é
regular deverá atender ou atentar para as regras, normas, estatutos,
formalidades exigidas de quem se presta a “conceder” a regularidade. Assim,
essa disciplina gera subordinação, dominação, submissão a determinado conjunto
de normas, usos, costumes da Obediência da qual se pressupõe a regularidade.
Mas…
Quem foi a primeira “Potência Regular”?
Foi a dos Estados Unidos que organizou o primeiro Supremo
Conselho ou a da Inglaterra, onde aparentemente se estruturou a primeira Loja
ou Primeiro Grão- Mestrado?
Será menos “regular” a França que teve os pedreiros-livres em seu seio antes
mesmo dos Estados Unidos virarem um país independente?
E o que dizer no Brasil? Será “regular” o Oriente mais antigo,
com ou sem vários reconhecimentos internacionais ou as Grandes Lojas Estaduais,
que se rebelaram daquele primeiro Oriente, fundando suas próprias Potências?
Qual das rupturas políticas gerou a “potência mais regular”?
E acaso se reconhecem uma a outra que convivem há décadas?
Observa-se que “regularidade” depende da instituição, conselho,
congregação, para os quais se voltam o agrupamento que busque esse título
“Regular”. Esse procedimento é como tudo o mais na vida, vinculante à
coerência.
Uma potência pode se dizer “regular”, quando outra vizinha não a
reconhece?
Afinal, será que a regularidade maçônica está sob o jugo e o
cabresto de um conjunto de outras potências externas, elas mesmas lutando por
ser “mais regular e reconhecida” que a outra?
Por óbvio, o raciocínio nesse diapasão não poderá prosperar,
porquanto teremos a seguinte situação:
“Uma potência brasileira “X”, do século XIX se diz regular, da qual nasceu uma
potência brasileira “Y”, por meio de um rompimento no século XX. Essa potência
“Y” não é regular para a potência “X”, mas por ter sido reconhecida por um
Supremo Conselho Internacional, o será para todas as potências ligadas a este
Supremo Conselho, enquanto que a potência “X” torna-se irregular para este
Supremo Conselho Internacional e suas demais Potências…”.
E então, como ficamos?
Ora, persistindo neste grande erro, a Obediência será e não será
regular dependendo da conveniência política da ocasião, da instituição que a
reconhece, dos interesses em jogo, da penetração social disposta no tabuleiro.
Como a maçonaria chegou a este ponto?
Onde ela errou tanto?
Como conseguiram desvirtuar a Maçonaria dessa forma?
Infelizmente hoje observamos Maçons corrigirem Maçons, dizendo o que é “certo”
e o que é “errado”, mesmo que a história demonstre que nunca houve nada além de
Lojas livres, sem subordinação, sem obediências.
É uma ignorância sem fim ver os doutos expedirem os pareceres
sobre cores, colunas, nós, altares, disposição de oficiais, jóias, usos e
costumes, e toda essa pletora de práticas que se compõe um ritual, o qual já
sofreu centenas de modificações ao longo do tempo, por razões das mais
diversas.
Foram tantas as mudanças e eram tantas as vertentes locais,
regionais e nacionais, ritos dos mais diversos que não há como afirmar quem é
regular ou irregular. Há os princípios gerais e só. Mais do que isso é
fantasiar a história e mistificar a própria Obediência que sempre se arroga
como “antiga, regular, aceita” e outros adjetivos.
Na verdade, tais
qualificações são apenas excludentes.
Afirmamos sem medo de errar que a estrutura profana tem dominado algumas
potências maçônicas ditas regulares. Tribunais, Ministério Público, Defensoria,
Conselhos, Tratados, Direito Maçônico, Jurisprudência, Atas, Secretarias,
carimbos, carteiras.
Qual a origem disso tudo?
É tradição ou criação moderna?
Então, resta a pergunta: – Tu és um maçom regular?
Como responder?
É muito simples, ao contrário do que parece.
Para a Maçonaria Universal, MAÇOM REGULAR é aquele que:
1) Estuda com frequência e conhece o significado dos símbolos do seu próprio
Rito.
2) É assíduo na loja da qual é filiado, arcando com todas as obrigações para
com sua própria potência ou Rito.
3) Reflete e aplica na própria vida os ensinamentos adquiridos na loja que
frequenta.
4) Estende a mão a outro irmão, quando necessário, sem atender à coloração
política.
5) Transforma a sociedade ao seu redor, atuando positivamente para a
fraternidade e liberdade.
6) Julga-se igual ao seu semelhante, não fazendo distinção de credo, raça,
religião ou orientação política.
7) É um exemplo de vida e de compostura diante da sociedade.
8) Aplaina as divergências e fomenta o consenso, ainda que se despisse de
vaidades.
9) É discreto quanto à sua própria condição.
10) Está preparado para a transição para o Oriente Eterno (morte), preparando
os seus familiares e todos que estão à sua volta.
Todos os Maçons, Ritos e Potências que se enquadram nos
princípios supracitados são regulares, sem necessidade de certificados ou
tratados. Não é preciso qualquer certidão na parede para dizer ao público que
se é HONESTO, assim como os atestados de regularidade são plenamente sem valor
quando a potência ou a loja semeia cizânia, discrimina ou exclui.
A família do “irregular” vive contendas; Sua loja não pode
contar com ele, porque não sabe se comparece ou não; Ele abandona sua loja,
após galgar o grau pretendido; Ele deixa de estudar, de escrever, de dialogar,
de palestrar, de conviver, tornando-se um poço de preconceitos sem qualquer
explicação razoável.
“Ser regular” é ser honesto consigo mesmo e com o grupo a que se
deve fidelidade. É simples, meus irmãos, é fácil e é ético.
Não deixe com que a “maçonaria de papel” vos contamine. Seja um
homem livre e de bons costumes. Seja, pois, regular primeiro consigo e para com
os seus…”.
Liber Grinmoire